domingo, 25 de setembro de 2011

O PORTO- BENFICA DE SEXTA-FEIRA PASSADA


A DECEPÇÃO PORTISTA


Já quase tudo foi dito sobre o grande clássico da sexta jornada da Liga. Havia fundadas razões para esperar mais uma vitória portista. Pelo menos, é isso o que dizem as estatísticas. Mesmo quando o Porto não detinha a hegemonia do futebol português, mesmo nas épocas longínquas do grande Benfica da década de sessenta, sempre foi muito difícil à equipa da Luz vencer nas Antas.

Por outro lado, a goleada do ano passado, não obstante a vitória que dois meses volvidos o Benfica alcançou no Dragão para a Taça de Portugal, aliás tornada inútil também cerca de dois meses depois, aliada às duas vitórias que o Porto o ano passado alcançou na Luz, criou nas hostes portistas a convicção de que os jogo contra o Benfica teria o desfecho inevitável: mais uma vitória, provavelmente folgada.

E de facto, o Porto realizou uma primeira parte de grande intensidade, embora sem criar excessivo perigo, sendo contudo certo que poderia ter terminado a primeira parte a ganhar por 2-0, não fora a extraordinária defesa de Artur a remate de Fucile na “cara do golo”. Isto para não falar de um fortíssimo remate rasteiro de Hulk que Artur com uma grande defesa desviou para canto.

Ficou contudo a ideia que a grande intensidade que o Porto pôs no jogo se ficou também a dever à incapacidade de o Benfica compatibilizar a exigência de saber defender bem com a necessidade de manter uma atitude atacante eficaz e acima de tudo capaz de impor algum respeito ao adversário.

Dessa deficiência do Benfica tirou o Porto vantagem na primeira parte a ponto de ter tido possibilidade de quase acabar com o jogo.

Na segunda parte tudo foi diferente. Não só se ficou com a ideia de que algumas pedras basilares da equipa do Porto não têm futebol para noventa minutos, como é o caso de Hulk, como também a nova atitude o Benfica, muito mais próximo do que deve ser o seu padrão de jogo contra equipas da mesma valia ou superior, fizeram com o que o jogo da parte complementar fosse completamente diferente daquele a que até aí se tinha assistido.

Logo após o reatamento o Benfica marcou por Cardozo que conclui muito bem um grande passe de Nolito e o Porto, apesar de ter reagido de imediato com um golo de Otamendi, ressentiu-se muito mais do golo do Benfica do que este do segundo golo do Porto, já que tanto a equipa da casa como os espectadores ficaram com a sensação de que as coisas iriam mudar como o desenrolar o jogo acabaria por comprovar.

A ganhar por 2-1, o Porto nunca mais foi uma equipa consistente. Havia cada vez mais espaço para as transições ofensivas do Benfica nem sempre bem conduzidas, mas que evidenciavam uma equipa do Porto já partida. Numa das vezes Cardozo poderia ter feito a igualdade não fora uma grande defesa de Helton. Depois saíram Nolito (a jogar bem) e Aimar (em subrendimento) e entraram Bruno César e Saviola que apenas acentuaram a tendência que já se vinha a impor.

Via-se que o Porto tinha muita dificuldade em aguentar o resultado e estava fazendo tudo para que o jogo se “empastelasse” para terminar como estava. Não conseguiu: numa reposição de bola em jogo, por lançamento da lateral, Cardozo passou a Saviola e este, sem sequer olhar, atirou em profundidade para o lado deveria estar Gaitan – e estava! – que ganhando em corrida a Fucile “fuzilou” Helton com um excelente remate.

Estava feito o empate e aberto um nunca mais acabar de críticas ao treinador do Porto sobre algumas das suas opções tácticas, o qual, infelizmente, depois de muitas explicações se “atirou” ao árbitro - Jorge de Sousa -, responsabilizando-o pelo resultado.

Ridícula, simplesmente ridícula, a justificação de Vítor Pereira. O que ele tem de compreender é por que razão não é o Porto capaz de produzir resultados a partir os sessenta minutos de jogo, mesmo contra nove, como ainda há dias aconteceu com o Shakthar.

E deveria também advertir Fucile de que o recurso permanente às suas capacidades cénicas acabará por ser prejudicial à equipa.

Em conclusão: o Porto não tem a mesma consistência o ano passado e isso parece radicar mais num problema físico do que táctico, além da ausência de Falcão, claro; o Benfica parece estar a aprender a jogar contra equipas da mesma valia ou superior, o que constitui um enorme progresso relativamente às duas últimas épocas, apesar de por agora tal progresso só ter servido para empatar. É preciso mais alguma coisa para que o progresso seja um pouco mais eficaz.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

ALGO VAI MAL EM MADRID

MOURINHO E CRISTIANO RONALDO

Numa época em que tudo prometia e em que conseguiu que o presidente Florentino Pérez transferisse para ele todos os poderes do futebol do clube merengue, Mourinho não consegue descolar na Liga espanhola, apesar de o próprio Barcelona ter perdido em quatro jornadas um terço dos pontos em disputa.

