O BENFICA TEM UM GRANDE
PLANTEL
Já se percebeu que há na comunicação social, em certa
comunicação social, uma campanha orquestrada para responsabilizar a direcção do
Benfica, ou mais concretamente Vieira, pelos maus resultados do clube em
todos os jogos importantes disputados esta época, a saber: Sporting, Zénite,
Bayer de Leverkusen, Mónaco e Braga.
A “música” desses comentadores é conhecida: o plantel do
Benfica é mais pobre que o do ano passado e Jorge Jesus por muito bom que seja
não pode fazer milagres. Esta tese é completamente falsa nas suas premissas e conclusões.
Em primeiro lugar, o plantel do Benfica não é pobre. É, pelo
contrário, um plantel fortíssimo. Acontece apenas que o ano passado ainda era
mais forte, a ponto de se poder dizer que era um dos melhores da Europa. Apesar disso, nem a fase de grupos da Liga dos Campeões passou…a jogar ainda com
Matic! Como noutro post já dissemos, do ano passado para este ano as baixas que
não foram colmatadas por jogadores de igual valia foram apenas as de Garay e Markovic.
Em segundo lugar, Jesus não faz milagres. Muito pelo
contrário até se dá o caso de perder várias competições com excelente plantel.
Já perdeu dois campeonatos para um Porto com um plantel manifestamente
inferior, uma Taça da Europa para o Sevilha e falhar vários apuramentos da fase
grupos da Liga dos Campeões.
O problema do Benfica é outro e não tem nada a ver com o
plantel, mas antes com o treinador.
Explicando melhor: o Benfica ao longo destes últimos cinco
anos (a caminho dos seis…) tem tido um futebol empolgante contra equipas mais
fracas ou contra equipa relativamente mal organizadas. Mas sempre que defronta
uma equipa da mesma envergadura técnica, as fragilidades tácticas do Benfica
vêm rapidamente ao de cima. E então acontecem golos como os sofridos esta época
contra o Zenite, contra o Bayer, contra o Braga, o mesmo se tendo passado nas
épocas anteriores.
O Benfica é uma equipa excessivamente lançada para o ataque,
que não sabe defender com bola, nem impor vários ritmos de jogo consoante as
necessidades e as características do adversário. É sempre uma equipa de tudo ou
nada, mal estruturada no meio-campo, de modo que quando perde a bola numa acção
ofensiva corre sempre o risco de passar por uma grande dificuldade, dificuldade que se
transforma em golo sempre que o adversário tem argumentos suficientes para não
falhar.
Culpar Samaris pelo que se está a passar é de uma grande desonestidade.
Samaris não tem características para jogar com a missão que Jesus lhe atribui.
Nem vai ter, mas não deixa, por isso, de ser um excelente jogador. A culpa do insucesso
do Benfica nos jogos grandes não é deste ou daquele jogador: é do treinador que tem uma visão imutável do
sistema de jogo quaisquer que sejam os jogadores do plantel.
Um treinador inteligente, que não seja de pensamento
quadrado, tem que dar ao Benfica mais estabilidade defensiva no meio campo (em
vez de ter dois jogadores um à frente do outro terá de ter dois a par) e tem
que saber acelerar o jogo apenas pela certa e não sempre que a equipa tem a
bola nos pés. Por outras palavras, fazer o que está a fazer Ancelotti (que, sem
ofensa, se encontra a anos luz de Jesus), ou seja, ter a bola, fazer o
adversário correr atrás dela, e só acelerar pela certa. O recente jogo do Real
Madrid contra o Barcelona é um jogo que Jesus deveria analisar sem preconceitos
e talvez, se perceber o que se passou ou se quiser perceber, tire desse jogo
bons ensinamentos para o Benfica.
O Benfica ainda está a tempo de inverter o que já parece
inevitável. Parece, mas não é, porque no futebol a inevitabilidade só ocorre
quando os jogadores não têm classe. O que não é o caso. Quem tem de mostrar que
é ainda capaz de inverter o caminho é Jesus, mudando. Se não mudar, vai voltar
a perder.
E como nos dias de hoje o futebol é um grande e arriscado
negócio, essa questão da inteira e completa liberdade do treinador é coisa que
já não se justifica. Ou seja, o treinador tem de ter autonomia técnico-táctica,
mas se repetidamente falha por força dos mesmos erros alguém terá de o obrigar a
corrigir o que ele, de livre vontade, não parece disposto a fazer.