segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

O BENFICA EM QUEDA LIVRE



IMINÊNCIA DE DERROTA EM TODAS AS FRENTES


Académica v Benfica Liga Zon Sagres J20 2011/2012


O Benfica está em queda livre. No plano interno, em duas deslocações, a Guimarães e a Coimbra, perdeu a vantagem que a perda de pontos do Porto lhe havia proporcionado. No plano externo, a derrota de S. Petersburgo não augura nada de muito positivo no jogo da segunda eliminatória.

As causas desta queda livre do Benfica têm de ser exclusivamente imputadas ao treinador. Logo que o Benfica se destacou do Porto e realizou algumas exibições contra adversários menores, muito enaltecidas por alguma crítica, o triunfalismo de Jesus passou a ser evidente.

Impreparado para conviver com o êxito, Jesus toma com muita facilidade a nuvem por Juno, e inicia de imediato um discurso que, além de galvanizar os adversários, acaba também por retirar concentração competitiva à equipa.

Ser vencedor ao mais alto nível implica ter os jogadores em permanente estado de tensão, em fazer-lhes perceber que se pode perder muito rapidamente o que se alcançou se o próximo jogo não for encarado ainda com mais espírito competitivo que o anterior.

Quando Jesus exultava com os feitos do Benfica e exibia, mais por atitudes do que por palavras, um triunfalismo inaceitável e contraproducente, estava, sem o saber, a desmobilizar a equipa.

Um treinador tem de estar permanentemente preocupado com o próximo jogo por mais importante que tenha sido a vitória acabada de alcançar. Não foi essa a mensagem que o treinador passou. E o resultado viu-se.

Pode dizer-se que em Coimbra o Benfica teve algum azar, já que em condições normais a exibição teria sido suficiente para assegurar a vitória. Pode ser que tenha havido algum azar. Mas já não é uma questão de azar que este “azar” tenha acontecido depois de duas derrotas.

Agora o Benfica vai ter de jogar tudo no próximo jogo contra o Porto. Que, ao contrário do que diz Jesus, é para o Benfica um jogo decisivo. Se perder, perderá a Liga. Aliás, as hipóteses de derrota são maiores do que as de vitória. O Porto, curiosamente, apesar de goleado na Liga Europa, chega à Luz psicologicamente mais forte do que o Benfica. É que o Benfica, por força do tal triunfalismo acima referido, já tinha a vitória no campeonato como “favas contadas” e está agora a jogar contra a decepção de o recear perdido. Depois de recuperados cinco pontos em dois jogos (é obra!) e com a lembrança do ano passado a pesar na cabeça dos jogadores benfiquistas, o Porto é um sério candidato à vitória.

Quanto ao resto, o Braga espreita ainda a possibilidade de ser campeão – facto que não depende de terceiros – enquanto o Sporting mantém com o Marítimo uma luta acesa pelo quarto lugar.

O grande clássico Benfica-Porto, na sexta-feira, dois dias depois dos jogos das selecções, é mais uma asneira de Jesus, apenas explicável por à data da sua marcação o treinador do Benfica ter contado com uma diferença pontual de, pelo menos, cinco pontos. Ou seja, mais uma manifestação do tal triunfalismo de que falámos.

Os próximos oito dias são decisivos para o Benfica e para Jorge Jesus. Mais para o Benfica que tem muito mais a perder do que para o treinador, a quem mais duas derrotas só poderiam fazer bem…Supondo que ele ainda está em idade de aprender

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

SPORTING APURADO NA LIGA EUROPA


BRAGA ELIMINADO
Matías Fernandéz abriu a porta dos "oitavos"



Num jogo muito sofrido contra uma equipa fraca, mas muito aguerrida, o Sporting ganhou ao Legia de Varsóvia por 1-0, tendo o golo sido marcado na fase do jogo em que mais dificuldades estava a sentir.

Duas notas sobre a equipa do Sporting: primeira sobre a arbitragem; a segunda sobre a condição física.

Mais uma vez o Sporting teve a sorte de contar com uma arbitragem simpática. Na primeira parte, Polga cortou a bola com a mão dentro da área e o árbitro nada assinalou; na segunda parte, João Pereira derrubou um adversário dentro ou fora da área (pareceu dentro) e o árbitro que poderia ter tomado a decisão mais desfavorável, acabou concedendo o livre sobre a linha.