O Real Madrid, jogando mal, e tendo ganho apenas um jogo sem dificuldade – o primeiro – já perdeu cinco pontos e vê o inesperado Bétis distanciado cinco pontos no cimo da classificação com doze pontos em quatro jogos; e também o renascido Valência com dez pontos a três de distância, e até o agora riquíssimo Málaga com nove pontos a dois pontos de diferença.

Pior que tudo é que a equipa não joga, apesar de recheada de estrelas. Diz Valdano que o Madrid tem de se preocupar mais com a bola e menos com os árbitros e outras coisas que nada têm a ver com o rendimento da equipa. E que os jogadores estão tão preocupados em correr e em lutar que até se esquecem de jogar.

E as críticas começam também a acumular-se nos adeptos anónimos que vêem na prepotência e na arrogância de Mourinho uma das causas do declínio do Real Madrid e da sua quebra de popularidade em Espanha.

Mourinho é hoje claramente hostilizado em todos os campos do país pelo tipo de discurso que utiliza e pelos comportamentos que protagoniza. E como esta antipatia generalizada se reflecte sobre o comportamento da equipa, os grandes nomes do Real estão preocupados por a equipa ser hoje assobiada em estádios onde antes dividia com os da casa as simpatias do público. Ainda ontem isso se passou em Santander, no El Sardinero.

Mourinho não compreendeu o Real Madrid, nem a sociedade espanhola. Tendo aterrado em Madrid com os clichés típicos do português inculto, não compreendeu que o êxito da sua passagem por Espanha estava muito dependente da forma como ele fosse visto pelos espanhóis. Apesar de rico e de ter ganho muito dinheiro nestes últimos anos, Mourinho, como ególatra que é, deve estar assessorado por yes-men, tão incultos quanto ele, incapazes de lhe prestarem uma verdadeira ajuda nos momentos de dificuldade e principalmente incapazes de o terem ajudado a passar uma imagem capaz de criar alguma empatia com a sociedade espanhola.

 Fiado na inevitabilidade das suas vitórias e nas “liberdades” que elas lhe proporcionam, Mourinho supôs que em Espanha se passaria o mesmo que se passou noutros lados, não tendo tido por isso a preocupação em retocar, no mínimo que fosse, as facetas mais detestáveis da sua personalidade.

O mau clima criado por Mourinho acabará inevitavelmente por se propagar à equipa por muito que os jogadores continuem a afirmar que “Mourinho é o melhor do mundo”. Cada vez se percebe mais que essas e outras frases fazem parte de um ritual que prima pela insinceridade e tem em vista evitar quezílias pessoais com quem, no entender de alguns jogadores, já está a prazo.

Outro caso grave do Real Madrid é Cristiano Ronaldo. Ronaldo, se estiver fisicamente bem – e agora não está, apesar de Mourinho o ter posto a jogar -, tenderá a resolver, directa ou indirectamente, parte dos jogos do Madrid. Mas quando não está não é somente a equipa que se ressente como ele próprio sofre na pele a crítica implacável daqueles que o acusam de ter um problema de imagem, prejudicial à equipa.

Desde que no Mundial da Alemanha, no jogo Portugal-Inglaterra,  Ronaldo contribuiu, por pressões sobre o árbitro, para a expulsão de Rooney, colega de equipa no Manchester, por agressão a Ricardo Carvalho, nunca mais Ronaldo passou a ter vida fácil nos estádios ingleses.

Cristiano Ronaldo teve tanta consciência prévia disso que até se dispôs a abandonar o Manchester, não fora a vinda a Portugal, durante as férias desse ano, de Alex Ferguson para o convencer a ficar.

A verdade é que a partir daí Ronaldo passou a ser assobiado em todos os estádios jogasse pelo Manchester, pela selecção portuguesa ou, agora, pelo Real Madrid. Ronaldo, ególatra, tal como Mourinho, também lida muito mal com o facto e nada tem feito, antes pelo contrário, para o superar e acima de tudo o inviabilizar. Tal pressupunha uma verdadeira campanha imagem feita à base de modéstia e de respeito pelo público de modo a chamar a atenção deste para os aspectos positivos do futebol, da camaradagem e da desvalorização das rivalidades irracionais construídas à base do ódio contra o outro.

Ronaldo nunca fez nada disso e a sua indesmentível rivalidade com Messi, para quem nunca teve sentidas palavras de cortesia desportiva, só o tem prejudicado bem como à equipa que agora representa.

Se Mourinho já é neste plano um “caso perdido”, Cristiano Ronaldo ainda estava a tempo de ser recuperável se tivesse bons conselheiros. É que não basta a Ronaldo ser nos treinos e nos jogos um dedicado profissional, como na realidade é. Um jogador que atingiu a sua projecção mediática tem de ser muito mais do que isso.

Finalmente, com Mourinho sofre também Coentrão, a grande esperança do futebol português, que deve ter feito a maior asneira da sua vida ao ter preterido um grande clube inglês, como o Chelsea, pelo Real Madrid de Mourinho. Mas isso ficará para outra conversa…

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

BENFICA E PORTO EMPATADOS NA FRENTE






SPORTING E BRAGA JOGAM HOJE
Benfica vence Académica por 4-1 e iguala líder F.C. Porto

Ontem o Porto empatou em Aveiro contra o Feirense e o Benfica na Luz ganhou à Académica. Enquanto o Benfica vai dando sinais de que está gradualmente a subir de produção, sem contudo ter resolvido alguns problemas, o Porto dá a nítida sensação que tarda a reencontrar-se e, mais do que a sensação, a certeza de que sem Hulk é outra equipa. Com menos soluções e com dificuldade em chegar ao golo.

