quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

O CAMPEONATO NACIONAL NO FIM DE 2011



PORTO E BENFICA NA FRENTE



Ao fim de treze jornadas, o Porto mantém uma regularidade muito próxima da do ano passado, apesar de todas as críticas dirigidas ao treinador, enquanto o Benfica está manifestamente a fazer uma época bem melhor do que a do ano passado e até superior à de há dois anos, em que se sagrou campeão.

Na presente época o Benfica apenas perdeu seis pontos, em três empates, todos fora, contando por vitórias os jogos realizados em casa. Há dois anos, no fim da primeira volta, tinha empatado três vezes e perdido uma. Empatou com o Marítimo em casa e fora com o Sporting e o Olhanense; e perdeu em Braga. Enquanto o Porto, este ano já perdeu em treze jornadas o mesmo número de pontos que o ano passado perdeu em trinta, embora por esta altura, no ano passado, só tivesse mais dois pontos do que este ano.

O Sporting é que está francamente melhor do que nas épocas anteriores, apesar de nos últimos jogos ter dado algumas indicações de que poderá, em breve, claudicar. O melhor período do Sporting correspondeu no plano interno e no internacional a uma série de jogos com adversários de segunda categoria, com excepção da Lázio. Na parte final da primeira volta ficaram-lhe reservados três jogos difíceis. O primeiro já perdeu, contra o Benfica, restando-lhe ainda o Porto e o Braga.

Como sempre tem acontecido nos últimos anos, quando os resultados começam a ser desfavoráveis, o Sporting culpa os árbitros e faz sobre eles uma enorme pressão. Só mesmo quando o descalabro é total é que os sportinguistas se calam. E, todavia, não há equipa em Portugal que nestes últimos seis anos tenha sido tão favorecida pelos árbitros como o Sporting. Mas como por duas vezes foi prejudicado, entre dezenas de erros a seu favor, utilizou esses pequenos desaires da arbitragem para fazer uma campanha para pressionar os árbitros a, na dúvida, apitarem sempre a seu favor.

Este ano, depois de uma campanha inicial muito intensa, as coisas acalmaram com os resultados, mas logo a campanha recomeçou mal os desaires voltaram a acontecer e tem-se intensifficado nos últimos dias manifestamente para condicionar a arbitragem nos dois jogos difíceis com que se encerrará a primeira volta.

Em quarto lugar, o Braga, a dois pontos do Sporting, não se dá por vencido e espera terminar a primeira volta à frente do Sporting. E tem de se concordar que o Braga é hoje, sob todos os pontos de vista, uma equipa mais consistente que a do Sporting.

A partir do quinto lugar, ocupado pelo Marítimo, a fazer uma excelente época, abre-se um enorme fosso que vai até ao penúltimo classificado, o Rio Ave, uma das equipas que melhor futebol tem praticado no campeonato.

Neste grupo de dez equipas há que destacar a fraquíssima capacidade realizadora do Nacional e do Vitória de Setúbal (nove golos) e a excelente capacidade defensiva do Beira-Mar (oito golos), apenas igualado pelo Porto.

No último posto, o Paços de Ferreira, com três dezenas de golos sofridos, a fazer uma época decepcionante.

Ainda é cedo, porém, para ter ideias claras sobre como ficarão as coisas no final. Somente depois do encerramento do mercado de Janeiro se poderá ficar com uma ideia mais precisa do valor das equipas na segunda parte da temporada.

Na frente, tudo indica que a luta vai ser entre o Porto e o Benfica, sem que tal signifique desistência dos demais. O Porto, se mantiver o plantel, conta com o natural desgaste do Benfica na Champions, para se consolidar no primeiro lugar, apesar de também ele participar na Liga Europa. Tudo vai, porém, depender do próximo jogo do Porto na eliminatória contra o Manchester City. Se o Porto passar, muito provavelmente encontrará o Sporting, que tem um adversário fácil, e começará a pensar que poderá repetir o êxito do ano passado.

É, no entanto, de acreditar que entre a Liga Europa, que para o Porto é uma espécie de segunda divisão do futebol europeu, e o campeonato nacional, o Porto dê preferência a este. O Benfica, pelo contrário, vai querer chegar o mais longe possível na Champions e tudo fará para se manter na prova. É, portanto, provável que o Porto tenha alguma vantagem neste duelo.

BARCELONA CAMPEÃO DO MUNDO E MOURINHO DESPEITADO


O SANTOS FEZ O QUE PÔDE


No domingo de manhã, hora europeia, o Barcelona escreveu mais uma brilhante página na história do futebol. Sagrou-se campeão do mundo de clubes, derrotando o Santos por 4-0.