Situações como esta têm acontecido vezes sem conta ao Sporting esta época, bem como em épocas anteriores. Decisões que tomadas noutro sentido poderiam ter mudado completamente a sorte do jogo.

A outra questão que parece não preocupar os sportinguistas é a quantidade de lesões musculares que afecta a equipa, facto que obviamente tem a ver com a natureza da preparação física ministrada. Desta vez três jogadores tiveram de sair por falta de condição física e o próprio Rui Patrício chegou a ameaçar claudicar numa altura em que já não havia a possibilidade de substituição.

O Sporting acabou ganhando o jogo num livre, marcado por Matias Fernandez, fazendo o  golo que tranquilizou a equipa. O golo que os polacos não foram capazes de marcar.

Que não haja ilusões, todavia. O Sporting está muito longe de ter uma boa equipa, embora seja uma equipa muito voluntariosa e batalhadora. Mas tudo, de um momento para o outro, pode cair se encontrar um adversário valioso que naturalmente o derrote.

Na Turquia, o Braga não resistiu à derrota de há oito dias em casa por 2-0 e acabou sendo eliminado, não obstante a vitória de hoje em Istambul por 1-0. O Besiktas segue em frente.

PORTO GOLEADO EM MANCHESTER



A FRUSTRAÇÃO DE UMA ÉPOCA

O Porto somou a décima sexta derrota na Inglaterra, onde nunca ganhou para uma competição europeia, maldição que se estende ao próprio Pais de Gales no qual o Porto também já foi eliminado pelo Wrexham, na época 1984/85, que hoje milita naquilo a que se poderá chamar a quinta divisão inglesa e que naquela época competia numa divisão inferior.

Esta derrota por 4-0 e a consequente eliminação, depois do afastamento da Champions League, não deixa de constituir um rude golpe desportivo e financeiro para a equipa da Antas que este ano acalentava esperanças de poder disputar com pretensões a prova máxima do futebol europeu.

Com uma equipa praticamente igual à do ano passado, menos Falcao, mas com Iturbe, anunciado pelos responsáveis do Porto como um novo Messi, e sem Villas-Boas, o Porto nunca se conseguiu encontrar como equipa, apesar de no Campeonato manter intactas as possibilidades de vitória.

A enorme legião de comentadores, oficiais e oficiosos, afectos ao Porto passou a época a “chorar” por Falcao tal como há dois anos passara todo o campeonato a carpir a ausência de Lucho, o que não deixa de ser um modo sombrio e até doentio de encarar o futebol moderno, que, como se sabe, não se compadece com esses sentimentalismos. Aliás, Pinto da Costa dizia o ano passado, quando comemorava com auto-suficiência as vitórias da época, que tinha no plantel substitutos para todos os que tinham jogado com mais regularidade, excepto para Hulk.

Ontem, o Porto, além de perder, foi também goleado, o que de resto não é a primeira vez que sucede na Inglaterra. E não deixa de ser ridículo que perante uma tão grande diferença exibicional entre as duas equipas, traduzida numa eficácia de competência, alguns responsáveis do Porto e comentadores continuem a afirmar que o Porto até não jogou mal, só que não soube… (fazer isto ou aquilo).

De facto, não foi nada disso o que se passou. Tanto no Porto como em Manchester, o City foi sempre muito mais equipa em todos os domínios, essa a razão por que venceu a eliminatória por 6-1!

Com esta derrota fica também manchada a famosa competência técnica de Pinto da Costa, responsabilizado pelos adeptos pelas escolhas desastrosas e arrogantes em matéria de equipa técnica, considerada culpada pela má época europeia do Porto.

Mas, a ser assim, fica também demonstrado que afinal a “estrutura” do Porto não é aquela tal máquina oleada capaz de suportar qualquer andamento. Pelo contrário, o que a presente época do Porto revela é que nenhuma destas grandes equipas dos pequenos países tem condições para manter, contrariados, os grandes jogadores que aspiram, depois das vitórias alcançadas, por grandes contratos nas equipas ricas do futebol europeu.

