QUE ESPERAR DESTE BENFICA?
O QUE SE VIU EM VILA DO CONDE
Em primeiro lugar, uma explicação
aos meus leitores por esta tão longa ausência de cinco meses e alguns dias. Nada
de grave aconteceu que me tivesse impedido de escrever ou comentar o futebol
português. Apenas a saturação de quem acha que no ponto em que as coisas estão não
adianta falar racionalmente do que quer que seja ligado ao futebol, porque
quase ninguém está interessado numa conversa racional. Isso vê-se desde logo
nas estúpidas conversas que semana após semana preenchem o espaço televisivo
reservado ao comentário dos jogos de futebol. É uma tristeza…. Depois, a
incapacidade de os adeptos verem o que se está a passar com os seus clubes,
principalmente se estão a ganhar internamente, já que na arena internacional as
hipóteses de Portugal nas competições de clubes poder fazer algo de jeito é
cada vez mais uma miragem.
Dito isto, retomemos a conversa
no ponto em que a deixámos. Antevi no último comentário deste blog que o Benfica
iria perder o campeonato e, com essa perda, deixar cair a hipótese de fazer algo
inédito na história do clube – ser tetra campeão pela primeira vez. Enganei-me,
felizmente. Enganei-me duplamente: enganei-me quanto às reais capacidades de os adversários, principalmente o Porto, serem capazes de aproveitar as debilidades do Benfica e enganei-me quanto à capacidade de o Benfica ser capaz
de reagir a esta inegável incapacidade dos seus adversários. Sim, o Benfica
continuou a perder pontos, mas os seus perseguidores ainda perderam muito mais!
É um mérito relativo, mas é um mérito.
Esse mérito não tira que as
debilidades assinaladas ao Benfica não existissem. Existiam, só que não foram suficientemente
marcantes a ponto de poderem ser suplantadas pelos seus rivais. As deles ainda
eram maiores.
E este ano, o que dizer? Bem,
deste ano repetir ponto por ponto o que no último post se disse quanto à
formação, realçando o embuste de quem quer fazer crer aos adeptos que o Benfica
aposta na formação. O Benfica, isto é, a Direcção aposta no negócio, de que à
frente voltaremos a falar, estando-se completamente nas tintas para a formação fora
desta estrita perspectiva. Basta ver que nas últimas épocas o Benfica vendeu todos
– atenção TODOS! – os jovens talentos da sua formação, antes que qualquer um
deles pudesse retribuir em êxitos desportivos o investimento feito. Saíram
Bernardo Silva (o jogador mais parecido com Messi em todo o mundo), João
Cancelo, André Gomes, Renato Sanches, Gonçalo Guedes, Ederson, Nelson Semedo e
Lindelof, para falar apenas nos mais importantes. E que ganhou o Benfica em troca? Até ver a
dívida aumentou. Portanto, a primeira conclusão que se pode tirar é que o
produto dessas vendas não serviu para amortizar o passivo. E sem amortização do
passivo, o mais que o Benfica pode aspirar é a formação de uma equipa de “trazer
por casa”. Essa perspectiva pode parecer muito interessante para adeptos que se
contentam com vitórias sobre o Sporting ou até sobre o Porto, mas está muito
longe de poder satisfazer os que ainda não desistiram de assistir à reconstituição
de um grande Benfica, de um Benfica à altura dos seus grandes vultos do passado
e dos grandes êxitos internacionais por eles alcançados.
Quanto às debilidades assinaladas
no post de 19 de Março passado, elas não só se mantiveram como se ampliaram
perigosamente a ponto de porem em causa a competitividade do clube no plano
interno, mesmo contra equipas médias, como a seguir se tentará demonstrar. De
facto, o desmantelamento de um importante sector da equipa – a defesa – como este
ano aconteceu, sem que quem presida aos destinos do Benfica se tenha
minimamente preocupado com a contratação de substitutos à altura é um acto grave
de gestão, sabendo – como não poderia deixar de saber – que com a actual
composição defensiva o Benfica não está em condições de lutar pela conquista do
“penta” e muito menos de competir na Europa, onde corre o risco de ser
humilhado, com resultados inadmissíveis (como a pré-época já indiciou), e de
ser eliminado por clubes de outra dimensão. A participação na Liga dos Campeões
Europeus, que deveria ser um motivo de alegria e entusiasmo para todos os
benfiquistas, pode tornar-se angustiante ou até transformar-se num pesadelo se
tudo correr mal como tem todas as condições para correr.
Para além da defesa, o Benfica
tem debilidades no meio campo. Elas foram confrangedoramente evidentes no
recente jogo contra o Rio Ave. Fejsa, não obstante a sua inegável classe, é um
jogador com que se pode contar apenas em cerca de 50% dos jogos. Na outra
metade está lesionado. E Filipe Augusto não parece que tenha lugar na equipa do
Rio Ave. Samaris é um jogador de classe média que pode servir o Benfica como
unidade de recurso, se, entretanto, a direcção não o conseguir vender, como
desesperadamente parece estar a tentar. Pizzi, apesar de todos os atributos que
se lhe reconhecem, falha muitos passes, marca mal a maior parte dos livres e
dos cantos, além de não ser um jogador com características para romper as
linhas adversárias sempre que o desenrolar do jogo a tanto obrigue. Depois de
tantos elogios aos “olheiros” do Benfica e ao seu famoso “scouting” é difícil perceber como deixaram ir para o Sporting um
jogador como Bruno Fernandes…que, além do mais, até português é! Ou seja, Renato
Sanches não foi substituído e ao Benfica faz muita falta de um jogador como
Renato, principalmente depois de Guedes também ter saído.
Nas alas, Carrillo foi-se embora
e ainda bem, desde que a sua saída compense financeiramente a sua entrada (o
que se duvida) e Cervi parece ter regredido relativamente à época passada.
Depois temos o sérvio, Zivkovic, que é um jogador promissor e Salvio, que
continua a ser o melhor de todos, apesar de fustigado por lesões e da sua falta
de discernimento em muitas jogadas de finalização; além destes, temos Rafa, o
maior “flop” da história recente do Benfica, pelo preço que se diz ter custado,
não sendo conveniente acrescentar por agora algo mais…para não ser antipático
com o jogador.
Na frente de ataque, a contratação
de Seferovic tornou o ataque do Benfica, com Jonas, Jimenes e Mitroglou, um
ataque de classe média alta europeia. Mas nada garante que o quarteto se
mantenha, porque o presidente tudo fará para se livrar de Jimenes ou de
Mitroglou, se não conseguir vender aquele. A propósito, é caso para perguntar a
Rui Vitória porquê a entrada sempre tão tardia de Jimenes em jogos onde a sua
presença é indispensável aos olhos de qualquer leigo.
Vai ser um campeonato muito
difícil se as faltas assinaladas não forem supridas com qualidade. O tempo
escasseia e não seria ousado supor ou até antever que é muito mais provável a
saída de algum jogador importante do que a contratação de alguém que possa
suprir as lacunas abertas no plantel. E em Janeiro já será tarde para fazer
ajustes. No futebol não é como no ciclismo. No futebol na há a possibilidade de recuperar
na “montanha” o tempo perdido na “planície”, porque no futebol, ao contrário do
ciclismo, não se joga todos os dias contra todos. Joga-se contra todos, mas com
cada um de cada vez…
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