Foi o que se pode dizer uma vitória normal face à grande superioridade que o Barcelona hoje indiscutivelmente tem perante qualquer time do mundo. É certo que o Santos deste ano, mal classificado no campeonato brasileiro, não é o mesmo Santos que ganhou a Libertadores, mas isso é apenas um detalhe que não altera nada do essencial.

Aliás, o Santos e a imprensa brasileira em geral, reconheceram essa superioridade com a galhardia própria de quem gosta de futebol. E no Brasil sabe-se, como em nenhuma outra parte, o que é bom futebol. A grande vedeta do Santos, Neymar, foi o primeiro a reconhecer que o Barcelona “deu uma aula de futebol”. O que não deixa de ser uma atitude de grandeza, que somente os artistas seguros da sua arte sabem reconhecer, sem recearem que desse reconhecimento resulte ofuscado o seu próprio valor.

É já hoje um lugar comum dizer-se que este Barcelona de Guardiola, este Barcelona que ganhou 13 títulos em 16 possíveis, ficará para sempre nas páginas douradas da História do Futebol. Não apenas pelos títulos conquistados, que são importantes, mas por deixar uma marca indelével na forma de jogar e de encarar o jogo.

Mourinho, despeitado com as vitórias catalãs, não foi capaz de esconder o ressentimento com que assiste aos êxitos do seu grande rival. Deu-lhe os parabéns, mas minimizou a importância da vitória: os jogos que o Barcelona ganhou no Japão não têm grande importância. Só lhe faltou dizer, mas era nisso que estava a pensar, que já ganhou uma final ao Barça na Copa do Rei e o eliminou nas meias-finais da Champions, quando treinava o Inter de Milão (só que aí teria de acrescentar que ganhou ele …mais Olegário Benquerença, o árbitro português, que apitou a meia-final de Milão…).

E Mourinho também não percebe – ou faz que não percebe – que aquilo que o mundo inteiro celebra não é tanto as vitórias do Barcelona como o futebol do Barcelona! Facto irrelevante para quem, como Mourinho, o que interessa é ganhar!


quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

ECOS DA VITÓRIA DO BARCELONA EM MADRID



AS TÁCTICAS DE MOURINHO

 Enquanto o Real Madrid vai lambendo as feridas de mais uma derrota contra o Barcelona na era Mourinho, a grande equipa catalã prepara-se para disputar a final do Mundial de clubes, no Japão, contra o Santos de Neymar.

Florentino Pérez no tradicional jantar de Natal do Real Madrid voltou a defender Mourinho em termos inusitados no grande clube merengue, a ponto de ter dito que a passada vitória na “Copa del Rey” foi para muita gente a mais importante na história da Taça de Espanha.

Perante este e outros tantos elogios, que parecem de todo despropositados face aos objectivos que o clube e o treinador haviam fixado para a época 2010/2011, duas conclusões se podem retirar das palavras do presidente do Real Madrid: primeiro, a de que ele tem o seu futuro no clube cada vez mais hipotecado ao que Mourinho conseguir fazer; e segundo, a de que o apoio prestado ao treinador em termos nunca antes concedido visa retirar-lhe qualquer desculpa semelhante à que o ano passado apresentou para justificar ter ficado aquém das metas ambicionadas pelos “aficionados”.

A verdade é que apesar da “limpeza de balneário” exigida por Mourinho no fim da época passada, que teve como consequência mais sonante a dispensa de Jorge Valdano como director desportivo, continua a saber-se na imprensa – em alguma imprensa de qualidade – o que se passa no balneário do Real Madrid.

Valdebebas está assim longe de ser aquele “bunker” sonhado por Mourinho como local onde no mais completo segredo pudesse gizar as suas famosas tácticas, tanto no que elas têm de jogo jogado, como de “jogos” de outra natureza.

Soube-se logo após a derrota contra o Barça, que Mourinho antes do jogo foi tocado por um dilema “hamletiano” que acabou por resolver “politicamente”.

Por um lado, Mourinho sabe que não pode impedir a maior posse de bola do Barcelona, realize-se o jogo em Camp Nou, no Bernabéu ou em terreno neutro. Mas sabe também que não pode em Madrid, perante os “aficionados merengues” remeter-se a uma táctica de equipa pequena, fundamentalmente preparada para defender, que busca num desequilíbrio do adversário ganhar vantagem no marcador.

