BENFICA DERROTADO À PARTIDA?
À medida que a poeira vai lentamente assentando, percebe-se
que o presidente do Benfica pretende demonstrar que com a organização existente
no clube qualquer treinador pode nele ser campeão.
Apesar de o campeonato ainda não ter começado e ser portanto
prematuro avançar algumas conclusões, há razões para supor que o pressuposto de
que Vieira partiu ainda está longe de se verificar.
É natural que a um presidente não seja fácil conviver com um
treinador como Jorge Jesus. Jesus é, à sua maneira, um ególatra. Ele parece
desconhecer que o futebol é um desporto colectivo e que a vitória tem múltiplas
paternidades. Para Jesus tudo o que de positivo aconteça em clube por onde ele
passe deve ser-lhe totalmente creditado. Claro, que Jesus pode dar-se ao luxo
de fazer isto porque somente treinou clubes que ou nunca tinham ganho nada ou
já não ganhavam algo há muito tempo. Se tivesse treinado um clube com vitórias
sucessivas, tal discurso seria impossível de manter. Como, porém, o Benfica já
não ganhava sucessivamente algo que se visse há muitos anos, Jesus pôde dar-se
ao luxo de reclamar para si todas os louros, omitindo inclusive o
relevantíssimo facto de ter contado durante a sua estadia de seis anos com os
melhores plantéis da história do Benfica. Mesmo que esquecesse a organização
que o Benfica lhe proporcionou, aquele facto ele nunca deveria tê-lo omitido. E
omitiu-o porque se o relembrasse, fácil seria chegar à conclusão de que ficou aquém,
muito aquém, dos meios de que dispunha.
É natural que o presidente do Benfica não fique agradado com
este tipo de personalidade, principalmente depois de ter ganho e de saber, como
ninguém, o enorme investimento que teve de realizar para o conseguir.
Ora, como Jesus é irreformável, justificava-se, por isso, a
vinda de um outro treinador. Mas a escolha teria de ser altamente criteriosa.
Se o que se pretendia era manter a senda das vitórias, exigia-se a escolha de
um treinador que já tivesse ganho algo. Rui Vitória não parece ser o treinador
de que o Benfica precisa. Havia outros muito mais credenciados que o Benfica
parece ter menosprezado…
A tudo isto acresce a perda de elementos importantes do
plantel. O plantel já era limitado, com as saídas já confirmadas mais as que
diariamente se anunciam o mais provável é que fique muito fragilizado. E Rui
Vitória não parece ter a firmeza suficiente para evitar a sangria. A posição em
que se encontra perante o presidente retira-lhe a distância suficiente para
fazer as exigências que se impõem. Quer dizer, se Jesus tinha arrogância a mais,
Rui Vitória parece ter a menos aquilo que Jesus tinha a mais!
Mas Vieira foi também ingénuo quando acreditou em Pinto da
Costa. O presidente do Porto não é aliado de ninguém. Limita-se a utilizar os
outros de acordo com as suas necessidades e interesses. A escolha de Proença para
assaltar a Federação com o objectivo de voltar a pôr a arbitragem sob o comando
dos “pintos e dos chitos” - os
maiores pontas de lança da história do futebol português, com um número
extraordinário de golos por eles marcados - representa outra grande derrota de Luís Filipe Vieira.
Proença tem em Portugal um curriculum invejável como árbitro.
Basta ir ao You Tube, procurar “Pedro Proença” e logo se fica com uma ideia
muito completa daquilo que ele é capaz.
Proença vai para a Liga para servir. Foi o já que fez quando
era árbitro. O presidente do Sporting, que chamou imbecil e senil a Pinto da
Costa, é agora por este elogiado. Se as suas ambições se mantiveram altas, será
obviamente a próxima vítima. Se, porém, se contentar com o que lhe podem dar,
muito acima das suas “posses”, não terá razões para se queixar.
Para se ter uma ideia da trama que já está sendo urdida,
basta lembrar o seguinte: O presidente do Marítimos estava a ferro e fogo com o
do Porto por causa da transferência de um brasileiro que não avalia nada mas
relativamente ao qual o presidente do Marítimo queria o “seu”. Vieira supôs que
estavam criadas as condições para desfazer uma aliança de décadas. Enganou-se.
Uns anos, não muitos, depois da zanga, surge no Marítimo um jogador
transferível para um dos grandes – Danilo Pereira. O jogador queria ir para o Sporting,
com a “ilusion” de ser treinado por Jorge Jesus. O Porto meteu-se de permeio.
Sem hipóteses, admitiu-se nas hostes sportinguistas. O presidente do Marítimo
está de relações cortadas com o do Porto, reforçaram os comentadores
sportinguistas. Conclusão: Danilo foi para o Porto e o presidente do Marítimo “mandou
Vieira às urtigas” e aliou-se ao do Porto na escolha de Proença.
E depois não nos venham dizer que as transferências não são o
sangue arterial do futebol português! Dos patrões do futebol português!