terça-feira, 17 de dezembro de 2013

BENFICA E PORTO NA 2.ª DIVISÃO EUROPEIA


 

VALE A PENA APOSTAR NA LIGA EUROPA?
 

 
Como a partir da terceira jornada da fase de grupos se esperava, o Benfica e o Porto não se qualificaram para a fase seguinte da Liga dos Campeões.
 
Para o Benfica, a eliminação precoce numa competição onde no passado escreveu as páginas mais gloriosas da sua história não pode deixar de considerar-se uma grande derrota. Pela terceira vez, o Benfica, com Jesus no comando técnico, não logra alcançar a fase seguinte. Apenas uma vez, na era Jesus, o Benfica seguiu em frente. Das restantes transitou para a Liga Europa, onde fez uma carreira regular, mas que ninguém no plano internacional verdadeiramente valoriza, mesmo quando o resultado final dessa participação é a vitória.

A Liga Europa é a segunda divisão das competições europeias, residindo o seu maior interesse na pontuação que nela se pode arrecadar para efeitos de ranking das competições da UEFA. Quanto ao resto – visibilidade, dinheiro, audiências, prestígio – a sua importância é escassa ou quase nula.

A eliminação deste ano, previsível a partir do empate na Luz contra o Olympiakos, é inaceitável, apesar dos dez pontos conquistados, exactamente por ocorrer na época em que o Benfica tem um dos melhores planteis da sua história, depois dos tempos gloriosos de Eusébio, Coluna e C.ª. É certo que o Benfica fez uma grande exibição em Atenas, donde não merecia ter saído derrotado, mas é igualmente verdade que realizou, principalmente na primeira parte, uma péssima exibição na Luz contra esse mesmo Olympiakos, que ganhou por sorte ao Anderlecht em Bruxelas e teve um comportamento deplorável em Paris contra o PSG.

Portanto, os dez pontos do Benfica não são assim tão brilhantes como à primeira vista poderiam parecer. As estatísticas podem dizer que os resultados do Benfica na Champions, com Jesus, são dos melhores que o Benfica conseguiu neste novo formato da prova, mas a realidade que as estatísticas não revelam diz outra coisa. Diz que a melhor participação do Benfica neste novo formato ocorreu com Ronald Koeman, dirigindo uma equipa que, nem de perto, se equiparava em valores individuais aos que este ano estão à disposição do treinador.

Jesus falha, assim, interna e externamente, pela manifesta incapacidade de tirar partido dos excelentes jogadores que tem à sua disposição.

O Porto, também eliminado, teve uma participação deplorável na Liga dos Campeões. Com um plantel reduzido e manifestamente mais fraco que o do Benfica, com um treinador inexperiente e um público muito exigente, suspirando pelos jogadores que não tem, o Porto conseguiu a “proeza” de ser apurado para a Liga Europa com uma das mais baixas pontuações de sempre: cinco pontos!

Com muitas presenças na Liga dos Campeões e de nela já ter feito história, o Porto, este ano, relativamente ao Benfica,  sempre pode apresentar como desculpa para a sua péssima prestação, a perda de dois dos seus mais influentes jogadores e a má vontade com que outros se mantêm no plantel por a direcção ter recusado propostas que, apesar de ficarem aquém das cláusulas de rescisão, eram muito vantajosas para os jogadores em questão, como é o caso de Mangala, Fernando e Jackson Martinez.

Algo de novo está acontecendo para os lados das Antas, pois onde antes se atestava a grande honra e o enorme prazer que era continuar no clube, apesar das solicitações e pretensões externas, ouve-se agora o público desagrado pelas transferências frustradas para clubes com outras potencialidades financeiras.

Depois deste desaire dos dois mais importantes clubes portugueses, a questão que a ambos agora se coloca é se vale a pena a aposta a sério na Liga Europa com as inevitáveis consequências competitivas no plano interno, nomeadamente no campeonato….

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

ONTEM, RONALDO FOI EUSÉBIO


 
A SELECÇÃO PORTUGUESA NA FASE FINAL DO MUNDIAL DO BRASIL

Ontem Ronaldo foi efectivamente decisivo para o apuramento da selecção portuguesa de futebol. E nem sequer se pode dizer como alguns insinuaram que a Suécia não é uma grande selecção. A verdade é que a Suécia ficou no seu grupo de apuramento no único lugar a que poderia aspirar: o segundo lugar já que desse grupo fazia parte a Alemanha, com a qual essa mesma Suécia empatou um jogo e perdeu outro pela diferença mínima. Dois jogos nos quais a Suécia marcou nada menos que sete golos à poderosa Alemanha!

Portanto, a exibição de Ronaldo e os golos que marcou são mesmo um feito. Um feito que ficará nos anais do futebol português. E mais vincado ficaria se Ronaldo tivesse marcado o quarto golo, que esteve a centímetros de obter.

Claro que Ronaldo não ganhou sozinho, embora tenha dado um contributo decisivo para a vitória. Mas seria injusto não sublinhar aqui os magníficos passes de Moutinho dos quais resultaram dois golos. Mourinho está para esta selecção e para Ronaldo como o grande Mário Coluna estava para Eusébio e para a selecção portuguesa e o Benfica.

Todos os títulos, todos os encómios iam para Eusébio, mas nada teria sido como foi tanto na selecção como no Benfica se não tivesse havido Coluna. O mesmo se passa com Moutinho. Também vão para Ronaldo – e muito justamente – todos os títulos da imprensa, das rádios e das televisões. Mas nada teria sido como foi, sem Moutinho.

Neste elenco de apreciações individuais, mal ficaria não lembrar aqui a exibição de Rui Patrício, que defendeu, momentos antes do primeiro golo do Ronaldo, uma bola que se tivesse entrado poderia ter dado ao jogo um rumo completamente diferente. E nem sequer é justo culpar Rui Patrício pelo segundo golo. A bola foi batida com muita força, adquiriu grande velocidade, perfurou a barreira e deixou o guarda-redes sem qualquer hipótese de reacção em tempo útil. Como disse Manuel José num programa televisivo ontem à noite, Patrício só com o pé poderia ter tido alguma hipótese de defender aquela bola.

Louros também para Pepe, aqui tantas vezes criticado, que esteve “intratável” e não deixou nunca que pelo seu lado alguém ameaçasse a baliza de Portugal. Bruno Alves, que esteve bem até ao segundo golo da Suécia, falhou na marcação a “Ibra” por ter sido traído pelo sueco que saltou à sua frente. Ou seja, Bruno Alves supôs que o sueco chegaria à bola e depois, ao constatar que não, ficou sem reacção para saltar. Tudo se passou em fracções de segundo, mas foi o suficiente para que o golo tivesse acontecido como aconteceu – remate de cabeça do craque sueco sem oposição.

