terça-feira, 3 de julho de 2012

RESCALDO DO EURO 2012



A VITÓRIA DE ESPANHA

A primeira e mais importante nota sobre o Euro 2012 é a vitória da selecção espanhola por mais que o assunto já tenha sido tratado em todo o mundo. Algo de extraordinário se passou em Espanha para que a partir de 2008 a selecção espanhola de futebol ser a principal favorita das provas em que participa e simultaneamente tivesse feito jus a esse favoritismo vencendo-as. Algo de extraordinário se passou para que num país onde sempre existiram jogadores de classe mundial e onde em diversas épocas se encontraram gerações de grandes futebolistas, mas sempre sem ganhar nada, com excepção de uma copa de europa (1964) em moldes muito diferentes dos actuais, algo de extraordinário se passou, dizíamos, para que a partir de 2008 Espanha, em futebol, seja sinónimo de vitória.
A primeira coisa que há a sublinhar é o facto de a Espanha passar a ter um estilo que nada tem com o das selecções do passado. Antes era a fúria, aquela força bem espanhola feita de vontade e paixão, que se apresentava em campo para ganhar. Agora o que se apresenta em campo é um conjunto de jogadores dotados de uma técnica extraordinária e de uma inteligência de jogo que faz com que na maior parte dos casos os jogadores das equipas adversárias sejam meras espectadores do futebol que eles praticam. Mas espectadores especiais, pois contrariamente aos que estão na bancada eles têm a pretensão de também participar no jogo; eles também querem jogar, embora passem a maior parte do seu tempo à procura da bola que permanentemente lhes escapa.  
Quem implantou este futebol em Espanha foi Guardiola exactamente na época em que a Espanha ganhou o primeiro desta série de títulos, o Euro 2008. O Barcelona começou a praticá-lo na época 2007/2008. Depois foi-o refinando, ganhando títulos em série. A marca deste jogo era tão forte que a selecção adoptou-o, adaptando-se facilmente a ele os excelentes futebolistas que vinham de outras paragens (Real Madrid, Sevilha, Valência, enfim, clubes estrangeiros). Em 2010 na África do Sul estilo de jogo já estava consolidado e a Espanha voltou a vencer. Em 2012, embora também mais conhecido e estudado, atingiu o seu apogeu. A Espanha experimentou dificuldades no primeiro jogo contra a Itália, sem nunca ter corrido o risco de perder, passou por momentos difíceis contra a Croácia – e ninguém sabe o que teria sucedido se o árbitro tivesse visto o que toda a gente viu – e foi superada por Portugal nos 90 minutos, tendo recuperado no prolongamento.
Este futebol que a Espanha pratica nada tem a ver com o do Real Madrid, seja o RM deste ano, seja o dos anos anteriores, apesar de lá ter quatro titulares. A sua base, a sua concepção de jogo, é a do Barcelona. Este ano até mais do que qualquer outro dada a posição em que Fábregas jogou. E sendo assim a questão que se põe é se a hegemonia da selecção espanhola poderá sobreviver à eventual perda de hegemonia do Barcelona.
Depois houve outras notas interessantes que convém sumariar muito rapidamente:
Apenas houve três expulsões e uma delas, a de Sokratis da Grécia, mal decidida; houve apenas três penalties, dois a favor da Grécia e um da Alemanha; foi disciplinarmente um Euro muito correcto – os jogadores facilitaram muito a vida aos árbitros e estes erraram muito menos. Os fora de jogo foram quase todos bem assinalados o que não deixa de ser uma performance extraordinária inclusive para equipas de arbitragens que nos seus respectivos países nem sempre primam pelo rigor. Uma das excepções ocorreu num lance que deu lugar a uma das mais polémicas questões de todo o campeonato – o golo da Ucrânia contra a Inglaterra não validado; se o off side tivesse sido assinalado a questão do golo já não se teria posto. É o que se chama escrever direito por linhas tortas. Houve ainda três ou quatro lances que levantaram mais polémica, todos eles relacionados com faltas cometidas pela equipa defendente dentro da sua área – dois na área da Espanha contra a Croácia; um na área da Itália contra a República da Irlanda e um outro na área da Alemanha no jogo contra a Dinamarca. Na final, Pedro Proença não assinalou uma mão na área italiana por ter entendido que não houve intencionalidade.
Quanto a jogadores, os que mais se distinguiram foram os da equipa espanhola, não sendo exagerado colocar vários deles entre os melhores do Europeu, a saber: Casillas, Sérgio Ramos, Jordi Alba, Xabi Alonso, Iniesta e Fábregas. Na Itália Pirlo e também Balotelli, sempre muito presente e decisivo nas duas vitórias da equipa; na Alemanha Özil; e na equipa portuguesa Pepe, Coentrão e Moutinho. Ronaldo só esteve bem em dois jogos, tendo ficado muito aquém das necessidades da equipa nos outros três.

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