O ADVOGADO LUÍS MIGUEL HENRIQUE, NA CMTV, SOBRE O DESPEDIMENTO DE LAGE
A conversa do Advogado Luís Miguel Henrique, na CMTV, na passada sexta-feira, sobre o despedimento de Bruno Lage, é preocupante por várias razões.
Primeira – Com base num interesse pecuniário pessoal indirecto, o
advogado Luís Miguel Henrique-, aproveitando o palco que alguém lhe concedeu
(ele está lá em representação de quem?), usou o seu tempo de antena, pretensamente
dedicado ao comentário futebolístico, para objectivamente o usar como tribuna
de defesa dos seus indirectos interesses pessoais, de natureza pecuniária, a
partir de uma pretensa conspiração urdida no interior do Benfica para despedir
Bruno Lage.
A sua tese assenta num primarismo
muito fácil de enunciar, mas impossível de provar pelo absurdo em que assentam
algumas das suas premissas e conclusões. Segundo o advogado, que falou durante todo o programa como conselheiro ou advogado de Lage, este- teria a garantia de Rui
Costa de que, alcançados os dois principais objectivos a que o Benfica se
propunha no início da época – vitória na Supertaça e participação na fase de
grupos da Liga dos Campeões Europeus –, de que até às eleições (25 de Outubro)
não seria despedido. Depois se veria.
Segundo o advogado, esta promessa
não foi cumprida por no interior do Benfica se ter urdido uma conspiração
destinada a despedir Lage. Nas meias palavras depreende-se que esta conspiração
foi urdida pelos apoiantes da contratação de Mourinho, depois do seu
despedimento do Fenerbahce, após a sua eliminação, pelo Benfica, no “play off”
da Liga dos Campeões. Depreende-se também de que nesta conspiração estariam envolvidos
o actual director desportivo do Benfica – Mário Branco - que no ano passado tinha
trabalhado com Mourinho no clube turco e outras personalidades, nomeadamente
aquelas que concordaram com a antecipação do jogo contra o Santa Clara de 13
para 12 de Setembro. Prova ainda de que essa conspiração existia assenta no
facto de, estando o Benfica a ganhar por 2-0 ao Qarabag, bastou que aos vinte e
poucos minutos tivesse havido uma pequena falha para que a equipa fosse de
imediato assobiada e vaiada.
Perante estes factos, bem como em
consequência do “incumprimento” do compromisso assumido por Rui Costa, o advogado
Luís Miguel Henrique reprovou com veemência a decisão assumida por Lage, na
noite de 16 de Setembro e reiterada no dia seguinte, quando o seu despedimento
já estava consumado, de apenas cobrar ao Benfica o mês de Setembro e os prémios
a que tinha direito e incita-o a não respeitar a palavra dada (publicamente),
devendo, em seu entender, exigir tudo a que tinha direito até ao fim do contrato
– dois milhões de euros, segundo o advogado.
Lamentável, muito lamentável, é o
advogado estar a aproveitar-se do tempo de antena para defesa do que não pode
deixar de ser entendido como um interesse pessoal indirecto, efectivado
mediante o aconselhamento de um comportamento indigno ao seu aconselhado.
Segunda – Esta versão do advogado não tem a menor comprovação
factual, por razões óbvias, que mais abaixo podem ser enunciadas, sendo a única
que aparece como válida o facto de o advogado, conselheiro de Lage, lhe ter dito que discordava do seu comportamernto, deixando claro que ele só
trataria do assunto, como advogado , se “as coisas fossem feitas à sua
maneira”, ou seja rompendo o compromisso assumido por Lage publicamente e
exigindo do Benfica os tais dois milhões de euros a que teria direito por “despedimento
sem justa causa”.
Escusado será falar no interesse indirecto
que o advogado tem neste desfecho da questão, pelos honorários que cobraria a
Lage, certamente nunca inferiores a vinte por cento.
Terceira - A questão da traição tem muito que se lhe diga. Sim, mesmo
que Rui Costa tenha prometido a Lage que ficaria no clube até à data das
eleições, depois da vitória na Supertaça e da entrada na Liga dos Campeões, esse
duplo êxito, porém, não estava a ser suficiente para acalmar os adeptos que
viram em todo os restantes jogos o que toda a gente viu – uma equipa sem
ideias, com um futebol fastidioso, incapaz de empolgar o mais fanático benfiquista,
ganhando jogos tangencialmente, sempre a “milímetros” de os perder ou empatar. Portanto,
era perfeitamente natural que ao menor desaire, a pressão sobre o presidente,
para despedir Lage, aumentasse consideravelmente, a ponto de se tornar
insustentável. E houve não um, mas dois desaires, em poucos dias. Perante este
cenário, que levaria provavelmente à derrota eleitoral de Rui Costa, este,
aproveitando-se do facto de Mourinho estar livre, tenha visto nele a sua tábua
de salvação, pelo prestígio mundial associado ao seu nome. Isto não obedece a
qualquer complot, mas apenas e só às leis da sobrevivência.
Quarta – O facto de o Branco já estar no Benfica, apenas terá
facilitado as coisas. Mas com Branco ou sem Branco, Rui Costa faria exactamente
o mesmo. E é também absolutamente ridículo afirmar que havia uma conjura
organizadas contra Bruno Lage, pelo facto de a equipa ter sido assobiada,
quando estava a ganhar por 2-0 ao Qarabag. A equipa foi assobiada porque se
estava mesmo a ver o que poderia acontecer…Como já tinha acontecido antes
contra o Santa Clara e somente por alguma sorte não aconteceu contra o Alverca
e o Estrela da Amadora
Quinta - No lugar de Rui Costa, eu teria na quarta–feira, convocado
os candidatos à presidência do Benfica para lhes comunicar que tencionava
contratar de imediato Mourinho, com base no argumento de que uma eleição num
clube de futebol nada tem que ver com uma eleição no domínio político, porque
nestas os objectivos dos candidatos são diferentes ou mesmo antagónicos,
enquanto num clube de futebol os grandes objectivos são os mesmos para todos, o
que o pode ser muito diferente é o caminho que cada um propõe para lá chegar. E
tentaria, nessa conversa, que o nome do treinador escolhido fosse consensual.
Se não houvesse acordo, manteria a minha escolha. Costa optou por alcançar esse
consenso à posteriori…
Sexta - Advertiria os sócios, adeptos e simpatizantes da mais que
provável campanha de intrigas que os adversários do Benfica – principalmente o
Sporting – iriam pôr em prática, nos meios de comunicação que dominam, sobre o contrato
de Mourinho ou qualquer outro assunto, com vista a destabilizar o Benfica
internamente.