UMA DECEPÇÃO
Terminou o Campeonato Nacional de
Futebol com o Sporting campeão como desde há muito era esperado. As maiores
surpresas da prova foram o Sporting e o Benfica. A primeira pela positiva, a
segunda pela negativa. O Porto esteve ao seu nível. Umas vezes dá para ganhar,
outras não. Desta vez não deu. Desde de comentadores a adeptos, passando pelos
jornalistas pseudo-independentes ninguém exigiu mais do Porto. O Porto teve determinação
e força de vontade de sobra, não perdeu nem empatou mais vezes do que noutras
ocasiões nem perdeu nenhum jogo com os seus grandes rivais, embora também só
tenha ganhado um. Se queixas há, do lado do Porto, elas são todas, como de
costume, contra os árbitros. Não houve censura do treinador, nem das suas
opções, e menos ainda dos jogadores.
O Sporting ultrapassou de muito
longe as mais optimistas expectativas. Fez um campeonato excepcional, foi a
equipa menos batida – apenas perdeu, já campeão, um jogo na penúltima jornada -,
foi também a equipa que mais pontos fez na ronda dos quatro primeiros (11 em
18), que mais elogios colheu durante toda a época e foi ainda a equipa onde
mais jovens talentos despontaram. Melhor era quase impossível.
Finalmente, o Benfica
unanimemente considerado a grande decepção da prova, tanto pelos resultados alcançados
como pelas exibições produzidas. Desde a direcção do clube, passando pela
generalidade dos adeptos, como também pelos adversários, até aos comentadores,
inclusive entre os afectos ao clube, a conclusão foi por todo o lado a mesma:
uma decepção, uma época falhada. O próprio treinador reconhece o desaire que a
época constitui, embora o impute à pandemia, justificação que está muito longe
de ser aceite tanto pelos adeptos como pelos comentadores afectos, desafectos e
inimigos do clube. Todavia, não obstante todas as críticas e a pertinência e
convicção com que são veiculadas por quem as faz, o Benfica foi o “campeão” da
segunda volta, não com os resultados que Jesus, sempre uma desgraça com
números, apregoa, mas com 13 vitórias, três empates e uma derrota! Ou seja, melhor
do que todos os outros. Compreende-se, não obstante o peso destes números, que
as exigências do Benfica, dos seus adeptos, dos seus comentadores e até dos
seus adversários ou inimigos sejam inquestionavelmente superiores às que são apresentadas
a qualquer outra equipa. Ao Benfica não basta jogar bem, exige-se que jogue
muito bem; ao Benfica não basta que ganhe, exige-se-lhe que ganhe por vários;
ao Benfica não basta a simples vitória, exige-se-lhe que ela seja concludente.
Enfim, ao Benfica exige-se o que verdadeiramente só é exigido às muito grandes
equipas. Esse é um tributo que o Benfica paga à sua grandeza.
Um outro aspecto que tem sido
negligenciado no comentário desportivo é o da relação entre o treinador e o
plantel. Não nos referimos ao relacionamento social entre ambas as partes, mas
ao relacionamento técnico-táctico. O Benfica tem um excelente plantel. Jogue
quem jogar, há sempre um banco de luxo. Incomparavelmente melhor do que os seus
mais directos competidores. Mas não tem o plantel que o treinador gostaria que
tivesse. E a partir daqui é que a coisa se complica. Embora o treinador não
possa nem deva ficar completamente à margem da formação do plantel, também não
deverá ser num clube com a dimensão do Benfica o treinador a fazer o plantel. A
diferença entre um bom treinador e um treinador comum é esta. Um bom treinador
é o que sabe tirar partido a cem por cento do plantel que tem à sua disposição. É
um treinador que tem a capacidade de adaptar o futebol da equipa às
potencialidades do conjunto. Se, pelo contrário, por mais excelente que seja o
plantel, o treinador só é capaz de pôr (ou tentar pôr) a equipa a jogar com
jogadores com outras características e se se revela incapaz de tirar vantagem do
excelente plantel que tem à sua disposição, então o problema não é da direcção,
nem é dos jogadores, mas do treinador. Terá de ser nesta perspectiva que terão de trabalhar os treinadores do Benfica.