Finalmente, uma palavra para Paulo Bento. Bento tem mérito na qualificação pela mesma razão que sobre ele recairia todo o demérito se Portugal não tivesse sido apurado para a fase final do mundial. Reconhece-se também a integridade de carácter do seleccionador e sua firmeza de princípios. Mas há em Paulo Bento comportamentos por vezes incompreensíveis. A generalidade da crítica e de todos aqueles que sobre o futebol se pronunciam nas televisões e nos jornais como comentadores, bem como nas redes sociais, são unânimes sobre o momento de forma de Nani. Afastado da equipa principal no Manchester, Nani deixou há muito tempo de corresponder na selecção ao que dele se esperava. Varela, porventura entre outros, estaria certamente em muito melhores condições e já deveria ter merecido a confiança do seleccionador, ou, pelo menos, ter entrado na equipa mais vezes e durante mais tempo no decorrer da segunda parte. Mas isso não acontece, apesar de Nani piorar de jogo para jogo.

Muitos acham que esta opção de Paulo Bento tem como única e exclusiva razão de ser a pública demonstração de que ele como seleccionador não se deixa pressionar por ninguém. É bom que o seleccionador se não deixe pressionar, mas já seria péssimo que o seleccionador não tome as decisões que deveria tomar pelos simples facto de elas estarem a ser reclamadas na praça pública. Essa teimosia não seria sinónimo de inteligência. Pelo contrário, seria prova de falta dela. E nem sequer adianta argumentar, como indirectamente Paulo Bento já o fez, com a afirmação de que ele assume por completo as consequências das suas decisões. E não adianta porque isso de nada vale depois de a asneira estar feita. Que é que todos nós ganharíamos com essa assumpção de responsabilidade por Paulo Bento se Portugal ontem tivesse sido eliminado por fraca prestação de alguns jogadores que ele, teimosamente, recusa substituir?

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

GRANDE JOGO NA LUZ E GRANDE VITÓRIA DO BENFICA


 

O PRESIDENTE DO SPORTING É “CASCA GROSSA”
Cardozo: “Jogámos muito bem e merecemos ganhar”

 

Grande jogo de futebol na Luz como há muito se não via entre os grandes rivais de Lisboa. Um jogo de Taça com incerteza no resultado até final, apesar de na primeira meia hora ter parecido que o jogo estava definitivamente resolvido a favor do Benfica.

Notável recuperação do Sporting, com um primeiro golo espectacular e mais dois de bola parada em mais dois inacreditáveis erros defensivos do Benfica. Erros que põem definitivamente à prova a defesa à zona em que Jorge Jesus insiste apesar da evidência da recorrência dos erros em que a defesa do Benfica frequentemente incorre a ponto de tais erros poderem pôr em causa o desempenho da equipa em jogos da máxima importância.

Jorge Jesus não pode nem deve esperar mais para mudar. A derrota em Atenas pôs o Benfica praticamente fora da Liga dos Campeões. Só mesmo um milagre o pode salvar. O segundo e o terceiro golos do Sporting só por acaso não puseram o Benfica fora da Taça de Portugal. O golo do Belenenses pode ter sido fatal para as aspirações do Benfica no Campeonato – a perda de pontos em casa é normalmente irrecuperável.

Se Jesus, ao fazer entrar para o meio campo Ruben Amorim para apoiar os esforços de Matic e Enzo Pérez, tornando a equipa mais compacta e mais competitiva, já foi capaz de demonstrar que era capaz de mudar o sistema de jogo em que insistia fazer jogar a equipa, descurando durante jogos sucessivos o meio campo, deixando sistematicamente um dos dois alas alheado do jogo num completo desperdício da capacidade da totalidade dos elementos em campo, também tem que ser capaz de mudar o sistema da marcação à zona nas bolas paradas, principalmente nos cantos, nem que seja por um sistema misto que simultaneamente guarneça a baliza, defenda homem a homem relativamente aos elementos mais perigosos da equipa adversária, nomeadamente ao segundo poste e mantenha a zona quanto à parte restante da equipa.

Enfim, é inevitável nesta pequena alusão ao que se passou ontem não referir a extraordinária exibição de Cardozo com três magníficos golos marcados no primeiro tempo. Cardozo pelo que já fez desde que recomeçou a jogar é, fora de qualquer dúvida, o elemento mais fundamental da equipa até esta fase da época.

Como já vem sendo hábito com o Sporting, mais uma vez ontem os principais responsáveis culparam o árbitro pela derrota. Antes de mais num jogo tão espectacular como o que ontem se jogou na Luz constitui uma prova de covardia desportiva imputar ao árbitro um resultado que poderia ter pendido para qualquer dos lados. Pode ter havido um ou outro erro da equipa de arbitragem, mas nenhum deles teve qualquer influência no desfecho do jogo. Importância tiveram ou poderiam ter tido os erros defensivos do Benfica nas bolas paradas, dos quais resultaram dois golos para o Sporting e o erro fatal de Rui Patrício que, mais uma vez, brindou os espectadores com um monumental “frango” como há muito não se via em jogos desta importância.

Não desculpa Rui Patrício o facto de o golo ter sido antecedido de uma falta da sua equipa punível com a marcação de uma grande penalidade, porque ninguém poderá assegurar que o árbitro a marcaria e menos ainda alguém poderá garantir que, marcando-a, o Benfica a convertesse.

Procurar justificar uma derrota com um invisível – em bola corrida – off side de Cardozo ou hipotético e, se real, milimétrico, em imagem parada (segundo o critério de quem a pára) é uma imbecilidade que uma inteligência normal tem muita dificuldade em aceitar. Além de que Cardozo não tira nenhuma vantagem dessa hipotética (e, se real, milimétrica) posição, antes pelo contrário. Ou seja, nem sequer os pressupostos racionais da justificação do fora de jogo estão presentes na jogada em causa.

Fora isso parece haver uma falta de um jogador do Sporting sobre Luisão, que os responsáveis leoninos querem transformar em penalty a favor do Sporting. E depois apenas sobra um eventual raspão da bola num braço do jogador do Benfica, sem qualquer intencionalidade, num remate à queima, a curtíssima distância.

Infelizmente, os responsáveis pelo Sporting, a começar pelo treinador que “jurou” não falar sobre arbitragens, pelos vistos apenas quando o beneficiam, passando por alguns jogadores e terminando no presidente não encontraram outra justificação para a derrota que não fosse o árbitro! O presidente mais uma vez passou as marcas e revelou ser aquilo que desde o início da sua presidência se antevia: um “casca grossa”, perigoso pelo clima que cria antes, durante e depois dos jogos, que se assume mais como membro de uma claque composta, como praticamente todas, pelo que de mais negativo existe no futebol, do que como o primeiro responsável por um dos clubes mais prestigiados de Portugal.

