I - Rui Vitória e o seu record
Rui Vitória sentindo-se acossado com a baixa acentuada do
Benfica no ranking europeu depois da derrota de Amesterdão que, em princípio
eliminará o Benfica na fase de grupos da Liga dos Campeões, sentiu necessidade
de vir a terreiro demonstrar que é o treinador com o melhor “ratio” de vitórias
na Liga dos Campeões por jogos disputados.
Em primeiro lugar, convém dizer que, embora o futebol seja
fértil em surpresas, podendo sempre acontecer o inesperado, para o Benfica ter
o apuramento garantido contra todo e qualquer imprevisto necessitaria de ganhar
todos os jogos que lhe faltam disputar. Fora desta hipótese muito pouco
provável, o apuramento também se verificaria se o Benfica ganhasse os jogos que
vai disputar em casa e o Ajax não fizesse mais do que um ponto ou dois com o
Bayern e o AEK, neste caso dependendo do resultado do confronto com o Benfica.
Ou seja, tanto o Bayern como o Ajax apenas precisam de uma vitória, se o
Benfica ganhar os jogos em casa, para se qualificarem. Portanto, as hipóteses
de o Benfica se qualificar são muito escassas.
É neste contexto que Rui Vitória vem falar da Liga dos
Campeões. A Liga dos Campeões e a Taça dos Campeões são a mesma competição, uma
competição que existe desde 1955/56, tendo passado a disputar-se em moldes
diferentes a partir de finais do século passado. Limitar a participação do
Benfica à Liga os Campeões para o actual treinador pretender tirar um efeito
meramente estatístico é limitar a história do Benfica e a sua grandeza já que
foi na Taça dos Campeões que o Benfica se tornou no grande clube que hoje é.
Em segundo lugar, é mais que óbvio que Rui Vitória apenas
pretende afirmar que a sua participação, até hoje, é melhor do que a de Jesus. Isto,
apesar de todos sabermos que tanto um como outro apenas por uma vez terem
verdadeiramente honrado o nome do Benfica, com a qualificação para os quartos-de-final,
ficando, portanto, ambas muito aquém do que os adeptos esperariam. Ou seja,
tanto um como outro tiveram 4 participações na Liga dos Campeões. Jesus apenas
por uma vez passou a fase de grupos; Rui Vitória já passou por duas vezes.
Jesus disputou como treinador 38 jogos: ganhou 14, empatou 10 e perdeu 14; Rui
Vitória disputou 31, ganhou 11, empatou 6 e perdeu 14. Da vez em que não passou
a fase de grupos Rui Vitória ficou em último lugar, com zero pontos, seis
derrotas. Jesus das três vezes em que não passou a fase de grupos, somente uma
vez ficou em último, tendo das outras duas disputado a Liga Europa.
Rui Vitória, no primeiro ano em que esteve no Benfica
participou na Liga dos Campeões, por ter beneficiado da vitória alcançada no
campeonato, no ano anterior, sob o comando de Jorge Jesus: Jesus, pelo
contrário, no primeiro ano em que esteve no Benfica não participou na Liga dos
Campeões.
Na Liga Europa, que Vitória até hoje nunca disputou ao
serviço do Benfica, Jorge Jesus tem um palmarés imbatível em Portugal. Ao
serviço do Benfica Jorge Jesus participou por quatro vezes la Liga Europa, a
primeira vez chegou aos quartos-de-final, a segunda às meias-finais e as duas
últimas à final. Disputou 40 jogos, ganhou 26, empatou 8 e perdeu 6.
Entretanto, refeitas as contas, mesmo circunscritas à Liga
dos Campeões com o formato que hoje tem, Rui Vitória não é o treinador com
melhor “ratio” jogos/vitórias, situando-se em 5.º lugar, atrás de Fernando
Santos, R. Koeman, Artur Jorge e Souness. Este ratio, aliás. Interessa muito
pouco e até pode ser enganador. Só voltamos a ele por Rui Vitória ter feito
questão de o apresentar como um troféu. De facto, o que realmente interessa é a
fase da prova a que se chega.