Por isso idealizou aquilo a que os seus jogadores pejorativamente chamam o “trivote” e que ele “politicamente” denomina “triângulo de pressão ofensiva”, exactamente para dar a ideia de que não é uma táctica defensiva.

Em Valência, o dito trivote funcionou com Xabi, como vértice, atrás de Lass e Khedira, nos outros dois ângulos do triângulo.

Em Madrid contra o Barcelona, sacrificar Özil, o jogador mais criativo da equipa, seria uma demonstração de fraqueza e de medo que os adeptos não perdoariam. Então, Mourinho viu-se forçado a substituir Khedira par Özil. Só que, contrariamente ao que se passou em Mestalla, em Chamartin seria Özil o vértice do dito triângulo, tendo-lhe sido atribuídas nessas novas funções tantas tarefas (apoiar criativamente os ataques de Di Maria, Cristiano e Benzema), além das que tinha que desempenhar como vértice do triângulo, que o pobre rapaz caiu exausto, muito antes do fim do jogo, acabando por ser substituído por Khedira.

Mas não foi tudo: preocupado, como sempre, com as jogadas de Messi pelo centro do terreno, deu instruções a Lass e Xabi, para que se mantivessem no centro do campo, bem próximos de Pepe e de Ramos, de modo a fechar os espaços por onde Messi pudesse passar.

Concluindo, o trivote de Mourinho contra o Barça, apesar da inclusão de Özil, acabou por ser muito mais fechado e compacto que o de Valência. Querendo enganar a “afición”, Mourinho acabou por se enganar a  si próprio.

De facto, o pobre do Özil ficou com a missão impossível de acompanhar Benzema na pressão a Busquets e a Piqué; de auxiliar Cristiano e Di Maria quando estes fizessem pressão sobre os laterais; e, finalmente, de colocar-se entre Lass e Xabi, perto dos centrais, quando o Barça atacasse pelo meio.

Para finalizar, Coentrão e Marcelo não tinham autorização para subir, como, de resto, já tínhamos referido no último post.

Mourinho queria defender com seis atrás na primeira parte, e no segundo tempo com todos, se as coisas estivessem a correr bem.

Tudo foi por água abaixo quando Messi, exactamente pelo centro do terreno, fez aquilo que Mourinho temia que ele viesse a fazer.

E Mourinho não esteve com meias medidas: culpou os jogadores pelo sucedido. Tanto trabalho, tanta imaginação táctica, para nada. Culpou-os inclusive de não terem derrubado Messi: “Numa bola dividida, ou os meus jogadores a ganham ou a bola tem de ficar ali”. Eis a máxima de Mourinho…

As reacções não se fizeram esperar. Casillas, a voz livre do balneário do Madrid, já disse que o Barcelona não pode constituir uma obsessão.

A verdade é que para Mourinho continuará a ser. As tácticas postas em campo no último jogo demonstram-no. Mourinho não abdicou num milímetro que fosse das suas ideias, mesmo quando transigiu na concessão da titularidade a Özil em vez de Khedira. Trocou os jogadores por razões “políticas” mas manteve tudo na mesma, com a agravante de ter entregado a Özil uma missão impossível, uma missão que ele manifestamente não poderia cumprir.

Mas isto demonstra também que Mourinho não é tão inteligente quanto se supõe Tem antes aquilo a que em português se chama manha, algo que está longe de ser uma companhia recomendável.




segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

BARCELONA, A MAGIA DO FUTEBOL



INIESTA E MESSI DESLUMBRAM BERNABÉU

Iniesta pone al Madrid a sus pies



Nunca na história do futebol houve uma equipa como a do Barcelona de Guardiola. Nem mesmo o fabuloso Brasil de 82, que há dias perdeu um dos seus mais brilhantes intérpretes, se equipara a esta equipa catalã. Não apenas porque o Barça século XXI sabe atacar e defender como nenhuma outra - e o Brasil defendia mal, mas também porque os adversários que hoje se lhe opõem são superiores, em todos os planos, àqueles que há trinta anos se opunham aos brasileiros.

Mas não adianta estar agora a fazer comparações, sempre falíveis, com esta ou aquela equipa. E se se chamou à discussão o Brasil 82 foi apenas para dizer que a equipa até há bem pouco considerada a mais deslumbrante da história do futebol, perdeu agora esse troféu para uma outra ainda melhor, muito melhor, o Barcelona.

A vitória de ontem, por 3-1, no Estádio Santiago de Bernabéu, contra aquele que alguns já consideravam o melhor Madrid da última década, tem um sabor especial, por várias razões. Primeiro, por o Barcelona ter entrada praticamente a perder com um golo sofrido aos 20 segundos por fífia inacreditável de Valdés. O guarda-redes que joga tão bem com as mãos como com os pés ofereceu um passe de morte a Di Maria que não se fez rogado a rematar. A bola bateu em Puyol, sobrou para Özil, que voltou a rematar, tabelou num defesa catalão e ressaltou para Benzema que fez o golo. Um golo que leva muito mais tempo a descrever do que o tempo de jogo que então existia.

O Barcelona continuou a fazer o seu jogo e o Madrid, apesar da vantagem caída do céu, manteve-se fiel ao padrão táctico que Mourinho durante semanas havia idealizado para este encontro. Pressão alta a começar pelos três da frente (Benzema, Cristiano Ronaldo e Di Maria), um meio campo poderoso (Özil, Lass e Xabi) e quatro defesas (Coentrão, Ramos, Pepe e Marcelo) sem autorização para subir, salvo os centrais numa ou noutra bola parada.

Ou seja, Mourinho manteve-se fiel aos seus princípios de futebol quando joga contra equipas poderosas - um futebol sem coragem que tudo sacrifica, nomeadamente a genialidade dos seus jogadores, a esquemas tácticos fundamentalmente concebidos para impedir o adversário de jogar. E mais uma vez a magia do Barcelona deitou por terra todos os esquemas de Mourinho, tanto os que pretendia aplicar dentro do campo, como os que usou fora dele.

Cristiano Ronaldo, uma das vítimas de Mourinho, ainda poderia ter feito o 2-0, numa altura em que o Barcelona já dominava o jogo, mas a “obsessão” Barcelona, que Mourinho transmite à equipa acaba por contagiar a maior parte dos jogadores, mesmo aqueles cujo futuro menos depende da opinião do treinador.
Problema de raíz, pase al cuadrado


A partir desse lance o Barcelona dominou. Depois de uma - mais uma – genial jogada de Messi, o pujante Alexis Sanchez bateu Casillas.

Valdés ainda fez mais uma ou outra asneira, mas o desacerto do guarda-redes catalão não foi suficiente para destabilizar o Barcelona que regressou na segunda parte para fazer uma das mais deslumbrantes exibições a que o Bernabéu tem assistido. Iniesta e Messi, simplesmente geniais, acompanhados pelo sempre fantástico Xavi e por Fabregas, que acrescentou futebol, ao muito futebol que equipa já tem, apoiados numa defesa muito segura (Daniel Alves, Puyol, Piqué e Abidal), na qual, apenas a espaços, Abidal destoou e por um volante (Busquet) por onde tudo começa, puseram em campo um futebol espectáculo daqueles que somente eles sabem reservar para os grandes palcos.

E foi com toda a naturalidade que Xavi chegou aos 2-1, apesar do ressalto em Marcelo, e depois ao 3-1, por Fabregas, a concluir um grande centro de Daniel Alves.
<I>La autoridad no se discute</I>


Mourinho, pálido, vendo ruir um após outro os elementos da sua estratégia, meticulosamente alinhados durante semanas, assistia aterrado na área técnica a mais este espectáculo com que o Barcelona o brindava.

Com esta derrota do Real Madrid fica também definitivamente derrotada a concepção futebolística de Mourinho, bem como o mito do treinador vitorioso que, mercê da sua astúcia táctica, é capaz de levar de vencida as equipas mais poderosas da actualidade. A vitória do Barcelona, além de ser a derrota de tudo o que Mourinho futebolisticamente representa, é antes de mais a vitória do futebol. A vitória de quem não abdica da magia dos artistas, a vitória de quem não sacrifica a criatividade artística ao frio percurso de um jogo pretensamente eficaz.


Tudo este ano no Madrid de Mourinho foi preparado para garantir, fosse de que jeito fosse, a derrota do Barça. Tudo: desde o que se passava fora do campo, passando pela questão da arbitragem, até ao que se passaria dentro das quatro linhas. Fora do campo, para Mourinho, os jogadores e a equipa adversária (ele pensava acima de tudo no Barça…) tinham de ser tratados, pelos seus, como inimigos. As arbitragens dos jogos do Barcelona também não poderiam ser poupadas – uma catadupa semanal de críticas deveria recair sobre o "inimigo"para o desmoralizar e condicionar o “colegiado”. Dentro do campo, primeiro o longo trabalho de persuasão destinado a convencer os seus de que defender não é sinal de cobardia, mas de inteligência; depois, a marcação cerrada e a dureza impiedosa sobre os oponentes inimigos, de que Pepe, Marcelo, Lass e a espaços Xabi, deveriam ser os principais intérpretes.

