terça-feira, 21 de junho de 2016

CARLOS DANIEL, RONALDO E O SELECCIONADOR


 

PORTUGAL NO EURO 2016
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Para começar é bom que se diga sem metáforas nem circunlóquios que a selecção portuguesa está a fazer,em França, um mau Euro 2016, frustrando as expectativas de milhões de adeptos que acreditaram num comportamento bem diferente daquele que desde o primeiro jogo tem existido. Portugal tem em risco a participação na fase seguinte da prova se não ganhar o jogo de amanhã. E nada, absolutamente nada, deixa antever que o resultado contra a Hungria tenha que ser diferente dos dois resultados anteriores.

Há jogadores em baixo rendimento, há manifesta incapacidade de pôr em prática um modelo de jogo razoavelmente eficiente e há um seleccionador sem ideias ou, se as tem, sem independência e autonomia suficientes para as pôr em prática.

Carlos Daniel, porventura o comentador desportivo mais bem preparado em Portugal, tem defendido a tese de que o seleccionador deve manter a ideia que trabalhou durante os anos que está à frente da selecção a qual acabará por produzir os resultados esperados. E na execução dessa ideia deve manter a jogar os jogadores em que acredita e que melhor a sabem pôr em prática, que são, como é óbvio, aqueles que têm jogado.

Carlos Daniel, como acredita que o futebol é uma ciência que obedece a critérios estritamente racionais, esquece ou não entra em consideração com o facto de o futebol ser um jogo, logo aleatório, no desenlace do qual intervêm múltiplos factores além dos racionais. Desde logo o factor sorte e depois a atitude, melhor dizendo, o estado de alma dos jogadores que pode mudar muito de um jogo para outro. Além disso há factores de confiança, de camaradagem, de companheirismo, de espírito de equipa que são igualmente importantes, se não mesmo decisivos, para o resultado final, além evidentemente da valia do adversário nas suas múltiplas vertentes.

Carlos Daniel, tal como Jesus, acredita que os jogadores podem ser transformados em simples autómatos de uma ideia de jogo. O facto de um ser muito mais alfabetizado que outro não impede que estejam irmanados na conclusão de que uma correcta interpretação da “ideia de jogo” leva necessariamente ao resultado esperado. Tanto para um como para outro o factor individual conta pouco, seja pela positiva, seja pela negativa e todavia que seria do futebol se por ele não tivessem passado Si Stefano, Puskas, Pelé, Garrincha, Eusébio, Cruyff, Maradona, Zidane e Messi entre tantos outros. Se bem repararem, nunca – mas mesmo nunca – nas suas esquemáticas análises técnico-tácticas dos jogos entra o talento individual do jogador. Pelo contrário, sempre que faz referência à acção individual é para a desmerecer, numa criteriosa escolha do que corre mal.

Enfim, ao recusar-se a comentar e a criticar a prestação de alguns jogadores da selecção portuguesa e a incapacidade (seja técnica, seja de outra ordem) do seleccionador para reconhecer e corrigir essas incapacidades, Carlos Daniel presta um mau serviço à selecção e a todos quanto desejavam um outro desfecho para as cores portuguesas.

Antes de mais, a análise do comportamento da selecção portuguesa (não apenas a deste Euro 2016, mas também das anteriores mais recentes) passa obviamente por Ronaldo. Não pode deixar de passar. Pela sua prestação, pela análise das suas prestações na selecção, pelo seu protagonismo, pelo seu comportamento enquanto elemento do grupo, pela sua influência no seleccionador e na Federação bem como de todos os (grandes) interesses que o rodeiam.

Como a prestação de Ronaldo tem sido muito fraca, embora não muito diferente da que tem tido em fases finais de Europeus e Mundiais anteriores, mais concretamente desde o Mundial da África do Sul (2010), não falta quem aproveite ocasião proporcionado por mais este falhanço para um ataque demolidor ao seu carácter e à sua personalidade, como fez John Carlin, em El Pais de 19 de Junho (ver tradução). 

