domingo, 9 de dezembro de 2012

A QUESTÃO DO ADIAMENTO DO SPORTING-BENFICA


A ARGUMENTAÇÃO DE OLIVEIRA E COSTA



Uma discussão imbecil decorre neste momento na RTP Informação num programa desportivo sobre o adiamento do jogo entre o Sporting e o Benfica.
 
O representante do Sporting, Sr. Oliveira e Costa, entende que o Sporting formulou junto da Liga um pedido de adiamento que não foi atendido, porque o Benfica não deu o seu assentimento ao adiamento. Portanto, o não adiamento do jogo ficou a dever-se exclusivamente ao Benfica.
 
O representante do Benfica afirma que o Benfica não foi ouvido nem formalmente contactado para o efeito. O do Sporting insiste que a Liga só respondeu negativamente depois de ter ouvido o Benfica.
 
Como toda a gente se recordará, o Sporting supunha que poderia adiar o jogo. E até foi muito categórico a esse respeito, ameaçando não estar presente se o jogo fosse marcado. Depois percebeu que os regulamentos não davam qualquer apoio à sua pretensão e mesmo assim continuou a insistir no pedido de adiamento.
 
É claro que o adiamento só seria possível se o Benfica desse a sua anuência, sendo para isso necessário que o Benfica tivesse sido formal e protocolarmente contactado. Ora o Sporting não fez qualquer diligência nesse sentido. Portanto, se não fez, tem que aceitar como facto natural a decisão da Liga por ser conforme aos regulamentos.
 
Se a Liga ouviu ou não o Benfica é algo perfeitamente irrelevante. Provavelmente a Liga falou com o Benfica, mas mesmo que isso tenha acontecido o mais natural é que o Benfica lhe tenha respondido o que qualquer entidade responsável responderia. Ou seja: não temos conhecimento desse pedido de adiamento; o Sporting não falou connosco!
 
E só assim se compreende que a Liga não tenha na resposta dada ao Sporting feito qualquer alusão ao Benfica. Não fez nem tinha que fazer, dando de barato que tal contacto tenha existido. Por uma razão muito simples: é que quem tinha de contactar formalmente o Benfica era o Sporting e não a Liga.
 
Esta discussão imbecil mostra mais uma vez como actua o sr. Oliveira e Costa. Que princípios regem a sua conduta e que tipo de comportamento ele é capaz de pôr em prática na defesa dos seus pontos de vista. E está tudo dito…

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

MESSI E ARTUR


MESSI JOGA SOZINHO?

 

A imprensa espanhola continua a dar o maior realce à putativa lesão de Messi, deixando implícito pelo teor dos artigos que tem publicado que ninguém pode tocar no astro argentino. Certamente que Messi tem de ser protegido, segundo as leis do jogo, exactamente nos mesmos termos em que devem ser defendidos os demais jogadores.

É certo que determinados jogadores pelo protagonismo que adquiriram em campo, mercê da sua classe, podem ser alvo da violência ostensiva ou disfarçada de outros praticantes, quer como único processo eficaz de os travar,  quer como processo intimidatório relativamente a jogadas futuras. E os árbitros devem estar particularmente atentos a essas situações, antes de mais por serem contrárias às leis do jogo, mas também por serem premeditadas e nada terem de casuais. É nesse sentido, e apenas nesse, que vale a ideia de que os “grandes artistas” devem ser protegidos.

Mas nada disso obsta a que contra esses jogadores os adversários joguem como costumam jogar contra qualquer outro. E o futebol, como se sabe, é um desporto de choques permanentes, susceptíveis de ocasionar lesões, sem que daí decorra qualquer punição para qualquer dos contendores ou sequer qualquer responsabilidade, nem mesmo no plano moral.

Quem viu o jogo entre o Benfica e o Barcelona sabe perfeitamente que o choque entre Messi e Artur foi um choque perfeitamente normal entre o jogador que caminha isolado para a baliza e o guarda-redes que pretende evitar o golo de modo completamente legal.
 
