quarta-feira, 11 de abril de 2012

JESUS DEBAIXO DE FOGO



TEM CONDIÇÕES PARA CONTINUAR?

É um lugar-comum que a realidade confirma: um treinador vive dos resultados. É certo, mas não é menos verdade que os resultados também dependem muito do treinador.

Vejamos o caso de Jorge Jesus no Benfica. Jesus está fazendo no Benfica a terceira época consecutiva. Na primeira época herdou um dos melhores plantéis da história do Benfica.

Sem ter um super guarda-redes tinha um guarda-redes que não dá derrotas. Pode não ter dado vitórias, daquelas que somente a ele se devem, mas também não foi responsável por nenhuma derrota. Quim era no Benfica o que este ano tem sido no Braga. Um bom guarda-redes. Não um guarda-redes excepcional.

Na defesa Jesus tinha Maxi, Luisão, David Luiz e Coentrão. Comentários para quê? Na linha média um jovem espanhol vindo da cantera do Real Madrid – Javi Garcia – revelou-se um pivot excelente. Um homem a quem ficavam entregues todas as “despesas” defensivas do meio-campo e ainda muitas ofensivas. No meio campo tinha Aimar e nas alas Ramires e Di Maria. À frente Cardozo e Saviola.

É uma linha de luxo. Num campeonato bem disputado, com alguns pontos perdidos, o Benfica foi campeão com 76 pontos à frente do Braga e do Porto. O Benfica perdeu 14 pontos – duas derrotas e quatro empates.

Foi eliminado da Taça de Portugal e na Liga Europa chegou aos quartos-de-final tendo sido eliminado pelo Liverpool, num jogo que deixou a nu as fragilidades tácticas da equipa da Luz.

No ano seguinte, o Benfica perdeu Ramires e Di Maria, pelos quais andou a “chorar” durante toda a época e no mercado de Inverno David Luiz. Comprou Gaitan, Jara e três brasileiros escolhidos por Jesus, que já vinham do mercado de Janeiro do ano anterior, e Salvio por empréstimo do Atlético de Madrid., além de dois guarda-redes – Roberto e Júlio César.

Jesus teve tempo mais do que suficiente para preparar a época, sabendo com antecedência quem estava e quem não estava em risco de sair. Não o fez.

Na Liga dos Campeões a prestação do Benfica foi uma lástima. Não passou a fase de grupos e apenas foi apurado para a Liga Europa, porque o Lyon no último minuto de jogo empatou com a equipa de Telaviv. Na Liga Europa prosseguiu até às meias-finais sendo eliminado pelo Braga. Na Taça de Portugal foi eliminado pelo Porto, depois de ter vencido no Porto por 2-0.

No campeonato a prestação do Benfica foi decepcionante. Ficou em segundo lugar a 21 pontos do Porto! O Benfica perdeu sete vezes e empatou três, ou seja, perdeu 27 pontos! A época foi marcada por várias humilhações: além da eliminação da Liga Europa pelo Braga, o Porto ganhou o campeonato no Estádio da Luz e pouco tempo depois festejou no mesmo Estádio a eliminação do Benfica da Taça de Portugal, não obstante a vantagem que trazia das Antas.

Não obstante a péssima época, a direcção do Benfica entendeu apostar de novo em Jesus. A equipa perdeu Coentrão, para o Real Madrid, e vendeu e emprestou Roberto, Jara, Carlos Martins, Airton, Éder Luís e Kardec.

Reforçou-se com Matic, Emerson, Nolito, Garay, Enzo Pérez, Bruno César, Capdevila, Witsel, Rodrigo, Eduardo e Artur, além de Jardel que já vinha do mercado de inverno do ano anterior. E passaram ao escalão principal Nélson Oliveira e Mika.

Pois não obstante este luxuoso conjunto de jogadores, a juntar aos que já lá estavam, o Benfica foi eliminado da Taça de Portugal pelo Marítimo, ainda em 2011, da Champions, nos quartos-de-final, pelo Chelsea com duas derrotas e no Campeonato está em segundo lugar a quatro pontos do Porto e apenas distanciado um ponto do Braga, que está em terceiro. Em quarto, o Sporting a nove pontos.

Até meados de Fevereiro tudo corria de vento em popa, excepção feita à eliminação da Taça de Portugal pelo Marítimo, nos Barreiros. A partir de meados de Fevereiro – derrota em S. Petersburgo por 3-2 para os oitavos de final da Champions League – o Benfica caiu a pique.

Senão vejamos: para o Campeonato perdeu três vezes (Guimarães, Porto e Sporting), empatou duas (Académica e Olhanense) e ganhou três (Paços de Ferreira, Beira-Mar e Braga). Para a Liga dos Campeões perdeu três vezes e ganhou uma. Para a Taça da Liga ganhou uma vez (ao Porto).

Ou seja, na fase crucial do campeonato perdeu treze pontos enquanto até Fevereiro só tinha perdido 6, quatro dos quais no Porto e em Braga, que, bem vistas as coisas, não são perdas mas ganhos. E na Champions, na fase a eliminar ,perdeu três jogos, acabando por ser eliminado, quando na fase de grupos não tinha perdido nenhum.

Poderá o treinador do Benfica queixar-se de um plantel reduzido e com falta de qualidade? Não, não pode. O Benfica tem um vasto e valioso plantel, apesar das múltiplas asneiras que, ao longo de três épocas,  Jesus tem cometido em matéria de contratações com a agravante de esses mesmos erros o levarem a insistir em jogadores que qualquer simples adepto de futebol teria rapidamente concluido não terem categoria para alinhar no Benfica. Portanto, as responsabilidades não podem deixar de imputar-se ao treinador que com as suas estúpidas teimosias tem permanentemente insistido nos mesmos jogadores, não fazendo as rotações necessárias numa época tão longa e exigente, optando frequentemente por soluções que aos olhos de todos parecem erradas.

Apenas a título de exemplo: no lado esquerdo da defesa Capdevilla deveria ter jogado muitas mais vezes (o cúmulo da casmurrice levou o treinador a nem sequer o incluir na lista dos jogadores inscritos na fase de grupos da Champions). No meio campo, Matic também deveria ter jogado mais tempo. Na frente, Nélson Oliveira deveria ter sido chamado muito mais cedo. Saviola, que talvez tenha sido o elemento mais importante na vitória do Campeonato de há duas épocas, deveria também ter jogado com alguma regularidade, única maneira de um jogador com a sua categoria recuperar a forma e a confiança. Nolito não deveria ter sido sistematicamente desmoralizado pelo treinador quando estava a jogar bem, muito bem até.

E cabe por último ao treinador ter a capacidade de na fase decisiva da época incutir nos jogadores a motivação suficiente para vencer.

Não falta, portanto, no Benfica quem ache que Jesus está no fim da linha. Quem ache que Jesus não tem condições para continuar.

Se essa for a opção da direcção, que pode não ter condições para resistir à pressão de vários sectores do clube nesse senrtido, a escolha do novo treinador tem de ser feita já e não pode ficar dependente do que vier a acontecer até final da época. Aliás, o pior bem poderá estar para vir…

Ser feita já não significa que tenha de ser comunicada já…

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