O Porto de há uns anos, constituído por um núcleo forte de jogadores portugueses, muitos deles da área geográfica do clube, ainda poderia ter a pretensão de manter a equipa coesa face à “ameaça” externa. Mas hoje tudo mudou. Mais correctamente: tudo começou mudar na segunda época de Mourinho no Porto. É nessa altura que se altera definitivamente a “estrutura” do plantel do Porto. Os jogadores ou são estrangeiros ou, se são portugueses, são do sul, não tendo sequer alguns deles qualquer problema em não se identificarem afectivamente com o clube.

Ainda está para se saber como vai o Porto “digerir” esta mudança. Para uma equipa que assentou, pelo menos desde que Pinto da Costa lá está (há décadas), no “bairrismo” agressivo e xenófobo a sua força, que sentido faz para um colombiano ou peruano esta conversa? Ou seja, o Porto também vai ter de se reconverter. Vai ter de ser um clube igual aos outros. O que se está a passar este ano é uma boa ajuda…

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

O BENFICA EM QUEBRA



RESISTIRÁ O BENFICA AO INVERNO?
Aimar entre Leonel Olímpio e Paulo Sérgio (foto AP)



Depois da derrota em S. Petersburgo, contra o Zénite, em condições que logo levantaram dúvidas quanto à real capacidade da equipa no presente momento da época, o Benfica voltou a claudicar, desta vez no Campeonato Nacional, perdendo em Guimarães por 1-0.

Já não a primeira vez que a equipa comandada por Jorge Jesus soçobra no momento crucial da época. Sucedeu assim o ano passado: depois de um começo para esquecer, o Benfica reequilibrou-se, mas voltou a cair na parte decisiva da época. E mesmo no ano em que foi campeão com Jesus ninguém poderá esquecer o desastre de Anfield Road, ocorrido num período em que o Liverpool já tinha mergulhado na crise em que ainda se encontra.

Mas se no ano passado ainda poderia haver uma pequena justificação para o que sucedeu, dada a exiguidade do plantel e a ausência de grandes nomes no banco, coisa que este ano não poderá servir de desculpa já que o Benfica reuniu na sua equipa um dos melhores planteis da sua história centenária.

Há quem fale na ausência de Javi Garcia para justificar as derrotas e até diga que as três derrotas oficiais do Benfica aconteceram em jogos em que o espanhol não jogou. Por maiores que sejam os méritos de Javi, e certamente são pelo extraordinário equilíbrio que assegura à equipa, nenhum conjunto poderá ficar prisioneiro da ausência de um jogador.

O problema tem mais a ver com a situação em que a equipa se encontra: a incapacidade demonstrada nos dois últimos jogos de criar verdadeiras oportunidades de golo e a fragilidade defensiva. Na Rússia os golos marcados foram mais demérito do adversário, nomeadamente do guarda-redes, do que mérito do Benfica. E os golos sofridos, com excepção de um, foram nos dois jogos resultantes de erros defensivos.

Nos próximos três jogos se decidirá o futuro do Benfica este ano nas provas em que ainda está e que  verdadeiramente interessam: o campeonato e a Liga dos Campeões. Os jogos de Coimbra e contra o Porto na Luz serão decisivos. Um Benfica normal, sem quebras, tinha todas as condições para levar de vencida os dois encontros. A Académica há muito entrou em crise e o Porto, não obstante o ambiente dos grandes jogos, continua muito longe da equipa que foi o ano passado, como nestes últimos oito dias se viu nos jogos contra o City e contra o Setúbal.

Na Liga dos Campeões, se é certo que ninguém poderá exigir ao Benfica que vença todos os encontros, também não é aceitável que seja eliminado pelo Zénite de S. Petersburgo, cuja equipa é inferior. Mas vai ser muito difícil ao Benfica superar na Luz a desvantagem contra a equipa treinada por Spalletti.

Depois da derrota do Benfica, Porto e Braga ficaram mais perto. E o Sporting mais feliz, já que o grau de felicidade de uma grande parte os seus adeptos não se mede pelas vitórias da sua equipa, mas pelas derrotas do Benfica (ver, por exemplo, a efusiva alegria do inconfundível E. Barroso).

