AS EXPLICAÇÕES DO SPORTING
A transferência de João Moutinho para o FCP, em princípio, clube rival do Sporting, causou uma enorme consternação nas hostes sportinguistas. Não tanto a transferência em si, há muito esperada, mas antes por ela ter tido como destino um clube português.
O presidente e o director desportivo do Sporting numa sessão pública de psicanálise clubística já vieram justificar-se, imputando todas as responsabilidades à personalidade perversa do jogador.
O jogador não queria continuar no Sporting, criava dificuldades e problemas de toda a ordem, por isso impunha-se vendê-lo tanto mais que ele não já deixara de ser digno de fazer a defesa dos “valores sportinguistas”. Só que, dizem os responsáveis do Sporting, não havia quem quisesse comprá-lo. Perante este quadro, na ausência de uma proposta estrangeira, e considerando-se inalcançável o montante da cláusula de rescisão, o honrado presidente do FCP abeirou-se do Sporting e frontalmente deu-lhe conhecimento do seu interesse na aquisição do jogador, mas apenas – e isto que fique bem claro – se o Sporting quisesse vender.
Neste contexto, o Sporting não tinha alternativa: ou desvalorizava completamente um activo até 2014 (data do termo do contrato) ou aceitava a proposta do FCP. Aceitou…para bem do clube.
Não há dúvida que no futebol português um azar vem sempre acompanhado. João Moutinho não foi convocado para a selecção nem mesmo depois de Nani ter abandonado o estágio, facto que causou incompreensão generalizada tanto mais que se tratava de um jogador presente em toda a fase de qualificação e mesmo no Euro 2008. Teria contra si certamente o facto de não ter feito uma época muito conseguida, mas isso além de também ter sido irrelevante para a fase de qualificação, poderia igualmente sê-lo para a fase final uma vez que ele era um “jogador de selecção”. E um “jogador de selecção” é sempre convocado qualquer que seja o seu momento de forma ou a época que tenha feito (Klose, Podolski, etc.). Mas não foi. Primeiro enigma!
Sabe-se que no futebol português o seleccionador não é criticado ou apoiado por certos protagonistas em função dos seus defeitos ou dos seus méritos como treinador, mas antes de certas outras qualidades ou da ausência delas. Por exemplo, Scolari foi atacadíssimo mesmo quando ganhava ou alcançava resultados antes impensáveis. Os ataques não eram dirigidos à sua prestação técnica, mas à sua insubmissão a certos poderes fácticos. Era atacado por ser independente. Outros são apoiados, apesar de só fazerem asneiras.
Portanto, a não convocatória de João Moutinho para a selecção dificultou a sua transferência para o estrangeiro e facilitou a sua transferência para o mercado nacional, onde as suas capacidades como atleta eram bem conhecidas. Minada depois a vontade do futebolista, com elogios e qualificações muito a propósito, estavam reunidas as condições para que ele ficasse cá.
Não se percebe, por isso, muito bem o ataque violento desferido contra o jogador pelos responsáveis do Sporting. No fundo, eles são os responsáveis pelo que aconteceu. Não apenas porque não foram capazes de criar para o jogador um contexto negocial diferente, mas também porque a relativa subalternidade em que se têm colocado relativamente ao FCP facilitou este desfecho e nem sequer lhes permite perceber com clareza a complexa teia urdida à volta de João Moutinho.
A subalternidade relativamente ao FCP não é apenas da responsabilidade dos dirigentes máximos do Sporting mas de todos aqueles que em nome do clube se exprimem publicamente nos jornais, na televisão e na rádio, com comentários sempre muito coincidentes com a estratégia do FCP.
Tudo bem…quando acaba bem!
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