segunda-feira, 14 de junho de 2021

LUIS FILIPE VIEIRA

 

A SAÍDA VOLUNTÁRIA SERIA O IDEAL


Parece não haver dúvidas de que Luís Filipe Vieira chegou ao fim da linha como Presidente do Benfica.

O Benfica descaracterizou-se muitíssimo nos últimos quatro mandatos presidenciais – Manuel Damásio; Vale e Azevedo; Manuel Vilarinho e Luís Filipe Vieira, embora diferentes e com responsabilidades diferenciadas.

Desde que se realiza o campeonato nacional de futebol 1934/35, competição em que todos os clubes jogam contra todos, o Benfica começou, na primeira década, por dividir as vitórias com o FC Porto (3 para cada), ficando ligeiramente abaixo do Sporting nas duas décadas subsequentes e sempre acima do Porto, acabando por firmar a sua hegemonia nas três décadas seguintes, sempre muito à frente do Porto e do Sporting, para decair, como nunca antes tinha sucedido, nas última década do século XX e na primeira do século XXI, em que ficou muito atrás do FC Porto, somente tendo voltado a igualá-lo na década que terminou em 2019/20.

Vistas as coisas numa outra perspectiva, igualmente reveladora da descaracterização do Benfica no plano desportivo e associativo, nas 27 épocas correspondentes aos mandatos dos presidentes acima referidos o Benfica apenas ganhou 8 campeonatos, menos de um terço, enquanto o Porto ganhou 16, o Sporting 3 e o Boavista 1.

Como acima se disse, todos os que governaram o Benfica durante aquele período são responsáveis, cada um a seu modo, e tanto mais quanto mais dilatados foram os seus mandatos.

 Damásio, que governou o Benfica durante um mandato (3 anos), veio para o Benfica como quem vai para uma festa da “socialaite”: fez do clube um divertimento, endividou-o, destruiu uma equipa vencedora (que herdou com o campeonato em andamento), contratou os jogadores mais vulgares da história do Benfica e acabou por perder as eleições para alguém (Vale e Azevedo) que se veio a revelar como um dos maiores oportunistas que passou pelo futebol português: assaltou o Benfica e deixou o clube falido à beira da extinção. Afastado do Benfica pela via eleitoral ao fim de um mandato (3 anos), sucedeu-lhe com propósitos regeneradores Manuel Vilarinho que registou durante o seu mandato, também de 3 anos, a pior classificação de sempre do SLB. Com Vilarinho ao leme, o Benfica entrou no ciclo dos construtores civis, dos homens de negócios de tipo “pato bravo”, de que Luís Filipe Vieira é o principal intérprete e o que por mais tempo conservou o poder: vai para 18 anos.

Com Vieira o Benfica ganhou infra-estruturas de primeiríssima qualidade, endividou-se como nunca, fez receitas gigantescas com as vendas de jogadores que passaram a ser comprados não para dar vitórias ao Benfica, mas para garantir excelentes revendas. Negócio reforçado nos últimos anos com as vendas da formação, sobre a natureza das quais já falámos suficientemente neste blogue.

Independentemente de outras acusações susceptíveis de atingir o Benfica, Vieira é hoje acusado por uma parte considerável dos sócios de ter usado o Benfica para defesa de interesses pessoas (pagamento antecipado da dívida do clube para obtenção de uma reestruturação de favor da sua próxima dívida); tentativa, gorada pela intervenção da Comissão de Valores Mobiliários, de promover uma opa de acções do Benfica SAD para favorecer os seus interesses privados (conflito de interesses, segundo a CVM) e ainda de ter adulterado o resultado das eleições.

A juntar a isto uma péssima época desportiva que corre o risco de ainda poder ficado pior do que aquilo que já era, desde que não alcance a participação na edição da próxima época da Liga dos Campeões. De facto, num tempo em que as participações na Liga dos Campeões tendem a ser cada vez mais bem remuneradas, o Benfica corre o sério risco de ficar de fora pelo segundo ano consecutivo. Poucos serão os que reconhecem ao treinador competência para vencer as duas eliminatórias preliminares de acesso à fase de grupos.

O regresso de Jorge Jesus, contestado por muitos desde o início por razões que no futebol moderno já têm pouca razão de ser, revelou-se, por outras razões, um profundo fracasso.

