O FCP é, nesta primeira fase da
época, um clube acossado por dois factos altamente negativos: a prestação negativa
da equipa de futebol na Liga nacional e na Liga dos Campeões. Na Liga dos
Campeões dificilmente poderia haver pior começo: a derrota em casa com o Club
de Bruge que goleou e ridicularizou os “dragões” e o excelente começo de época
do Benfica, tanto a nível nacional como internacional.
Com apenas um destes factos, o
FCP ainda poderia “sobreviver” e manter a “cabeça fora de água”, mas com os
dois, temporalmente conjugados, é algo com que não consegue conviver.
Para poderem continuar a “respirar”,
os “dragões” agarraram-se à renúncia de Rafa à selecção, à alegada “campanha anti-Taremi”, às especulações sobre Pepe e ao caso “Seixas da Costa”, fazendo por deixar cair no esquecimento as
agressões à família do treinador.
Quanto à renúncia de Rafa,
agarram-se ao facto de o jogador não ter falado pessoalmente com o
seleccionador e de ter “metido” a renúncia depois da convocatória. Só mesmo por
brincadeira se podem levar a sério as críticas portistas. Como pode um clube
cujo treinador chamou “palhaço” ao seleccionador por ter convocado jogadores do
Porto, numa altura em que ao clube não interessava essa convocatória, um clube cujo
presidente que já organizou manifestações públicas contra a selecção e os seus
jogadores numa passagem destes pela cidade do Porto, um clube cujo presidente
não teve escrúpulos em ter “jogado” com a eventual renúncia de Deco à selecção para evitar
um pesado castigo, um clube cujo presidente brindou com champanhe a derrota da
selecção no Euro 2004, como podem os adeptos deste clube ter legitimidade moral
para avaliar a conduta de Rafa?
Quanto à alegada “campanha
anti-Taremi”, o que verdadeiramente incomoda o FCP não é, nem de perto nem de
longe, o que em Portugal se possa dizer sobre o comportamento de Taremi em
campo, nomeadamente dentro da área adversária. Com isso convive o FCP muito
bem, como se tem visto. O que preocupa o FCP é a arbitragem internacional já
ter conhecimento de que Taremi adopta frequentemente comportamentos antidesportivos
para enganar os árbitros. O que preocupa o FCP é essa atenção redobrada com que
os árbitros de campo e o vídeo-árbitro seguem as jogadas de Taremi e as consequências
que daí resultam: anulação dessas jogadas e punição do jogador, como aconteceu
o ano passado em Madrid quando foi anulado um golo marcado com a mão e este ano
foi detectada uma simulação que levou à sua expulsão por acumulação de cartões.
Isto é que preocupa o FCP e o que se pretende com esta “campanha” do Porto é
condicionar os árbitros e dar “luz verde” a Taremi para continuar a agir como
até aqui.
Juntamente com esta campanha
surge a “defesa” de Pepe, apesar de não ter sido acusado de nada. Pepe tem tido
este ano um comportamento muito irregular na equipa do Porto. De uma maneira
geral não tem correspondido ao que dele esperavam. Tanto assim que umas vezes
está em campo e joga mal, outras vezes vai para a “bancada” por razões que o
treinador não desvenda. Pode ser baixa de forma ou insuficiência física. O que
não se compreende é que estando Pepe fora da equipa principal, por alegada “insuficiência
física” o seleccionador o convoque e o integre nos trabalhos da selecção para
dois dias depois o dispensar sem se saber concretamente o motivo. Causou
igualmente alguma perplexidade o facto de Pepe em Madrid ter denotado uma
condição física invejável, a ponto de já no tempo de compensação ter feito uma
corrida admirável (embora infrutífera) de uma baliza à outra e logo no jogo
seguinte se ter “arrastado” no campo sem força para pôr termo a vulgares
jogadas adversárias. Ou seja: o facto de nem a Federação nem o FCP terem dito o
que se passa com Pepe levou a uma onda de especulações nas redes sociais que
teriam sido evitadas com outro tipo de informação. Foi exactamente por se ter
referido a algumas destas especulações das redes sociais, sem contudo as
assumir, que o comentador afecto ao Benfica, Jaime Cancela de Abreu, foi expulso
da Sport TV, sem mais explicações.