 

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

DEPLORÁVEL PRIMEIRA PARTE DO BENFICA


 

BENFICA QUASE FORA DA CHAMPIONS
Roberto evitou a tragédia grega na "piscina" da Luz

 

É difícil compreender como uma equipa constituída com os mesmos jogadores do ano passado, mais um conjunto de caríssimos reforços, consegue jogar tão mal como o Benfica jogou na primeira parte no jogo desta noite contra o Olympiakos. Uma equipa sem ideias, sem qualquer fio jogo digno desse nome, sem alguém capaz, uma única vez que fosse, de exprimir uma ideia diferente daquele fastidioso e repetitivo futebol que permanentemente se via: Artur, quando consegue não falhar, passa a Luisão que passa a Garay que devolve a Luisão, que entrega a Matic, que, depois de dar uma volta sobre si próprio, lateraliza para a direita, entregando a Ola John ao qual se junta de imediato Almeida para receber um passe curto com a intenção de repassar um pouco mais à frente ao mesmo Ola John, que ora chega à bola, ora não chega, e quando chega tenta centrar em regra para onde não está ninguém. E esta “brilhante” jogada repete-se vezes sem conta até o espectador, completamente enfastiado, começar a assobiar.

O futebol do Benfica, não apenas neste jogo, mas em todos os jogos desta época, é um futebol repetitivo, sem ideias, nem brilhantismo de qualquer espécie. Os jogadores parece que desaprenderam, principalmente aqueles que o ano passado se exibiram sempre ao mais alto nível. Garay e Matic são uma sombra do que foram e até o esforçado Enzo Pérez está longe do nível exibicional da última época.

Onde está aquele vistoso futebol de ataque que o Benfica começou a praticar no primeiro ano de Jesus como treinador? Onde está esse futebol? Esse futebol que nunca mais foi praticado e foi decaindo época após época, parece ter este ano atingido o ponto zero de espectacularidade e eficiência.

Paradoxalmente, o que esta noite valeu ao Benfica foi o “dilúvio” que se abateu sobre o Estádio da Luz. A impossibilidade de fazer aquele futebol “mastigado” da primeira parte, com falhanços sucessivos da defesa e ineficiência do meio campo, levou a equipa a jogar um futebol directo, de bola para a frente, que aturdiu os gregos e criou múltiplas dificuldades à sua defesa, a começar por Roberto. Num desses lances, como poderia ter acontecido noutros, o Benfica marcou, por Cardozo, e conseguiu o empate.

Um empate que, contrariamente ao que diz Jorge Jesus, é um resultado negativo. Muito negativo. Um resultado que praticamente põe o Benfica, mais uma vez, fora da Liga dos Campeões após os primeiros três jogos da fase de grupos.

Só por ignorância ou “esperteza saloia” se podem considerar idênticos os quatro pontos que neste momento têm tanto o Benfica como o Olympiakos. Os quatro pontos dos gregos foram obtidos fora de casa enquanto os do Benfica foram conquistados em casa. Basta esta simples comparação para imediatamente se perceber que o Benfica só teria garantida a passagem à fase seguinte se ganhasse na Grécia e em Bruxelas. O que com este futebol não acontecerá, seguramente. Além de que o Benfica nunca ganhou ao Anderlecht em Bruxelas e quase nunca alcançou resultados positivos na Grécia, principalmente contra os grandes clubes de Atenas, como se viu em 2008, na Taça UEFA, em que foi copiosamente derrotado por 5-1 por este mesmo Olympiacos que agora vai revisitar.

Enfim, o fraco percurso que o Benfica está fazendo em todas as provas em que participa, aliado  à fraquíssima qualidade exibicional da equipa, deixam antever uma época para esquecer…

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

PORTO VÍTIMA DA IMPUNIDADE DE QUE GOZA NO FUTEBOL NACIONAL


 
BOM JOGO DO PORTO CONTRA O DÍNAMO
F. C. Porto derrotado pelo Zenit, 1-0, no Dragão

 

Os responsáveis e os comentadores afectos ao Futebol Clube do Porto não pararam de se lamentar no jogo desta noite por o árbitro ter mostrado no mesmo minuto dois cartões amarelos a um jogador do Porto que cometeu duas faltas evidentes. À luz das regras do jogo, por que razão não há-de ser punido um jogador que comete duas num curto espaço de tempo? Há algo nas leis do jogo que lhe garanta a impunidade relativamente à segunda falta?

Não há, como toda a gente sabe. O que há é uma impunidade generalizada que leva a que as equipas grandes em Portugal, e dentre elas o FCP, muito particularmente, contem sistematicamente com a benevolência dos árbitros em situações semelhantes. Ou porque o jogo começou há poucos minutos, ou porque ninguém ousa punir uma falta que nem todos os árbitros marcam, ou porque a contestação seria muito violenta e duradoira, ou por outras inconfessáveis razões, a verdade é que o Porto não está habituado – ou talvez mais correctamente -, nas provas nacionais,  o Porto não admite que um jogador seu seja expulso no início do jogo e muito menos por duas faltas merecedoras de cartão amarelo.

E é claro que isto cria na equipa um sentimento de impunidade que a leva a actuar com alguma leviandade em competições internacionais onde frequentemente aparecem árbitros dispostos a fazer cumprir as leis do futebol qualquer que seja a fase do jogo em que a infracção tem lugar. Isto não significa que os jogadores do Porto não estejam suficientemente advertidos de que não podem fazer nos jogos internacionais o que fazem nas competições nacionais. Estão. E qualquer observador atento reconhece isso com muita facilidade. Mas esses avisos não garantem, como hoje não garantiram, que a força do hábito por vezes se sobreponha à força da lei.

Realçado isto apenas com o propósito de demonstrar que o cumprimento rigoroso, no plano interno, das leis do jogo acaba por reforçar a competitividade das equipas portuguesas e muito particularmente do FCP o qual, não obstante todos os favores de que pode beneficiar, continua sendo a melhor equipa portuguesa e que mais probabilidade tem de se bater quase de igual para igual com as grandes equipas europeias. O Porto pode não ter o melhor plantel – e muito provavelmente não o terá – mas continua a ter a melhor equipa.

No jogo desta noite, o Porto jogando com dez desde os seis minutos foi sempre melhor equipa que o Zénite de S. Petersburgo durante toda a primeira parte. Na segunda parte, o enorme esforço da primeira parte fez-se sentir, porventura mais cedo do que se esperava. O Zénite, embora sem criar lances de grande perigo, salvo um perdida de Hulk resultante de uma “oferta” de Otamendi, foi dominando o jogo e aproximando-se gradualmente da baliza de Helton. Numa dessas jogadas, já muito perto do final, Kerzhakov, a centro de Hulk, fez o golo da vitória num excelente remate de cabeça. Mesmo assim, o Porto por duas vezes ainda esteve perto do empate.