O Feirense poderia por várias vezes ter marcado, principalmente no primeiro tempo, mas também no segundo, o mesmo se passando com o Porto, mas só na segunda  parte. Em todo o caso, as perdidas do Feirense são mais “escandalosas” do que as do Porto, mesmo levando em conta a de Varela.

Houve uma grande penalidade que ficou por marcar, falta clara de Belluschi sobre Diogo Cunha, falta que os comentadores afectos ao Porto consideraram duvidosa. O árbitro resolveu ao contrário: deu amarelo ao jogador do Feirense por simulação. Se a moda pega, nunca mais um avançado quer ser derrubado na área do Porto…

Praticamente no fim do jogo, James foi expulso por agressão a Rabiola, numa atitude que indicia nervosismo e muita ansiedade.

No jogo da Luz, assistiu-se, na primeira parte, a uma partida equilibrada, mas com supremacia benfiquista, não somente pelas situações criadas, mas por ter sabido reagir de pronto ao empate da Académica.

Mais uma vez o Benfica sofreu um golo de bola rematada na cabeça da área – aliás, um excelente remate e um belo golo, de Danilo – tal como na quarta-feira passada havia sofrido contra o Manchester United. Ou seja, apesar de haver mais gente na linha média do que nos anos anteriores, continua a faltar alguém que impeça a recepção da bola e o remate livre de adversários. Logo a seguir ao golo da Académica numa daquelas suas típicas jogadas, Nolito, quando parecia que ia perder a bola, passou por vários adversários e rematou de pronto mal se enquadrou com a baliza, fazendo o segundo golo do Benfica.

Jesus deixou ficar no banco Javi Garcia, Gaitan e Aimar e deu a titularidade a Bruno César, que logo aos 26 minutos marcou um excelente golo, a Matic, melhor a defender do que a passar, e a Saviola.

Na segunda parte manteve-se o 2-1 até à entrada de Aimar aos 71 minutos. Dez minutos depois fazia o 3-1, de cabeça, a centro de Gaitan, que entretando entrara, na sequência de uma saída em falso de Peiser, guarda-redes da Académica. Já no tempo de compensação, Nolito, a passe de Aimar, isolou-se e à saída de Peiser não falhou. Com este é quarto golo que marca na Liga, igualando Cardozo.

Logo à noite se verá se o Porto e Benfica ficam sozinhos na frente até domingo ou se o Braga se junta a eles. Depois da excelente vitória em Birmingham, para a Liga Europa, o Braga é claramente favorito em Guimarães, hoje, ao fim da tarde.

O Sporting fecha a jornada em Vila do Conde, contra o Rio Ave. Depois da vitória na Suíça, contra o Zurique, também para a Liga Europa, não falta quem no comentário desportivo augure um grande futuro ao Sporting. Aliás, foi digno de se ouvir o relato do jogo de Zurique na Antena 1. Até se supunha que era o Barcelona que estava a jogar, tal o entusiasmo do locutor. Depois, à noite, na TV, viu-se que, afinal, o Sporting teve alguma sorte: se as bolas que o Zurique mandou ao poste e à trave tivessem entrado, o resultado teria sido bem diferente. E a conversa dos comentadores e relatores também. Vê-se que o Sporting tem boa imprensa…Mas nem sempre lhe será útil. Por exemplo, a insistência nas questões de arbitragem – realmente inexistentes ou de diminuta influência – só servem para desresponsabilizar a equipa. O guarda-redes do Sporting, este ou qualquer outro, tem de perceber que não pode apanhar a bola com a mão, quando ela lhe é passada por um colega ou quando a toque de um colega a agarra com a mão para tirar vantagem na sua reposição em jogo. Tem de perceber isto… a menos que obtenha uma autorização especial, como aqui há uns anos se dizia o Vítor Baía ter para jogar a bola com a mão fora da área.

No futebol internacional, destaque para a derrota de Mourinho contra o Levante, por 1-0, para a copiosa vitória do Barcelona por 8-0 contra o Osasuna e do Manchester contra o Chelsea por 3-1. Num jogo com muitos casos – os dois primeiros golos do United – e com falhanços incríveis, como a gp marcada por Rooney, e o remate de Torres com a baliza aberta, fica quase a certeza de que vai ser muito difícil a Villas-Boas encurtar a diferença que já o separa da equipa de Ferguson.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

LIGA DOS CAMPEÕES: A PRIMEIRA JORNADA




AS SURPRESAS E AS CONFIRMAÇÕES

Cristiano Ronaldo explica os motivos das insistentes vaias que recebeu na Croácia


Para as equipas portuguesas em prova, Porto e Benfica, a jornada terminou sem surpresas. O Porto, como se esperava, venceu e é o grande favorito do seu grupo. Um grupo que não conta com nenhuma grande equipa além do Porto. De facto, tanto o Shakhtar, como o Zenit de São Petersburgo, apesar das melhorias das últimas épocas, ainda estão longe de se poderem considerar “equipas de referência”. Basta dizer que ainda na época de 2009/2010 o Zenit foi eliminado no play off da Liga Europa pelo Nacional da Madeira…

No jogo de terça-feira, o Porto ficou aquém do favoritismo que a justo título lhe é concedido, mas isso de forma alguma significa que haja no grupo equipa capaz de lhe fazer frente.

