UM CLUBE À DERIVA?
O Benfica vive um momento complicado. O momento não é
complicado porque o Benfica soma derrotas. É o contrário, o Benfica soma
derrotas porque o momento é complicado.
Começando pelo treinador, que nunca é o fundamental, embora
possa sempre disfarçar muitas coisas. Para qualquer observador atento, que não
se deixe intoxicar pela contra-informação nem pela poluição dos comentadores, parece
quase evidente que Jesus gostaria de continuar no Benfica (muito provavelmente só
trocaria o Benfica por um grande clube europeu…para o qual muito dificilmente
iria ou irá) e que o Benfica, ou seja Luís Filipe Vieira, não queria continuar
com Jesus, embora também não quisesse que ele fosse para o Porto ou para o
Sporting.
Por que não queria Vieira Jesus no Benfica? Seria muito fácil
dizer que não o queria porque tencionava mudar de projecto – dar mais relevo à
formação – e que Jesus não era a pessoa adequada para essa nova fase da vida do
Benfica. A verdade é que esta tese não convence ninguém. Se Jesus ficasse teria
de se adaptar ao que existisse como noutras ocasiões já teve de fazer.
O que parece mais provável é que Vieira, que deu a mão a
Jesus quando ele claudicou durante três anos, dois deles com os melhores
plantéis da história do Benfica, não viu esse gesto retribuído por Jesus na
hora da vitória. Na hora da vitória, Jesus, ególatra como sempre foi, recolheu todos
os louros e fez ostensiva questão de os não dividir com ninguém. Se Jesus até
dos jogadores se esqueceu, como iria recordar-se de Vieira? Vieira não gostou e
cedo, na época de 2014/15, traçou o destino de Jorge Jesus, aliás facilitado
pela lamentável participação na Liga dos Campeões.
Era óbvio que Vieira queria estar no pedestal com Jesus, como
se viu no início da época em curso quando convidou a SIC N para fazer uma
extensa reportagem sobre a vida interna do Benfica toda ela destinada a
demonstrar que sem o que ele tinha feito no Benfica Jesus não seria nada!
Esta parece ser a razão de fundo da saída de Jesus do Benfica.
E Jesus percebeu no decurso da última época que não era desejado no Benfica,
tendo resolvido tratar da vida de uma forma vingativa já que também não
conseguia alcançar os lugares onde tinha a pretensão chegar. Como o Porto já
estava servido, foi para o Sporting que era depois do Porto o lugar onde
poderia causar mais mossa ao Benfica.
Mas vê-se pelas constantes intervenções de Jesus que o
Benfica ainda não saiu da sua cabeça. Jesus não esqueceu o Benfica nem muito
provavelmente o esquecerá tão cedo, embora esteja empenhadíssimo em demonstrar
que sem ele o Benfica não teria chegado onde chegou. Essa a única razão das
constantes farpas que vai mandando e que só não incomodam os adeptos do
Sporting e a sua direcção porque estão ambos completamente subjugados pelo
fascínio de Jesus, apesar de isto que Jesus vem fazendo mais não seja do que uma
constante depreciação do valor do Sporting como instituição.
Jesus também tem razão quando afirma que a chamada “estrutura”
do Benfica – tão elogiada pelos dependentes de Vieira que falam na televisão –
não percebe nada de futebol. Os anos de Vieira à frente do Benfica, quer como dirigente
do futebol quer como presidente, demonstram isso mesmo. Não está em causa o que
Vieira tem feito pelo clube noutros domínios, o que agora se discute são as asneiras
sucessivas que tem feito à frente do futebol do Benfica.
Daqui também não se pode depreender que Jesus fez tudo bem
feito nos seis anos que esteve no clube. Não, não fez. Jesus cometeu muitas
asneiras e aprendeu com os muitos erros que cometeu e com os milhões que
gastou. Não aprendeu tudo o que devia – a sua fragilidade nas competições
internacionais é por demais evidente – mas aprendeu bastante. É hoje muito
melhor do que quando chegou ao Benfica. Só que esse conhecimento que ele
adquiriu à custa das muitas asneiras que cometeu e dos milhões que esbanjou
levou-o para o Sporting.
O Benfica tem-se revelado sem Jorge Jesus um clube instável. Desde
logo porque o novo treinador, embora seja uma excelente pessoa, não é
manifestamente o treinador que o Benfica necessita. Depois, consequência da
saída atabalhoada de Jesus, a equipa do Benfica tem fragilidades perigosas que
fatalmente vão relegar o clube este ano para um lugar muito diferente dos que
ocupou nos últimos anos.
Sem querer entrar em muitos pormenores, o Benfica tem uma defesa
muito velha, ao que parece sem substitutos, tem um meio campo muito deficiente –
Aimar e Enzo Pérez nunca foram substituídos – e está à procura de entrosamento
no ataque que até à data se tem resumido a isto: ou Gaitan deslumbra e então
tudo corre bem ou Gaitan não consegue ser genial todos os jogos e , quando não
é, ninguém se entende.
Quanto às polémicas em que o Benfica se meteu ou se deixou
envolver, há que dizer que a acção
posta contra Jorge Jesus é uma rematada asneira, as hipóteses de êxito são
muito remotas (e muito circunscritas a uma única situação) e só serve para
tentar confundir os adeptos. Isto não quer dizer que o comportamento de Jesus
tenha sido exemplar. Não foi. Mas exactamente por não ter sido é que o Benfica
tinha um excelente pretexto para negociar um acordo, que era o que deveria ter
feito se estivesse bem aconselhado.
Quanto às guerras do Presidente do Sporting, o Benfica deu o
pior flanco que poderia ter dado. Embora as prendas aos árbitros não tenham
qualquer relevância disciplinar e, muito menos, criminal, a verdade é que o
Benfica exagerou na dádiva de vouchers
para jantares. Não interessa o que a UEFA diz sobre o assunto, porque somente o
vigarista da verdade desportiva é que ainda não percebeu, ou fez que não
percebeu, que o código de ética dos árbitros é um código que apenas obriga os
árbitros, não os clubes. É como o código de ética dos jornalistas. Também só
obriga os jornalistas. Não obriga os que com eles contactam! É espantoso que os
jornalistas ainda não tenham percebido isto. Ou melhor, percebe-se que não
tenham percebido, porque a maior parte dos jornalistas desportivos não tem
ética nenhuma!
Concluindo de uma forma que os benfiquistas não gostam: o
Benfica vai disputar o terceiro lugar do campeonato com o Braga e o Rio ave, se
é que não vai ficar mais atrás, e quanto à Liga dos Campeões seria um enorme êxito
se chegasse aos oitavos de final…o que também parece muito difícil de alcançar…
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