sexta-feira, 23 de setembro de 2011

ALGO VAI MAL EM MADRID

MOURINHO E CRISTIANO RONALDO

Numa época em que tudo prometia e em que conseguiu que o presidente Florentino Pérez transferisse para ele todos os poderes do futebol do clube merengue, Mourinho não consegue descolar na Liga espanhola, apesar de o próprio Barcelona ter perdido em quatro jornadas um terço dos pontos em disputa.

O Real Madrid, jogando mal, e tendo ganho apenas um jogo sem dificuldade – o primeiro – já perdeu cinco pontos e vê o inesperado Bétis distanciado cinco pontos no cimo da classificação com doze pontos em quatro jogos; e também o renascido Valência com dez pontos a três de distância, e até o agora riquíssimo Málaga com nove pontos a dois pontos de diferença.

Pior que tudo é que a equipa não joga, apesar de recheada de estrelas. Diz Valdano que o Madrid tem de se preocupar mais com a bola e menos com os árbitros e outras coisas que nada têm a ver com o rendimento da equipa. E que os jogadores estão tão preocupados em correr e em lutar que até se esquecem de jogar.

E as críticas começam também a acumular-se nos adeptos anónimos que vêem na prepotência e na arrogância de Mourinho uma das causas do declínio do Real Madrid e da sua quebra de popularidade em Espanha.

Mourinho é hoje claramente hostilizado em todos os campos do país pelo tipo de discurso que utiliza e pelos comportamentos que protagoniza. E como esta antipatia generalizada se reflecte sobre o comportamento da equipa, os grandes nomes do Real estão preocupados por a equipa ser hoje assobiada em estádios onde antes dividia com os da casa as simpatias do público. Ainda ontem isso se passou em Santander, no El Sardinero.

Mourinho não compreendeu o Real Madrid, nem a sociedade espanhola. Tendo aterrado em Madrid com os clichés típicos do português inculto, não compreendeu que o êxito da sua passagem por Espanha estava muito dependente da forma como ele fosse visto pelos espanhóis. Apesar de rico e de ter ganho muito dinheiro nestes últimos anos, Mourinho, como ególatra que é, deve estar assessorado por yes-men, tão incultos quanto ele, incapazes de lhe prestarem uma verdadeira ajuda nos momentos de dificuldade e principalmente incapazes de o terem ajudado a passar uma imagem capaz de criar alguma empatia com a sociedade espanhola.

 Fiado na inevitabilidade das suas vitórias e nas “liberdades” que elas lhe proporcionam, Mourinho supôs que em Espanha se passaria o mesmo que se passou noutros lados, não tendo tido por isso a preocupação em retocar, no mínimo que fosse, as facetas mais detestáveis da sua personalidade.

O mau clima criado por Mourinho acabará inevitavelmente por se propagar à equipa por muito que os jogadores continuem a afirmar que “Mourinho é o melhor do mundo”. Cada vez se percebe mais que essas e outras frases fazem parte de um ritual que prima pela insinceridade e tem em vista evitar quezílias pessoais com quem, no entender de alguns jogadores, já está a prazo.

Outro caso grave do Real Madrid é Cristiano Ronaldo. Ronaldo, se estiver fisicamente bem – e agora não está, apesar de Mourinho o ter posto a jogar -, tenderá a resolver, directa ou indirectamente, parte dos jogos do Madrid. Mas quando não está não é somente a equipa que se ressente como ele próprio sofre na pele a crítica implacável daqueles que o acusam de ter um problema de imagem, prejudicial à equipa.

Desde que no Mundial da Alemanha, no jogo Portugal-Inglaterra,  Ronaldo contribuiu, por pressões sobre o árbitro, para a expulsão de Rooney, colega de equipa no Manchester, por agressão a Ricardo Carvalho, nunca mais Ronaldo passou a ter vida fácil nos estádios ingleses.

Cristiano Ronaldo teve tanta consciência prévia disso que até se dispôs a abandonar o Manchester, não fora a vinda a Portugal, durante as férias desse ano, de Alex Ferguson para o convencer a ficar.

A verdade é que a partir daí Ronaldo passou a ser assobiado em todos os estádios jogasse pelo Manchester, pela selecção portuguesa ou, agora, pelo Real Madrid. Ronaldo, ególatra, tal como Mourinho, também lida muito mal com o facto e nada tem feito, antes pelo contrário, para o superar e acima de tudo o inviabilizar. Tal pressupunha uma verdadeira campanha imagem feita à base de modéstia e de respeito pelo público de modo a chamar a atenção deste para os aspectos positivos do futebol, da camaradagem e da desvalorização das rivalidades irracionais construídas à base do ódio contra o outro.

Ronaldo nunca fez nada disso e a sua indesmentível rivalidade com Messi, para quem nunca teve sentidas palavras de cortesia desportiva, só o tem prejudicado bem como à equipa que agora representa.

Se Mourinho já é neste plano um “caso perdido”, Cristiano Ronaldo ainda estava a tempo de ser recuperável se tivesse bons conselheiros. É que não basta a Ronaldo ser nos treinos e nos jogos um dedicado profissional, como na realidade é. Um jogador que atingiu a sua projecção mediática tem de ser muito mais do que isso.

Finalmente, com Mourinho sofre também Coentrão, a grande esperança do futebol português, que deve ter feito a maior asneira da sua vida ao ter preterido um grande clube inglês, como o Chelsea, pelo Real Madrid de Mourinho. Mas isso ficará para outra conversa…

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