sexta-feira, 30 de setembro de 2022

O FUTEBOL CLUBE DO PORTO E OS SEUS FANTASMAS

 

OS CASOS MAIS RECENTES 

O FCP é, nesta primeira fase da época, um clube acossado por dois factos altamente negativos: a prestação negativa da equipa de futebol na Liga nacional e na Liga dos Campeões. Na Liga dos Campeões dificilmente poderia haver pior começo: a derrota em casa com o Club de Bruge que goleou e ridicularizou os “dragões” e o excelente começo de época do Benfica, tanto a nível nacional como internacional.

Com apenas um destes factos, o FCP ainda poderia “sobreviver” e manter a “cabeça fora de água”, mas com os dois, temporalmente conjugados, é algo com que  não consegue conviver.

Para poderem continuar a “respirar”, os “dragões” agarraram-se à renúncia de Rafa à selecção, à alegada “campanha anti-Taremi”, às especulações sobre Pepe e ao caso “Seixas da Costa”, fazendo por deixar cair no esquecimento as agressões à família do treinador.

Quanto à renúncia de Rafa, agarram-se ao facto de o jogador não ter falado pessoalmente com o seleccionador e de ter “metido” a renúncia depois da convocatória. Só mesmo por brincadeira se podem levar a sério as críticas portistas. Como pode um clube cujo treinador chamou “palhaço” ao seleccionador por ter convocado jogadores do Porto, numa altura em que ao clube não interessava essa convocatória, um clube cujo presidente que já organizou manifestações públicas contra a selecção e os seus jogadores numa passagem destes pela cidade do Porto, um clube cujo presidente não teve escrúpulos em ter “jogado” com a eventual renúncia de Deco à selecção para evitar um pesado castigo, um clube cujo presidente brindou com champanhe a derrota da selecção no Euro 2004, como podem os adeptos deste clube ter legitimidade moral para avaliar a conduta de Rafa?

Quanto à alegada “campanha anti-Taremi”, o que verdadeiramente incomoda o FCP não é, nem de perto nem de longe, o que em Portugal se possa dizer sobre o comportamento de Taremi em campo, nomeadamente dentro da área adversária. Com isso convive o FCP muito bem, como se tem visto. O que preocupa o FCP é a arbitragem internacional já ter conhecimento de que Taremi adopta frequentemente comportamentos antidesportivos para enganar os árbitros. O que preocupa o FCP é essa atenção redobrada com que os árbitros de campo e o vídeo-árbitro seguem as jogadas de Taremi e as consequências que daí resultam: anulação dessas jogadas e punição do jogador, como aconteceu o ano passado em Madrid quando foi anulado um golo marcado com a mão e este ano foi detectada uma simulação que levou à sua expulsão por acumulação de cartões. Isto é que preocupa o FCP e o que se pretende com esta “campanha” do Porto é condicionar os árbitros e dar “luz verde” a Taremi para continuar a agir como até aqui.

Juntamente com esta campanha surge a “defesa” de Pepe, apesar de não ter sido acusado de nada. Pepe tem tido este ano um comportamento muito irregular na equipa do Porto. De uma maneira geral não tem correspondido ao que dele esperavam. Tanto assim que umas vezes está em campo e joga mal, outras vezes vai para a “bancada” por razões que o treinador não desvenda. Pode ser baixa de forma ou insuficiência física. O que não se compreende é que estando Pepe fora da equipa principal, por alegada “insuficiência física” o seleccionador o convoque e o integre nos trabalhos da selecção para dois dias depois o dispensar sem se saber concretamente o motivo. Causou igualmente alguma perplexidade o facto de Pepe em Madrid ter denotado uma condição física invejável, a ponto de já no tempo de compensação ter feito uma corrida admirável (embora infrutífera) de uma baliza à outra e logo no jogo seguinte se ter “arrastado” no campo sem força para pôr termo a vulgares jogadas adversárias. Ou seja: o facto de nem a Federação nem o FCP terem dito o que se passa com Pepe levou a uma onda de especulações nas redes sociais que teriam sido evitadas com outro tipo de informação. Foi exactamente por se ter referido a algumas destas especulações das redes sociais, sem contudo as assumir, que o comentador afecto ao Benfica, Jaime Cancela de Abreu, foi expulso da Sport TV, sem mais explicações.