Mas não é necessário, nem decente, chegar tão longe. Um dia, já muito distante dos tempos de glória da grande equipa do Real Madrid dos anos 50, princípios de 60 do século passado, perguntaram a Di Stefano o que tinha a comentar sobre a personalidade de Puskas, como pessoa, de quem se dizia “cobras e lagartos”. O grande jogador do futebol de todos os tempos foi muito claro. Afirmou que não tinha relações com Puskas fora do campo e, portanto, não se podia pronunciar sobre o que diziam dele. Mas conhecia-o muito bem dentro do campo. Era um jogador brilhante como poucos, inteligente, generoso, altruísta, companheiro, um verdadeiro jogador de equipa. Era essa a imagem que tinha dele. A imagem que construiu a partir do que viveu e sentiu dentro do campo como seu colega de equipa.

É sobre Ronaldo dentro do campo, como elemento de uma equipa, que as críticas, positivas e negativas, devem ser feitas. É evidente para toda a gente que Ronaldo é um super atleta, para o qual a ideia da superação dos seus próprios limites está permanentemente presente. Mas é também óbvio que Ronaldo não é um virtuoso do futebol, não tem a magia dos grandes artistas, nem sequer a inteligência de quem sabe pensar o futebol como um jogo eminentemente colectivo. Durante anos e anos nunca Ronaldo festejou os golos da equipa por que alinhava se não fossem marcados por si. Nunca, durante anos, se viu Ronaldo em campo agradecido a um colega por lhe ter feito um passe de golo ou aplaudir uma jogada magistral de um companheiro de equipa. Vê-se Ronaldo na televisão e percebe-se que ele passa parte do seu tempo mais preocupado com as câmaras, com a imagem que dele transmitem, do que com a sua equipa. Tudo gira à volta de seu enorme EGO, diariamente alimentado por uma enorme falange de aduladores.

Por força dos recordes individuais que bateu, dos títulos individuais que conquistou, Ronaldo (e o seu entorno….) adquiriu no seio da selecção um poder que nunca outro jogador teve. Há a convicção generalizada que o seleccionador não tem qualquer poder de direcção táctica, e muito menos técnica, sobre Ronaldo. Todos os treinadores, depois da sua saída do Manchester, que tentaram interferir no modo de jogar de Ronaldo e sobre o seu posicionamento relativamente à equipa foram mal sucedidos (Mourinho, Carlos Queiroz, Paulo Bento, Benitez). O mesmo se diga dos jogadores que tentaram, mesmo que discretamente, lutar contra o seu excesso de protagonismo.
Com Fernando Santos tudo isto é mais evidente do que com qualquer outro treinador. Fernando Santos não tem qualquer poder de direcção sobre Ronaldo. Nem sobre Ronaldo nem para contrariar o que eventualmente possa não agradar a Ronaldo. A subserviência de alguns, bastantes, jogadores relativamente a Ronaldo é lamentável. O santo e a senha para entrar no lote dos amigos de Ronaldo é não apenas elogiá-lo acriticamente, mas afirmar peremptoriamente que ele é o melhor jogador do mundo. É quase certo que não tem lugar como titular nenhum jogador, por mais brilhante que seja, que não tenha afirmado que “Ronaldo é o melhor do mundo”. E se algum tiver a ousadia de deixar algum juízo objetivo que não agrade ao craque português, logo o clã Aveiro e Jorge Mendes se encarregarão de o anatemizar.

Fernando Santos exibe perante os jornalistas uma arrogância como treinador da selecção que nunca teve como treinador de clube. Quanto mais se deixa enredar pela “ronaldodependência” mais afirmativo se torna relativamente objectivos e metas que não tem qualquer hipótese de alcançar. É um fenómeno de compensação bem conhecido…mas nem por isso deixa de ser um pouco ridículo.

Quanto à selecção, é certo que o segundo jogo foi aparentemente mais bem conseguido que o primeiro, embora com a mesma ineficácia e completa ausência de criatividade no meio-campo ofensivo. Quanto a Ronaldo não há que estranhar, com excepção do penalty falhado, ele precisa sempre de fazer muitos remates para marcar um golo. Já o mesmo se não deverá dizer dos restantes jogadores que igualmente desperdiçaram várias oportunidades. Grandes equipas são as que aproveitam as oportunidades que surgem e não as que apenas as criam. Não é com oportunidades criadas que se ganham jogos. É com golos!

