PAULO BENTO É TEIMOSO
Como aqui tantas vezes temos dito, Portugal está longe de ter
um lote razoável de jogadores de primeira categoria. Tem poucos, muito poucos,
dificilmente junta onze, e quando tem de indicar vinte e três há vários que
estão muito longe de ter o nível dos melhores.
Esta degradação do valor intrínseco da selecção vem-se
manifestando desde o fim do Euro 2004 e depois muito mais claramente a seguir
ao Mundial de 2006. Não obstante o fraco ponto de partida, a verdade é que
depois daquelas datas a selecção portuguesa de futebol conseguiu estar em todas
as fases finais das grandes competições mundiais e europeias de futebol e passar
em todas elas a fase de grupos. Todavia, com excepção do Euro 2012, tem
sucumbido logo na primeira eliminatória. E também é verdade que desde 2008 não
alcança directamente a fase de grupos, tendo sempre tido necessidade de jogar o
play off para se apurar.
Desta vez, para o Mundial de 2014, se se apurar – e isso está
muito longe de estar garantido – também não será directamente. Não se pode
dizer que exista uma certeza absoluta, mas a probabilidade de isso acontecer é
diminuta. Se essa probabilidade tivesse de se exprimir em percentagem, ela não
iria além dos 5%.
Paulo Bento como qualquer outro seleccionador debate-se com a
dificuldade assinalada – a falta de grandes valores em quantidade suficiente.
Na selecção portuguesa eles não existem, bastando portanto a ausência de dois jogadores
habituais – Meireles e Coentrão – para que a equipa imediatamente se ressinta.
Ressente-se tanto que Cristiano Ronaldo, que em situações normais
está longe de ser na selecção o jogador que é no Real Madrid ou foi no
Manchester United, fica reconduzido à condição de jogador vulgar se a equipa
sofre a falta de dois ou três imprescindíveis. Foi o que se passou nos jogos
contra a Rússia em Moscovo e contra a Irlanda do Norte no Porto. Ronaldo nada fez que o distinguisse. Foi tão
vulgar como os outros. E isso até lhe deveria fazer pensar e depois perceber
quanto ele deve aos jogadores que jogam a seu lado no Real Madrid, como aliás
já devia aos do Manchester. Em vez de andar a dizer que está triste com base em
motivos fúteis, deveria dizer que está muito contente e muito realizado por ter
a seu lado no RM os jogadores que tem. Que olhe para os que tem a seu lado em
Portugal e depois tire as diferenças.
Mas para além desta limitação que ninguém de imediato está em
condições de superar, Paulo Bento ainda agrava mais as coisas com a sua
conhecida “casmurrice” que infelizmente não é prova de forte personalidade mas
de falta de inteligência.
No Euro 2012 Paulo Bento deixou em Portugal jogadores
melhores dos que os que foram. Não muitos, mas alguns. Quis, porém, a sorte que
as coisas lhe tivessem corrido bem e ele sentiu-se muito fortalecido por não
ter “cedido a pressões”. Desta vez fez o mesmo e os resultados estão à vista.
Mas não é só por não ter selecionado os dois ou três
jogadores que inequivocamente teriam lugar no lote dos convocados em vez de
dois ou três que lá não deveriam estar. É também por persistir num modelo
uniforme de jogo qualquer que seja o adversário e o seu modo de jogar.
Iludido com a posse de bola, que ele logo extrapola para
dizer que “fizemos um bom jogo” ou que “não merecíamos perder ou empatar”,
Paulo Bento insiste em jogar sempre da mesma maneira sem sequer atender
convenientemente às características dos jogadores que tem em campo.
Hoje isso foi evidente. Perante uma linha média sem ideias e
sem criatividade, absolutamente incapaz de encontrar uma solução de golo para
os avançados, sem laterais com capacidade para subir nas faixas e com Ronaldo a
desempenhar poucas vezes o papel de extremo, com um ponta de lança que não sabe
jogar sozinho na frente, não era previsível um grande jogo, como não foi, nem
sequer um jogo com algumas oportunidades de golo, que também não houve praticamente
até ao 80 minutos de jogo.
Seguem-se os jogos com Israel (fora e em casa), com a Rússia, o Azabeijão e o
Luxemburgo em casa, e com a Irlanda fora. Muitos jogos, mas tudo vai depender
muito do próximo jogo contra Israel. A selecção tem de ganhar sob pena de até o segundo lugar ficar em risco.
Depois da derrota da Rússia por 1-0, o empate de hoje (1-1)
contra a Irlanda do Norte deixa a selecção em muito má situação. A qualificação
para o Brasil, apesar de ainda faltarem seis jogos está manifestamente em
causa.