Jesus e o seu autodidatismo, muito apreciado em países de fraca preparação académica, revelaram-se insuficientes, mesmo muito insuficientes, para lidar com o saber de treinadores modernos e muito mais novos. Jesus fracassou na escolha de jogadores, fracassou no pleno aproveitamento dos jogadores que tem à sua disposição, fracassou na capacidade de “leitura” do jogo (cada vez diz mais disparates sempre que procura interpretar o que se passa em campo) e fracassou também na capacidade de mobilização dos jogadores com vista ao seu empenhamento na busca de um objectivo vitorioso. Dele nada a haverá a esperar, para melhor, na próxima época. Pelo contrário, com um plantel previsivelmente mais reduzido em qualidade, só há a esperar o que a maioria dos benfiquistas já antecipou: uma época igual ou pior à deste ano.

Perante este quadro, ao qual terá de acrescentar-se o de um presidente pessoalmente acossado pela justiça e contestado por um número cada vez mais significativo do universo benfiquista, tudo o que possa levar à destituição de Vieira e à marcação de eleições antecipadas seria o ideal. Não é de crer, todavia, que Vieira o faça de livre vontade, mesmo que dentro do clube vá ficando cada vez mais só, como já está acontecendo, com a recente demissão do Presidente da Assembleia Geral.

domingo, 6 de junho de 2021

O FCP E SÉRGIO CONCEIÇÃO

 

ESCOLHA DE TREINADOR OU MAIS QUE ISSO?



Depois de uma pequena novela em que os seus guionistas nunca conseguiram impedir que os espectadores soubessem antecipadamente o seu fim, o presidente do Porto e o treinador, Sérgio Conceição, assinaram ontem um contrato que os ligará nos próximos três anos.

Durante o tempo em que novela durou e em que muito se ia falando sobre as discussões ou divergências que estava havendo sobre o guião – mais dinheiro, melhores jogadores, mais “mimo” – os adeptos que o FCP tem espalhados pelaas televisões sob a designação de “jornalistas” iam veiculando a tese de que o problema não era dinheiro (é algo que sempre fica bem dizer que o dinheiro não é importante); melhores jogadores, certamente, mas qual é o treinador que não quer melhores jogadores? ficando, por fim, como pressuposto mais difícil de preencher aquele que lhe proporcionava mais afago e que mais enaltecia a sua paixão pelo clube – mais “mimo” era o que ele queria.

O pérfido Vítor Pinto do Record/CMTV/Cofina um dos especialistas a que o Porto mais recorre para a contra-informação ou para o enaltecimento das “virtudes azul e brancas” foi-se encarregando de explicar que a grande mágoa de Sérgio Conceição era a de sentir-se sozinho na defesa do FCP. Muito isolado e muito atacado sem que um ombro amigo, uma voz carinhosa ou uma defesa musculada viessem em seu auxílio. Esse era o seu grande problema e o que verdadeiramente estava a emperrar a conclusão das negociações.

Por outras palavras, embora mantendo-nos fiéis à ideia, o que foi dito por aquele porta-voz do FCP e aquilo com que podemos contar com esta renovação é que Sérgio Conceição quer continuar a insultar e a pressionar os árbitros, sempre que o Porto perca pontos, mas não quer ficar sozinho nesses insultos nem nessas pressões, quer que outros o acompanhem nesses insultos e nessas pressões e venham defendê-lo nas televisões. Isto levará a que a direcção do Porto tenha de recrutar mais uns quantos porta-vozes para fazer este trabalho e proíba aos que já lá estão toda e qualquer espécie de censura ou crítica aos “exemplares” comportamentos do seu treinador.

Bem, tendo por certo que na próxima época as pressões sobre os árbitros vão aumentar atingindo a intensidade que for necessária, a nossa convicção é que Pinto da Costa e o seu treinador estão também a tratar de problemas sucessórios - a substituição do “chefe”. Não obstante os vários pretendentes ao lugar – Rui Moreira, Vítor Baía, António Oliveira, André Villas Boas - não me admiraria mesmo nada que Pinto da Costa aposte numa personalidade tipo Sérgio Conceição para lhe suceder por ser de todos os que se perfilam aquele que mais se assemelha ao mandatário vacante.  Com este treinador o ADN de ódio e de guerra contra todos os que não os apoiem estará garantido por mais umas décadas.