A DECEPÇÃO PORTISTA
Já quase tudo foi dito sobre o grande clássico da sexta jornada da Liga. Havia fundadas razões para esperar mais uma vitória portista. Pelo menos, é isso o que dizem as estatísticas. Mesmo quando o Porto não detinha a hegemonia do futebol português, mesmo nas épocas longínquas do grande Benfica da década de sessenta, sempre foi muito difícil à equipa da Luz vencer nas Antas.
Por outro lado, a goleada do ano passado, não obstante a vitória que dois meses volvidos o Benfica alcançou no Dragão para a Taça de Portugal, aliás tornada inútil também cerca de dois meses depois, aliada às duas vitórias que o Porto o ano passado alcançou na Luz, criou nas hostes portistas a convicção de que os jogo contra o Benfica teria o desfecho inevitável: mais uma vitória, provavelmente folgada.
E de facto, o Porto realizou uma primeira parte de grande intensidade, embora sem criar excessivo perigo, sendo contudo certo que poderia ter terminado a primeira parte a ganhar por 2-0, não fora a extraordinária defesa de Artur a remate de Fucile na “cara do golo”. Isto para não falar de um fortíssimo remate rasteiro de Hulk que Artur com uma grande defesa desviou para canto.
Ficou contudo a ideia que a grande intensidade que o Porto pôs no jogo se ficou também a dever à incapacidade de o Benfica compatibilizar a exigência de saber defender bem com a necessidade de manter uma atitude atacante eficaz e acima de tudo capaz de impor algum respeito ao adversário.
Dessa deficiência do Benfica tirou o Porto vantagem na primeira parte a ponto de ter tido possibilidade de quase acabar com o jogo.
Na segunda parte tudo foi diferente. Não só se ficou com a ideia de que algumas pedras basilares da equipa do Porto não têm futebol para noventa minutos, como é o caso de Hulk, como também a nova atitude o Benfica, muito mais próximo do que deve ser o seu padrão de jogo contra equipas da mesma valia ou superior, fizeram com o que o jogo da parte complementar fosse completamente diferente daquele a que até aí se tinha assistido.
Logo após o reatamento o Benfica marcou por Cardozo que conclui muito bem um grande passe de Nolito e o Porto, apesar de ter reagido de imediato com um golo de Otamendi, ressentiu-se muito mais do golo do Benfica do que este do segundo golo do Porto, já que tanto a equipa da casa como os espectadores ficaram com a sensação de que as coisas iriam mudar como o desenrolar o jogo acabaria por comprovar.
A ganhar por 2-1, o Porto nunca mais foi uma equipa consistente. Havia cada vez mais espaço para as transições ofensivas do Benfica nem sempre bem conduzidas, mas que evidenciavam uma equipa do Porto já partida. Numa das vezes Cardozo poderia ter feito a igualdade não fora uma grande defesa de Helton. Depois saíram Nolito (a jogar bem) e Aimar (em subrendimento) e entraram Bruno César e Saviola que apenas acentuaram a tendência que já se vinha a impor.
Via-se que o Porto tinha muita dificuldade em aguentar o resultado e estava fazendo tudo para que o jogo se “empastelasse” para terminar como estava. Não conseguiu: numa reposição de bola em jogo, por lançamento da lateral, Cardozo passou a Saviola e este, sem sequer olhar, atirou em profundidade para o lado deveria estar Gaitan – e estava! – que ganhando em corrida a Fucile “fuzilou” Helton com um excelente remate.
Estava feito o empate e aberto um nunca mais acabar de críticas ao treinador do Porto sobre algumas das suas opções tácticas, o qual, infelizmente, depois de muitas explicações se “atirou” ao árbitro - Jorge de Sousa -, responsabilizando-o pelo resultado.
Ridícula, simplesmente ridícula, a justificação de Vítor Pereira. O que ele tem de compreender é por que razão não é o Porto capaz de produzir resultados a partir os sessenta minutos de jogo, mesmo contra nove, como ainda há dias aconteceu com o Shakthar.
E deveria também advertir Fucile de que o recurso permanente às suas capacidades cénicas acabará por ser prejudicial à equipa.
Em conclusão: o Porto não tem a mesma consistência o ano passado e isso parece radicar mais num problema físico do que táctico, além da ausência de Falcão, claro; o Benfica parece estar a aprender a jogar contra equipas da mesma valia ou superior, o que constitui um enorme progresso relativamente às duas últimas épocas, apesar de por agora tal progresso só ter servido para empatar. É preciso mais alguma coisa para que o progresso seja um pouco mais eficaz.