Curioso que este verdadeiro atentado à liberdade de opinião não tenha sido censurado nem condenado, apesar da gravidade de que tal acto se reveste num Estado democrático, e, pelo contrário, sejam condenados, criticados, insultados e até ameaçados todos os que criticam certos comportamentos do FCP, do seu treinador ou de jogadores como se de um acto criminoso se tratasse. Mais uma vez o que preocupa o FCP é o facto de não poder voltar aos “bons velhos tempos” em que as críticas e as denúncias eram combatidas e silenciadas por meios que hoje já não podem ser usados como regra. Procedimentos, aliás, que certos comentadores do FCP não se cansam de enaltecer nas televisões como sendo os mais eficazes, dando como exemplo o “tabefe” que o comentador da Eleven merecia por ter dito o que disse num jogo de padel (“Aqui não há taremis”).

Quanto ao caso Seixas da Costa, é bom que se diga que não há ainda condenação com trânsito em julgado. Há uma decisão condenatória de primeira instância susceptível de recurso, que poderá ser revertida na Relação. Se a expressão em causa tivesse sido usada relativamente a certos comportamentos do treinador  do FCP não temos a menor dúvida de que Seixas da Costa não seria condenado, como também não o seria se tivesse sido proferida no contexto de uma actividade profissional, como a de jornalista ou a de comentador. Tendo a expressão sido usada relativamente à pessoa do treinador e não aos seus comportamentos, o caso complica-se um pouco, mas não pode, mesmo assim, dar-se por decidida no sentido já conhecido. Esperemos, portanto, para ver o que acontece.

Quanto à agressão à família de Sérgio Conceição por apedrejamento do automóvel em que viajava depois da derrota sofrida (4-0) contra o clube de Bruges – único acontecimento realmente digno de firme condenação e da tomada de medidas imediatas para punição dos culpados, o FCP e o seu círculo mais próximo de apoiantes foram muitíssimo mais comedidos do que relativamente aos casos antes referidos. A SAD do FCP em envergonhadas três linhas condenou o facto e tentou responsabilizar a polícia. Os “Super dragões” tiveram de publicar dois comunicados para se perceber que estavam contra o sucedido e o presidente do Porto, Pinto da Costa, depois de muito instado e criticado, precisou de oito dias para quebrar o silêncio e individualmente manifestar a sua reprovação. Tudo isto porquê? Por duas razões muito fáceis de enunciar: primeiro, porque a agressão foi perpetrada por adeptos do FCP, presumivelmente pertencentes aos “Super dragões” (facto sobre o qual continua a pairar o mais completo silêncio) e depois, porque não está no ADN deste FCP (agora é que se pode com propriedade falar de verdadeiro ADN) condenar actos de agressão praticados por responsáveis do clube, por pessoas que actuam sob as suas ordens, ou por pessoas que pertencem ao círculo dos seus apoiantes mais activos ou mais próximos. Os exemplos nestes últimos quarenta anos são tão abundantes e constituíram prática tão reiterada que seria fastidioso ter de enumerar os mais significativos. Recentemente basta lembrar a agressão de um jornalista em Moreira de Cónegos (facto já caído no esquecimento) e que levou o presidente do clube, testemunha ocular de tudo o que se passou, a afirmar no melhor estilo siciliano: “Não há uma única imagem que prove a agressão”. Depois temos o que se passou no jogo contra o Sporting, findo o encontro, tanto dentro do campo como nas garagens (episódio, este último, protagonizado por altos responsáveis do clube). E temos também o espectáculo degradante protagonizado por responsáveis do FCP, tanto dentro do campo (no fim do jogo) como posteriormente, tanto nas televisões como na imprensa, sempre que o clube perde ou empata nas competições domésticas.

É este clima que não dispensa o emprego de meios condenáveis que faz com um acontecimento tão grave como o que aconteceu com a família do treinador não tenha levado imediatamente os responsáveis a uma firme condenação e a um convicto empenhamento na identificação e punição dos autores do crime, mas antes se contentem com aquele comportamento  de quem está à margem do acontecido e deixem exclusivamente a cargo das vítimas a defesa da sua integridade física e moral.

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