quarta-feira, 24 de março de 2010

VÍTOR PEREIRA E O JOGO DO ALGARVE


QUE FAZER?

Aguarda-se com alguma curiosidade o que Vítor Pereira vai fazer ao árbitro que apitou o jogo do passado domingo, no Algarve, entre o Benfica e o Porto.
Não adianta tecer muitas considerações sobre o que toda a gente viu. Houve quem, em todas as jogadas em que interveio, se comportasse em campo de forma indigna, insultando, agredindo a pontapé, à joelhada, à cotovelada, até com os pitons os adversários.
O árbitro viu, como toda a gente viu, no estádio e fora dele, sem necessidade de repetições nem de slow motions. Viu e nada fez.
Esta situação é muito mais grave do que a deturpação - propositada, negligente ou meramente ocasional - de um resultado. Neste caso pode perder-se um jogo ou não se ganhar, mas fica incólume a integridade física dos jogadores. No Algarve, só ficou por acaso.
Apesar de o árbitro do encontro ter um largo historial de “erros” acumulados, quase sempre contra os mesmos, não creio que se deva ir por aí. Talvez seja mais correcto afirmar-se que o árbitro foi covarde. E um árbitro covarde não pode apitar finais, nem jogos importantes, mesmo que não sejam decisivos.
Aliás, quem apreciar com alguma frieza o que se tem passado no futebol português neste último quarto de século, depressa chega à conclusão que a corrupção no sentido corrente do termo não assenta necessariamente em dinheiro ou favores de natureza semelhante. Sem deixar de haver pequenos favores profissionais, sociais e pessoais, a corrupção (no sentido com que a palavra aqui está empregue) assenta fundamentalmente num fortíssimo clima de coacção física e psicológica a que a maior parte dos árbitros que se situam no raio de acção onde ela se exerce não são capazes de resistir. Não são capazes porque são psicologicamente fracos e porque têm medo.
Como já se viu em tantas outras situações passadas com jogadores, com jornalistas e outros agentes desportivos, os autores morais daquela coacção não têm qualquer problema em consumar a ameaça que ela pressupõe se o receio da sua concretização não for levado a sério pelo coagido.
É esta cultura de violência que se estende a vários sectores da actividade e a outros tantos agentes da actividade desportiva que verdadeiramente explica as maiores poucas-vergonhas do futebol português. E como não se pode contar com a acção do poder judicial para as debelar, uma vezes porque quem tem a seu cargo a investigação não reúne as provas necessárias, outras porque a investigação é mal conduzida, outras ainda porque as decisões que acabam por ser proferidas são incompreensíveis para a generalidade das pessoas, há que pôr em prática outros meios que as evitem.
Desde logo não nomear árbitros que se situem no raio de acção onde essa coacção se possa exercer com mais facilidade. Mas não só. Por que não árbitros estrangeiros de reconhecido mérito para certos jogos? Uma coisa é certa: aquelas poucas vergonhas disciplinares não se passam em nenhum jogo da UEFA. Podem passar-se outras, mas aquelas não.
Finalmente, os clubes que estão realmente interessados na verdade desportiva deveriam publicamente desautorizar a participação dos seus adeptos ou associados em programas de comentário desportivo que tenham por protagonistas os “representantes” dos clubes. É por via destes programas que os batoteiros legitimam todas as batotas!

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