quinta-feira, 29 de outubro de 2015

O MOMENTO DO BENFICA




UM CLUBE À DERIVA?



O Benfica vive um momento complicado. O momento não é complicado porque o Benfica soma derrotas. É o contrário, o Benfica soma derrotas porque o momento é complicado.

Começando pelo treinador, que nunca é o fundamental, embora possa sempre disfarçar muitas coisas. Para qualquer observador atento, que não se deixe intoxicar pela contra-informação nem pela poluição dos comentadores, parece quase evidente que Jesus gostaria de continuar no Benfica (muito provavelmente só trocaria o Benfica por um grande clube europeu…para o qual muito dificilmente iria ou irá) e que o Benfica, ou seja Luís Filipe Vieira, não queria continuar com Jesus, embora também não quisesse que ele fosse para o Porto ou para o Sporting.

Por que não queria Vieira Jesus no Benfica? Seria muito fácil dizer que não o queria porque tencionava mudar de projecto – dar mais relevo à formação – e que Jesus não era a pessoa adequada para essa nova fase da vida do Benfica. A verdade é que esta tese não convence ninguém. Se Jesus ficasse teria de se adaptar ao que existisse como noutras ocasiões já teve de fazer.

O que parece mais provável é que Vieira, que deu a mão a Jesus quando ele claudicou durante três anos, dois deles com os melhores plantéis da história do Benfica, não viu esse gesto retribuído por Jesus na hora da vitória. Na hora da vitória, Jesus, ególatra como sempre foi, recolheu todos os louros e fez ostensiva questão de os não dividir com ninguém. Se Jesus até dos jogadores se esqueceu, como iria recordar-se de Vieira? Vieira não gostou e cedo, na época de 2014/15, traçou o destino de Jorge Jesus, aliás facilitado pela lamentável participação na Liga dos Campeões.

Era óbvio que Vieira queria estar no pedestal com Jesus, como se viu no início da época em curso quando convidou a SIC N para fazer uma extensa reportagem sobre a vida interna do Benfica toda ela destinada a demonstrar que sem o que ele tinha feito no Benfica Jesus não seria nada!

Esta parece ser a razão de fundo da saída de Jesus do Benfica. E Jesus percebeu no decurso da última época que não era desejado no Benfica, tendo resolvido tratar da vida de uma forma vingativa já que também não conseguia alcançar os lugares onde tinha a pretensão chegar. Como o Porto já estava servido, foi para o Sporting que era depois do Porto o lugar onde poderia causar mais mossa ao Benfica.

Mas vê-se pelas constantes intervenções de Jesus que o Benfica ainda não saiu da sua cabeça. Jesus não esqueceu o Benfica nem muito provavelmente o esquecerá tão cedo, embora esteja empenhadíssimo em demonstrar que sem ele o Benfica não teria chegado onde chegou. Essa a única razão das constantes farpas que vai mandando e que só não incomodam os adeptos do Sporting e a sua direcção porque estão ambos completamente subjugados pelo fascínio de Jesus, apesar de isto que Jesus vem fazendo mais não seja do que uma constante depreciação do valor do Sporting como instituição.

Jesus também tem razão quando afirma que a chamada “estrutura” do Benfica – tão elogiada pelos dependentes de Vieira que falam na televisão – não percebe nada de futebol. Os anos de Vieira à frente do Benfica, quer como dirigente do futebol quer como presidente, demonstram isso mesmo. Não está em causa o que Vieira tem feito pelo clube noutros domínios, o que agora se discute são as asneiras sucessivas que tem feito à frente do futebol do Benfica.

Daqui também não se pode depreender que Jesus fez tudo bem feito nos seis anos que esteve no clube. Não, não fez. Jesus cometeu muitas asneiras e aprendeu com os muitos erros que cometeu e com os milhões que gastou. Não aprendeu tudo o que devia – a sua fragilidade nas competições internacionais é por demais evidente – mas aprendeu bastante. É hoje muito melhor do que quando chegou ao Benfica. Só que esse conhecimento que ele adquiriu à custa das muitas asneiras que cometeu e dos milhões que esbanjou levou-o para o Sporting.

O Benfica tem-se revelado sem Jorge Jesus um clube instável. Desde logo porque o novo treinador, embora seja uma excelente pessoa, não é manifestamente o treinador que o Benfica necessita. Depois, consequência da saída atabalhoada de Jesus, a equipa do Benfica tem fragilidades perigosas que fatalmente vão relegar o clube este ano para um lugar muito diferente dos que ocupou nos últimos anos.

Sem querer entrar em muitos pormenores, o Benfica tem uma defesa muito velha, ao que parece sem substitutos, tem um meio campo muito deficiente – Aimar e Enzo Pérez nunca foram substituídos – e está à procura de entrosamento no ataque que até à data se tem resumido a isto: ou Gaitan deslumbra e então tudo corre bem ou Gaitan não consegue ser genial todos os jogos e , quando não é, ninguém se entende.

Quanto às polémicas em que o Benfica se meteu ou se deixou envolver, há que dizer que a acção posta contra Jorge Jesus é uma rematada asneira, as hipóteses de êxito são muito remotas (e muito circunscritas a uma única situação) e só serve para tentar confundir os adeptos. Isto não quer dizer que o comportamento de Jesus tenha sido exemplar. Não foi. Mas exactamente por não ter sido é que o Benfica tinha um excelente pretexto para negociar um acordo, que era o que deveria ter feito se estivesse bem aconselhado.

Quanto às guerras do Presidente do Sporting, o Benfica deu o pior flanco que poderia ter dado. Embora as prendas aos árbitros não tenham qualquer relevância disciplinar e, muito menos, criminal, a verdade é que o Benfica exagerou na dádiva de vouchers para jantares. Não interessa o que a UEFA diz sobre o assunto, porque somente o vigarista da verdade desportiva é que ainda não percebeu, ou fez que não percebeu, que o código de ética dos árbitros é um código que apenas obriga os árbitros, não os clubes. É como o código de ética dos jornalistas. Também só obriga os jornalistas. Não obriga os que com eles contactam! É espantoso que os jornalistas ainda não tenham percebido isto. Ou melhor, percebe-se que não tenham percebido, porque a maior parte dos jornalistas desportivos não tem ética nenhuma!

Concluindo de uma forma que os benfiquistas não gostam: o Benfica vai disputar o terceiro lugar do campeonato com o Braga e o Rio ave, se é que não vai ficar mais atrás, e quanto à Liga dos Campeões seria um enorme êxito se chegasse aos oitavos de final…o que também parece muito difícil de alcançar…




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