Por muito que Jorge Jesus se esforce por tentar convencer os
seus ouvintes de que os méritos do Benfica são exclusivamente seus e os
deméritos imputáveis aos jogadores que ainda não apreenderam "os momentos do jogo”,
ninguém na imprensa nacional e internacional se deixa seduzir pelas palavras
do treinador do Benfica.
Lê-se a imprensa nacional e internacional desta quarta-feira
e há unanimidade nas manchetes e no desenvolvimento das notícias: Talisca foi o
homem do jogo e perfila-se como a grande revelação do futebol europeu desta
época, apesar de a exibição do Benfica ter ficado aquém do exigível.
De facto, algumas das declarações proferidas por Jorge Jesus
logo após o fim do jogo e um pouco mais tarde na conferência de imprensa parecem incompreensíveis.
Desde logo, a que que classifica a vitória como indiscutível.
O Benfica ganhou como poderia ter ganho o Mónaco, sendo certo que o resultado
que melhor se ajustava ao jogo praticado por ambas as equipas era o empate. O
Benfica esteve melhor nos primeiros vinte e cinco minutos, ou mesmo em
toda a primeira parte durante a qual desfrutou de duas boas oportunidades de golo e o
Mónaco esteve melhor na primeira meia-hora da segunda parte, a ponto de poder
ter marcado por mais de uma vez, tendo o jogo começado a ficar equilibrado
apenas um pouco antes do golo de Talisca. Aliás, na primeira parte, o Mónaco
acercou-se por duas vezes com perigo da baliza de Júlio César tendo valido ao
Benfica duas boas defesas do experiente guardião brasileiro, embora numa delas –
soube-se depois do remate – houvesse fora de jogo.
Também não se compreende por que razão Jorge Jesus sente necessidade de
apoucar as exibições de Talisca e de Júlio César não lhes atribuindo o devido
relevo. Uma coisa é dizer que a equipa vale pelo seu todo e que as exibições individuais
se valorizam nesse contexto. Outra ,bem diferente ,é não querer reconhecer quem
foi decisivo. E no jogo de ontem se houve na equipa do Benfica jogadores
decisivos, eles foram, inequivocamente, Talisca pelo golo, Júlio César,pelas
três extraordinárias defesas que realizou, apesar da irregularidade do lance
numa delas, Luisão pelo acerto e classe com que defendeu e comandou toda defesa,
e Maxi pela sua inesgotável vontade de lutar para vencer.
Dizer que houve jogadores que nunca tinham alinhado na Champions
e que ainda não dominavam os “momentos do jogo” só pode rigorosamente
referir-se a Derley, que não jogou nem pior nem melhor do que costuma jogar nas
provas nacionais e até teve o mérito de ter feito a assistência para o golo de
Talisca e, quando muito, também a este, apesar de já ter jogado, no cômputo
geral, mais do que um jogo. Nomeações injustas, principalmente a de Talisca, já
que foi ele que acertou mais passes (e quase todos longos) e um dos que menos
passes falhou, não tendo nunca comprometido.
Para além das habituais debilidades tácticas do Benfica, que
deixa este ano “partir o jogo” com grande frequência, independentemente do
valor do adversário, o Benfica pode queixar-se da noite não de Sálvio (nada lhe
saía bem, desde logo o falhanço da primeira grande oportunidade de golo), da
apatia de Enzo Pérez, uma sombra do jogador das duas últimas épocas, da
incapacidade de André Almeida fazer o lugar de defesa esquerdo (vai ser um
problema nos dois jogos que ai vêm), da falta de brilho do genial Gaitan e de
Samaris continuar a jogar num lugar que não é o seu por teimosia de Jorge
Jesus.
Contrariamente ao que muitos benfiquistas supõem, a próxima
saída de Enzo em Janeiro não representará um grave prejuízo para a equipa. Enzo
está claramente com a cabeça noutro lado, gostava de ter sido transferido, não
tendo a permanência no Benfica contra sua vontade sido benéfica para ninguém.
Se Enzo sair dentro de dois meses, o meio campo do Benfica ficará melhor do que
está hoje, pois Samaris, que é um grande jogador, será capaz de desempenhar
esse lugar muitíssimo melhor do que aquele que agora Jesus erradamente lhe
atribui. E no lugar dele jogará ou Fejsa ou Ruben Amorim qualquer um deles mais
capacitado para a função.
Em conclusão: o jogo de ontem demonstrou que o Benfica vai
ter muita dificuldade em passar a fase de grupos, tudo dependendo, inclusiva a
participação na Liga Europa, da questão de saber até onde irá o percurso
descendente do Zénite.
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