Curioso que este verdadeiro atentado
à liberdade de opinião não tenha sido censurado nem condenado, apesar da
gravidade de que tal acto se reveste num Estado democrático, e, pelo contrário,
sejam condenados, criticados, insultados e até ameaçados todos os que criticam certos
comportamentos do FCP, do seu treinador ou de jogadores como se de um acto
criminoso se tratasse. Mais uma vez o que preocupa o FCP é o facto de não poder
voltar aos “bons velhos tempos” em que as críticas e as denúncias eram
combatidas e silenciadas por meios que hoje já não podem ser usados como regra.
Procedimentos, aliás, que certos comentadores do FCP não se cansam de enaltecer
nas televisões como sendo os mais eficazes, dando como exemplo o “tabefe” que o
comentador da Eleven merecia por ter dito o que disse num jogo de padel (“Aqui não há taremis”).
Quanto ao caso Seixas da Costa, é bom que se diga que não há ainda condenação com trânsito em julgado. Há uma decisão condenatória de primeira instância susceptível de recurso, que poderá ser revertida na Relação. Se a expressão em causa tivesse sido usada relativamente a certos comportamentos do treinador do FCP não temos a menor dúvida de que Seixas da Costa não seria condenado, como também não o seria se tivesse sido proferida no contexto de uma actividade profissional, como a de jornalista ou a de comentador. Tendo a expressão sido usada relativamente à pessoa do treinador e não aos seus comportamentos, o caso complica-se um pouco, mas não pode, mesmo assim, dar-se por decidida no sentido já conhecido. Esperemos, portanto, para ver o que acontece.
Quanto à agressão à família de
Sérgio Conceição por apedrejamento do automóvel em que viajava depois da
derrota sofrida (4-0) contra o clube de Bruges – único acontecimento realmente
digno de firme condenação e da tomada de medidas imediatas para punição dos
culpados, o FCP e o seu círculo mais próximo de apoiantes foram muitíssimo mais
comedidos do que relativamente aos casos antes referidos. A SAD do FCP em
envergonhadas três linhas condenou o facto e tentou responsabilizar a polícia.
Os “Super dragões” tiveram de publicar dois comunicados para se perceber que
estavam contra o sucedido e o presidente do Porto, Pinto da Costa, depois de
muito instado e criticado, precisou de oito dias para quebrar o silêncio e
individualmente manifestar a sua reprovação. Tudo isto porquê? Por duas razões
muito fáceis de enunciar: primeiro, porque a agressão foi perpetrada por adeptos
do FCP, presumivelmente pertencentes aos “Super dragões” (facto sobre o qual continua
a pairar o mais completo silêncio) e depois, porque não está no ADN deste FCP
(agora é que se pode com propriedade falar de verdadeiro ADN) condenar actos de
agressão praticados por responsáveis do clube, por pessoas que actuam sob as
suas ordens, ou por pessoas que pertencem ao círculo dos seus apoiantes mais
activos ou mais próximos. Os exemplos nestes últimos quarenta anos são tão
abundantes e constituíram prática tão reiterada que seria fastidioso ter de
enumerar os mais significativos. Recentemente basta lembrar a agressão de um
jornalista em Moreira de Cónegos (facto já caído no esquecimento) e que levou o
presidente do clube, testemunha ocular de tudo o que se passou, a afirmar no
melhor estilo siciliano: “Não há uma única imagem que prove a agressão”. Depois
temos o que se passou no jogo contra o Sporting, findo o encontro, tanto dentro
do campo como nas garagens (episódio, este último, protagonizado por altos
responsáveis do clube). E temos também o espectáculo degradante protagonizado por responsáveis do FCP, tanto dentro do campo (no fim do jogo) como posteriormente, tanto nas televisões como na imprensa, sempre que o clube perde ou empata nas competições domésticas.
É este clima que não dispensa o emprego de meios condenáveis que faz com um acontecimento tão grave como o que aconteceu com a família do treinador não tenha levado imediatamente os responsáveis a uma firme condenação e a um convicto empenhamento na identificação e punição dos autores do crime, mas antes se contentem com aquele comportamento de quem está à margem do acontecido e deixem exclusivamente a cargo das vítimas a defesa da sua integridade física e moral.