A propósito: o Sporting continua apostado em fazer da arbitragem o bode expiatório dos seus inúmeros desaires. Depois do que se tem passado este ano, depois inclusive da forma como a equipa assegurou a presença na final da Taça de Portugal, não deixa de ser caricato e totalmente desprovido de pudor o longo protesto enviado à comissão de arbitragem após o jogo contra o Paços de Ferreira.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

BENFICA PERDE EM S. PETERSBURGO



DERROTA COMPROMETEDORA
Shirókov corrige a Zhevnov en medio del intenso frío


Num tereno impróprio para a prática do futebol, o Benfica perdeu em S. Petersburgo, contra o Zenit, por 3-2.

A invocação do estado do terreno, igual para as duas equipas, não serve obviamente de desculpa, mas é inaceitável que a UEFA tão frequentemente exigente a despropósito permita que uma das provas máximas do calendário futebolístico mundial se possa jogar num campo sem relva. Não é somente a temperatura exterior que é inaceitável para a prática do futebol, é também o pretenso relvado - uma vergonha.

Se a UEFA quer manter os jogos na Rússia e noutros países em Fevereiro terá de alterar os regulamentos e exiir que tais jogos se realizem em recintos fechados e em relava artificial. Assim, como se jogou hoje, não é admissível.

Mas sabe-se como é o futebol internacional. Sabe-se como actuam a FIFA e a UEFA. O que não se sabe nem se compreende é por que tanto uma como outra podem actuar com tanta impunidade.

Mas vamos ao jogo. Desde o início ficou claro que o Benfica iria privilegiar um tipo de jogo – futebol directo e muito físico – que nada tem a ver com o modo como habitualmente joga. O Zenit, pelo contrário, manteve o seu estilo habitual. Começou rápido e aproximou-se da área do Benfica várias vezes com relativa facilidade. O Benfica não conseguia ligar o jogo. Na frente, Cardozo e Rodrigo não conseguiam segurar a bola e Bruno César também não estava a ser o jogador que o Benfica precisava. Apenas Gaitan ia dando sinais da sua classe em jogadas individuais.

Quando o jogo parecia assentar, uma entrada brutal de Bruno Alves – um verdadeiro animal – colocou Rodrigo fora do campo, provavelmente com uma lesão grave. Quase a pedido, o árbitro deu-lhe o amarelo, quando pura e simplesmente o deveria ter expulsado. Na RTP, o incrível Tadeia não tem uma palavra sobre a entrada assassina do ex-jogador do Porto. Apenas finge apenas preocupação com a lesão de Rodrigo. O brasileiro ainda regressou, inferiorizado, mas apenas para dar tempo a Aimar de fazer um aquecimento conveniente.

Com a entrada de Aimar o jogo do Benfica até melhorou. Passou a haver ordem no meio campo e outra ligação entre os sectores.

E é na sequência de uma falta marcada por Cardozo que o Benfica marcou o primeiro golo, por intermédio de Maxi Pereira. O guarda-redes russo defendeu para a frente e Maxi, mais rápido, fez a recarga vitoriosa.

O Zenit reagiu logo a seguir em força. Pressionou de imediato o Benfica e numa boa jogada de ataque empatou com um bom golo, num remate de primeira de Shirokov que não deixou tempo de reacção a Artur.

Após o golo, a pressão do Zenit abrandou, mas o Benfica não se prevaleceu desse abrandamento. O empate servia e assim se foi para o intervalo.

Além do que já foi dito, notou-se alguma dificuldade em Luisão se adaptar às condições do jogo, contrariamente a Garay e Maxi que estiveram sempre em grande nível, principalmente Maxi que fez uma excelente primeira parte.

No segundo tempo o Benfica equilibrou o jogo e até deu a sensação de que tudo poderia terminar num empate a um golo. Mas eis que numa brilhante jogada o Zenit marca o segundo aos 71 minutos por Semak. E o pior esteve para acontecer logo a seguir: por muito pouco o Zenit não voltou a marcar logo a seguir.

Entretanto, numa jogada inofensiva – uma disputa de bola aérea perto da área – Aimar é punido com um amarelo e falha o segundo jogo, na Luz. O árbitro, brando com Bruno Alves, foi agora excessivamente rigoroso com Aimar, que aparentemente nada fez para merecer o amarelo. Até Tadeia concorda com esta observação…

Perto do fim do jogo, aos 88 minutos o Benfica empatou por intermédio de Cardozo. Mas quase não deu para festejar, já que no minuto seguinte Shirokov marca pela segunda vez, desfazendo a igualdade.