O Benfica, com muitas presenças na Taça dos Campeões, e poucas na Liga dos Campeões, aspira naturalmente à passagem à fase seguinte, como grande objectivo da época internacional da equipa, ficando a possibilidade de ir mais além condicionada ao adversário que lhe calhar em sorte…se vier a ser apurado para os oitavos de final.

E, de facto, ainda é muito cedo para se falar do assunto. Teoricamente o empate de ontem, contra o Manchester, é bom, mas teria sido bem melhor se o Basileia tivesse empatado com o Otelul Galati. Do modo como o Benfica se comportar na Suíça e na Roménia vai depender a sua classificação no grupo. O Manchester United é naturalmente o favorito. O facto de haver no grupo do Benfica uma grande equipa europeia, uma das melhores da actualidade, torna tudo mais difícil, como o passado recente se encarrega de demonstrar.

No primeiro dia da primeira jornada os resultados que merecem destaque são o empate, em Camp Nou, do Barcelona contra o Milan, não tanto pela história dos confrontos entre ambas as equipas, favoráveis ao Milan, mas antes pelo grande momento de forma que se acredita o Barcelona está a atravessar, pese embora o resultado do último sábado em San Sebastian, contra a Real Sociedad – empate a dois, tal como no jogo da Champions contra o Milan. De facto, o Barcelona dominou durante o tempo todo…mas sofreu um golo aos vinte segundos de jogo e outro, no tempo extra, no segundo minuto da compensação. E assim volta a ser verdade o que durante muito tempo era uma certeza: com as equipas italianas o resultado só se conhece mesmo no fim do jogo.

O outro resultado surpreendente foi a derrota do Zenit em Chipre contra o Apoel, no grupo G – o do Porto.

Quanto ao mais, a vitória do Chelsea contra o Bayer Leverkusen é normal, o empate do Arsenal em Düsseldorf também e a vitória do Marselha na Grécia contra o Olympiakos também faz parte da normalidade, atenta a fase por que passam os clubes gregos.

No segundo dia da jornada, o resultado mais surpreendente foi indubitavelmente a derrota do Inter, em casa, frente ao repescado Trabzonspor. Num grupo que conta ainda com o Lille e o CSKA de Moscovo, o mínimo que se poderá dizer é que o Inter ficará doravante sob pressão. O próximo jogo, em Moscovo, vai ser muito importante para a equipa italiana. Se perder, tudo se tornará muito difícil.

Depois é de realçar o bom momento de forma do Bayern de Munique, vencedor por 2-0 contra o Villareal, num grupo muito difícil – porventura o mais difícil de todos – que conta ainda com o Manchester City e o Nápoles, cujo confronto de ontem terminou empatado a um golo.

Finalmente, o Real Madrid, jogando de vermelho, ganhou tangencialmente ao Dínamo de Zagreb (1-0), golo de Di Maria, apesar de ter desfrutado de várias ocasiões de golo. O Ajax e o Lyon, do mesmo grupo, empataram em Amesterdão a um golo.

EMPATE DO BENFICA NA LUZ CONTRA O MANCHESTER UNITED

UM RESULTADO ACEITÁVEL
"A haver um vencedor teria de ser o Benfica", diz Jorge Jesus

O jogo da Luz começou com grandes cautelas defensivas de ambas as equipas. Tanto uma como outra iniciaram o jogo longe da exuberância atacante que costumam exibir nos campeonatos internos.

O Manchester foi tendo mais posse de bola, sem que tal correspondesse a qualquer tipo de progressão ofensiva, como Alex Ferguson no fim do jogo reconheceu. O Benfica foi progressivamente ganhando alguma supremacia atacante, acabando por concretizá-la com um grande golo de Cardozo, a passe de Gaitan.

Depois do golo manteve-se algum ascendente do Benfica até que no primeiro duplo erro da equipa – perda de bola e progressão, sem oposição, entre linhas de Ryan Giggs - o veterano jogador do United fez um grande golo, digno de uma grande noite europeia. Pouco depois terminou a primeira parte.

Na segunda parte, o Manchester, embora com os mesmos jogadores, apareceu claramente mais subido no terreno e durante cerca de um quarto de hora deu claros indícios de querer resolver o jogo a seu favor. E isso esteve perto de acontecer por duas vezes: primeiro em mais uma brilhante jogada de Giggs, que à entrada da área, se desembaraçou de quatro jogadores do Benfica, tendo aparecido isolado face a Artur que desviou a bola com o pé, ou mais correctamente, viu a bola embater-lhe de raspão no pé e seguir para canto. Logo a seguir um cruzamento de Valência passou por toda a gente junto à baliza do Benfica sem que ninguém lhe tocasse. Ainda houve uma outra situação que terminou nas mãos de Artur na sequência de uma boa jogada de Fábio do lado esquerdo.