Com duas derrotas em casa o Porto compromete muito seriamente a passagem à fase seguinte, agora apenas possível se obtiver duas vitórias (uma delas necessariamente em S. Petersburgo) e o Zénite perder dois dos três jogos que lhe faltam jogar ou perder um (necessariamente contra o Porto) e empatar outro, ganhando o terceiro.

 

 

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

PORTUGAL FORA DO MUNDIAL?


 
 
SUÉCIA, UM ADVERSÁRIO MUITO DIFÍCIL
 
Portugal terá no play off de apuramento para o Mundial do Brasil (2014) uma das três equipas que, à partida, tendo em conta o historial da selecção portuguesa, lhe poderiam causar maiores problemas – a França, a Grécia e a Suécia. Calhou-lhe a Suécia, contra a qual tem um lamentável registo de 6 derrotas, 3 empates e 3 derrotas com a agravante de nunca ter ganho aos suecos em Portugal.
A situação não seria melhor se em vez da Suécia lhe tivesse saído em sorte a selecção da Grécia, à qual nunca ganhou, ou a França, contra a qual sempre perdeu os confrontos mais decisivos das provas oficiais em que a defrontou.
Acresce a esta estatística o facto de a Suécia ter hoje nas suas fileiras um jogador que tem sido determinante nos jogos da selecção (Zlatan Ibrahimovic). Apesar dos registos da Suécia na série de apuramento em que participou não serem nada de extraordinário – 6 vitórias, 2 empates e duas derrotas; 19 golos marcados e 14 sofridos – num grupo que contava com a presença da Alemanha, mas também das Ilhas Faroé e do Cazaquistão, a verdade é que daqueles 19 golos sete foram marcados à poderosa Alemanha que no cômputo geral apenas sofreu mais três.
Por outro lado, se tivermos em conta a decepcionante participação de Portugal no Grupo F, em que ficou em segundo lugar a um ponto da Rússia, com empates em casa contra a fraquíssima selecção da Irlanda do Norte e também contra Israel (num jogo decisivo que poderia ter alterado a classificação que desde há muito parecia estabelecida), tudo aponta para uma dificílima tarefa da selecção portuguesa.
Além de não ter um jogador verdadeiramente determinante nos confrontos decisivos (jogador que Cristiano Ronaldo manifestamente não é, como o seu historial na selecção inequivocamente demonstra), Portugal tem uma defesa fraca onde militam dois centrais em fim de carreira, perigosos pelas muitas faltas que fazem e pelo jogo violento que frequentemente praticam. A isto acresce um Rui Patrício muito longe da forma que o notabilizou, provavelmente frustrado por ter de permanecer no Sporting por ausência de propostas irrecusáveis ,e um Coentrão que desde que foi para o Real Madrid nunca mais voltou a ser o jogador que tanto se distinguiu no Benfica e no Mundial da África do Sul.
Na frente, apenas Cristiano Ronaldo verdadeiramente conta, já que Nani, de quem tanto se esperava, tem vindo a decair com a passagem dos anos e Varela é hoje uma sombra do jogador que já “ameaçou” poder vir a ser, principalmente na selecção. De Postiga, Hugo Almeida ou Nelson Oliveira pouco haverá a esperar e de Dani nunca há certeza se estará em condições físicas para alinhar na selecção.
Por tudo isto e também por ausência de uma linha média renovada, onde verdadeiramente só Moutinho continua a ter lugar, muito dificilmente Portugal marcará presença no Mundial do Brasil.
Esperemos para ver…


 

 

terça-feira, 10 de setembro de 2013

RONALDO E A SELECÇÃO



A IDOLATRIA QUE A EGOLATRIA RECLAMA
 

 

Cristiano Ronaldo é, sem dúvida, um dos maiores atletas portugueses de todos os tempos. No futebol, ao serviço do Manchester United e, principalmente, no Real Madrid, ele tem demonstrado toda a sua imensa classe como futebolista de eleição a ponto de ombrear com génios do futebol como Messi, Iniesta, Xavi e Ribéry, entre outros. Por uma vez já foi eleito o melhor futebolista do ano. Também por uma vez venceu, no Manchester United, a Liga dos Campeões Europeus que é, como se sabe, a mais prestigiosa prova do futebol internacional.

Nos últimos três anos, Ronaldo foi algumas vezes determinante nas vitórias do Real Madrid (um campeonato, uma Taça, uma Supertaça) talvez até mais do que nos cinco anos que esteve ao serviço do Manchester United, porventura por no clube inglês prevalecer uma mentalidade mais colectivista imposta por um treinador para quem não havia “estrelas” que, independentemente do jogo jogado, brilhassem mais do que outras.

Na selecção portuguesa, onde Ronaldo já alinhou mais de cem vezes, as suas prestações têm sido infelizmente bem menos determinantes do que nos dois grandes clubes por onde até hoje passou. A par de alguns jogos conseguidos, Ronaldo na selecção, talvez pela diferença que ele entende ou intui existir entre a sua capacidade como jogador e a dos colegas, não tem sido na maior parte das vezes feliz. Mais: muitas vezes, nomeadamente no tempo de Queirós como seleccionador, as prestações de Ronaldo foram prejudiciais pelo excessivo individualismo que, voluntaria ou involuntariamente, acabava por “impor” à equipa. Muitos críticos, principalmente nas redes sociais, pediram o afastamento de Ronaldo por entenderem que jogando daquele modo a sua presença era prejudicial à selecção. Aliás, numa das poucas lesões da sua carreira, em que por razões óbvias esteve afastado da selecção, essa ausência correspondeu a um dos melhores períodos da selecção nessa fase de apuramento.

Nada disto lhe retira a classe que indiscutivelmente tem nem a importância de que a sua presença, desde que devidamente integrada na equipa, se pode revestir para os êxitos da selecção. A verdade, porém, é que Ronaldo na selecção está longe – ainda muito longe –, ao longo dos anos que já leva como internacional, de ter sido tão determinante como outros jogadores, alguns deles ainda seus contemporâneos, como Figo, Deco, Rui Costa ou mesmo João Pinto, prematuramente afastado por razões disciplinares. E se recuarmos no tempo e nos situarmos nos períodos em que o futebol português brilhou, como aconteceu no europeu de França e no Mundial de Inglaterra, então Ronaldo perde por pontos para Chalana (que encantou a França) e fica a uma longa distância de Eusébio que em 1966 teve uma das mais memoráveis participações que um jogador pode ter numa fase final de um Campeonato do Mundo de Futebol.

