terça-feira, 10 de maio de 2016

RENATO SANCHES E A POLÍTICA DESPORTIVA DA DIRECÇÃO DO BENFICA




ATENÇÃO: NÃO HÁ MILAGRES




Já há dois anos causou estranheza a facilidade com que o Benfica, de uma assentada, se desfez de vários jovens talentos, alguns deles sem sequer terem tido possibilidade de demonstrar os seus méritos no clube que os formou. Todos nos lembramos das transferências de André Gomes, João Cancelo, Bernardo Silva, Ivan Cavaleiro, entre outros.

Na altura a mensagem que foi passada aos adeptos, sócios e simpatizantes, foi a de que as propostas eram muito boas e os jovens corriam o risco de estiolar no Benfica por o treinador não ser muito dado a apostar em jovens da formação, manifestando preferência por atletas por ele indicados e posteriormente “formatados” à medida das suas exigências tácticas.

Aparentemente a argumentação era satisfatória, já que o exemplo colhido nas épocas 2009/2010 até 2014/2015 não era de molde a fazer crer que esses jovens viessem a ter futuro no Benfica. Todavia, o argumento começa a perder força mal se percebeu que uma das razões pela qual se não deu continuidade à presença do dito treinador no clube consistia exactamente na sua incapacidade para apostar na formação.

De facto, apostando-se na formação nada justifica que um jovem talento mal desponte seja imediatamente vendido. Isso faz-nos lembrar a incompetência sportinguista que vendeu dois dos mais valiosos jovens talentos da sua formação por um preço consideravelmente inferior ao que poderia ter sido arrecadado se tivessem sido transferidos um pouco mais tarde e tivessem retribuído com o seu talento vantagens desportivos e financeiras ao clube que os formou.

Ao que parece no Benfica está a passar-se o mesmo. Agora que o Benfica tem um treinador que aposta na formação como os exemplos de Nelson Semedo, Gonçalo Guedes, Ederson, Lindelöf, Renato Sanches, Nuno Santos demonstram, percebe-se mal, ou não se percebe de todo, que esses jogadores sejam imediatamente vendidos sem sequer terem dado ao clube as contrapartidas competitivas que a sua classe poderia proporcionar.

Esta política da direcção do Benfica de vender ainda muito “verdes” jovens da formação para a seguir se endividar na compra de jogadores “maduros”, além de ser desportivamente uma política suicidária, é também uma política que desmente com todas as letras a “aposta na formação”.

Qualquer gestor desportivo procuraria potenciar os jovens da formação no clube que os formou, valorizando-os ao máximo e retirando deles as contrapartidas desportivas que a sua classe poderia proporcionar à equipa. E essa valorização não é coisa que se possa fazer num ano, nem sequer em dois. Um jogador de dezoito anos deveria, no mínimo, ficar no clube mais três ou quatro anos para poder ser vendido quase no auge das suas potencialidades e não no próprio ano em que aparece ou no começo do seguinte.

O que se passou com Renato Sanches é um bom exemplo dessa política suicidária da direcção do Benfica. Tendo em conta as potencialidades do jogador, tendo em conta o seu inestimável contributo na caminhada da época em curso, tendo em conta a sua mais que previsível progressão nas duas próximas épocas, é pouco menos que “criminoso” o que acaba de ser feito. E a prova de que não estamos enganados é o preço por que o jogador foi vendido: uma parte certa (baixa) e outra incerta (superior à certa), dependente de factores nos quais o Benfica não tem a mínima interferência.

Se essa é política que a direcção do Benfica pretende pôr em prática – e os exemplos anteriores apontam claramente nesse sentido – então os benfiquistas podem desde já preparar-se para verem sair da equipa ainda este ano jogadores como Ederson, Lindelöf, Gonçalo Guedes, Semedo, Talisca e qualquer outro da mesma idade que entretanto possa aparecer.

Este é o caminho para que o Benfica pela via mais curta passe a copiar o Sporting pre-Bruno de Carvalho e, pior do que isso, passe a seguir as pisadas do Porto que na ânsia desmedida de vender se colocou numa situação da qual dificilmente sairá ou da qual não sairá tão cedo.

Uma coisa é certa: no futebol não há milagres. Todavia, há todas as razões para supor que a direcção do Benfica, inebriada pelos êxitos recentes, acredita em milagres.

Uma última palavra. A direcção do Benfica como qualquer outra que se dedique a pôr em prática políticas semelhantes deve ficar a saber que aos adeptos, a todos os adeptos e não apenas aos do Benfica, causa imensa confusão esse imenso frenesim com que no fim de cada época se vende e compra, gastando quase tanto em compras como o que se arrecada em vendas, além de nunca se perceber bem para onde vai tanto dinheiro quando o resultado das vendas é manifestamente superior ao das compras, nomeadamente quando as receitas ordinárias e extraordinárias da época são avultadas.

Causa confusão aos adeptos e estamos crentes que, dentro em breve, alguém mais, por dever de ofício, se encarregará de “compreender” o que os adeptos na sua “ignorância” não alcançam!

Sem comentários: