terça-feira, 15 de junho de 2010

A SELECÇÃO SEM SURPRESAS


POUCO MAIS HÁ A ESPERAR

Não constituiu qualquer surpresa, para quem acompanha o futebol, o resultado e a exibição da selecção portuguesa perante a Costa do Marfim. Não ter perdido até se pode considerar um bom resultado face aos constrangimentos existentes. Que são, fundamentalmente, dois.
Em primeiro lugar, como toda a gente sabe, o seleccionador tem muitas limitações. Limitações de ordem táctica e “política”. Queiroz não mobiliza ninguém, não cria empatia com o público e a sua presença arrasta um ambiente negativo que a todos afecta.
Mas também tem limitações de outra ordem: de ordem futebolística propriamente ditas. A equipa de Queiroz joga sem objectivos, é passiva, fechada, sem ambição, nem movimentação. Ele não tem uma ideia de futebol jogado. Joga para ver no que dá.
Por isso não deixam de ser espantosas as suas declarações no fim do encontro quando acusou a Costa do Marfim de falta de ambição e de vontade de atacar. Que jogo é que Queiroz esteve a ver? É certo que a Costa do Marfim começou cautelosa, mas foi aos poucos tomando conta do jogo e poderia ter marcado por mais de uma vez. Como pode Queiroz fazer semelhantes afirmações se nem Coentrão, nem Paulo Ferreira assumiram qualquer papel atacante. Coentrão foi uma vez à linha de fundo, por conta própria, mas Paulo Ferreira nunca passou a linha do meio-campo.
Não é preciso andar muito para trás, basta ver os jogos do Mundial de 2006, para logo se perceber que existe uma fundamental diferença na maneira de jogar dos laterais: tanto Miguel, como Nuno Valente jogavam tanto à frente como atrás. Com Queiroz os laterais não passam a linha do meio-campo!
O segundo constrangimento é a matéria-prima, que está longe de ser excelente. O guarda-redes, penalties à parte, não será melhor nem pior dos que nos últimos anos têm servido naquele lugar. Mas já o mesmo se não pode dizer dos dois laterais direitos: tanto Miguel como Paulo Ferreira já não têm condições para jogar na selecção. Por razões diferentes. Ricardo Carvalho está em fim de carreira e já não é aquele excelente jogador de 2004 e até de 2006. Bruno Alves, se for para dar “porrada” e jogar karaté, como faz no Porto, é bom. Mas para jogar futebol é vulgar. Coentrão é um substituto à altura, para melhor, de Nuno Valente, que Queiroz não sabe aproveitar.
Na linha média falta um verdadeiro “volante”, lugar a que em Portugal se dá o imbecil nome de “trinco”. Pedro Mendes como mais uma vez se viu hoje não desempenha o lugar com eficiência. Depois, Deco, a quem competia pensar o jogo, está em fim de careira e nem convocado deveria ter sido. Meireles é lutador, nem sempre clarividente, mas ninguém lhe pode pedir para fazer de Deco.
Nas alas, Cristiano Ronaldo ressente-se claramente da falta de classe dos seus companheiros e vai tentando fazer o que pode, que não há-de ser muito. Danny prometeu muito, mas não jogou nada. E Simão também já está na fase declinante da sua carreira. Talvez consiga jogar 60 minutos. E Liedson está visto que não sabe jogar assim. Tem de jogar acompanhado para render. O que é espantoso é que Queiroz o tenha ido buscar para um lugar que ele não sabe desempenhar! Se não há jogadores para o acompanharem na frente, por que foi convocado o Liedson?
Dito isto, pouco mais há a esperar da selecção com Queiroz à frente. Só mesmo um excepcional treinador, com estes jogadores, poderia aspirar a mais. Digamos que esta selecção, com Queiroz à frente, se tivesse jogado este ano no campeonato português seria equipa para disputar o 4.º lugar com o Sporting.

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