E por ai se ficou o Manchester que viu depois o Benfica, na parte final do encontro, perder três oportunidades de golo. Duas por Nolito, entretanto entrado para o lugar de Ruben Amorim, e outra por Gaitan a que Lindegaard correspondeu com uma grande defesa.

O Benfica povoou mais do que costuma fazer a linha do meio campo, com Ruben, Javi Garcia e Witsel, de modo a estancar a construção atacante do adversário. Na frente caberia a Gaitan, Cardozo e Aimar, principalmente aos dois primeiros, desfeitear a defesa do United. Com a entrada de Nolito e a saída de Rúben Amorim, o treinador quis claramente transmitir à equipa um maior pendor atacante, que realmente se verificou, sem contudo se ter traduzido em qualquer golo.

A defesa com Artur, na baliza, e com Maxi, Garay, Luisão e Emerson na linha defensiva, esteve à altura do que dela se espera, com destaque para Luisão a defender. Garay, pelas próprias características do adversário, pouco se aventurou no ataque, mesmo nas bolas paradas, e Emerson, como é seu hábito, também foi muito mais defensivo do que Maxi Pereira.

Talvez se possa dizer que o empate agradou às duas equipas: é bom para os ingleses porque estavam a jogar fora e é também bom para os benfiquistas porque estavam a jogar contra uma grande equipa.

No Manchester, Giggs foi a grande figura, pelo golo que marcou, seguido do guarda-redes Lindegaard, que evitou a derrota a poucos minutos do fim. No Benfica valeu sobretudo a equipa, com destaque para o grande golo de Cardozo e para o labor de Gaitan durante quase toda a partida.

No final da partida Ferguson referiu-se ao grande ambiente da Luz e ao clima criado pelos confrontos entre as duas equipas. De facto, os confrontos entre o Manchester United e o Benfica na Taça e na Liga dos Campeões já ocorreram por várias vezes e têm sido rodeados de um grande ambiente, quase sempre com um desfecho favorável aos ingleses.

Primeiro foi uma eliminatória, em 1966, em que o Benfica saiu derrotado em Old Trafford por um resultado que permitia acalentar todas as esperanças (3-2), mas que na Luz se transformou num pesadelo com uma derrota por 5-1 e uma grande noite de George Best.

Depois, dois anos mais tarde, em 1968, foi a Final da Taça dos Campeões, em Londres: o jogo estava empatado 1 a 1, quando Eusébio, isolado, a um minuto do fim, rematou para uma grande defesa de Banks; no prolongamento, o Benfica acabaria por sofrer três golos, saindo de Wembley com uma copiosa derrota de 4-1.

Muitos anos mais tarde, em 2005, as duas equipas voltaram a encontrar-se já na Liga dos Campeões. Estava então à frente do Benfica, Ronald Koeman. No primeiro jogo, em Manchester, o Benfica perdeu 2-1, numa partida que poderia ter ganho se tivesse tido mais audácia e na Luz venceu pelo mesmo resultado, deixando o Manchester eliminado na fase de grupos.
No ano seguinte, em 2006, as duas equipas defrontaram-se novamente na fase de grupos da Liga dos Campeões, com duas derrotas do Benfica, em Manchester por 3-1 e na Luz por 1-0. Fernando Santo treinava então o Benfica.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

PORTO VENCE CONTRA NOVE NA LIGA DOS CAMPEÕES



UMA ARBITRAGEM IMPRÓPRIA
FC Porto vence Shakhtar Donetsk (2-1)

Na jornada inaugural da Liga dos Campeões coube ao Porto defrontar no seu terreno o Shakhtar Donetz. A equipa ucraniana tem tido boas prestações nas competições europeias, embora esteja longe de constituir uma grande equipa. De facto, não tem grandes jogadores na defesa e parece ter alguma dificuldade em transpor com velocidade o jogo para o meio campo adversário, apesar de individualmente estar bem servida de jogadores na frente de ataque.

Aparentemente o Porto é superior, embora as vicissitudes do jogo a que seguir nos referiremos não permitam ter uma opinião definitiva sobre o assunto. Com efeito, logo no início do jogo, o árbitro sem que se percebesse porquê assinalou penalty a favor do Porto, que Hulk não converteu. Aparentemente James Rodriguez é impedido de se desmarcar por acção de um adversário. Mas não há certezas sobre o facto, a partir das imagens que a RTP mostrou durante o jogo.

Pouco depois, os ucranianos marcaram num lance mal resolvido por Helton, tendo o Porto empatado mais tarde com um “tiro” de Hulk desferido de muito longe – um golo que não isenta o guarda-redes completamente de culpas.

Antes do fim do primeiro tempo, o defesa central ucraniano foi expulso por ter entrado, imprudentemente, numa bola dividida com Moutinho.   É indiscutivelmente falta, embora a expulsão tivesse também ficado a dever-se ao incrível “teatro” de Moutinho que simulou uma lesão grave. A propósito das simulações convém dizer que Hulk se atirou para o chão várias vezes para tentar beneficiar de livres em situação perigosa, sem que o árbitro tivesse tomado a mínima atitude.

