NO PORTO E EM
AMESTERDÃO
O Benfica jogou a sua nona final europeia – 7 na Taça/Liga
dos Campeões e 2 na Taça UEFA/Europa – e a imprensa de todo o mundo, desta vez,
atribuiu a derrota à “maldição” de Bela Guttman que embora não seja o que se
diz começa cada vez mais a parecer-se com aquilo que dela se conta.
Realmente, a “maldição” do Benfica é ter jogado 9 finais
contra o Barcelona, Real Madrid, Milan (2 vezes), Inter de Milão, Manchester
United, Chelsea, PSV e Anderlecht. Ou seja, exceptuando o Anderlecht que não é
um grande europeu, apesar de crónico vencedor do campeonato belga e, em certa
medida, do PSV (que até já deu 5-0 ao Porto na Taça dos Campeões), também
sempre presente nas competições europeias, os restantes dispensam apresentações
tanto no presente como historicamente. Por isso, a “maldição” do Benfica é
nunca ter jogado uma final contra uma equipa da 2.ª divisão ou contra uma
equipa que nunca ganhou um campeonato na sua terra! Mesmo assim ganhou duas,
como se sabe, uma contra o Barcelona, outra contra o Real Madrid à época penta
campeão europeu!
O jogo de quarta-feira não teve nada a ver com a de sábado
passado. Se o Benfica tivesse jogado no Porto como jogou em Amesterdão a esta
hora já seria campeão. O jogo de quarta-feira é um daqueles em que uma equipa
como o Benfica sofre as consequências de jogar numa liga como a portuguesa. Em
jogos internacionais desta envergadura, o domínio exercido sobre o adversário
tem de ser convertido em golos sob pena de a surpresa a todo o momento poder
aparecer.
Provavelmente há alguma desconcentração durante a marcação do
canto. Provavelmente, terá pesado na mente dos jogadores a derrota no Porto no
último minuto. Mas nada do que se passou nesses breves segundos, por mais
importantes que tenha sido para o desfecho da partida, poderá anular ou fazer
esquecer o que se passou durante todo o tempo restante.
E o que nós vimos, o que todo o mundo viu, durante todo o
jogo, foi um Benfica manifestamente superior ao Chelsea em todos os domínios da
partida.
É certo que os golos do Chelsea não resultam tanto do mérito
do adversário como de falhas da equipa do Benfica. No primeiro golo, houve uma
falha de, pelo menos, dois jogadores, embora o trabalho realizado por Torres
tenha sido de grande classe e merece o aplauso de quem gosta de futebol. Já o
segundo, resulta de uma incompreensível falta de marcação de quem tinha a seu
cargo aquele sector da zona, tanto mais incompreensível quanto é certo saber-se
que aquele era um dos pontos fortes do Chelsea.
Não pode, por isso, falar-se de azar, mas pode dizer-se que o
Benfica foi superior ao adversário, fez uma exibição vistosa, que enche de satisfação
os amantes do futebol, com duas fatídicas falhas pontuais, nomeadamente a
última.
Os comentadores de futebol, viciados no comentário em função
do resultado do jogo ou, noutros casos, obcecados pelas suas simpatias
clubistas ou por outros interesses, prevalecem-se desse resultado para analisar
o jogo do fim para o princípio e desfigurar completamente o que se passou em
campo.
Não é assim com todos. Há também gente séria e competente a
comentar, nomeadamente na RTP Informação. Mas isso é raro. O mais frequente é
ouvirmos comentadores intriguistas que tudo fazem para defender as cores do seu
clube, tentando destabilizar o adversário com conversas aparentemente técnicas.
De futebol não percebem praticamente nada, passando a maior parte do seu tempo
na intriga, na insinuação, na maledicência, enfim, na tentativa de criação de
um clima que em última instância possa servir as suas cores. O expoente máximo
deste tipo de comentadores é Rui Santos.
Depois há outros que tendo ficado profundamente decepcionados
com o resultado entram num verdadeiro delírio crítico procurando pôr tudo em
causa, chegando ao ridículo de menosprezar as últimas quatro épocas do Benfica
em comparação com o que se passou nos cinco ou seis anos anteriores, onde, com
excepção de Trappatoni e porventura de Fernando Santos, o que se viu foi um Benfica
inconsistente e sem perspectivas. É o caso de Jorge Baptista cujas críticas
nunca são objectivas, raramente têm nada a ver com que o se passou no jogo, mas com
os seus estados de alma ou, porventura, com a defesa de interesses insuficientemente
explicados.
Não quer isto dizer que Jorge Jesus não tenha cometido erros,
alguns deles graves, e não tenha falhas como treinador. Certamente que sim. O
seu maior erro foi não ter rodado a equipa no jogo contra o Estoril, como aqui
logo se referiu, e depois do desaire não ter encarado noutros termos o jogo
contra o Porto. Esses, os dois grandes erros da época cometidos num tempo em
que já era proibido errar.
Como treinador, as suas maiores falhas são, porém, de
comunicação. Não se trata tanto de criticar o modo como diz, mas o que diz. Jesus
incorre frequentemente em triunfalismo fácil que se tem revelado fatal. Essa euforia
em que Jesus incorre, entusiasmado com a qualidade do seu trabalho, acaba por
ter efeitos perniciosos sobre a própria equipa. Este ano Jesus deve ter
definitivamente compreendido que a vitória verdadeiramente só existe depois de conquistada
e não enquanto se conquista.
Se Jesus tiver compreendido bem o que se passou na sua vida
de treinador entre sábado e quarta feira à noite será certamente um treinador
mais competente nos anos que vem, fique ele no Benfica ou não.
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