Algumas destas glórias não eram tão badaladas depois dos feitos ocorridos porque os meios de comunicação da época dedicavam o seu tempo a assuntos mais importantes deixando ao futebol apenas o tempo necessário para descrever ou mostrar o que se passara. Ainda não estávamos na era das sociedades da comunicação...

Hoje não é assim. Por todo lado há canais especializados em futebol que falam ou mostram futebol 24 horas por dia. Há vários programas semanais sobre futebol nos canais generalistas e há nos canais noticiosos, abertos 24 horas, múltiplos programas sobre futebol desde os mais indigentes aos mais interessantes, estes muito escassos ou quase inexistentes. É por isso normal que pequenos e grandes feitos, nomeadamente se tais feitos têm alguma ligação ao pátrio solo, sejam empolados, exagerados e repetidos até à saciedade, criando na ideia de quem ouve e de quem vê que este é um tempo excepcional em que no futebol se fazem coisas que nunca noutros tempos foram feitas.  

Ainda agora a propósito dos três golos de Cristiano Ronaldo à fraca e ingénua selecção da Irlanda do Norte se teceram loas e fizeram comparações completamente despropositadas ou mesmo absurdas. Se um jogador faz cento e tal jogos pela selecção e com eles sobe a sua marca para mais de quatro dezenas de golos é evidente que essa marca não pode ser comparada com as mesmas quatro dezenas de golos obtidos por outro jogador em cerca de metade dos jogos. Assim como o record de golos da selecção em poder de um determinado jogador não pode ser analisado comparativamente sem entrar em linha de conta com as equipas contra as quais a  maior parte desses golos foi marcada. É importante marcar golos, mas os golos não valem todos o mesmo. Não têm todos o mesmo significado e importância. Dependem da equipa a que foram marcados e dependem também da importância que eles tiveram para o resultado do jogo!

Esta idolatria à volta de Cristiano Ronaldo, que ele alimenta e sinceramente deseja com a sua exagerada egolatria, pode ter efeitos nefastos na selecção. De facto, é hoje patente aos olhos de qualquer observador a influência de Ronaldo na selecção. Jogadores em fim de carreira ou já sem performance para representar a selecção, a propósito e a despropósito, desdobram-se em elogios a Ronaldo e em qualificações que só podem ter uma interpretação: "Se eu o elogiar ele vai-me proteger e ninguém ousará tirar-me da selecção sabendo que outra é a vontade de Ronaldo".

E mais: Ronaldo parece ter um estatuto que outros jogadores não têm. Era importante que Ronaldo estivesse esta noite em Boston para defrontar o Brasil. Das duas últimas vezes que jogou contra a equipa brasileira as suas exibições foram fracas, de modo que esta seria uma excelente oportunidade para se mostrar ao público norte-americano frente a uma grande equipa, composta por grandes jogadores entre os quais desponta uma vedeta que ameaça disputar na época em curso as atenções que agora quase são monopolizadas a Messi e a Ronaldo.

Infelizmente, Ronaldo não estará presente. Mas no próximo fim-de-semana alinhará pelo Real Madrid contra o Villa Real.  

terça-feira, 3 de setembro de 2013

OS PROBLEMAS DO BENFICA


A CONFIRMAÇÃO DO QUE SE PREVIA

 

O lamentável, embora esperado, início do Campeonato confirma o que se esperava do Benfica para a época em curso.

Depois do descalabro da época passada em que em pouco mais de três semanas deitou a perder tudo o que durante a época fora amealhando, o Benfica começou a época – e antes dela a pré-época – com o mesmo estado de espírito com que ficou depois do empate em casa com o Estoril e da derrota no Porto: uma equipa desanimada, descrente e incapaz de reagir à adversidade. E quando este é o estado de espírito de uma equipa (ou de uma pessoa) todas as suas qualidades caem em flecha. O brilhantismo que ontem era atingido com naturalidade, tanto a nível individual como colectivo, torna-se agora numa espécie de miragem do passado, incapaz de se repetir e - pior do que isso – torna-se para os mesmos protagonistas incompreensível como tal brilhantismo chegou a ser alcançado outrora tão longe ele está hoje de poder ser repetido.

Este estado de espírito da equipa do Benfica, e que somente a presença de um outro jogador novo a momentos disfarça, não vai passar com o decurso do tempo, correndo, pelo contrário, o sério risco de se agravar a cada dia que passa.

Foi notório no jogo da Madeira a incapacidade de reacção da equipa, como notória foi a ausência de processos alternativos que pudessem inverter a situação ou que, no mínimo, criassem na mente dos jogadores a convicção de que ela poderia ser invertida. A mediocridade da exibição contra o Gil Vicente, marcada por um grau de desperdício inaceitável e que nada tem a ver com a sorte do jogo, confirma o que na Madeira se começara a evidenciar. Finalmente, o jogo do passado sábado contra o Sporting voltou a mostrar uma equipa sem ideias – ou muito saturada das ideias que tem –, dominada em largos períodos do jogo por uma equipa de novatos praticamente acabada de formar, que apenas alcançou um empate graças à genialidade de um jogador, o mesmo se podendo dizer do único lance que, depois do golo, poderia ter dado a vitória ao Benfica.

Há indiscutivelmente uma fadiga psicológica na equipa que nada tem a ver com a incerteza do desfecho sobre o mercado de transferências, ele próprio muito afectado, no que respeita ao Benfica, por essa mesma fadiga que degrada e desvaloriza o valor negocial dos jogadores. De facto, os jogadores do Benfica eventualmente transferíveis não sofrem de instabilidade emocional reflectida na sua prestação desportiva por não saberem se vão ou não ser transferidos ou da eventual oposição do clube a essa transferência, mas por saberem que apesar de o clube os querer vender, pelo menos três ou quatro – Matic, Garay, Sálvio e, eventualmente, Gaitan – não há quem lhes pegue pelo valor que eles realmente têm. Esta sim a causa dessa instabilidade, ela própria gerada pela situação psíquico-desportiva da equipa.

A primeira conclusão que inevitavelmente tem de se tirar é que esta situação não é fruto do acaso nem das famosas contingências do futebol – esta situação era previsível e tem responsáveis. Tanto mais responsáveis quanto mais fácil de prever seria o que se iria passar se tudo continuasse na mesma.

O primeiro grande responsável pelo que se está a passar no Benfica é aquilo que de uns tempos a esta parte se passou a denominar um pouco enigmaticamente por a “estrutura do Benfica”. Ou seja, os responsáveis pela gestão, organização e condução do futebol do Benfica – algo que no Benfica não se sabe bem o que seja.