Na segunda parte, contra dez, o Porto dominou territorialmente, tendo Kléber feito o segundo golo numa boa e bonita jogada de James. Logo a seguir, o árbitro expulsou, inexplicavelmente, com vermelho directo o segundo defesa central do Shakhtar, ficando a equipa reduzida a nove unidades. De facto, houve falta do defesa ucraniano, mas não merecedora de qualquer punição suplementar - e muito menos de cartão vermelho.

Contra nove o Porto dominou, sem marcar, tendo o árbitro decidido vários lances divididos sempre a favor do Porto, a ponto de os jogadores ucranianos se rirem na sua cara sempre que tal acontecia.

É inaceitável que árbitros, como este senhor Félix Brych, andem a apitar pela Liga dos Campeões. Tem de haver mais decência e também mais competência.

Para a história fica a vitória tangencial do Porto, mas não a certeza sobre a real valia da equipa na prova…

A jornada fica ainda assinalada pelo empate do Barcelona, em casa, contra o Milan - o Barça jogou mais, desfrutou das melhores ocasiões, mas um canto no tempo extra acabou por ditar o empate – e a vitória do Chelsea por 2-0 contra o Leverkusen com um grande golo de David Luiz.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

O ERRO DE PAULO BENTO



AINDA O CASO RICARDO CARVALHO

Ontem no programa “Trio de ataque” Paulo Bento, embora dando por assente o afastamento de Ricardo Carvalho da selecção enquanto ele for seleccionador, manteve a decisão de não participar disciplinarmente do jogador.  

Apesar de questão da participação do comportamento do jogador (deserção da selecção nacional no dia da partida para Chipre) para efeitos disciplinares, pela publicidade que assumiu, ultrapassar largamente a vontade de Paulo Bento, afigura-se que a decisão que este adoptou constitui um grave erro - o primeiro grande erro de Paulo Bento à frente da selecção - de consequências futuras imprevisíveis.

Realmente, o que está em causa é a independência de Paulo Bento como seleccionador nacional. Foi essa falta de independência que derrubou Queiroz, aliada a um estilo ostensivamente arrogante e pouco inteligente, bem como outros que antes dele por lá passaram. E foi essa mesma independência que manteve, com o êxito que se conhece e grande apoio popular, Scolari à frente da selecção, apesar de ter contra si a maior parte da comunicação social e os dirigentes desportivos que subservientemente ou assalariadamente aquela serve.

Conhecendo-se como se conhece qual a opinião daqueles que apenas aceitam uma selecção ao seu serviço e por eles “pilotada”, sabendo-se como se sabe qual era a posição de Mourinho relativamente ao assunto, a decisão de Paulo Bento vai ficar para sempre ligada à suspeita de não ter sido uma decisão livremente assumida.

Até porque, como bem disse Bruno Alves, os actos que praticámos têm consequências…É que Paulo Bento nem sequer tem a seu favor o facto de poder justificar a sua decisão com base num manifesto arrependimento do jogador. Pelo contrário, numa clara demonstração de “costas quentes”, Ricardo Carvalho, embora estupidamente, não se coibiu de chamar ao seleccionador “mercenário”.

Não será errado supor que, com esta decisão, Paulo Bento terá atingido aquilo que de mais importante os portugueses nele viam à frente da selecção: a independência – razão primeira do apoio que lhe têm prestado.

A Federação diz que vai reunir para decidir o que fazer. Só que de Madail não há nada a esperar. Ou por outra: o conhecido oportunismo de Madail acabará por ditar a conduta que melhor se quadre com os seus interesses e a sua sobrevivência…

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

AS ESTRANHAS OPÇÕES DE JORGE JESUS

O QUE ESTÁ POR ESCLARECER



Já se sabe que o futebol nada tem de democrático. Pelo contrário, é uma das actividades onde persistem mais arreigadamente as práticas anti-democráticas ou, ainda pior do que isso, uma cultura anti-democrática.

Os exemplos são tantos e tão eloquentes que nem vale a pena a gente deter-se neles. Em Portugal, temos o caso do FCP, que vive há longos anos em ditadura; temos o comportamento de Mourinho que só sabe treinar desde que reúna em si todo o poder; e temos também o caso do Benfica que de clube mais democrático de Portugal passou a ser, desde que Vieira lá chegou, um clube exactamente igual aos outros. Pela primeira vez, houve com Vieira eleições sem candidato opositor, por terem sido criadas toda a espécie de dificuldades a quem se queria apresentar. E mesmo nas últimas eleições, em que formalmente houve oposição, o clima que rodeou a apresentação da candidatura opositora e a própria campanha eleitoral foi de tal ordem que bem se pode dizer que ele em nada diferia do que em circunstâncias análogas é criado pelos regimes políticos ditatoriais quando, para salvar as aparências, se vêem obrigados a deixar concorrer um oponente…cuja sorte está traçada desde o começo.

