terça-feira, 3 de setembro de 2013

OS PROBLEMAS DO BENFICA


A CONFIRMAÇÃO DO QUE SE PREVIA

 

O lamentável, embora esperado, início do Campeonato confirma o que se esperava do Benfica para a época em curso.

Depois do descalabro da época passada em que em pouco mais de três semanas deitou a perder tudo o que durante a época fora amealhando, o Benfica começou a época – e antes dela a pré-época – com o mesmo estado de espírito com que ficou depois do empate em casa com o Estoril e da derrota no Porto: uma equipa desanimada, descrente e incapaz de reagir à adversidade. E quando este é o estado de espírito de uma equipa (ou de uma pessoa) todas as suas qualidades caem em flecha. O brilhantismo que ontem era atingido com naturalidade, tanto a nível individual como colectivo, torna-se agora numa espécie de miragem do passado, incapaz de se repetir e - pior do que isso – torna-se para os mesmos protagonistas incompreensível como tal brilhantismo chegou a ser alcançado outrora tão longe ele está hoje de poder ser repetido.

Este estado de espírito da equipa do Benfica, e que somente a presença de um outro jogador novo a momentos disfarça, não vai passar com o decurso do tempo, correndo, pelo contrário, o sério risco de se agravar a cada dia que passa.

Foi notório no jogo da Madeira a incapacidade de reacção da equipa, como notória foi a ausência de processos alternativos que pudessem inverter a situação ou que, no mínimo, criassem na mente dos jogadores a convicção de que ela poderia ser invertida. A mediocridade da exibição contra o Gil Vicente, marcada por um grau de desperdício inaceitável e que nada tem a ver com a sorte do jogo, confirma o que na Madeira se começara a evidenciar. Finalmente, o jogo do passado sábado contra o Sporting voltou a mostrar uma equipa sem ideias – ou muito saturada das ideias que tem –, dominada em largos períodos do jogo por uma equipa de novatos praticamente acabada de formar, que apenas alcançou um empate graças à genialidade de um jogador, o mesmo se podendo dizer do único lance que, depois do golo, poderia ter dado a vitória ao Benfica.

Há indiscutivelmente uma fadiga psicológica na equipa que nada tem a ver com a incerteza do desfecho sobre o mercado de transferências, ele próprio muito afectado, no que respeita ao Benfica, por essa mesma fadiga que degrada e desvaloriza o valor negocial dos jogadores. De facto, os jogadores do Benfica eventualmente transferíveis não sofrem de instabilidade emocional reflectida na sua prestação desportiva por não saberem se vão ou não ser transferidos ou da eventual oposição do clube a essa transferência, mas por saberem que apesar de o clube os querer vender, pelo menos três ou quatro – Matic, Garay, Sálvio e, eventualmente, Gaitan – não há quem lhes pegue pelo valor que eles realmente têm. Esta sim a causa dessa instabilidade, ela própria gerada pela situação psíquico-desportiva da equipa.

A primeira conclusão que inevitavelmente tem de se tirar é que esta situação não é fruto do acaso nem das famosas contingências do futebol – esta situação era previsível e tem responsáveis. Tanto mais responsáveis quanto mais fácil de prever seria o que se iria passar se tudo continuasse na mesma.

O primeiro grande responsável pelo que se está a passar no Benfica é aquilo que de uns tempos a esta parte se passou a denominar um pouco enigmaticamente por a “estrutura do Benfica”. Ou seja, os responsáveis pela gestão, organização e condução do futebol do Benfica – algo que no Benfica não se sabe bem o que seja.

Sabe-se que o Presidente tem um forte pendor autocrático, remetendo para a subalternidade subserviente os que com ele trabalham, e sabe-se também que a sua ignorância em matéria de futebol e do próprio mundo do futebol tem a mesma dimensão, se não até maior, que a sua autocracia.

No plano técnico, algo que numa equipa organizada segundo os mais modernos padrões de gestão do futebol deveria estar completamente subordinada àquela estrutura no plano, digamos, “político”, sabe-se que o Benfica tem um treinador incapaz de expor uma ideia com clareza e de formular um raciocínio escorreito com princípio, meio e fim. Tem um treinador – e certamente o mesmo se passará com a equipa técnica que o acompanha – que, não obstante os méritos do seu autodidatismo – quase sempre insuficientes, qualquer que seja o ramo de actividade -, está longe de corresponder na presente fase ddo clube ao tipo de treinador que o Benfica precisaria, quer no plano técnico-táctico, quer no plano comunicacional, quer no do relacionamento com o plantel .

Durante um certo período, já manifestamente ultrapassado no ano passado, Jorge Jesus serviu os interesses do Benfica tendo em conta a fase em que o clube se encontrava. Desde há mais de dois anos que existe um desajustamento evidente entre as novas necessidades e a capacidade de resposta da equipa técnica, a que se deveria ter posto cobro normalmente.

Finalmente, consequência dessa ausência de “estrutura” e de condução técnica subordinada é a actual composição do plantel independentemente de quem ainda possa vir a sair ou a entrar. O Benfica não tem uma defesa à altura das suas pretensões, facto que já o ano passado era muito visível.

Artur é incerto e pode comprometer gravemente a equipa a qualquer momento como se viu na época passada em quatro jogos decisivos. Maxi não para há cinco anos, está muito instável – também já estava o ano passado – e pode a todo o momento e em qualquer jogo ser expulso em lances cuja perigosidade não exigia tal comportamento. Luisão tem o peso dos anos. Ou está bem posicionado e se antecipa ou só tem como recurso a obstrução ou ser batido. Garay, o melhor dos cinco, está ausente e até parece que perdeu sentido posicional. Cortez, mais uma invenção de Jesus – e pela valia das invenções se avalia o nível do inventor …-, vai dar certamente muitas dores de cabeça à equipa e comprometê-la ainda mais do que ela já está.

Com esta defesa o Benfica irá somar um número record de golos sofridos.

Perante isto, o que fazer? Era preciso mudar quase tudo, mas como isso não será fácil o mais provável é que se vá assistindo a uma lenta mas persistente degradação capaz de comprometer o destino do clube muito para além dos resultados desportivos de uma época.

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