Sabe-se que o Presidente tem um forte pendor autocrático, remetendo para a subalternidade subserviente os que com ele trabalham, e sabe-se também que a sua ignorância em matéria de futebol e do próprio mundo do futebol tem a mesma dimensão, se não até maior, que a sua autocracia.

No plano técnico, algo que numa equipa organizada segundo os mais modernos padrões de gestão do futebol deveria estar completamente subordinada àquela estrutura no plano, digamos, “político”, sabe-se que o Benfica tem um treinador incapaz de expor uma ideia com clareza e de formular um raciocínio escorreito com princípio, meio e fim. Tem um treinador – e certamente o mesmo se passará com a equipa técnica que o acompanha – que, não obstante os méritos do seu autodidatismo – quase sempre insuficientes, qualquer que seja o ramo de actividade -, está longe de corresponder na presente fase ddo clube ao tipo de treinador que o Benfica precisaria, quer no plano técnico-táctico, quer no plano comunicacional, quer no do relacionamento com o plantel .

Durante um certo período, já manifestamente ultrapassado no ano passado, Jorge Jesus serviu os interesses do Benfica tendo em conta a fase em que o clube se encontrava. Desde há mais de dois anos que existe um desajustamento evidente entre as novas necessidades e a capacidade de resposta da equipa técnica, a que se deveria ter posto cobro normalmente.

Finalmente, consequência dessa ausência de “estrutura” e de condução técnica subordinada é a actual composição do plantel independentemente de quem ainda possa vir a sair ou a entrar. O Benfica não tem uma defesa à altura das suas pretensões, facto que já o ano passado era muito visível.

Artur é incerto e pode comprometer gravemente a equipa a qualquer momento como se viu na época passada em quatro jogos decisivos. Maxi não para há cinco anos, está muito instável – também já estava o ano passado – e pode a todo o momento e em qualquer jogo ser expulso em lances cuja perigosidade não exigia tal comportamento. Luisão tem o peso dos anos. Ou está bem posicionado e se antecipa ou só tem como recurso a obstrução ou ser batido. Garay, o melhor dos cinco, está ausente e até parece que perdeu sentido posicional. Cortez, mais uma invenção de Jesus – e pela valia das invenções se avalia o nível do inventor …-, vai dar certamente muitas dores de cabeça à equipa e comprometê-la ainda mais do que ela já está.

Com esta defesa o Benfica irá somar um número record de golos sofridos.

Perante isto, o que fazer? Era preciso mudar quase tudo, mas como isso não será fácil o mais provável é que se vá assistindo a uma lenta mas persistente degradação capaz de comprometer o destino do clube muito para além dos resultados desportivos de uma época.

domingo, 18 de agosto de 2013

BENFICA: O QUE SE O PREVIA


 
BENFICA COMEÇA COMO ACABOU

 

Aconteceu o que se previa. O Benfica depois de uma pré-época decepcionante começou o campeonato tal como o acabou. As desculpas começarão por recair sobre as arbitragens, mas essa não é nem será a verdadeira razão da fraca época que o Benfica se prepara para fazer.

Depois do que aconteceu o ano passado, a equipa e os benfiquistas em geral caíram numa espécie de depressão colectiva da qual só poderiam sair por uma de duas vias: ou substituindo a maior parte dos jogadores, injectando sangue novo na equipa e nos adeptos, ou substituindo o treinador, dando aos jogadores e  aos adeptos uma anova razão para acreditarem num futuro diferente e melhor.

Por razões nunca completamente esclarecidas, o Benfica – a direcção do Benfica ou o seu presidente – entendeu que deveria manter em funções Jorge Jesus quando o estado de espírito dos jogadores e dos adeptos aconselhava uma profunda substituição da equipa técnica em virtude de as três derrotas sucessivas do ano passado, que ditaram a perda de três importantes competições, terem deixado a “nação benfiquista” profundamente desconfiada sobre a capacidade de os derrotados de ontem poderem hoje inverter a situação.

Os lamentáveis episódios da final da Taça de Portugal, pelos quais ninguém até hoje foi responsável, a situação de Cardozo que se arrastou também sem solução até aos dias de hoje - e já lá vão quase três meses - indiciam ausência de liderança e demonstram também a incapacidade de a direcção do Benfica estar à altura do clube que dirige.

Numa altura da época em que ainda se não sabe quem fica e quem sai na equipa de futebol, em que, ao contrário do que é hábito, se vê o Benfica mais interessado em vender do que em conservar jogadores fundamentais, que só ainda não saíram por o mercado se encontrar em fase de profunda contracção, o mais provável é que o Benfica venha a perder alguns dos melhores jogadores por baixo preço sem que as aquisições entretanto efectuadas estejam em condições de colmatar essas prováveis lacunas.

Quanto ao jogo da Madeira de hoje contra o Marítimo, o que se assistiu foi a uma equipa completamente falha de ideias, uma equipa deprimida, absolutamente incapaz de dar a volta ao jogo quando teve de atacar e errante e inconsistente quando teve de defender. Dos centrais ao avançados, passando pelos laterais, só Matic no meio campo parecer um pouco do fulgor do ano passado.
A vitória do Marítimo por 2-1 não sofre contestação. O Benfica nunca esteve à altura da vitória.

A jogar assim – é assim que o Benfica vai jogar durante a época, a menos que algo de muito radical aconteça – o campeonato estará entregue por volta da décima jornada.

 

quarta-feira, 22 de maio de 2013

O FRACASSO DE MOURINHO


 

PRINCÍPIO DO FIM DE UM MITO?

As três épocas de Mourinho à frente do Real Madrid constituem o falhanço mais completo de uma carreira que se julgava imparável e que só tinha o céu como limite. Uma vitória na taça do rei, outra no campeonato e uma supertaça é muito pouco para um treinador que rumou a Madrid com o objectivo de acabar com a hegemonia do Barcelona e conquistar a “décima” Copa da Europa para os merengues.

Dotado de plenos poderes na condução do futebol madridista e reunindo um dos melhores plantéis do mundo, se não mesmo o melhor, Mourinho não só não conseguiu atingir nenhum dos objectivos que a sua contratação pressupunha, como, pelo contrário, logrou pôr em causa alguns dos mitos que a propaganda à volta do seu nome havia laboriosamente construído nestes últimos dez anos – a empatia com o público da sua equipa e a relação indissolúvel com os jogadores do plantel, dos quais e dizia, para citar a propaganda, “serem capazes de morrer em campo por Mourinho!”.

Quanto ao futebol jogado, Mourinho, que segundo os mais entendidos críticos do desporto-rei nunca havia trazido nada de novo ao futebol, confirmou em Madrid a sua vocação para um futebol “resultadista”, desta vez completamente falhada, mas incansavelmente tentada, sem êxito, até ao último suspiro.