William esteve melhor do que Danilo. Sem ter sido criativo – isso, ele nunca é – esteve mais presente no jogo, adiantou-se mais no terreno e não falhou passes. Teve a seu favor não ter de defrontar avançados tão poderosos como os que Danilo encontrou pela frente no primeiro jogo e também o posicionamento ofensivo da equipa da Áustria que lhe concedeu mais liberdade para se adiantar. João Moutinho, ridiculamente considerado o “homem do jogo” pela UEFA, mais uma vez esteve mal. Mal no sentido de não dado nenhum contributo positivo à equipa: um passe, um rompimento das linhas adversárias, uma presença na área. Nada. Não se compreende por que razão continua a jogar como titular. Ninguém que perceba um mínimo de futebol compreende esta insistência em Moutinho!

João Mário continua ausente. Incompreensivelmente ausente. André Gomes, mais uma vez, o melhor da linha média. Na frente, ficou provado que só podem jogar dois, embora a dúvida seja quem deverão ser esses dois. De Ronaldo não há que esperar muito mais. Com excepção dos jogos de “play-off” contra aa Suécia, para o apuramento do Mundial do Brasil, nunca Ronaldo foi uma figura absolutamente decisiva nos jogos da selecção. É certo que em 127 jogos marcou golos, tem o record absoluto de golos na selecção, mas está muito longe de ter o record em termos relativos. Sendo certo que no jogo de amanhã Ronaldo vai jogar qualquer que seja a forma em que se encontre, Quaresma deverá sair entrando porventura Rafa para o lugar de João Mário. Quanto ao resto não é de crer que haja mudanças.

Fica-se, porém, com a impressão de que se trata de um simples remendo. De facto, a ausência de um verdadeiro ponta de lança, a recusa em fazer alinhar um “oito” ofensivo, a fraca forma física de Ronaldo condicionam a estrutura da equipa e a sua movimentação em campo. Nada nos permite, portanto, esperar grandes diferenças.

Renato Sanches não jogará certamente. Entre outras razões por que nunca disse que “Ronaldo é o melhor jogador do mundo!”. Faz bem Renato em não dobrar a espinha. O futuro será seu. Na selecção e fora dela. Oxalá nunca perca a cabeça nem se deixe jamais apanhar pelo vedetismo…

 

quinta-feira, 16 de junho de 2016

SELECÇÃO: AS MUDANÇAS QUE SE IMPÕEM


 

SÁBADO, CONTRA A ÁUSTRIA
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Vai haver mudanças no jogo contra a Áustria do próximo sábado. O seleccionador já o admitiu. Falta saber que mudanças. E se são as que se impõem, depois do que se viu contra a Islândia, ou se serão meramente cosméticas para atender aa alguns interesses de ocasião.

Não tenho ouvido os comentários da SIC nem da TVI, nem mesmo os da Sport TV e da BTV, se é que esta última os faz, pelo não posso comentar o que nestas estações tem sido dito sobre o jogo da selecção. Apenas tenho seguido os comentários da RTP. E confesso que não posso deixar de manifestar a minha surpresa pelo que tenho ouvido. A seguir ao jogo contra a Islândia, dois dos comentadores mais influentes (Carvalhal e Carlos Daniel) deram a entender (ou mais do que isso) que o problema da selecção não estava nos jogadores, deixando subentendido que o “falhanço” era do treinador. Marco Silva, mais cauteloso, “politicamente correcto”, foi tendo aquela conversa que de nada serve: “O treinador é que sabe o que pediu aos jogadores e a situação em que os mesmos se encontram”. Todavia, à medida que o programa decorria começou a ser evidente que a responsabilidade do acontecido também não era do seleccionador. Se não era do seleccionador nem dos jogadores, de quem seria afinal? No dia seguinte, no mesmo programa, Manuel José, sempre tão directo, também alinhou mais ou menos na mesma conversa, salvo no que respeita a Ronaldo. Com a agravante de este segundo programa pós jogo ter a presença de Miguel Guedes – o execrável Guedes do Trio de Ataque. Antes de mais, é caso para pergunta: Que faz Guedes no programa? Se o programa é para falar tecnicamente de futebol, o que faz lá Guedes? Só se for para denegrir Renato Sanches ou qualquer outra coisa que “cheire” a Benfica…

Deixando de lado o que pensam ou dizem estes comentadores, que se têm a si próprios como o supra-sumo do comentário futebolístico, vamos então abordar aas mudanças que se impõem.

Na defesa, a única alteração que poderia justificar-se era a de Pepe por José Fonte. Pepe tem causado muitos problemas à selecção. É um jogador, a justo título, marcado pelos árbitros, perde com relativa facilidade a compostura e muito facilmente compromete a selecção, como aconteceu no último Mundial. A selecção só ficaria a ganhar se fosse substituído. Vieirinha pode ser substituído por Cedric mas a selecção não ganha nada com isso. Perde um atacante razoável e não ganha nada na defesa.