Num clima desta natureza não admira por isso que os treinadores – entidades em quem em última instância repousa a sorte financeira das instituições que servem – tenham frequentemente um comportamento arrogante e anti-democrático quer para os adeptos, quer inclusive para os próprios jogadores. Não se sentem minimamente obrigados a dar explicações dos actos que praticam, nomeadamente se estão a ganhar, e são terrivelmente impertinentes perante qualquer pergunta que um jornalista mais ousado resolva fazer para tentar compreender certas situações.

Vem tudo isto a propósito da não inclusão de Capdevila na lista remetida à UEFA para a Liga dos Campeões. Há aqui qualquer coisa que se não percebe. E a primeira pergunta que qualquer pessoa começa por fazer será esta: por que razão não serve para o Benfica, sequer como segunda opção, aquele que até à última época era o defesa esquerdo da selecção de Espanha, campeã da Europa e do Mundo? Como se compreende que o treinador tenha para aquele efeito “repescado” César Peixoto que esse mesmo treinador tinha colocado a treinar à parte e que só permaneceu no Benfica por não ter encontrado até 31 de Agosto um clube que o aceitasse?

Não está em causa o mérito e o valor de Emerson, embora se não trate de um grande jogador. É um jogador “certinho” que desempenha o seu papel sem exuberância, em princípio, sem erros. Mas apenas em princípio, porque como ainda no último jogo contra o Nacional se verificou, Emerson, à medida que o encontro se aproximava do fim com o resultado tangencial de 1-0 e a pressão aumentava, cometeu vários erros, alguns graves, aparentemente atribuíveis ao desconhecimento do que é jogar num grande clube.

E se Emerson tiver um azar é César Peixoto que o vai substituir? Mas mesmo que tudo se situe no domínio das famigeradas “opções técnicas” como justificar então a contratação de Capdevila, um jogador veterano de quem não se pode esperar que “progrida no banco”?

É isto que o treinador do Benfica ou alguém com responsabilidades no clube tem de explicar aos adeptos.

No entanto, não deixa de ser sintomático que idêntica má vontade exista por parte do treinador relativamente a Nolito, um jovem, também de nacionalidade espanhola. Pois não seria normal que, depois de um começo auspicioso ao serviço do Benfica, Nolito fosse acarinhado pelo treinador, como tem sido pelos adeptos, quanto mais não fosse como reconhecimento de uma rápida adaptação, situação que para tantos outros, inclusive consagrados, tem sido tão difícil de alcançar?

Também aqui não está em causa o valor de Bruno César que aliás, por direitas contas, nem sequer seria um verdadeiro concorrente de Nolito. O que está em causa é o estranho comportamento de Jesus, sempre a desmerecer do jogador.

Perante este quadro, prejudicial aos interesses do Benfica – e em que poucos falam por a equipa estar a ganhar -, fica-se com a dúvida, conhecidas que são as limitações e arrogância de Jesus, se ele não se sentirá menos à vontade com jogadores oriundos de países altamente desenvolvidos, países onde a sociedade civil tem um desenvolvimento em muitos outros domínios para além do futebol que está longe ter paralelo noutras paragens.

domingo, 4 de setembro de 2011

SOBRE A VITÓRIA DA SELECÇÃO EM CHIPRE



RESULTADO MUITO ENGANADOR
Ronaldo dá o mote a Portugal



A selecção nacional deslocou-se a Chipre sob o efeito da deserção de Ricardo Carvalho, que, como se esperava, foi branqueada pela generalidade dos jornalistas desportivos. Viu-se porém pelas declarações prestadas, no fim do jogo contra Chipre, pelos ex-colegas de Carvalho na selecção que outra era e muito diferente a opinião deles. Em todos eles estava bem nítida a reprovação da atitude do jogador do Real Madrid, com destaque para Ronaldo que, tendo sido sempre um grande profissional dentro do campo, tem aprendido também a sê-lo fora dele.

Deste covarde episódio havia porem que tirar outras consequências que não as vulgares lições de moral que, em regra, acompanham os actos mais lamentáveis. Na vã tentativa de encontrar uma explicação para a sua covarde deserção, Carvalho voltou a atacar o seleccionador estupidamente. De facto, o conceito de “mercenário” aplicado a quem vive profissionalmente do futebol só serve para denegrir a profissão a que ele próprio se dedica, o que demonstra que, além de “prima-dona”, Carvalho é também pouco inteligente.

O que se não compreende, depois de tudo o que se passou, é que não haja sanções. Se elas dependem de participação, apesar de o comportamento que as determina ser amplamente conhecido, Paulo Bento faz mal em não participar. Ninguém, a começar por ele próprio, ficará a ganhar com o seu silêncio.

Quanto ao jogo, propriamente dito, o que se poderá dizer é que Portugal jogou mal e foi ajudado por erros de arbitragem em momentos cruciais do jogo. Mas há razões objectivas para aquilo que poderia ter sido o grande fracasso da selecção. Elas têm a ver com a menos valia de três ou quatro jogadores que Paulo Bento teima em convocar e pela acentuada descida de forma de outros.

