POR QUE PERDE JESUS COM
AS GRANDES EQUIPAS?
O holandês, com o golo marcado no último minuto contra o Belenenses, salvou Jorge Jesus e o Sporting de uma crise de
proporções inimagináveis. Entendamo-nos: o facto de o Sporting estar a oito
pontos do primeiro classificado e de por um triz não ter ficado a dez na véspera
de Natal não tem nada de anormal na história do clube. É isso o que em
regra vem acontecendo há décadas.
A grande diferença relativamente a situações passadas está em
o Sporting ter, desde a última época, um dos mais caros treinadores do futebol
europeu, vencendo réditos avultados, incompatíveis com a realidade do nosso futebol.
E de essa contratação, caríssima, ter sido acompanhada de expectativas, quase
certezas, que a ligavam à inevitável conquista de títulos. Por outro lado, sendo o presidente Bruno de
Carvalho um empregado do clube, do qual vive, isso faz com os habituais
desaires tenham agora uma ressonância incomparavelmente maior do que tiveram antes
pelas consequências de incidência pessoal que inevitavelmente lhe estão
ligadas.
Ou seja, se o Sporting tivesse empatado ou perdido hoje no
Restelo, o mais provável seria que os sócios exigissem a cabeça de Jesus, resultando
dessa exigência ou da sua eventual concretização a fragilização da posição de
Bruno de Carvalho, ficando a partir dai muito problemática a sua continuação à
frente do clube.
O presidente, como age com a atitude típica do adepto, ficou
muito feliz com a vitória, sem sequer se dar ao trabalho de reflectir sobre a
actual situação do Sporting. Vive e age o dia a dia e enquanto lá vai estando vai garantindo
o emprego. Nos intervalos dos jogos vai cultivando a sua doentia obsessão pelo Benfica
continuando a debitar dislates e disparates até ao dia em que os seus lhe
exijam contas pelo trabalho prestado e tirem depois as inevitáveis
consequências.
Com Jesus as coisas passam-se de forma diferente. Por mais
que Jesus fale ou queira falar como adepto, ele sabe, tal como os adeptos, que
com o ordenado que recebe o seu “sportinguismo” soa a falso, é oco como um
tronco bichado. Vendo a prestação da equipa, por mais que queira convencer os
seus ouvintes do contrário, ele percebe que a crise está à porta, sempre na
iminência de acontecer como percebe que são muito diminutas, para não dizer nulas, as hipóteses
de conquista de um título importante.
Por essa razão são tão tristemente desesperadas as suas
prestações nas conferências de imprensa, principalmente as que ocorrem fora de
Alvalade, já que no seu recinto reina um clima de intimidação que leva a maior
parte dos jornalistas a fazer-lhe apenas as perguntas que ele quer ouvir.
O se desespero é, porém, notório como hoje se viu no Restelo.
A arrogância com que pretende impedir que lhe falem da sua prestação nas
competições europeias e a bazófia com que pretende fazer passar a mensagem de
que com vitória ou sem vitória tudo continuaria na mesma são manifestações típicas
de quem já compreendeu que chegou ao fim da linha
Se dúvidas houvesse elas seriam imediatamente dissipadas pela
repetição da esfarrapada desculpa de a crise do Sporting ser uma “crise Jorge
Sousa”, tentando fazer uma ligação absurda entre o desempenho do árbitro que
apitou o Sporting na Luz com os 15 (quinze!) pontos já perdidos
no Campeonato bem como o humilhante desempenho da equipa na Liga dos Campeões onde
somou 5 (cinco!) derrotas e uma única vitória contra o fraquíssimo Legia de
Varsóvia, porventura a mais fraca das 32 equipas em prova!
Jesus, se não estivesse realmente desesperado, teria
certamente vergonha de apresentar semelhantes argumentos à consideração da
opinião pública.
Aliás, tendo em conta a sua experiência de seis anos no Benfica
e de um e meio que já leva no Sporting o que Jesus deveria fazer era interrogar-se
por que razão perde sistematicamente contra as grandes equipas e por que falha
tão repetidamente nas grandes ocasiões, qualquer que seja a categoria do adversário.
Mas isso Jesus nunca o fará. E nunca o fará porque tem
mentalidade de treinador de equipa pequena. O seu autodidatismo baseado numa
grande incultura geral e até futebolística e os longos anos passados a lutar
para manter o emprego em equipas de segundo e terceiro plano fazem com que ele
encare todas essas derrotas como vitórias morais. Foi assim que fez no Benfica
quando perdeu por três anos consecutivos o campeonato para o Porto, quando perdeu
as finais da liga Europa, depois de eliminado da Liga dos Campeões, onde apenas
por uma vez superou a fase de grupos, e voltou a fazê-lo agora com o Sporting
quando perdeu com o Real Madrid e com o Borussia de Dortmund por quatro vezes,
duas com cada equipa.
A exuberância com que se vangloriou da derrota de Madrid,
festejada como se de uma vitória se tratasse, impediu-o de voltar à terra,
apesar das tristes consequências desses festejos no plano puramente interno terem
ocorrido logo a seguir.
A nossa convicção, porém, é a de que Jesus não tem cura. Se
ganha e gosta da exibição manifesta um optimismo e uma arrogância desmedidos;
se perde ou joga mal tenta com desculpas esfarrapadas imputar a terceiros uma
responsabilidade que é sua. É esta conduta bipolar, que o situa permanentemente
entre a euforia e o desespero, que efectivamente o impede de perceber por que
perde tantas vezes e por que perde quando aparentemente a vitória está ao
alcance da mão!