Na linha média terá de haver profundas alterações. Seja por culpa do seleccionador ou dos jogadores, é óbvio que o sector esteve muito aquém do pretendido. E como o seleccionador não pode ser mudado, as mudanças terão de recair sobre os jogadores. Assim, Danilo vai ser um dos sacrificados. Provavelmente vai entrar para o seu lugar William Carvalho. Provavelmente, não se ganhará nada com a mudança, mas é uma alteração que terá de acontecer depois de tudo o que se disse de Danilo. Moutinho tem de ser substituído por Renato Sanches. É mais que óbvio que Renato é hoje um jogador imprescindível no meio campo. Quanto aos alas, João Mário deve continuar. Deve ter mais uma chance, podendo do outro lado manter-se André Gomes ou ser chamado Rafa.

Na frente só podem jogar dois. Se Quaresma está em forma e com muita vontade de jogar, como parece que está, talvez seja de lhe conferir a titularidade, em detrimento de Ronaldo que não está bem, precisa de descansar, não sendo nada conveniente a sua utilizaação nas condições em que se eencontra, como se viu há dois anos no Brasil. E do outro lado começar com Nani.

Estas seriam as alterações que um treinador independente, que pensasse pela sua própria cabeça, muito provavelmente faria. Mas não é o caso, Fernando Santos, como outros antes dele, tem um raio de acção muito limitado. Não pode tocar em Ronaldo nem em nenhum daqueles jogadores que proclame aos quatro ventos que “Ronaldo é o melhor do mundo”. Essa a razão por que as alterações vão ser meramente cosméticas. Provavelmente sairá Danilo, talvez também Vieirinha e na linha média João Mário ou André Gomes para entrar Quaresma, alterando-se a estrutura da equipa tal como foi concebida pelo próprio seleccionador.

Esperemos para ver…

quarta-feira, 15 de junho de 2016

A SELECÇÃO PORTUGUESA NO EURO 2016


 

O EMPATE COM A ISLÂNDIA
 
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Criou-se a ideia de que Portugal tinha uma grande selecção capaz, inclusive, de vencer o torneio europeu que se está disputando em França.  Trata-se de, todavia, de uma ideia assente numa avaliação exagerada das capacidades da selecção.

Portugal, integrado num grupo de apuramento relativamente fácil, fez uma campanha normal, face às selecções em presença, sem nunca deslumbrar.

Em França, na fase final do Europeu, Portugal volta a estar integrado num grupo aparentemente ainda mais fácil. De facto, nem a Islândia, nem a Hungria, nem a Áustria, têm, nestes últimos quinze anos, marcado presença ou dado nas vistas nas grandes montras do futebol mundial, tanto a nível de clubes, como de selecções. O que não quer dizer que não possam ter equipas muito competitivas na prova em curso.

Aliás, é bom lembrar que a Áustria fez uma fase de grupos extraordinária, melhor que a Espanha, a Alemanha, a Itália e Portugal, apenas suplantada pela Inglaterra que ganhou todos os jogos. Por outro lado, a Islândia apurou-se em segundo lugar num grupo do qual fazia parte a Holanda, que foi eliminada. Portanto, a ideia de que a equipa portuguesa tinha uma passadeira vermelha estendida para alcançar a fase seguinte, era uma ideia que tinha de ser confirmada no campo, em cada jogo. Sabia-se-se de antemão que os jogos contra a Áustria e a Islândia seriam difíceis, adivinhando-se mais fácil o jogo contra a Hungria, que acabou, como se sabe, de derrotar a Áustria, complicando as contas do grupo.

No jogo de ontem, contra a Islândia, cedo se percebeu que a selecção portuguesa iria defrontar uma equipa difícil, muito competitiva, que privilegiaria o jogo directo, através de lançamentos longos, procurando tirar partido das “segundas” bolas por força da sua mais bem apetrechada compleição física.

Perante este quadro, que era ou deveria ser esperado, a selecção portuguesa teria de saber penetrar na estrutura da equipa adversária, procurando por meio dessas brechas impor o seu jogo. Acontece que a selecção raramente foi capaz de fazer isto. Os médios contornaram a equipa da Islândia, sem nunca verdadeiramente a penetrar.

