A SELECÇÃO PORTUGUESA NA
FASE FINAL DO MUNDIAL DO BRASIL
Ontem Ronaldo foi efectivamente
decisivo para o apuramento da selecção portuguesa de futebol. E nem sequer se
pode dizer como alguns insinuaram que a Suécia não é uma grande selecção. A verdade
é que a Suécia ficou no seu grupo de apuramento no único lugar a que poderia aspirar:
o segundo lugar já que desse grupo fazia parte a Alemanha, com a qual essa
mesma Suécia empatou um jogo e perdeu outro pela diferença mínima. Dois jogos
nos quais a Suécia marcou nada menos que sete golos à poderosa Alemanha!
Portanto, a exibição de
Ronaldo e os golos que marcou são mesmo um feito. Um feito que ficará nos anais
do futebol português. E mais vincado ficaria se Ronaldo tivesse marcado o
quarto golo, que esteve a centímetros de obter.
Claro que Ronaldo não
ganhou sozinho, embora tenha dado um contributo decisivo para a vitória. Mas
seria injusto não sublinhar aqui os magníficos passes de Moutinho dos quais
resultaram dois golos. Mourinho está para esta selecção e para Ronaldo como o
grande Mário Coluna estava para Eusébio e para a selecção portuguesa e o
Benfica.
Todos os títulos, todos
os encómios iam para Eusébio, mas nada teria sido como foi tanto na selecção
como no Benfica se não tivesse havido Coluna. O mesmo se passa com Moutinho. Também
vão para Ronaldo – e muito justamente – todos os títulos da imprensa, das
rádios e das televisões. Mas nada teria sido como foi, sem Moutinho.
Neste elenco de
apreciações individuais, mal ficaria não lembrar aqui a exibição de Rui
Patrício, que defendeu, momentos antes do primeiro golo do Ronaldo, uma bola
que se tivesse entrado poderia ter dado ao jogo um rumo completamente
diferente. E nem sequer é justo culpar Rui Patrício pelo segundo golo.
A bola foi batida com muita força, adquiriu grande velocidade, perfurou a
barreira e deixou o guarda-redes sem qualquer hipótese de reacção em tempo útil. Como
disse Manuel José num programa televisivo ontem à noite, Patrício só com o pé
poderia ter tido alguma hipótese de defender aquela bola.
Louros também para
Pepe, aqui tantas vezes criticado, que esteve “intratável” e não deixou nunca que
pelo seu lado alguém ameaçasse a baliza de Portugal. Bruno Alves, que esteve
bem até ao segundo golo da Suécia, falhou na marcação a “Ibra” por ter sido
traído pelo sueco que saltou à sua frente. Ou seja, Bruno Alves supôs que o
sueco chegaria à bola e depois, ao constatar que não, ficou sem reacção para
saltar. Tudo se passou em fracções de segundo, mas foi o suficiente para que o
golo tivesse acontecido como aconteceu – remate de cabeça do craque sueco sem oposição.
Finalmente, uma palavra
para Paulo Bento. Bento tem mérito na qualificação pela mesma razão que sobre
ele recairia todo o demérito se Portugal não tivesse sido apurado para a fase final
do mundial. Reconhece-se também a integridade de carácter do seleccionador e sua
firmeza de princípios. Mas há em Paulo Bento comportamentos por vezes
incompreensíveis. A generalidade da crítica e de todos aqueles que sobre o
futebol se pronunciam nas televisões e nos jornais como comentadores, bem como
nas redes sociais, são unânimes sobre o momento de forma de Nani. Afastado da
equipa principal no Manchester, Nani deixou há muito tempo de corresponder na
selecção ao que dele se esperava. Varela, porventura entre outros, estaria
certamente em muito melhores condições e já deveria ter merecido a confiança do
seleccionador, ou, pelo menos, ter entrado na equipa mais vezes e durante mais
tempo no decorrer da segunda parte. Mas isso não acontece, apesar de Nani
piorar de jogo para jogo.
Muitos acham que esta opção
de Paulo Bento tem como única e exclusiva razão de ser a pública demonstração
de que ele como seleccionador não se deixa pressionar por ninguém. É bom que o
seleccionador se não deixe pressionar, mas já seria péssimo que o seleccionador
não tome as decisões que deveria tomar pelos simples facto de elas estarem a
ser reclamadas na praça pública. Essa teimosia não seria sinónimo de inteligência.
Pelo contrário, seria prova de falta dela. E nem sequer adianta argumentar, como
indirectamente Paulo Bento já o fez, com a afirmação de que ele assume por
completo as consequências das suas decisões. E não adianta porque isso de nada
vale depois de a asneira estar feita. Que é que todos nós ganharíamos com essa
assumpção de responsabilidade por Paulo Bento se Portugal ontem tivesse sido
eliminado por fraca prestação de alguns jogadores que ele, teimosamente, recusa substituir?