QATAR 2022
Sobre este estranho Mundial de Futebol muito haveria que
dizer, desde a sua localização ditada por um “Pacto corruptivo” em que
intervieram um Presidente da República, o Presidente da UEFA e o Presidente da
FIFA, passando pelo coro de de reprovações hipócritas de todos aqueles que
tanto no futebol como nos negócios em geral mantêm e desejam manter estreitas
relações com o Qatar, até às opções do seleccionador nacional, Fernando Santos,
que não sendo de todas as que fez até hoje das mais criticáveis nem por isso
está isento de criticas por ter deixado de fora jogadores que lá deveriam
estar, tanto pelo que trazem à selecção como pela excelente forma em que se
encontram, como é o caso de Renato Sanches e Gonçalo Guedes bem como de
Florentino Luís pela excelente forma em que se encontra dito .
Dito isto, e entrando naquilo que agora mais interessa, que é
o jogo contra o Gana, há dois erros que o seleccionador português não pode
cometer, a saber: Conceder a titularidade a Pepe e a Cristiano Ronaldo.
Embora por razões muito diferentes, nem um nem outro parecem
estar na plenitude das suas capacidades ou sequer na forma minimamente
exigível para um jogo desta responsabilidade.
Pepe teve durante esta época vários problemas, ao que parece
de ordem física, que o impediram de estar ao nível com que terminou a época anterior.
Apesar da idade, Pepe seria um indiscutível se estivesse a jogar normalmente.
Mas não está. Esta época, ou dizendo melhor, esta primeira metade da época apenas
realizou – até perto do fim – um grande jogo: foi contra o Atletico, em Madrid,
apesar de não poder ser inocentado no golo que, nos últimos segundos, ditou a
derrota do Porto.
Depois desse jogo, em que pareceu estar em excelente forma
física, uma lesão, com o seu quê de misterioso, dada a política de sigilo seguida
pelo FC Porto, não mais lhe permitiu voltar a ser o Pepe dos anos anteriores.
No tempo que desde então decorreu, Pepe nas poucas vezes que jogou esteve muito
abaixo do seu normal (como aconteceu contra o Club de Bruges) ou pura e
simplesmente não jogou. E é nesta situação que o seleccionador o convocou para
o Mundial, ou seja, um jogador que nos últimos dois meses não realizou um único
jogo nem, ao que parece, sequer treinou. É por isso muito arriscado pô-lo a
jogar.
O caso de Ronaldo é diferente e sobejamente conhecido. Por razões
que na altura não justificou publicamente, Ronaldo resolveu não fazer a
pré-época no seu clube de então (o Manchester United). Ou seja, não se treinou
nem jogou porque não quis. Mais tarde, quando regressou ao clube e pretendeu
jogar, o treinador achou – e bem – que não estava em condições de o fazer. Depois, nos
diversos jogos em interveio, quer pelo clube quer pela selecção, a sua
prestação foi medíocre, sendo notório que não estava em condições de
corresponder às exigências competitivas das provas em que estava a participar –
a Premier League e a Taçadas Nações – fosse por razões físicas ou de outra ordem,
idade inclusive.
É assim uma grande irresponsabilidade pô-lo a jogar, tanto
pelo prejuízo directo que para a equipa poderia representar a sua titularidade neste
momento como pela previsível reacção de parte dos seus colegas que não estarão
mais na disposição de ver preteridos jogadores que estão em melhor condição,
nem dispostos ao sacrifício suplementar de esforço físico que a opção por Ronaldo lhes acarreta.
Dito isto, já agora avanço com o que seria a equipa que eu
formaria com os jogadores que lá estão, embora à partida saiba que o “onze”
escolhido por Fernando Santos será muito diferente.
Na baliza: não tenho ideia de, na selecção, em
jogos oficiais, alguma vez Rui Patrício ter comprometido a equipa; pelo
contrário, salvou-a muitas vezes com grandes e decisivas defesas, de modo que
seria ele, para mim, o guarda-redes escolhido.
Na defesa: colocaria Cancelo à direita e Raphael Guerreiro à
esquerda; no centro jogariam António Silva e Danilo.
Na linha média: poria Ruben Neves, Bernardo Silva, Bruno
Fernandes e Otávio
Na frente: Gonçalo Ramos e João Félix
Algumas explicações: Diogo Costa é bom guarda-redes, mas já
o vi por mais de uma vez na intercepção dos cruzamentos rasteiros defender a
bola para a frente, o que num torneio deste género pode ser fatal, como se tem
visto (guarda-redes do Senegal , da Alemanha, da Costa Rica, entre outros).
Cancelo é indiscutível e Raphael Guerreiro defende melhor do
que Nuno Mendes, e no ataque perde inúmeras bolas;
portanto, é uma escolha que não oferece nenhuma dúvida.
No centro da defesa, António Silva é melhor do que Ruben Dias
em todos os momentos do jogo: posiciona-se excelentemente, dai que na maior
parte das vezes se limite a antecipar-se sem sequer ter necessidade de
desarmar; mas também desarma bem e tem uma qualidade de passe notável, passa
longo, médio e curto com a mesma facilidade; o passe quase sempre é feito para o
interior do campo possibilitando de imediato um ataque, além de marcar golos e não fazer auto-golos. Para mim, é um indiscutível.
Na linha média, Bernardo Silva (no centro) e Octávio numa ala
são ambos indiscutíveis; Bruno Fernandes e Ruben Neves têm no banco outros
grandes jogadores, mas como estão num bom momento devem ser eles os titulares.
Na frente, estando fora Ronaldo, o melhor ponta de lança, com
forte presença na área e com golo, que nós hoje temos é Gonçalo Ramos. João
Félix, pela genialidade. Com ele em campo pode sempre acontecer qualquer coisa que
mais ninguém faria.
Se alguma coisa estivesse a correr mal ou diferentemente do previsto há um banco
riquíssimo que a todo o momento pode corrigir o que não está a correr bem.