Danilo, como “seis”, pouco adiantou relativamente a William Carvalho. Tal como o sportinguista, foi lento, pouco ou nada criativo, jogou sempre muito recuado e, apesar disso, nas poucas vezes em que poderia ter tirado vantagem desse recuo, não estava lá.

Os demais médios também estiveram muito mal, com excepção de André Gomes, que começou bem e foi depois piorando sempre até sair. Dos três (Moutinho, João Mário e André Gomes), Moutinho foi de longe o pior. Há muito que Moutinho está jogando pouco. Explicando melhor: com excepção de dois dos anos passados no Porto, nunca Moutinho jogou mais do que joga agora. E agora joga pouco, sendo óbvio que não tem lugar na equipa, a ponto de se dever questionar a sua convocação. João Mário, estranhamente, tarda em reaparecer. Quem desconhecesse a época que fez este ano no Sporting, perguntaria o que estava aquele rapaz a fazer na selecção. André Gomes começou bem, foi único que tentou penetrar na organização da equipa adversária, mas, muito contagiado pelo que via à sua volta, acabou, tal como os outros, por desaparecer da equipa. Não é, portanto, por acaso que os três foram substituídos.

Na defesa, Rui Patrício esteve bem, defendeu o que tinha de defender, nada podendo fazer no golo sofrido. O mesmo se diga dos laterais, embora Guerreiro tenha estado melhor do que Vieirinha. No centro da defesa, Pepe voltou a comprometer a equipa. Lutou, algumas vezes a raiar a violência, outras fazendo-se de palhaço, mas acabou por ter grandes culpas no golo sofrido por, com a sua movimentação, ter desorganizado a defesa portuguesa. Ricardo Carvalho esteve bem melhor.

Contudo, o grande problema da defesa não consiste na prestação individual dos seus componentes, mas na sua organização como bloco, fundamental para a estruturação da equipa, tanto em acções defensivas, como na primeira fase de construção do jogo. Defensivamente, o modo como o bloco se comportou é de tal modo lamentável que dificilmente poderá deixar de se imputar ao treinador essa deficiência. O posicionamento dos defesas no golo sofrido pertence à pré-história do futebol. Como pode na segunda década do século XXI posicionar-se naqueles termos o bloco defensivo? A defesa tem de acompanhar a linha da bola, mantendo-se nela sem aquelas tontas movimentações em que Pepe incorreu e, por culpa dele, Vieirinha. Por outro lado, apesar do constante recuo de Danilo, nunca os centrais foram capazes de iniciar uma penetrante jogada de construção, salvo, uma vez, em Pepe que colocou nos pés de Ronaldo uma bola de golo que Ronaldo desperdiçou com um pontapé em falso.

Tudo isto é da responsabilidade do treinador, como também é da sua responsabilidade a inépcia, por falta de ideias, de toda a linha média.     

Na frente, Nani esteve bem melhor do que é habitual, sem deslumbrar, mas demonstrando grande eficiência no golo e no remate de cabeça que o guarda-redes adversário defendeu brilhantemente. Já Ronaldo esteve igual a si próprio. Ou seja, vulgar se a equipa se vulgariza ou é vulgar. Ronaldo nunca foi um jogador de agarrar o jogo e transformá-lo. Não tem essa mestria, nem se pode esperar isso dele. Ronaldo tem de ser servido e tem sempre de se contar que precisa de várias oportunidades, em regra quatro, excecionalmente três, para marcar um golo. Se a linha média não jogar, se não produzir jogo, Ronaldo passa à margem do jogo, como quase sempre tem acontecido na selecção. No Manchester United e, principalmente, no Real Madrid, isso não acontece porque são (ou foram) equipas com grandes jogadores, que possibilitam, com a sua acção, potenciar todas as qualidades de Ronaldo. Essa a razão por que ele não rende na selecção.

Veremos se a substituição (que se impõe) da linha média no jogo contra a Áustria poderá trazer algo de novo, já que da parte do treinador não se poderá esperar que tenha ideias muito diferentes das que até agora tem posto em prática.

Para terminar, uma palavra sobre a Islândia, que fez um excelente jogo, dentro daquilo que era o seu plano de jogo. Desmerecer na prestação da equipa islandesa é não compreender o que se passou. E isso é mau pelo que prenuncia relativamente ao futuro.