Parece não haver dúvidas de que
Luís Filipe Vieira chegou ao fim da linha como Presidente do Benfica.
O Benfica descaracterizou-se
muitíssimo nos últimos quatro mandatos presidenciais – Manuel Damásio; Vale e
Azevedo; Manuel Vilarinho e Luís Filipe Vieira, embora diferentes e com
responsabilidades diferenciadas.
Desde que se realiza o campeonato
nacional de futebol 1934/35, competição em que todos os clubes jogam contra
todos, o Benfica começou, na primeira década, por dividir as vitórias com o FC
Porto (3 para cada), ficando ligeiramente abaixo do Sporting nas duas décadas
subsequentes e sempre acima do Porto, acabando por firmar a sua hegemonia nas
três décadas seguintes, sempre muito à frente do Porto e do Sporting, para
decair, como nunca antes tinha sucedido, nas última década do século XX e na
primeira do século XXI, em que ficou muito atrás do FC Porto, somente tendo
voltado a igualá-lo na década que terminou em 2019/20.
Vistas as coisas numa outra
perspectiva, igualmente reveladora da descaracterização do Benfica no plano
desportivo e associativo, nas 27 épocas correspondentes aos mandatos dos
presidentes acima referidos o Benfica apenas ganhou 8 campeonatos, menos de um
terço, enquanto o Porto ganhou 16, o Sporting 3 e o Boavista 1.
Como acima se disse, todos os que
governaram o Benfica durante aquele período são responsáveis, cada um a seu
modo, e tanto mais quanto mais dilatados foram os seus mandatos.
Damásio, que governou o Benfica durante um
mandato (3 anos), veio para o Benfica como quem vai para uma festa da
“socialaite”: fez do clube um divertimento, endividou-o, destruiu uma equipa
vencedora (que herdou com o campeonato em andamento), contratou os jogadores
mais vulgares da história do Benfica e acabou por perder as eleições para
alguém (Vale e Azevedo) que se veio a revelar como um dos maiores oportunistas
que passou pelo futebol português: assaltou o Benfica e deixou o clube falido à
beira da extinção. Afastado do Benfica pela via eleitoral ao fim de um mandato
(3 anos), sucedeu-lhe com propósitos regeneradores Manuel Vilarinho que
registou durante o seu mandato, também de 3 anos, a pior classificação de
sempre do SLB. Com Vilarinho ao leme, o Benfica entrou no ciclo dos
construtores civis, dos homens de negócios de tipo “pato bravo”, de que Luís
Filipe Vieira é o principal intérprete e o que por mais tempo conservou o
poder: vai para 18 anos.
Com Vieira o Benfica ganhou
infra-estruturas de primeiríssima qualidade, endividou-se como nunca, fez
receitas gigantescas com as vendas de jogadores que passaram a ser comprados
não para dar vitórias ao Benfica, mas para garantir excelentes revendas. Negócio
reforçado nos últimos anos com as vendas da formação, sobre a natureza das
quais já falámos suficientemente neste blogue.
Independentemente de outras
acusações susceptíveis de atingir o Benfica, Vieira é hoje acusado por uma
parte considerável dos sócios de ter usado o Benfica para defesa de interesses
pessoas (pagamento antecipado da dívida do clube para obtenção de uma
reestruturação de favor da sua próxima dívida); tentativa, gorada pela
intervenção da Comissão de Valores Mobiliários, de promover uma opa de acções
do Benfica SAD para favorecer os seus interesses privados (conflito de
interesses, segundo a CVM) e ainda de ter adulterado o resultado das eleições.
A juntar a isto uma péssima época
desportiva que corre o risco de ainda poder ficado pior do que aquilo que já era,
desde que não alcance a participação na edição da próxima época da Liga dos
Campeões. De facto, num tempo em que as participações na Liga dos Campeões
tendem a ser cada vez mais bem remuneradas, o Benfica corre o sério risco de
ficar de fora pelo segundo ano consecutivo. Poucos serão os que reconhecem ao
treinador competência para vencer as duas eliminatórias preliminares de acesso
à fase de grupos.
O regresso de Jorge Jesus, contestado
por muitos desde o início por razões que no futebol moderno já têm pouca razão
de ser, revelou-se, por outras razões, um profundo fracasso.
Jesus e o seu autodidatismo,
muito apreciado em países de fraca preparação académica, revelaram-se insuficientes,
mesmo muito insuficientes, para lidar com o saber de treinadores modernos e
muito mais novos. Jesus fracassou na escolha de jogadores, fracassou no pleno aproveitamento
dos jogadores que tem à sua disposição, fracassou na capacidade de “leitura” do
jogo (cada vez diz mais disparates sempre que procura interpretar o que se
passa em campo) e fracassou também na capacidade de mobilização dos jogadores com
vista ao seu empenhamento na busca de um objectivo vitorioso. Dele nada a
haverá a esperar, para melhor, na próxima época. Pelo contrário, com um plantel
previsivelmente mais reduzido em qualidade, só há a esperar o que a maioria dos
benfiquistas já antecipou: uma época igual ou pior à deste ano.
Perante este quadro, ao qual terá
de acrescentar-se o de um presidente pessoalmente acossado pela justiça e
contestado por um número cada vez mais significativo do universo benfiquista,
tudo o que possa levar à destituição de Vieira e à marcação de eleições
antecipadas seria o ideal. Não é de crer, todavia, que Vieira o faça de livre
vontade, mesmo que dentro do clube vá ficando cada vez mais só, como já está acontecendo,
com a recente demissão do Presidente da Assembleia Geral.