O que se passou em Madrid não significa necessariamente o princípio do fim de um mito, principalmente para quem nunca olhou para Mourinho como um caso marcante do futebol mundial, mas ajuda a definir com clareza que tipo de treinador ele é e o que se pode esperar do seu desempenho.

Mourinho é, antes de mais, um treinador que não serve para todas as equipas. As grandes equipas populares do futebol mundial, aquelas cujo poder está democraticamente distribuído pelos seus apoiantes, quanto mais não seja pela receptividade que a sua opinião acaba por ter nos órgãos directivos, não são equipas para Mourinho nem nelas Mourinho pode pôr em prática tudo o que considera imprescindível para alcançar o êxito, ou seja, os resultados.

Mourinho é um treinador para quem o futebol só parcialmente se joga dentro do campo, muito à semelhança, aliás, do que pensa aquele que foi o seu grande mentor já na sua idade madura e que tão fortemente o marcou a ponto de esbater ou quase apagar as influências de grandes nomes do futebol jogado, como Boby Robson e Van Gaal.

Além disso, Mourinho entende o papel do treinador como o de um dirigente autocrático, alheio e avesso ao diálogo que o contrarie, no círculo do qual só cabem aqueles que acrítica ou disciplinadamente o secundem, dispensando-lhes como contrapartida dessa devoção, verdadeira ou fingida, um falso paternalismo de cuja concessão se não cansa de extrair todas as vantagens.

Por último, Mourinho tem de ser o “Special one”. É ele que tem de estar sob as luzes da ribalta, mesmo quando fingidamente as reparte com os verdadeiros artistas do espectáculo.

É óbvio, como neste blogue foi antecipado há três anos, que um treinador com estas características não tinha grandes hipóteses de êxito num clube como o Real Madrid. E foi isso o que realmente aconteceu. Os mil e um episódios de confronto entre Mourinho e os apoiantes do Real Madrid, entre Mourinho e a imprensa madridista, e, por fim, com os próprios jogadores, mesmo com aqueles que à partida lhe pareciam garantir indefectível fidelidade, mais não são do que a expressão dessa incapacidade de adaptação de Mourinho a uma realidade que não aceitava e que queria todo o custo alterar.

Para desconforto e decepção de Mourinho, pode ainda dizer-se aquilo que parece ser a irreversível perda de hegemonia do Barcelona a nível mundial nada tem a ver com a sua presença à frente do Real Madrid, sendo antes o fim natural de um ciclo, porventura antecipado por um conjunto de factores aleatórios e também por uma certa incapacidade de prever e prover atempadamente às manifestas deficiências da equipa, visíveis há mais de um ano por quem não se deixasse inebriar pela extraordinária capacidade técnica e atlética de Messi que, de tão excepcional, tendia a ocultar o que de outro modo seria evidente.

segunda-feira, 20 de maio de 2013

PARABÉNS, JORGE JESUS


 

PARABÉNS TAMBÉM PELA CONFERÊNCIA DE IMPRENSA DESTA NOITE

Muitos benfiquistas estão sinceramente desiludidos com a prestação do Benfica esta época nas quatro provas em que participou. Desilusão e tristeza pela perda das provas em que participou não são sinónimos.

A desilusão é descrença, é perda da ilusão de ganhar. Tristeza é um sentimento diferente que tem a ver com a sensação de perda, de prejuízo, mas não descrença nem falta de ilusão.

O Benfica progrediu muito nestes últimos quatro anos. Progrediu no plano desportivo, no plano competitivo e encurtou consideravelmente as distâncias relativamente ao Porto que, nos últimos vinte anos, têm ganho no plano interno com relativa facilidade as várias provas em que participa, independentemente do juízo sobre como muitas dessas vitórias foram alcançadas.

O Benfica subiu a nível interno e a nível internacional. É certo que nos dois últimos anos perdeu dois campeonatos nas últimas jornadas quando os liderava, respectivamente, com cinco e quatro pontos de avanço. Mas isso também significa que esteve lá, no topo, fazendo estas dolorosas derrotas parte de um processo de crescimento que nunca é linear até verdadeiramente se consolidar.

No plano internacional, o Benfica atingiu nestes últimos quatro anos os quartos-de-final da Liga dos Campeões, com excelentes prestações, inclusive nos jogos em que foi eliminado e chegou igualmente aos quartos-de-final, às meias-finais e à final da Liga Europa.

Para uma equipa que salvo uma ou outra excepção soçobrava na primeira fase da prova em que participava pode e deve considerar-se um excelente resultado.

Os benfiquistas certamente queriam mais. A verdade, porém, é que antes tinham menos. Muito menos e desde há muito tempo.

Por tudo isto e também porque a equipa tem apresentado um futebol agradável e vistoso apesar de em todas as épocas ter perdido jogadores nucleares que vão sendo substituídos por jogadores que chegam de novo, que é preciso formar e integrar na equipa, sendo assim necessário em cada época começar parcialmente de novo, bem pode dizer-se que a prestação do Benfica tem sido boa e às vezes mesmo muito boa.

Parece ter sido isto o que Jorge Jesus hoje quis dizer, ou disse, na conferência de imprensa – uma das melhores desde que é treinador do Benfica.

De facto, Jesus sublinhou muito bem o facto de este ano a equipa ter estado em todas as grandes decisões. Perdeu-as ou perdeu três, mas só o Benfica, em Portugal, poderia ganhar as três. Ou seja, só pode ganhar quem disputa as finais e não quem fica pelo caminho.

Sobre dar os parabéns ao Porto, Jesus disse que não mudava de discurso em função da conjuntura – ou seja, criticou, como devia, aqueles que transformam um campeonato sujo num campeonato excepcional apenas por o terem ganho – e disse ainda que se o Porto ganhou foi porque fez mais pontos e quem faz mais pontos é quem merece ganhar.

Esta e outras respostas que deu na conferência de imprensa desta noite foram respostas de grande categoria.

Sobre painel da SIC Notícias que tanto criticou Jorge Jesus e a sua última conferência de imprensa pouco há dizer. De facto um painel composto pelo ressabiado Ribeiro Cristóvão – um saudoso do salazarismo – que ainda não percebeu que o seu clube não “conta para o totobola”, pelo David Borges que faz, como comentador desportivo, da crítica desonesta profissão e de Marques Lopes que aplaude Pinto da Costa e diz criticar os ladrões do BPN, ou seja, um tipo para quem a corrupção é má se for praticada na política e boa se favorecer o seu clube, pouco ou nada há a dizer para além do que foi dito. Não têm um pingo de credibilidade.

