segunda-feira, 22 de setembro de 2025

SOBRE O DESPEDIMENTO DE BRUNO LAGE

 O ADVOGADO LUÍS MIGUEL HENRIQUE, NA CMTV,  SOBRE O DESPEDIMENTO DE LAGE 

A conversa do Advogado Luís Miguel Henrique, na CMTV, na passada sexta-feira, sobre o despedimento de Bruno Lage,  é preocupante por várias razões.

Primeira – Com base num interesse pecuniário pessoal indirecto, o advogado Luís Miguel Henrique-, aproveitando o palco que alguém lhe concedeu (ele está lá em representação de quem?), usou o seu tempo de antena, pretensamente dedicado ao comentário futebolístico, para objectivamente o usar como tribuna de defesa dos seus indirectos interesses pessoais, de natureza pecuniária, a partir de uma pretensa conspiração urdida no interior do Benfica para despedir Bruno Lage.

A sua tese assenta num primarismo muito fácil de enunciar, mas impossível de provar pelo absurdo em que assentam algumas das suas premissas e conclusões. Segundo o advogado, que falou durante todo o programa como conselheiro ou advogado de Lage, este- teria a garantia de Rui Costa de que, alcançados os dois principais objectivos a que o Benfica se propunha no início da época – vitória na Supertaça e participação na fase de grupos da Liga dos Campeões Europeus –, de que até às eleições (25 de Outubro) não seria despedido. Depois se veria.

Segundo o advogado, esta promessa não foi cumprida por no interior do Benfica se ter urdido uma conspiração destinada a despedir Lage. Nas meias palavras depreende-se que esta conspiração foi urdida pelos apoiantes da contratação de Mourinho, depois do seu despedimento do Fenerbahce, após a sua eliminação, pelo Benfica, no “play off” da Liga dos Campeões. Depreende-se também de que nesta conspiração estariam envolvidos o actual director desportivo do Benfica – Mário Branco - que no ano passado tinha trabalhado com Mourinho no clube turco e outras personalidades, nomeadamente aquelas que concordaram com a antecipação do jogo contra o Santa Clara de 13 para 12 de Setembro. Prova ainda de que essa conspiração existia assenta no facto de, estando o Benfica a ganhar por 2-0 ao Qarabag, bastou que aos vinte e poucos minutos tivesse havido uma pequena falha para que a equipa fosse de imediato assobiada e vaiada.

Perante estes factos, bem como em consequência do “incumprimento” do compromisso assumido por Rui Costa, o advogado Luís Miguel Henrique reprovou com veemência a decisão assumida por Lage, na noite de 16 de Setembro e reiterada no dia seguinte, quando o seu despedimento já estava consumado, de apenas cobrar ao Benfica o mês de Setembro e os prémios a que tinha direito e incita-o a não respeitar a palavra dada (publicamente), devendo, em seu entender, exigir tudo a que tinha direito até ao fim do contrato – dois milhões de euros, segundo o advogado.

Lamentável, muito lamentável, é o advogado estar a aproveitar-se do tempo de antena para defesa do que não pode deixar de ser entendido como um interesse pessoal indirecto, efectivado mediante o aconselhamento de um comportamento indigno ao seu aconselhado.

Segunda – Esta versão do advogado não tem a menor comprovação factual, por razões óbvias, que mais abaixo podem ser enunciadas, sendo a única que aparece como válida o facto de o advogado, conselheiro de Lage, lhe ter dito que discordava do seu comportamernto, deixando claro que ele só trataria do assunto, como advogado , se “as coisas fossem feitas à sua maneira”, ou seja rompendo o compromisso assumido por Lage publicamente e exigindo do Benfica os tais dois milhões de euros a que teria direito por “despedimento sem justa causa”.

Escusado será falar no interesse indirecto que o advogado tem neste desfecho da questão, pelos honorários que cobraria a Lage, certamente nunca inferiores a vinte por cento.

Terceira - A questão da traição tem muito que se lhe diga. Sim, mesmo que Rui Costa tenha prometido a Lage que ficaria no clube até à data das eleições, depois da vitória na Supertaça e da entrada na Liga dos Campeões, esse duplo êxito, porém, não estava a ser suficiente para acalmar os adeptos que viram em todo os restantes jogos o que toda a gente viu – uma equipa sem ideias, com um futebol fastidioso, incapaz de empolgar o mais fanático benfiquista, ganhando jogos tangencialmente, sempre a “milímetros” de os perder ou empatar. Portanto, era perfeitamente natural que ao menor desaire, a pressão sobre o presidente, para despedir Lage, aumentasse consideravelmente, a ponto de se tornar insustentável. E houve não um, mas dois desaires, em poucos dias. Perante este cenário, que levaria provavelmente à derrota eleitoral de Rui Costa, este, aproveitando-se do facto de Mourinho estar livre, tenha visto nele a sua tábua de salvação, pelo prestígio mundial associado ao seu nome. Isto não obedece a qualquer complot, mas apenas e só às leis da sobrevivência.

Quarta – O facto de o Branco já estar no Benfica, apenas terá facilitado as coisas. Mas com Branco ou sem Branco, Rui Costa faria exactamente o mesmo. E é também absolutamente ridículo afirmar que havia uma conjura organizadas contra Bruno Lage, pelo facto de a equipa ter sido assobiada, quando estava a ganhar por 2-0 ao Qarabag. A equipa foi assobiada porque se estava mesmo a ver o que poderia acontecer…Como já tinha acontecido antes contra o Santa Clara e somente por alguma sorte não aconteceu contra o Alverca e o Estrela da Amadora

Quinta - No lugar de Rui Costa, eu teria na quarta–feira, convocado os candidatos à presidência do Benfica para lhes comunicar que tencionava contratar de imediato Mourinho, com base no argumento de que uma eleição num clube de futebol nada tem que ver com uma eleição no domínio político, porque nestas os objectivos dos candidatos são diferentes ou mesmo antagónicos, enquanto num clube de futebol os grandes objectivos são os mesmos para todos, o que o pode ser muito diferente é o caminho que cada um propõe para lá chegar. E tentaria, nessa conversa, que o nome do treinador escolhido fosse consensual. Se não houvesse acordo, manteria a minha escolha. Costa optou por alcançar esse consenso à posteriori…

Sexta - Advertiria os sócios, adeptos e simpatizantes da mais que provável campanha de intrigas que os adversários do Benfica – principalmente o Sporting – iriam pôr em prática, nos meios de comunicação que dominam, sobre o contrato de Mourinho ou qualquer outro assunto, com vista a destabilizar o Benfica internamente.