quinta-feira, 1 de julho de 2010

OS ERROS DE ARBITRAGEM NO MUNDIAL



APESAR DO QUE ACONTECEU, UM SALDO POSITIVO, ATÉ AGORA


Terminados os oitavos-de-final, pode dizer-se que na esmagadora maioria dos jogos a arbitragem esteve bem em todos os domínios e com uma relativa uniformidade de critérios, o que contribuiu para assegurar o princípio da igualdade entre todos os concorrentes.
Infelizmente, alguns dos erros mais graves aconteceram nos jogos em que se exigia maior rigor e quase infalibilidade. Além de graves, os ditos erros contribuíram decisivamente para alterar o rumo das coisas tal como estavam acontecendo no momento em que ocorreram. Raras vezes se poderá dizer com segurança que as coisas teriam sido diferentes se não fosse o erro do árbitro, porque se está a entrar em linha de conta com variáveis que ninguém domina. O que se pode é dizer que tais erros contribuíram para alterar o que naquele momento estava acontecendo.
Por ordem decrescente de importância, apontaremos os seguintes:
Primeiro: A não validação do golo apontado por Lampard à Alemanha; trata-se de um momento decisivo do jogo: pouco tempo antes, a Inglaterra perdia por 2-0 e estava claramente confundida com a performance alemã; por volta dos 36 minutos a Inglaterra marcou e cerca de dois minutos mais tarde voltou a marcar. A não validação deste golo alterou completamente o que naquele momento se estava a passar; de facto, a recuperação de dois golos num resultado já considerado seguro, mudaria obviamente as coisas para ambas as equipas. Não tendo o golo sido validado, a Inglaterra teria, como teve, de continuar a correr em busca do empate, expondo-se ao contra-golpe alemão: foi o que aconteceu.
Segundo: A não marcação de off-side a Tevez no primeiro golo da Argentina, no jogo contra o México. Contrariamente ao que tinha acontecido nos jogos anteriores, a selecção Argentina estava sentindo enormes dificuldades para impor o seu jogo e para controlar o próprio jogo dos mexicanos. E isto acontecia uma boa meia hora depois de o jogo ter começado. A validação do golo de Tevez, de certa maneira obtido contra a corrente do jogo, alterou decisivamente o que até àquele momento se estava a passar. Com a vantagem obtida, a Argentina tranquilizou-se, o México desorientou-se, cometeu erros que antes nunca tinha cometido e rapidamente sofreu o segundo golo, que arrumou a partida.
Terceiro: Invalidação do golo dos EUA contra a Eslovénia. Este é um dos raros casos em que se pode afirmar, com segurança, em virtude do momento do jogo em que ocorreu, que, sem este erro, tudo teria sido diferente. Os Estados Unidos teriam ganho, ficariam com quatro pontos, e poderiam depois ter feito um jogo contra a Argélia muito mais tranquilo.
Quarto: Golo invalidado aos EUA no jogo contra a Argélia, na primeira parte. Embora se trate de um golo legal, marcado em linha, compreende-se o erro, o qual, todavia, obrigou os EUA a grande esforço até ao último minuto do jogo para o vencerem. Até que ponto é que este esforço prejudicou os EUA no jogo contra o Gana também nunca se saberá; a verdade é que foram dois erros graves contra a mesma equipa.
Quinto: Validação do segundo golo do Brasil contra a Costa do Marfim. É um erro que não tem a mesma relevância dos anteriores. É óbvio que a bola foi por duas vezes ajeitada com o braço, embora com arte, e é quase óbvio que o árbitro viu, mas certamente fascinado pela beleza do lance não teve coragem para o invalidar. Não parece que a invalidação desse lance tivesse contribuído para alterar significativamente o que naquele momento se estava a passar. Depois do golo, o Brasil continuou a jogar como vinha fazendo antes. O que há de mais esquisito no lance é a sensação com que toda a gente ficou de que o árbitro viu e nada fez.
Sexto: Validação do golo de Espanha contra Portugal. É o mais desculpável de todos. Em primeiro lugar, porque o off-side é pela diferença mínima, 22 centímetros segundo a Globo, e depois porque esse golo não introduziu uma alteração no que até então se estava passando. Pelo contrário, a Espanha estava jogando mais e a jogar mais continuou. Nunca se saberá o que poderia ter acontecido depois, mas sabe-se que o golo não aconteceu contra a corrente do que estava acontecendo nem do que continuou a acontecer.
Alguns destes erros, nomeadamente o primeiro, poderiam facilmente ser evitados se se pudesse recorrer ao vídeo-árbitro. E não há nenhuma razão para que se não possa em todos aqueles casos em que o que está em jogo é uma simples declaração de ciência. Nos demais casos, já a questão é diferente, porque se a análise do lance pressupõe uma avaliação, um juízo de valor, então ele deve ser feito por quem está dentro do campo e não fora.
As declarações de ciência são inequivocamente aplicáveis a tudo o que tenha a ver com a bola e as linhas. A bola e as linhas não é o mesmo que o jogador e as linhas.
No primeiro caso: trata-se de saber se a bola entrou ou não na baliza ou se saiu ou não do campo. Isto pode ser resolvido, sem problemas de nenhuma espécie, pelo vídeo árbitro, devendo em caso de dúvida considerar-se que a bola não transpôs as linhas.
O segundo caso, que tem a ver com as linhas e o jogador, já contende com as regras do fora-de-jogo, e aí a questão é mais complicada. Não porque não seja possível, com rigor, determinar se houve ou não off-side, mas porque a consagração do vídeo-árbitro nestes casos implicaria que o bandeirinha nunca assinalasse um fora de jogo nos casos em que tivesse dúvidas. E esta simples atitude alteraria por completo o jogo tal como ele hoje se desenvolve. O único compromisso possível, seria manter tudo como está, mas permitir que, se a jogada terminasse em golo, fosse permitido apurar a posteriori a sua legalidade.
É claro que esta regra poderia, em princípio, ser extensível aos casos de golos marcados com a mão, mas não é conveniente que o seja, exactamente por se tratar de um lance, que, segundo as leis do jogo, já pressupõe alguma avaliação.
Como se vê, as coisas são mais complicadas do que parecem e no comentário desportivo português não se dá conta disso porque estes assuntos são tratadas por verdadeiros psicopatas da arbitragem.

Sem comentários: