sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

FIM DO MITO MOURINHO?


 

OS ESTRAGOS JÁ SÃO IRREPARÁVEIS

 

A passagem de Mourinho pelo Real Madrid, o maior clube do mundo, tinha tudo para ser um passeio que na meia-idade coroasse Mourinho como o grande treinador dos tempos modernos.

Dotado dos melhores jogadores do mundo, no clube com mais títulos a nível nacional e mundial, com adeptos e simpatizantes nos quatro cantos do planeta, Mourinho tinha realmente tudo a seu favor. Depois de ter vencido no Porto, no Chelsea e no Inter de Milão, a estadia no Real Madrid era por muitos considerada como aquela que à partida mais condições objectivas reunia para ter êxito.

E todavia nunca em nenhum lado as coisas correram tão mal a Mourinho, apesar da vitória no campeonato na época passada. No entanto, para quem conhece Mourinho e compreende o que é um clube como o Real Madrid a situação a que Mourinho chegou não constitui uma verdaeira surpresa.

Mourinho quis desde o primeiro dia mudar a natureza intrínseca do Real Madrid. Transformá-lo num clube semelhante àqueles por onde passou vitorioso. Um clube no qual ele teria o completo domínio de tudo o que dissesse respeito ao futebol dentro e fora do campo, com toda a gente integralmente subordinada à sua estratégia de líder incontestado, a qual, pelo simples facto de ser sua, nunca poderia ser discutida.

Ora acontece que o Real Madrid não é um clube propriedade de Florentino Pérez ou de qualquer outro presidente que por lá tenha passado ou venha a passar. O Real Madrid é dos sócios. É do madridismo. O Real Madrid tem uma ética e um código de conduta que nenhum treinador pode alterar. E os jogadores que o servem, os grandes jogadores que o servem, nunca estão no clube de passagem. Se eles sabem interpretar com inteligência o que significa estar no Real Madrid também eles passam a fazer parte desse madridismo para toda a vida.  

O Real Madrid tem, como se já disse, os melhores jogadores do mundo. Mas acontece que muitos deles juntam a essa qualidade com a que a natureza os dotou uma outra não menos importante, aprendida nas escolas da democracia: a cidadania e o exercício dos direitos que lhe andam associados.

E também aqui Mourinho falhou. Aquilo que os seus propagandistas apregoavam como a sua principal mais valia como treinador - um homem por quem os seus jogadores são capazes de fazer tudo – revelou-se afinal o exercício de um domínio que os homens livres repelem.

Mas não foi apenas neste domínio que Mourinho falhou. Ele também decepcionou no plano puramente técnico. E os primeiros decepcionados foram os jogadores. Um falhanço directamente relacionado com o anterior. Ou seja, a capacidade técnica de Mourinho exprime-se com mais eficiência nos clubes pequenos do que nos clubes verdadeiramente grandes. Frequentemente os jogadores o acusaram de privilegiar o futebol defensivo, que abria a porta ao futebol directo, de contra ataque rápido, cujo modelo, porém, se mostrava incapaz de responder com eficácia à maior parte das situações com que o Real se defrontava na maior parte dos seus jogos – ataque continuado sem soluções de finalização.

Depois do que já parece ser a derrota inevitável no campeonato e do que esteve a centímetros de acontecer na Taça do Rei (acontecimento que muito provavelmente ocorrerá em Barcelona), resta a Mourinho a Liga dos Campeões para, apesar de todos os erros, de todas as falhas e das múltiplas inimizades que criou a sua passagem por Madrid, sair da capital espanhola com a 10.ª Taça da Liga dos Campeões ganha pelo Real Madrid. Se isso acontecer, a sua imagem não se modificará, mas ele acabará por sair de Madrid com essa indiscutível vitória no seu curriculum. A única que lhe permitirá relançar o “mito Mourinho”.

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