Foi o que sucedeu: Messi tentou passar Artur e este conseguiu com uma notável intervenção desviar a bola com a mão impedindo Messi de prosseguir isolado em direcção à baliza. Foi Artur que chocou com Messi? Só por demagogia se poderia afirmar tal coisa. E por que não o contrário? Aliás, num tecnicista da categoria de Messi exigia-se mais naquela jogada. Exigia-se que tivesse sabido contornar Artur. Mas daí a imputar-se a responsabilidade a Messi pelo choque também vai uma grande distância que ninguém de boa-fé pode transpor. O choque não é da responsabilidade de nem de outro jogador. É uma situação perfeitamente normal num jogo de futebol.

Por isso é completamente ridícula, para não dizer outra coisa, a imputação que a imprensa espanhola, mesmo a de Madrid, tem feito a Artur a propósito da jogada com Messi, equiparando-a ou pondo-a no mesmo plano de certas “patadas” que o craque argentino tem sofrido em Espanha. Quando se exagera cai-se com facilidade no ridículo.
Deve ainda ddizer-se que neste plano se progrediu muito no futebol. Que o diga Maradona que foi vítima de entradas brutais  durante a sua carreira, como antes dele tinha sido Eusébio e outros. Hoje, para bem do futebol, isso já não é possível.

 

 

LIGA DOS CAMPEÕES


 

O DESPREZO ESPANHOL
O argentino Lionel Messi caiu no gramado e deixou os torcedores preocupados

 

Mais importante do que o jogo entre o Barcelona e o Benfica em Camp Nou foi o modo como a imprensa espanhola o tratou. Sobre o Benfica e sobre o jogo em si praticamente não se falou, fosse o jornal, generalista ou desportivo, de Barcelona ou de Madrid.

Entre eles pode haver guerras, serem uns aparentemente muito soberanistas e outros exageradamente centralizadores, mas quando se trata do estrangeiro são todos espanhóis.

Ainda ontem assim aconteceu. O Benfica fez um bom jogo em Barcelona contra uma equipa em que não alinharam algumas das principais vedetas, mas em que participaram muitos dos que normalmente jogam na equipa principal, sem que isso constitua desculpa para quem quer que seja, como também não serviu o facto de no último duelo contra o Real Madrid, o Barcelona ter alinhado com uma equipa que estava longe de constituir a sua melhor formação.

Além de ter feito um bom jogo, o Benfica desfrutou de várias oportunidades de golo que só por inépcia não concretizou. Aliás, uma delas constitui uma grave violação de um dos princípios fundamentais de futebol – o colectivo vale mais do que qualquer individualidade. O que conta no futebol são os triunfos da equipa, sendo meramente secundários e sempre subalternizados os triunfos individuais. É por isso que não tem desculpa o comportamento de Rodrigo, causador de um grave dano ao clube pelo qual tem de ser desportivamente responsabilizado.

Pois bem, a imprensa espanhola ignorou o jogo e o Benfica para se concentrar exclusivamente na “lesão” de Messi. Como toda a gente sabe, Messi lesionou-se, felizmente sem gravidade, sozinho ou num choque com Artur que ele não soube ou não quis evitar. Um lance puramente casual, insusceptível de imputação a quem que seja, salvo ao próprio lesionado. Mas tal lance foi suficiente não apenas para que a imprensa esquecesse o jogo, como também para apelidar de duro o jogo do Benfica. Acusação sem qualquer fundamento, já que se dureza houve ela ficou a dever-se a Adriano, que deveria ter sido expulso. É certo que houve também uma entrada mais ousada de Luisão que foi punida com cartão amarelo e uma outra de Matic semelhante a tantas outras que acontecem durante os jogos. Em conclusão: não houve dureza nenhuma, nem o jogo alguma vez correu o risco de descambar num mero confronto físico entre os jogadres.