Tudo ruiu. Ruiu primeiramente a concepção bélica do futebol que Mourinho tenta impor no Madrid quando o mais categorizado, prestigiado e respeitadíssimo jogador da equipa, Iker Casillas, se opôs publicamente a ela. Ruiu depois a tese da conspiração arbitral, sem tradição em Madrid, por falta de factos concretos em que se apoie. Ruiu finalmente a tentativa de intimidação dos artistas do Barcelona a qual, além de não ser seguida por toda a equipa, jamais seria aceite pelos árbitros.

Esta derrota de Mourinho contra o Barça, marcará mais do que qualquer outra - das muitas que já colecciona -, um divórcio entre o treinador e os artistas do Real Madrid que aspiram ser livres para poder exibir a sua arte.

Com alguns dos melhores jogadores do mundo nas suas fileiras, o Real Madrid tem obrigação de fazer mais, muito mais, nos grandes jogos, exibindo-se de igual para igual contra os seus grandes rivais.

Mourinho dificilmente ficará com espaço para tentar a derradeira cartada que o seu passado como treinador deixa adivinhar: prescindir de algumas das estrelas em troca de um conjunto de jogadores robotizados que obedeça acefalamente às directrizes do treinador. Nesse conjunto caberá sempre uma estrela de média grandeza no ataque, contanto que se disponha a fazer o trabalho de dois ou de três jogadores e, obviamente, um meio campo tacticamente forte, além de defesas incansáveis e um guarda-redes seguro. Mas vedetas, artistas, não!

Ponto é saber se, não ganhando nada de valor este ano, o Real Madrid lhe concederá essa nova oportunidade.

sábado, 10 de dezembro de 2011

CHELSEA PÕE DAVID LUIZ NO MERCADO


O CENTRAL BRASILEIRO NÃO CONVENCEU



David Luiz é um caso de amor para os adeptos do Benfica. Chegou à Luz muito novo e com pouca experiência, apesar de já então alinhar nos escalões jovens da selecção brasileira.

O Benfica não é o clube ideal para um jovem “se fazer”, para ganhar experiência. Se o clube está a necessitar do jogador no lugar exige logo dele tanto quanto de um jogador experiente.

David Luiz teve a sorte de chegar à Luz quando Fernando Santos, actual seleccionador da Grécia, era treinador do Benfica. Fernando Santos é um homem sério, bem formado, que exige dos jogadores, mas respeita-os.

David Luiz teve algum tempo para se adaptar. Quis, porém, o destino que em Paris, no Parque do Príncipes, contra o PSG, um dos centrais titulares do Benfica, salvo erro Luisão, se tivesse lesionado no decorrer do jogo, tendo David Luiz entrado a frio para o substituir. Além de entrar a frio, por iniciativa dele ou do colega do centro da defesa passou a ocupar um lugar diferente daquele que o treinador lhe tinha destinado. Enfim, logo nas primeiras jogadas com David Luiz em campo, o PSG marcou e empatou. David Luiz falhou a intercepção no centro remate de Pauleta.

O PSG acabaria por voltar a marcar no primeiro tempo, por Kalu, e David Luiz na segunda parte esteve à beira de empatar com um excelente golpe de cabeça.

Apesar de uma má estreia, os adeptos do Benfica gostaram do “miúdo”. Mais tarde David Luiz acabou por ganhar a titularidade. Na época seguinte, Fernado Santos foi despedido ao segundo ou terceiro jogo. Veio Camacho e David Luiz lesionou-se. Esteve parado muito tempo, cerca de um ano. E o Benfica fez uma época para esquecer sem que haja qualquer correlação entre as duas situações.  Regressou com Quique Flores, que o pôs a jogar a lateral esquerdo. Não era claramente o lugar dele, mas ia cumprindo sempre com abnegação. E lá foi fazendo a época.

Até que chegou Jorge Jesus e com ele aquele futebol loucamente atacante que o Benfica jogou na época 2009/2010. Aquele futebol que entusiasmava dezenas de milhares de adeptos que durante todo o campeonato apoiaram a equipa em todos os campos do país. David Luiz, cumprindo com classe o seu papel na defesa, integrava-se frequentemente nessa loucura atacante, com correrias com a bola pelo campo todo. Marcou alguns golos. Na própria baliza, também.