Falando claro: João Pereira, Ruben Michaelis, Postiga e Hugo Almeida não têm lugar na selecção. Quando muito, Hugo Almeida poderá fazer parte dos seleccionados se houver quem possa no seu lugar alinhar como titular. Sabe-se que depois da saída de Pauleta, a selecção nunca mais teve um verdadeiro ponta de lança. No entanto, há soluções melhores do que as preferidas por Paulo Bento. Tanto Nuno Gomes como João Tomás são francamente mais eficientes do que qualquer um dos dois que lá costumam ir. E se o seleccionador não acredita em nenhum destes, que chame um jovem, desses que tem dado nas vistas nas selecções dos escalões dos escalões inferiores. Por outro lado, a convocatórias de Michaelis é quase incompreensível, se se tiver em conta que alinha num lugar onde há uma grande fartura de jogadores. Finalmente, João Pereira não está à altura do lugar, havendo quem na liga portuguesa ou lá fora faça melhor do que ele.

A acrescer a isto junta-se a clara baixa de forma de Coentrão que parece ter desaprendido de jogar à bola desde que foi para o Real Madrid de Mourinho. O caso de Coentrão tem de ser seguido com muita cautela, já que a sua carreira apenas foi brilhante ao serviço do Benfica com Jesus. Dito de outro modo, o futebol super ofensivo de Jesus favorece Coentrão, enquanto um futebol retraído, calculista e excessivamente limitativo das suas potencialidades atacantes, como o de Mourinho, tenderá a fazer dele um jogador vulgar. Ver-se-á no fim deste ano que Coentrão ainda teremos. Meireles também parece estar longe do fulgor doutrora, o que, a juntar ao que antes se disse, também servirá para explicar o baixo nível exibicional da selecção.

Restam os golos de Ronaldo, o primeiro na marcação de um penalty muito duvidoso e o segundo depois de o árbitro ter invalidado por fora de jogo – inexistente – uma jogada em que o melhor avançado de Chipre seguia isolado em direcção à baliza portuguesa.

Depois deste jogo, Portugal está mais perto do apuramento ou, pelo menos, da possibilidade de o disputar até ao fim, embora tudo ainda esteja muito dependente do jogo da próxima quarta-feira entre a Noruega e a Dinamarca.




quinta-feira, 1 de setembro de 2011

A COVARDE ATITUDE DE RICARDO CARVALHO



NÃO HÁ SANÇÕES?

Não se sabe com rigor tudo o que rodeou o inqualificável acto de Ricardo Carvalho, mas o que se conhece é suficiente para não ter em relação a ele qualquer tipo de contemplação. O facto foi noticiado das mais diversas formas, embora haja um denominador comum nos jornais desportivos portugueses: Ricardo Carvalho renunciou à selecção por não se sentir respeitado.

Nesta forma de titular a notícia está implícita a avaliação que os jornalistas desportivos fazem do acto, mas fica também expressa a avaliação que esses pseudo-jornalistas merecem dos desportistas portugueses.

Com excepção da RTP (Rodrigues dos Santos) que titulou: Ricardo Carvalho fugiu da selecção por uma porta lateral, todos os demais jornalistas, nos jornais em que escrevem, nas emissoras de rádio onde falam e nas televisões que os mostram, voltaram a deixar bem claro a natureza invertebrada do seu comportamento, agora a propósito da fuga covarde de um jogador, ontem de um dirigente batoteiro, amanhã de um treinador mentiroso. Eles não estão na profissão para servir o jornalismo, mas para se servir dele. Mas deixemos os jornalistas desportivos que são o pior que o futebol tem (e no futebol há coisas muito más…) e concentremo-nos por momentos no comportamento de Ricardo Carvalho.

Carvalho, um dos mais internacionais da selecção, abandonou o estágio no dia da partida da equipa para Chipre, onde vai disputar um dos decisivos encontros para a qualificação do Euro 2012. Porquê? Os factos são ainda desconhecidos. A Cadena Ser espanhola diz que Carvalho se ausentou durante a noite, tendo sido por isso afastado da equipa. O Mundo Deportivo diz que houve uma altercação com Paulo Bento dando a entender que é esse conflito que está na origem da sua decisão. De certo e seguro, apenas o que disse Cristiano Ronaldo nas declarações que prestou à imprensa na manhã de quarta-feira: na selecção ninguém tem direito ao lugar, nem se pode considerar titular. Quem manda é o Mister e a nós só nos cumpre obedecer.

Na altura ninguém atendeu a estas declarações, que foram tomadas por mais um daqueles lugares-comuns a que os futebolistas frequentemente recorrem quando querem dar uma resposta redonda.

Ao fim do dia, porém, já ninguém poderia ter dúvidas da razão daquelas declarações. Carvalho não aceitou ser suplente e fugiu. Se a decisão de Paulo Bento é disciplinar ou técnica, não importa. O que interessa sublinhar é o grave acto de indisciplina do futebolista do Real Madrid. Tendo em conta certas qualificações do Código Penal é caso para perguntar se o jogador que abandona a selecção não incorrerá em graves sanções. Uma coisa é renunciar a ser seleccionado outra muito diferente é aceitar ser seleccionado e depois abandonar o lugar. Foi o que Carvalho fez, devendo, por isso, ser exemplarmente punido.