DOMINGOS DESPEDIDO
Depois da derrota na Madeira, frente ao Marítimo, o Sporting despediu o treinador contratado por dois anos, poucas horas depois de o presidente do clube ter garantido à comunicação social que Domingos continuaria ao serviço do Sporting. Embora no Sporting já nada se estranhe e tudo pareça possível, não deixa de ser intrigante o modo como tudo se passou.
Quem está de fora e se limita a acompanhar pela comunicação social as declarações dos responsáveis do clube – responsáveis é um modo de falar … - e dos comentadores desportivos oficiais e oficiosos que o Sporting tem espalhados por toda a comunicação social fica com a ideia de que há dentro do clube forças fácticas relativamente organizadas, unidas por vínculos de fanatismo clubista, que, em momentos de crise mais intensa, podem facilmente ser empurradas para a frente com vista à prossecução imediatista de certos objectivos sem qualquer avaliação prévia da sua factibilidade e, portanto, capazes de pôr em causa qualquer esboço de estratégia que estivesse a ser ensaiada.
O Sporting como clube que nunca se adaptou à modernidade continua prisioneiro de pessoas que têm uma visão passadista do futebol sem que do lado da massa associativa surja alguém, alguma força, capaz de impor uma outra visão das coisas. Pelo contrário, as teses amplamente difundidas pelos responsáveis e comentadores acabam por criar na base desportiva de apoio do clube uma visão ainda mais retrógrada do que a dos supostos responsáveis.
Todos estes problemas estruturais se agravam nos anos de maior êxito do Benfica. Nesses períodos o clube fica possesso de uma fúria sectária que o leva aos maiores erros com graves repercussões nos planos desportivo e financeiro que gradual e consolidadamente repetidos vão pondo em causa a sua própria existência ou, pelo menos, de clube com o estatuto que ainda tem no futebol português.
A substituição apressada de Domingos por Sá Pinto ocorreu depois de uns quantos elementos da claque afecta ao antigo futebolista ter manifestado no aeroporto de Lisboa o seu desagrado pelo treinador após o regresso da equipa da Madeira.
Como no Sporting ninguém se pergunta por que razão tantos e tão variados treinadores têm falhado, não é de admirar que mais uma vez se espere do novo técnico o remédio para os males de que o clube padece. Só que desta vez o remédio foi encontrado no seio dos próprios males que corroem o clube. Sá Pinto não tem como treinador nenhum atributo que o qualifique para a função. Mas como é um grande sportinguista com provas dadas no pugilismo tentará com base nos seus recursos fazer pelo Sporting o que os sectores mais radicais do clube gostariam que já tivesse sido feito.
Se Sá Pinto falhar, o Sporting ainda poderá recorrer a Eduardo Barroso, outro grande sportinguista, que tem a seu favor a superior capacidade de motivação dos adeptos – e, quem sabe, dos jogadores - fazendo-lhes crer que, no ano de Domingos, o Sporting até poderia ter sido campeão se não tivesse sido roubado pelos árbitros. Depois deste, se também falhar, é que já vai ser mais difícil encontrar substituto, pois não parece nada provável que Dias Ferreira ou Oliveira e Costa, principalmente este, estejam na disposição de o substituir.
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