AS TÁCTICAS DE JESUS
O Benfica venceu esta noite o Spartak de Moscovo por 2-0 com
golos de Cardozo. Esta vitória pode constituir um passo importante para o
acesso à Liga Europa (a segunda divisão europeia), mas dificilmente contribuirá
para a passagem aos quartos de final da Liga dos Campeões.
Jesus diz que o Benfica está a fazer um percurso dentro da
normalidade. O treinador do Benfica acha que, em quatro jogos, perder um em
casa e ganhar outro e empatar fora um jogo e perder outro é um percurso normal.
É de facto espantoso que tal afirmação tenha sido feita. O que Jorge Jesus não disse
é que ele neste percurso não estava a contar apenas com o resultado dos jogos
do Benfica, mas também com o resultado dos outros jogos, nomeadamente com
os resultados do Barcelona.
E é exactamente por ter entrado em linha de conta com o que
não dependia dele que o Benfica está agora na situação de praticamente ter
perdido o apuramento para os oitavos de final. O Benfica tinha obrigação de
ganhar em Moscovo se queria concorrer directamente com o Celtic para aquele apuramento.
Foi isso que o Celtic fez: contou apenas consigo, ganhando em Moscovo e
ganhando hoje ao Barcelona.
Para que o Benfica se apurasse seria necessário ganhar ao
Celtic e esperar que o Spartak vá a Glasgow ganhar, já que não parece nada
provável que o Barcelona perca o último jogo contra o Benfica, quer, nessa
altura, esteja ou não apurado.
E não parece nada provável, porque dos três adversários do
Barcelona, o Benfica foi o que menos dificuldades lhe levantou. O Spartak
marcou dois golos em Camp Nou, esteve a ganhar, e foi com muita dificuldade que
o Barcelona virou o resultado. O mesmo se diga do Celtic, que em Barcelona também
perdeu pela margem mínima, mesmo no fim do jogo e que hoje na Escócia ganhou
por idêntico resultado. O Benfica, pelo contrário, no jogo contra o Barcelona
andou o tempo todo a correr atrás da bola.
Bem, no jogo desta noite o Benfica terminou a primeira parte
empatado a zero com uma dupla atacante – Lima e Rodrigo – pouco produtiva e com
um Sálvio manifestamente desinspirado e um Ola John com muito pouco jogo.
Na segunda parte tudo mudou: Cardozo entrou para o lugar de Rodrigo
e pouco depois marcou um golo. Um golo que o árbitro anulou indevidamente.
Fá-lo-ia a seguir por duas vezes e ainda poderia ter marcado mais se não tivesse
falhado um penalty e desperdiçado duas oportunidades.
A justificação de Jesus para não ter metido Cardozo de início
– Cardozo o melhor marcador da equipa – é caricata e só serve para demonstrar que o treinador
do Benfica não respeita o espectador. Dizer que Rodrigo jogou para inviabilizar
a construção ofensiva do Spartak é uma rematada mentira, como qualquer pessoa
que reveja o jogo facilmente constatará. O que se passa é que Jesus errou como
tantas vezes tem acontecido por não olhar para os jogos e para os jogadores com
objectividade, antes se fiando em "fèzadas" ou em qualquer outra irracionalidade.
Haja em vista o que se passa com Ola John, um extremo
excepcional, elegante, criativo, jogando para a equipa e que o Jesus ainda não
tinha posto a jogar por razões puramente subjectivas, ou seja, por razões que
nada tem a ver com o rendimento do jogador. Assim como não se compreende a
insistência em Salvio durante o jogo todo, em detrimento de Gaitan, quando toda
a gente vê que Salvio não está em forma há muito mais de um mês, o mesmo se
passando com Maxi que está criando problemas contínuos à defesa do Benfica.
Em resumo: o Benfica ganhou bem, embora no primeiro tempo
tenha jogado pouco. Teve na segunda parte várias oportunidades, mas vê-se que é
uma equipa com fragilidades. Portanto, a classificação na Champions está em linha
com a sua real valia. O Benfica tem uma equipa que para as lides internas tem sido, para
já, suficiente para levar de vencida as dificuldades que tem encontrado, mas que no plano internacional fica àquem do desejável.
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