É a segunda derrota do Benfica esta época e a primeira na Liga dos Campeões. Aparentemente uma derrota por 3-2 fora de casa numa eliminatória não é grave. Marcar dois golos fora dá sempre alguma margem de recuperação. O pior é que o Benfica sofreu três golos em condições não muito aceitáveis, principalmente o primeiro e o terceiro e os dois que marcou eram perfeitamente evitáveis com outro guarda-redes. E é isso que leva a que o jogo da segunda volta tenha de ser encarado com alguma preocupação. O Zenit já demonstrou que sabe defender bem, como fez no Porto, e atacar com muita rapidez.

Com o empate a dois o Benfica teria a eliminatória praticamente garantida. Derrotado, nem que seja pela margem mínima, tudo se complica pelo diferente tipo de jogo que o Zenit irá pôr em prática na Luz, certamente muito diferente do que poria se tivesse empatado.


terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

QUEM MANDA NO SPORTING?



DOMINGOS DESPEDIDO

Depois da derrota na Madeira, frente ao Marítimo, o Sporting despediu o treinador contratado por dois anos, poucas horas depois de o presidente do clube ter garantido à comunicação social que Domingos continuaria ao serviço do Sporting. Embora no Sporting já nada se estranhe e tudo pareça possível, não deixa de ser intrigante o modo como tudo se passou.

Quem está de fora e se limita a acompanhar pela comunicação social as declarações dos responsáveis do clube – responsáveis é um modo de falar … - e dos comentadores desportivos oficiais e oficiosos que o Sporting tem espalhados por toda a comunicação social fica com a ideia de que há dentro do clube forças fácticas relativamente organizadas, unidas por vínculos de fanatismo clubista, que, em momentos de crise mais intensa, podem facilmente ser empurradas para a frente com vista à prossecução imediatista de certos objectivos sem qualquer avaliação prévia da sua factibilidade e, portanto, capazes de pôr em causa qualquer esboço de estratégia que estivesse a ser ensaiada.

O Sporting como clube que nunca se adaptou à modernidade continua prisioneiro de pessoas que têm uma visão passadista do futebol sem que do lado da massa associativa surja alguém, alguma força, capaz de impor uma outra visão das coisas. Pelo contrário, as teses amplamente difundidas pelos responsáveis e comentadores acabam por criar na base desportiva de apoio do clube uma visão ainda mais retrógrada do que a dos supostos responsáveis.

Todos estes problemas estruturais se agravam nos anos de maior êxito do Benfica. Nesses períodos o clube fica possesso de uma fúria sectária que o leva aos maiores erros com graves repercussões nos planos desportivo e financeiro que gradual e consolidadamente repetidos vão pondo em causa a sua própria existência ou, pelo menos, de clube com o estatuto que ainda tem no futebol português.

A substituição apressada de Domingos por Sá Pinto ocorreu depois de uns quantos elementos da claque afecta ao antigo futebolista ter manifestado no aeroporto de Lisboa o seu desagrado pelo treinador após o regresso da equipa da Madeira.

Como no Sporting ninguém se pergunta por que razão tantos e tão variados treinadores têm falhado, não é de admirar que mais uma vez se espere do novo técnico o remédio para os males de que o clube padece. Só que desta vez o remédio foi encontrado no seio dos próprios males que corroem o clube. Sá Pinto não tem como treinador nenhum atributo que o qualifique para a função. Mas como é um grande sportinguista com provas dadas no pugilismo tentará com base nos seus recursos fazer pelo Sporting o que os sectores mais radicais do clube gostariam que já tivesse sido feito.

Se Sá Pinto falhar, o Sporting ainda poderá recorrer a Eduardo Barroso, outro grande sportinguista, que tem a seu favor a superior capacidade de motivação dos adeptos – e, quem sabe, dos jogadores - fazendo-lhes crer que, no ano de Domingos, o Sporting até poderia ter sido campeão se não tivesse sido roubado pelos árbitros. Depois deste, se também falhar, é que já vai ser mais difícil encontrar substituto, pois não parece nada provável que Dias Ferreira ou Oliveira e Costa, principalmente este, estejam na disposição de o substituir.