Os adversários do Benfica, principalmente na televisão, faziam uma permanente campanha contra a dureza de David Luiz, para o condicionarem e para pressionarem os árbitros. Mas não era dureza, nem maldade, era entusiasmo, um grande entusiasmo juvenil. Que às vezes raiava a inconsciência.

 O Benfica fez uma época fantástica e ganhou o campeonato com um futebol espectacular. Os jornais iam falando das múltiplas propostas que os mais variados clubes da Europa apresentavam ao Benfica para comprar David Luiz. Mas o jogador, que viu o seu contrato revisto por várias vezes, durante o tempo de permanência no Benfica, tinha uma cláusula de rescisão alta. E o Presidente dizia que não o deixaria sair se não “batessem” a cláusula.
O que se passou com ele passou-se com outros e está a passar-se este ano com o Porto. Muitos dos jogadores que fizerem uma época boa queriam sair e aproveitar o êxito de que tinham sido protagonistas para passarem a ganhar muito mais dinheiro noutro clube. É humano – é vida dos profissionais de futebol. Os adeptos não gostam, mas essa atitude não faz sentido. Ao atleta o que tem de se exigir é profissionalismo. Nada mais.

E não é razoável mantê-los à força no clube exigindo o pagamento de cláusulas de rescisão altamente inflacionadas, com montantes muito superiores ao seu real valor.

Claro, consciente ou inconscientemente, o jogador contrariado rende menos. E foi o que se passou com David Luiz na época seguinte. Era uma sombra do jogador do ano anterior. Sem entusiasmo, nem alegria. Mesmo assim o Benfica vendeu-o por bom preço no mercado de Janeiro.

Entretanto, ganhou lugar na selecção do Brasil. Tem jogado com alguma regularidade, mas isso não tem sido suficiente para adquirir maturidade, que indiscutivelmente lhe falta.

Foi para o Chelsea. Mas no Chelsea nunca chegou a ser o que foi no Benfica. Talvez lhe tenha faltado Luisão, ao lado. Talvez lhe tenha faltado Jesus, a gritar com ele durante todo o jogo. Às vezes David Luiz desconcentra-se, parece perdido. Deixado entregue a si próprio parece perder a noção do sentido posicional.

Enfim, talvez um clube inglês não fosse o ideal para ele. Diz-se que a Juventus o quer comprar. E ao que parece o Chelsea nem sequer está a pedir muito. Menos de metade do que ele custou. Nada melhor para ele do que um clube italiano. Lá ensinar-lhe-ão, como em nenhum outro lado, a defender, a defender bem.

Oxalá tenha sorte e ele faça por a ter!

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

CHAMPIONS - AS GRANDES SURPRESAS DA FASE DE GRUPOS



A ELIMINAÇÃO DO MANCHESTER UNITED



A eliminação do Manchester United é sem dúvida a grande surpresa da fase de grupos da Liga dos Campeões. Em seis jogos, o Manchester apenas ganhou dois, um em casa outro fora, ambos contra o Otelul Galati, empatou três, dois com o Benfica e um com o Basileia e perdeu um, na noite de hoje, contra o Basileia.

Alinhando num grupo em que à partida era favorito, o desenrolar da série demonstrou tratar-se de um grupo com três equipas muito equilibradas, em que uma nunca perdeu (o Benfica) e as outras duas (Basileia e Manchester) só perderam uma vez, acabando por ser no confronto entre elas que tudo se decidiu.

A outra surpresa vem também de Manchester, do milionário City que, apesar de hoje ter ganho ao Bayern, não conseguiu supera o Nápoles que, por também ter ganho hoje em Villareal, fez mais um ponto.

No grupo B, quando tudo apontava para o apuramento do Lille ou do repescado Trabzonsport, acabou por ser o CSKA o apurado, depois da surpreendente vitória em Milão contra o Inter, já apurado.

De apontar ainda o mau desempenho do Borrussia de Dortmund, campeão em título da Alemanha, que nem sequer apurado foi para a Liga Europa, tendo ficado atrás do Olimpiakos que esteve a um minuto de se apurar para os oitavos de final, não fora a reviravolta do resultado operada pelo Marselha em Dortmund.

Escandaloso foi o que se passou em Amesterdão e em Zagreb. O árbitro português, Jorge de Sousa, por indicação do seu auxiliar, anulou dois golos válidos ao Ajax no jogo desta noite contra o Real Madrid e deixou por marcar uma grande penalidade. Com todas estas benesses, o Real acabou por ganhar por 3-0 num jogo que certamente teria sorte diferente se tudo tivesse corrido de acordo com as regras.

