segunda-feira, 28 de agosto de 2017


QUE ESPERAR DESTE BENFICA?


O QUE SE VIU EM VILA DO CONDE
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Em primeiro lugar, uma explicação aos meus leitores por esta tão longa ausência de cinco meses e alguns dias. Nada de grave aconteceu que me tivesse impedido de escrever ou comentar o futebol português. Apenas a saturação de quem acha que no ponto em que as coisas estão não adianta falar racionalmente do que quer que seja ligado ao futebol, porque quase ninguém está interessado numa conversa racional. Isso vê-se desde logo nas estúpidas conversas que semana após semana preenchem o espaço televisivo reservado ao comentário dos jogos de futebol. É uma tristeza…. Depois, a incapacidade de os adeptos verem o que se está a passar com os seus clubes, principalmente se estão a ganhar internamente, já que na arena internacional as hipóteses de Portugal nas competições de clubes poder fazer algo de jeito é cada vez mais uma miragem.

Dito isto, retomemos a conversa no ponto em que a deixámos. Antevi no último comentário deste blog que o Benfica iria perder o campeonato e, com essa perda, deixar cair a hipótese de fazer algo inédito na história do clube – ser tetra campeão pela primeira vez. Enganei-me, felizmente. Enganei-me duplamente: enganei-me quanto às reais capacidades de os adversários, principalmente o Porto, serem capazes de aproveitar as debilidades do Benfica e enganei-me quanto à capacidade de o Benfica ser capaz de reagir a esta inegável incapacidade dos seus adversários. Sim, o Benfica continuou a perder pontos, mas os seus perseguidores ainda perderam muito mais! É um mérito relativo, mas é um mérito.

Esse mérito não tira que as debilidades assinaladas ao Benfica não existissem. Existiam, só que não foram suficientemente marcantes a ponto de poderem ser suplantadas pelos seus rivais. As deles ainda eram maiores.

E este ano, o que dizer? Bem, deste ano repetir ponto por ponto o que no último post se disse quanto à formação, realçando o embuste de quem quer fazer crer aos adeptos que o Benfica aposta na formação. O Benfica, isto é, a Direcção aposta no negócio, de que à frente voltaremos a falar, estando-se completamente nas tintas para a formação fora desta estrita perspectiva. Basta ver que nas últimas épocas o Benfica vendeu todos – atenção TODOS! – os jovens talentos da sua formação, antes que qualquer um deles pudesse retribuir em êxitos desportivos o investimento feito. Saíram Bernardo Silva (o jogador mais parecido com Messi em todo o mundo), João Cancelo, André Gomes, Renato Sanches, Gonçalo Guedes, Ederson, Nelson Semedo e Lindelof, para falar apenas nos mais importantes.  E que ganhou o Benfica em troca? Até ver a dívida aumentou. Portanto, a primeira conclusão que se pode tirar é que o produto dessas vendas não serviu para amortizar o passivo. E sem amortização do passivo, o mais que o Benfica pode aspirar é a formação de uma equipa de “trazer por casa”. Essa perspectiva pode parecer muito interessante para adeptos que se contentam com vitórias sobre o Sporting ou até sobre o Porto, mas está muito longe de poder satisfazer os que ainda não desistiram de assistir à reconstituição de um grande Benfica, de um Benfica à altura dos seus grandes vultos do passado e dos grandes êxitos internacionais por eles alcançados.

Quanto às debilidades assinaladas no post de 19 de Março passado, elas não só se mantiveram como se ampliaram perigosamente a ponto de porem em causa a competitividade do clube no plano interno, mesmo contra equipas médias, como a seguir se tentará demonstrar. De facto, o desmantelamento de um importante sector da equipa – a defesa – como este ano aconteceu, sem que quem presida aos destinos do Benfica se tenha minimamente preocupado com a contratação de substitutos à altura é um acto grave de gestão, sabendo – como não poderia deixar de saber – que com a actual composição defensiva o Benfica não está em condições de lutar pela conquista do “penta” e muito menos de competir na Europa, onde corre o risco de ser humilhado, com resultados inadmissíveis (como a pré-época já indiciou), e de ser eliminado por clubes de outra dimensão. A participação na Liga dos Campeões Europeus, que deveria ser um motivo de alegria e entusiasmo para todos os benfiquistas, pode tornar-se angustiante ou até transformar-se num pesadelo se tudo correr mal como tem todas as condições para correr.

Para além da defesa, o Benfica tem debilidades no meio campo. Elas foram confrangedoramente evidentes no recente jogo contra o Rio Ave. Fejsa, não obstante a sua inegável classe, é um jogador com que se pode contar apenas em cerca de 50% dos jogos. Na outra metade está lesionado. E Filipe Augusto não parece que tenha lugar na equipa do Rio Ave. Samaris é um jogador de classe média que pode servir o Benfica como unidade de recurso, se, entretanto, a direcção não o conseguir vender, como desesperadamente parece estar a tentar. Pizzi, apesar de todos os atributos que se lhe reconhecem, falha muitos passes, marca mal a maior parte dos livres e dos cantos, além de não ser um jogador com características para romper as linhas adversárias sempre que o desenrolar do jogo a tanto obrigue. Depois de tantos elogios aos “olheiros” do Benfica e ao seu famoso “scouting” é difícil perceber como deixaram ir para o Sporting um jogador como Bruno Fernandes…que, além do mais, até português é! Ou seja, Renato Sanches não foi substituído e ao Benfica faz muita falta de um jogador como Renato, principalmente depois de Guedes também ter saído.

Nas alas, Carrillo foi-se embora e ainda bem, desde que a sua saída compense financeiramente a sua entrada (o que se duvida) e Cervi parece ter regredido relativamente à época passada. Depois temos o sérvio, Zivkovic, que é um jogador promissor e Salvio, que continua a ser o melhor de todos, apesar de fustigado por lesões e da sua falta de discernimento em muitas jogadas de finalização; além destes, temos Rafa, o maior “flop” da história recente do Benfica, pelo preço que se diz ter custado, não sendo conveniente acrescentar por agora algo mais…para não ser antipático com o jogador.

Na frente de ataque, a contratação de Seferovic tornou o ataque do Benfica, com Jonas, Jimenes e Mitroglou, um ataque de classe média alta europeia. Mas nada garante que o quarteto se mantenha, porque o presidente tudo fará para se livrar de Jimenes ou de Mitroglou, se não conseguir vender aquele. A propósito, é caso para perguntar a Rui Vitória porquê a entrada sempre tão tardia de Jimenes em jogos onde a sua presença é indispensável aos olhos de qualquer leigo.

Vai ser um campeonato muito difícil se as faltas assinaladas não forem supridas com qualidade. O tempo escasseia e não seria ousado supor ou até antever que é muito mais provável a saída de algum jogador importante do que a contratação de alguém que possa suprir as lacunas abertas no plantel. E em Janeiro já será tarde para fazer ajustes. No futebol não é como no ciclismo. No futebol na há a possibilidade de recuperar na “montanha” o tempo perdido na “planície”, porque no futebol, ao contrário do ciclismo, não se joga todos os dias contra todos. Joga-se contra todos, mas com cada um de cada vez…


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