Bem, mas o facto de o Benfica ter feito um jogo interessante, de poder ter ganho e outras coisas mais, de forma alguma pode servir de compensação ou fazer esquecer a má campanha que a equipa fez na fase de grupos da Liga dos Campeões. O percurso do Benfica foi um fracasso que o empate em Camp Nou de forma alguma desculpa. Oito pontos na fase de grupos é muito pouco. É, como se viu, uma pontuação insuficiente para a qualificação.

O empate em Glasgow e a derrota em Moscovo são, como logo se disse, resultados altamente comprometedores, que somente com o auxílio de terceiros poderiam permitir a passagem à fase seguinte. Como isso não aconteceu, o Benfica baixa à Liga Europa onde encontrará seguramente equipas bem fortes, contra as quais não terá quaisquer hipóteses se jogar como jogou em Moscovo.

O Porto, pelo contrário, passou folgadamente a fase de grupos, qualificando-se, podendo até ter terminado em primeiro lugar não fora um inacreditável “frango” de Helton. Já o Braga foi decepcionante, repetindo erros que deixam supor deficiências de orientação técnica. Ficou em  ultimo lugar no seu grupo, com apenas uma vitória fora e cinco derrotas, três em casa e duas fora.

 

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

MOURINHO: FIM À VISTA NO REAL MADRID



UM DESFECHO ESPERADO

 

Desde a primeira hora se disse neste blogue que a passagem de Mourinho pelo Real Madrid iria ser muito diferente dos seus anteriores percursos no Porto, no Chelsea e no Inter de Milão.

Mourinho não percebeu que o Real Madrid era um clube com uma especificidade muito própria, alicerçada numa prática vitoriosa centenária, incapaz de se vergar à idiossincrasia de um treinador, por mais méritos e sucessos que esse treinador exibisse como obra exclusivamente sua.

Mourinho não percebeu, ou, tendo percebido, convenceu-se, dominado pela sua egolatria, que até o grande Real Madrid se vergaria aos seus mais que discutíveis processos. E quando começou a constatar que as coisas se não passariam exactamente como ele tinha previsto e desejado, tratou de imputar a ausência de vitórias à impossibilidade de pôr em prática os seus métodos, procurando com esta estratégia criar, dentro e fora do clube, um clima que favorecesse todas as suas exigências. Mas também aqui Mourinho se enganou. O Madrid histórico, orgulhoso do seu passado e cioso da sua maneira de estar no futebol, não só não cedeu às exigências de Mourinho, como abriu relativamente a ele uma clivagem que o andar dos tempos e as subsequentes atitudes do treinador só fizeram agravar cada vez mais. Do lado de Mourinho ficou apenas a famigerada claque do topo sul, arruaceira e nada recomendável pelas suas simpatias nazis.

Todavia, Florentino Pérez, presidente do Real Madrid, cedeu mais do que porventura contava, mas não cedeu tanto quanto Mourinho pretendia, tendo inclusive condicionado a satisfação das últimas exigências de Mourinho a uma vitória de vulto, o mesmo é dizer, da Liga dos Campeões.

De facto, foi para quebrar a hegemonia do Barcelona, no plano interno, e para reganhar a hegemonia do Real, no plano internacional, que Mourinho foi contratado. Até à data, ao cabo de quase três anos de permanência no clube, Mourinho não conseguiu uma coisa nem outra.

No plano interno, é certo que ganhou uma Liga, embora entre muitos dos adeptos do Real Madrid não haja a certeza se não foi o Barcelona que a perdeu, dúvida que a presente temporada tende indiscutivelmente a consolidar.

No plano internacional, é certo que o Real Madrid chegou nas duas última épocas a uma fase donde há quase uma década estava arredado, mas - e isso é que importa – perdeu a Liga dos Campeões para o Barcelona e para o Chelsea. Na presente temporada, apesar da fraca prestação na fase de grupos, ainda está tudo em aberto, sendo certo que Mourinho tudo fará para ganhar a Liga dos Campeões, no que é seguramente acompanhado, posto que por opostas razões, pelos craques do Real que também quererão demonstrar, agora mais do que nunca, que não foi por culpa deles que o treinador não obteve os êxitos que o presidente e a afición esperavam. Com esta vitória na bagagem, Mourinho partiria certamente depois de tudo o que se passou. E sem ela partirá também, embora por pressão da direcção.