Mourinho volta a ser altamente beneficiado por um árbitro português na Champions. Claro que desta vez, o benefício não tem nada que se compare com o que Benquerença lhe proporcionou nas meias-finais contra o Barcelona, no ano em que o Inter venceu a Champions. Hoje, o Real não precisava do jogo para nada, salvo para bater algum recorde que doravante passa a figurar na carreira de Mourinho. O pior é que com essa inacreditável arbitragem, Jorge de Sousa impediu o Ajax de se qualificar por força do resultado anormal e altamente surpreendente do Lyon em Zagreb. O Lyon ganhou por 7-1 ao Dínamo, tendo os golos surgido uns atrás dos outros até perfazerem a diferença suficiente para, entre golos sofridos e marcados, deixar o Lyon à frente do Ajax. Estranho, muito estranho…O que não diria Mourinho se estivesse na situação do Ajax? Escreveria certamente um romance…

CHAMPIONS - BENFICA ASSEGURA PRIMEIRO LUGAR NO GRUPO



PORTO REBAIXADO PARA A LIGA EUROPA
Golo de Cardozo garante vitória no grupo



No jogo de ontem à noite, contra o Dínamo de S. Petersburgo, o Porto não conseguiu melhor do que um empate a zero, tendo sido eliminado da Liga dos Campeões.

Contra uma equipa muito defensiva, sem grande capacidade atacante, mesmo nas transições que quase nunca resultaram, o Porto, apesar de ter dominado o encontro, não foi capaz de encontrar com êxito o caminho da baliza adversária. Por várias vezes poderia ter marcado. Não o fez, umas por mérito, muito mérito, do guarda-redes russo que, com a sua extraordinária exibição, assegurou à sua equipa um lugar na próxima fase da Liga dos Campeões; outras por demérito dos avançados portistas nulamente eficazes na hora da verdade.

Com excepção do jogo na Ucrânia, todos os demais efectuados pelo Porto na Champions foram fracos. O que parece a quem vê o Porto jogar é que não está interiorizado, e depois respeitado, um modelo de jogo que os jogadores apliquem automaticamente. Falta qualquer coisa e não será apenas Falcão.

Rebaixado para a Liga Europa, o Porto vai este ano encontrar adversários bem mais fortes do que aqueles com que o ano passado se deparou. Mas é preciso não exagerar os desaires portistas: o Porto está fora de duas Taças, vai iniciar noutra um novo percurso e continua à frente do Campeonato.

O Benfica, hoje à noite, na Luz, ganhou como lhe competia o jogo contra o Otelul Galati, assegurando com a vitória o primeiro lugar no respectivo grupo. Cedo o resultado ficou feito, embora a incerteza no marcador pairasse até ao fim do jogo.

Num bom lançamento longo de Jardel se iniciou a jogada que deu origem ao golo. Bom trabalho de Witsel sobre a direita, bem complementado por Gaitan, que assistiu Cardozo, que, de pé direito, fez o golo.

O Otelul nunca se entregou e o Benfica foi controlando o jogo sempre a contar que o segundo golo poderia mais ou tarde ou mais cedo resultar de uma das múltiplas jogadas em que, com perigo, se acercava da área adversária.

A verdade é que esse golo não apareceu, não obstante as oportunidades criadas, podendo antes, por duas vezes, ter surgido a favor dos romenos não fora, da primeira vez, mais uma extraordinária, aliás, duas, intervenções de Artur a negar o que parecia ser um golo certo e da outra vez, quase no fim do jogo, o remate frontal do avançado romeno ter saído a rasar a trave.

Em ambas as vezes houve alguma displicência da defesa do Benfica, embora num jogo de futebol seja quase impossível evitar o aparecimento de oportunidades para o adversário, mais ainda numa competição deste género.

O Benfica não terá feito uma grande exibição, mas jogou o suficiente para vencer. É hoje uma equipa mais consolidada e menos espectacular. Aquela contínua pressão atacante desapareceu, parecendo a quem vê o jogo de fora que há como que uma espera do momento certo para desferir no adversário o golpe fatal. Normalmente quando o apanha desequilibrado ou nas bolas paradas.

Além de Artur, pelo modo decisivo como interveio no jogo, de realçar mais uma vez a boa exibição de Aimar, a segurança de Javi e de Witsel, uma dupla de luxo, a criatividade de Gaitan e a eficácia de Cardozo, mesmo quando não as aproveita todas. Na defesa, a segurança de Garay e o bom desempenho de Jardel foram suficientes. Nas alas, Emerson sempre igual a si próprio, não deslumbra nem compromete e Rúben Amorim lá tentou fazer o melhor que pôde o lugar de Maxi. Bruno César já esteve mais inspirado.

