quarta-feira, 15 de junho de 2016

A SELECÇÃO PORTUGUESA NO EURO 2016


 

O EMPATE COM A ISLÂNDIA
 
fsantos

 

Criou-se a ideia de que Portugal tinha uma grande selecção capaz, inclusive, de vencer o torneio europeu que se está disputando em França.  Trata-se de, todavia, de uma ideia assente numa avaliação exagerada das capacidades da selecção.

Portugal, integrado num grupo de apuramento relativamente fácil, fez uma campanha normal, face às selecções em presença, sem nunca deslumbrar.

Em França, na fase final do Europeu, Portugal volta a estar integrado num grupo aparentemente ainda mais fácil. De facto, nem a Islândia, nem a Hungria, nem a Áustria, têm, nestes últimos quinze anos, marcado presença ou dado nas vistas nas grandes montras do futebol mundial, tanto a nível de clubes, como de selecções. O que não quer dizer que não possam ter equipas muito competitivas na prova em curso.

Aliás, é bom lembrar que a Áustria fez uma fase de grupos extraordinária, melhor que a Espanha, a Alemanha, a Itália e Portugal, apenas suplantada pela Inglaterra que ganhou todos os jogos. Por outro lado, a Islândia apurou-se em segundo lugar num grupo do qual fazia parte a Holanda, que foi eliminada. Portanto, a ideia de que a equipa portuguesa tinha uma passadeira vermelha estendida para alcançar a fase seguinte, era uma ideia que tinha de ser confirmada no campo, em cada jogo. Sabia-se-se de antemão que os jogos contra a Áustria e a Islândia seriam difíceis, adivinhando-se mais fácil o jogo contra a Hungria, que acabou, como se sabe, de derrotar a Áustria, complicando as contas do grupo.

No jogo de ontem, contra a Islândia, cedo se percebeu que a selecção portuguesa iria defrontar uma equipa difícil, muito competitiva, que privilegiaria o jogo directo, através de lançamentos longos, procurando tirar partido das “segundas” bolas por força da sua mais bem apetrechada compleição física.

Perante este quadro, que era ou deveria ser esperado, a selecção portuguesa teria de saber penetrar na estrutura da equipa adversária, procurando por meio dessas brechas impor o seu jogo. Acontece que a selecção raramente foi capaz de fazer isto. Os médios contornaram a equipa da Islândia, sem nunca verdadeiramente a penetrar.

Danilo, como “seis”, pouco adiantou relativamente a William Carvalho. Tal como o sportinguista, foi lento, pouco ou nada criativo, jogou sempre muito recuado e, apesar disso, nas poucas vezes em que poderia ter tirado vantagem desse recuo, não estava lá.

Os demais médios também estiveram muito mal, com excepção de André Gomes, que começou bem e foi depois piorando sempre até sair. Dos três (Moutinho, João Mário e André Gomes), Moutinho foi de longe o pior. Há muito que Moutinho está jogando pouco. Explicando melhor: com excepção de dois dos anos passados no Porto, nunca Moutinho jogou mais do que joga agora. E agora joga pouco, sendo óbvio que não tem lugar na equipa, a ponto de se dever questionar a sua convocação. João Mário, estranhamente, tarda em reaparecer. Quem desconhecesse a época que fez este ano no Sporting, perguntaria o que estava aquele rapaz a fazer na selecção. André Gomes começou bem, foi único que tentou penetrar na organização da equipa adversária, mas, muito contagiado pelo que via à sua volta, acabou, tal como os outros, por desaparecer da equipa. Não é, portanto, por acaso que os três foram substituídos.

Na defesa, Rui Patrício esteve bem, defendeu o que tinha de defender, nada podendo fazer no golo sofrido. O mesmo se diga dos laterais, embora Guerreiro tenha estado melhor do que Vieirinha. No centro da defesa, Pepe voltou a comprometer a equipa. Lutou, algumas vezes a raiar a violência, outras fazendo-se de palhaço, mas acabou por ter grandes culpas no golo sofrido por, com a sua movimentação, ter desorganizado a defesa portuguesa. Ricardo Carvalho esteve bem melhor.

Contudo, o grande problema da defesa não consiste na prestação individual dos seus componentes, mas na sua organização como bloco, fundamental para a estruturação da equipa, tanto em acções defensivas, como na primeira fase de construção do jogo. Defensivamente, o modo como o bloco se comportou é de tal modo lamentável que dificilmente poderá deixar de se imputar ao treinador essa deficiência. O posicionamento dos defesas no golo sofrido pertence à pré-história do futebol. Como pode na segunda década do século XXI posicionar-se naqueles termos o bloco defensivo? A defesa tem de acompanhar a linha da bola, mantendo-se nela sem aquelas tontas movimentações em que Pepe incorreu e, por culpa dele, Vieirinha. Por outro lado, apesar do constante recuo de Danilo, nunca os centrais foram capazes de iniciar uma penetrante jogada de construção, salvo, uma vez, em Pepe que colocou nos pés de Ronaldo uma bola de golo que Ronaldo desperdiçou com um pontapé em falso.

Tudo isto é da responsabilidade do treinador, como também é da sua responsabilidade a inépcia, por falta de ideias, de toda a linha média.     

Na frente, Nani esteve bem melhor do que é habitual, sem deslumbrar, mas demonstrando grande eficiência no golo e no remate de cabeça que o guarda-redes adversário defendeu brilhantemente. Já Ronaldo esteve igual a si próprio. Ou seja, vulgar se a equipa se vulgariza ou é vulgar. Ronaldo nunca foi um jogador de agarrar o jogo e transformá-lo. Não tem essa mestria, nem se pode esperar isso dele. Ronaldo tem de ser servido e tem sempre de se contar que precisa de várias oportunidades, em regra quatro, excecionalmente três, para marcar um golo. Se a linha média não jogar, se não produzir jogo, Ronaldo passa à margem do jogo, como quase sempre tem acontecido na selecção. No Manchester United e, principalmente, no Real Madrid, isso não acontece porque são (ou foram) equipas com grandes jogadores, que possibilitam, com a sua acção, potenciar todas as qualidades de Ronaldo. Essa a razão por que ele não rende na selecção.

Veremos se a substituição (que se impõe) da linha média no jogo contra a Áustria poderá trazer algo de novo, já que da parte do treinador não se poderá esperar que tenha ideias muito diferentes das que até agora tem posto em prática.

Para terminar, uma palavra sobre a Islândia, que fez um excelente jogo, dentro daquilo que era o seu plano de jogo. Desmerecer na prestação da equipa islandesa é não compreender o que se passou. E isso é mau pelo que prenuncia relativamente ao futuro.

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