O problema de Mourinho é conhecido: por um lado, é dominado por um espírito antidemocrático que o leva a não aceitar qualquer opinião ou posição que contrarie as suas convicções. Mourinho não se impõe pela persuasão, nem pelo convencimento daqueles que dirige, mas pela exigência de uma obediência cega que ele depois gratifica e recompensa com o mesmo espírito com que  qualquer ditador premeia os seus acólitos. E há sempre, tanto no futebol como em qualquer outra actividade, gente disposta a abdicar da sua dignidade para cair boas graças do chefe e ser por ele “paternalmente” recompensado; mas há também, felizmente, quem não abdique dela por entender que a disciplina que o futebol exige é compatível com a individualidade e a personalidade de cada um.

E foi essa lição que os espanhóis do Real Madrid, a que juntaram alguns outros jogadores de outras nacionalidades, souberam dar a Mourinho. Duas vezes campeões da Europa e campeões do Mundo, eles sabem que o seu indiscutível valor não conflitua com a defesa da sua autonomia enquanto cidadãos.

É, porém, mais duvidoso que Mourinho tenha aprendido a lição. As suas últimas exigências - contratação de um porta-voz que secunde e amplifique as suas posições, nomeadamente nas críticas aos árbitros, aos adversários e aos próprios jogadores; atribuição à sua pessoa de um poder disciplinar de natureza ditatorial sobre o plantel e todas as demais pessoas ligadas ao futebol; contratação de dois ou três jogadores manifestamente destinados a substituir as actuais glórias do Real Madrid e da selecção espanhola que mais se opuseram aos métodos de Mourinho – as suas últimas exigências, dizíamos, deixam entender que Mourinho não sabe trabalhar de outra maneira, mostrando-se totalmente incapaz de contornar ou evitar conflitos sempre que a realidade se opõe aos seus processos.

Educado na pior “escola do futebol português” na qual o que conta é a vitória qualquer que seja o meio para a conseguir, Mourinho ainda vai ter mais dissabores na sua vida profissional se teimar na institucionalização de processos que a generalidade das pessoas rejeita.

O segundo problema de Mourinho tem a ver com as suas concepções técnico-tácticas, embora se trate de um problema intimamente relacionado com o anterior. O futebol de Mourinho é pouco atractivo e adapta-se com mais facilidade a equipas sem uma grande tradição de vitórias do que a equipas grandes que aliam a uma tradição vitoriosa o gosto pelo espectáculo. Em Espanha, treinando um grande clube, Mourinho experimentou problemas de dois tipos. Por um lado, soçobrou durante mais de época e meia face ao futebol do seu grande rival (Barcelona) e por outro demonstrou uma dificuldade inesperada perante equipas pequenas que se fecham na defesa.

Contra o Barcelona demorou mais de dezoito meses a encontrar o antídoto (jogar com as linhas muito baixas e privilegiar o futebol directo para tirar partido da velocidade de Cristiano Ronaldo), tendo-se deparado, para surpresa sua, com a forte oposição tanto da afición esclarecida, como dos jogadores, que discordavam liminarmente da assunção desta atitude “menorista” por parte de uma equipa com os pergaminhos do Real Madrid.

Contra as equipas menores que se fecham na defesa, Mourinho tem igualmente revelado grandes dificuldades, queixando-se os jogadores da ausência de esquemas tácticos eficazes para superar estas situações. Dizem os jogadores que privilegiando Mourinho o futebol vertical acaba por não dotar a equipa para o tipo de situações mais frequentes na Liga espanhola, que são exactamente aquelas em que, por força da debilidade das equipas adversárias, tal futebol não pode ser aplicado.

Tudo se encaminha, portanto, para uma saída pouco gloriosa de Mourinho do Real Madrid. Mas atenção: a época ainda não acabou…