No segundo tempo, antes dos 15 minutos, Nolito substituiu Bruno César, trazendo alegria ao jogo com o seu futebol irreverente, perto dos 70 minutos Aimar cedeu o lugar a Rodrigo que, mais uma vez, falhou frente ao guarda-redes e a 10 minutos do fim Saviola entrou para o lugar de Cardozo.

O Otelul, apesar de não ter somado nenhum ponto, é uma equipa bem melhor do que outras que os fizeram. Em seis jogos sofreu dez golos, tantos quantos o Basileia, mas apenas marcou três, essa a sua principal fragilidade.

Nos oitavos de final, o Benfica encontrará uma das seguintes equipas: Leverkusen (com o qual já jogou, e eliminou, na Taça das Taças), Marselha (velho conhecido, duas vezes derrotado), Zenit (que nunca defrontou), AC Milan (de más recordações), Nápoles (que também já eliminou), CSKA (com o qual também nunca jogou) e Lyon (com o qual já perdeu e ganhou).


segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

BENFICA ELIMINADO DA TAÇA DE PORTUGAL

PRIMEIRA DERROTA DA ÉPOCA



No fim-de-semana passado, o Benfica foi eliminado da Taça de Portugal, na Madeira, pelo Marítimo. Perdeu por 2-1. Não há muito a dizer sobre esta eliminação. As equipas não são invencíveis e podem perder para qualquer um, mais ainda se esse “um” se chama Marítimo, a fazer uma grande época.

O Benfica até nem começou mal, marcou um golo no primeiro tempo, ao que parece resultante de uma grande penalidade irregularmente assinalada, e na segunda parte poderia ter voltado a marcar.

Não marcou e fê-lo o Marítimo. Primeiro com um grande golo de Roberto de Souza e logo a seguir um outro com grandes responsabilidades da defesa do Benfica. Até ao fim o Benfica, não obstante as substituições, tentou mas não logrou empatar o jogo.

Rodrigo mais uma vez deixou evidente as suas fragilidades no frente a frente com os guarda-redes. Um bom avançado não é apenas o que marca golos. É também o que não falha golos ou falha poucos golos, mesmo quando desempenha um papel importante na criação das respectivas oportunidades. Rodrigo é ainda muito novo, tem muito tempo para aprender. Não deve ser ostracizado quando falha, nem endeusado quando marca.

Não parece razoável criticar Jesus por não ter alinhado com os habituais titulares. A equipa que o Benfica pôs em campo é uma boa equipa. Todos os jogadores tem categoria para jogar no primeiro team e, mais do que isso, têm de estar preparados para o fazer.

Com excepção do guarda-redes, que pode ser o que mais se ressente de não jogar regularmente, todos os demais têm alinhado com relativa regularidade.

Há, porém, duas questões que não podem ser escamoteadas. O Benfica não tem ninguém à altura de substituir Maxi Pereira e do outro lado da defesa as coisas também não estão bem. Jesus preteriu Capedevila, a quem praticamente não deu qualquer chance, e Emerson é um jogador “certinho”, sem grandes rasgos que às vezes dá a sensação de poder comprometer.

A outra questão respeita à pouca ou nula utilização de Nelson Oliveira. A um jovem como ele ou se dá tempo suficiente para alinhar e mostrar as suas potencialidades ou se dispensa, pondo-o a jogar noutro clube. O que não pode é conceder-se-lhe uns breves minutos quase no fim dos jogos e esperar que ele faça alguma coisa. Objectivamente essa gestão do jogador só o prejudica e pode mesmo perder-se uma grande esperança do futebol português.

Com o Benfica eliminado, o caminho na Taça de Portugal fica a partir de agora aparentemente mais fácil para o Sporting. Mas só aparentemente, o Sporting ainda não passou esta fase e, se passar, há mais equipas em prova, algumas delas a jogar bom futebol.

Amanhã, o Benfica tem a possibilidade de se redimir, ganhando, na Luz, o último jogo da fase de grupos da Champions e garantindo assim o primeiro lugar. Tal como as coisas estão, o primeiro lugar não significa jogar nos oitavos contra uma equipa menos valiosa. Há grandes equipas que vão ficar ou podem ficar em segundo lugar. Mas é antes uma questão de prestígio assegurar a liderança num grupo que conta com o Manchester United.