Para concluir falta ainda dizer que, neste último terço do campeonato, todas as equipas que defrontaram o Benfica fizeram desse jogo o jogo das suas vidas. Foi assim com o Beira-Mar de Costinha, que nunca mais fez um jogo como aquele, sendo, por isso, remetido muito justamente para a 2.ª divisão; a Académica que em nenhum outro jogo voltou a jogar como jogou contra o Benfica na Luz; o Marítimo que terá feito contra o Benfica o seu melhor jogo do campeonato; o Olhanense, que até levantou, com “dinheiro caído do céu”, uma greve para poder jogar contra o Benfica e o Estoril, um dos mais assanhado, para falar apenas de alguns.

O Benfica não jogou contra nenhum Nacional dócil e admirador das virtudes alheias nem nas provas internacionais lhe calhou jogar contra uma equipa que está a 40 (!!!) pontos da liderança …e muito menos ser eliminado por ela. Nem nunca disputou, como noutra ocasião já se disse, uma final europeia contra uma equipa da segunda divisão nem contra uma equipa que nunca ganhou um campeonato na sua terra!

Por tudo isto, parabéns Jorge Jesus!

sexta-feira, 17 de maio de 2013

AS DERROTAS DO BENFICA


 

NO PORTO E EM AMESTERDÃO

O Benfica jogou a sua nona final europeia – 7 na Taça/Liga dos Campeões e 2 na Taça UEFA/Europa – e a imprensa de todo o mundo, desta vez, atribuiu a derrota à “maldição” de Bela Guttman que embora não seja o que se diz começa cada vez mais a parecer-se com aquilo que dela se conta.

Realmente, a “maldição” do Benfica é ter jogado 9 finais contra o Barcelona, Real Madrid, Milan (2 vezes), Inter de Milão, Manchester United, Chelsea, PSV e Anderlecht. Ou seja, exceptuando o Anderlecht que não é um grande europeu, apesar de crónico vencedor do campeonato belga e, em certa medida, do PSV (que até já deu 5-0 ao Porto na Taça dos Campeões), também sempre presente nas competições europeias, os restantes dispensam apresentações tanto no presente como historicamente. Por isso, a “maldição” do Benfica é nunca ter jogado uma final contra uma equipa da 2.ª divisão ou contra uma equipa que nunca ganhou um campeonato na sua terra! Mesmo assim ganhou duas, como se sabe, uma contra o Barcelona, outra contra o Real Madrid à época penta campeão europeu!

O jogo de quarta-feira não teve nada a ver com a de sábado passado. Se o Benfica tivesse jogado no Porto como jogou em Amesterdão a esta hora já seria campeão. O jogo de quarta-feira é um daqueles em que uma equipa como o Benfica sofre as consequências de jogar numa liga como a portuguesa. Em jogos internacionais desta envergadura, o domínio exercido sobre o adversário tem de ser convertido em golos sob pena de a surpresa a todo o momento poder aparecer.

Provavelmente há alguma desconcentração durante a marcação do canto. Provavelmente, terá pesado na mente dos jogadores a derrota no Porto no último minuto. Mas nada do que se passou nesses breves segundos, por mais importantes que tenha sido para o desfecho da partida, poderá anular ou fazer esquecer o que se passou durante todo o tempo restante.

E o que nós vimos, o que todo o mundo viu, durante todo o jogo, foi um Benfica manifestamente superior ao Chelsea em todos os domínios da partida.

É certo que os golos do Chelsea não resultam tanto do mérito do adversário como de falhas da equipa do Benfica. No primeiro golo, houve uma falha de, pelo menos, dois jogadores, embora o trabalho realizado por Torres tenha sido de grande classe e merece o aplauso de quem gosta de futebol. Já o segundo, resulta de uma incompreensível falta de marcação de quem tinha a seu cargo aquele sector da zona, tanto mais incompreensível quanto é certo saber-se que aquele era um dos pontos fortes do Chelsea.

Não pode, por isso, falar-se de azar, mas pode dizer-se que o Benfica foi superior ao adversário, fez uma exibição vistosa, que enche de satisfação os amantes do futebol, com duas fatídicas falhas pontuais, nomeadamente a última.

Os comentadores de futebol, viciados no comentário em função do resultado do jogo ou, noutros casos, obcecados pelas suas simpatias clubistas ou por outros interesses, prevalecem-se desse resultado para analisar o jogo do fim para o princípio e desfigurar completamente o que se passou em campo.

Não é assim com todos. Há também gente séria e competente a comentar, nomeadamente na RTP Informação. Mas isso é raro. O mais frequente é ouvirmos comentadores intriguistas que tudo fazem para defender as cores do seu clube, tentando destabilizar o adversário com conversas aparentemente técnicas. De futebol não percebem praticamente nada, passando a maior parte do seu tempo na intriga, na insinuação, na maledicência, enfim, na tentativa de criação de um clima que em última instância possa servir as suas cores. O expoente máximo deste tipo de comentadores é Rui Santos.

Depois há outros que tendo ficado profundamente decepcionados com o resultado entram num verdadeiro delírio crítico procurando pôr tudo em causa, chegando ao ridículo de menosprezar as últimas quatro épocas do Benfica em comparação com o que se passou nos cinco ou seis anos anteriores, onde, com excepção de Trappatoni e porventura de Fernando Santos, o que se viu foi um Benfica inconsistente e sem perspectivas. É o caso de Jorge Baptista cujas críticas nunca são objectivas, raramente têm nada a ver com que o se passou no jogo, mas com os seus estados de alma ou, porventura, com a defesa de interesses insuficientemente explicados.

Não quer isto dizer que Jorge Jesus não tenha cometido erros, alguns deles graves, e não tenha falhas como treinador. Certamente que sim. O seu maior erro foi não ter rodado a equipa no jogo contra o Estoril, como aqui logo se referiu, e depois do desaire não ter encarado noutros termos o jogo contra o Porto. Esses, os dois grandes erros da época cometidos num tempo em que já era proibido errar.

Como treinador, as suas maiores falhas são, porém, de comunicação. Não se trata tanto de criticar o modo como diz, mas o que diz. Jesus incorre frequentemente em triunfalismo fácil que se tem revelado fatal. Essa euforia em que Jesus incorre, entusiasmado com a qualidade do seu trabalho, acaba por ter efeitos perniciosos sobre a própria equipa. Este ano Jesus deve ter definitivamente compreendido que a vitória verdadeiramente só existe depois de conquistada e não enquanto se conquista.

Se Jesus tiver compreendido bem o que se passou na sua vida de treinador entre sábado e quarta feira à noite será certamente um treinador mais competente nos anos que vem, fique ele no Benfica ou não.