Ainda Rui Vitória não tinha saído desta, já estava metido noutra:
a derrota contra o Belenenses no Jamor. Rui Vitória começa a ficar sem espaço
para continuar, não apenas pelas derrotas, mas por se perceber que a equipa não
sabe o que anda a fazer em campo. E isso com os jogadores que o Benfica tem é
imperdoável. Questão é saber quem o pode substituir…
II - Dito isto passemos ao segundo tema: SIMÔES
Têm sido notícia em toda a comunicação social as declarações
de Simões sobre o “momento judicial” do Benfica, bem como as respostas que lhe
têm sido dadas por gente próxima da actual direcção, como Pedro Guerra. Sobre
esta polémica a nossa posição enuncia-se facilmente. Simões tem o direito de
expressar a sua opinião, bem como o seu desconforto pela situação em que o
Benfica tem sido colocado. Essas declarações valem mais ou menos não por Simões
ter sido campeão europeu pelo Benfica e ter participado numa das melhores
equipas da história do clube ou por ter participado na selecção nacional de
futebol que até hoje alcançou o melhor classificação num Mundial de Futebol,
mas pelos méritos intrínsecos das opiniões proferidas. Digamos até que aqueles
atributos, se algum peso têm – e têm – é obriga-lo a ser reflectido em tudo
quanto diz uma vez que as suas declarações se forem feitas sem essa precaução
prestam-se a ser aproveitadas por uns ou por outros consoante a sua natureza.
Dito isto, passemos a outro aspecto da questão: Que Simões se
sinta desconfortável, é aceitável e compreensível. Que Simões não goste de
alguns “comunicadores” oficiais ou oficiosos do Benfica, ainda mais aceitável
é. O que não é aceitável é Simões desconhecer que o clube foi vítima de um
assalto de gigantescas proporções que ofendeu gravemente a sua privacidade e
que um funcionário de um clube rival aparece aos olhos do público ou como
suspeito de ter praticado esse assalto ou de o ter encomendado ou, no mínimo,
suspeito de ser um receptador que usa o produto do roubo em proveito próprio,
ou seja, do clube em nome do qual fala. Isto Simões não pode desconhecer nem
menosprezar, conhecendo. E Simões também não pode ser indiferente ao
aproveitamento que das suas declarações está sendo feito por alguém que ele
próprio ainda há bem pouco tempo considerava responsável pelo que há de pior no
futebol português, a ponto de várias vezes ter dito a representantes dessa
entidade que quando se fizer a verdadeira história do futebol português se vai
ficar a saber tudo de quão vergonhoso se passou nestas últimas décadas. Isto
Simões não pode esquecer, se pretende que a sua voz seja ouvida. E já que
falamos em voz, seria no mínimo exigível pela boa educação, de que Simões tanto
se reclama, que quando dialoga com outros benfiquistas, inclusive antigos
jogadores, antes de mais os deixe expor as suas opiniões e fosse tão educado
com eles quanto Simões exige dos outros relativamente a si. Cumpridos estes
pressupostos, poderá Simões continuar a emitir as suas opiniões que daqui não
ouvirá qualquer crítica.
III – Finalmente, passemos ao Varandas.
Varandas, presidente de um clube em ruínas, parece apostado,
tal como o seu antecessor, a fazer do seu antibenfiquismo o grande factor
identitário do Sporting. Se assim for, se Varandas pretende seguir a estratégia
que a CM TV ainda não abandonou, ao Benfica apenas lhe resta deixá-lo
afundar-se na defesa de uma estratégia que acabará por destruir o Sporting.
Por todas estas razões – escutas, roubos, antibenfiquismo
primário do Sporting e da CM TV, jogo sujo do Porto – o Benfica precisa
urgentemente de começar a ganhar. Ganhando nada disto terá importância…
1 comentário:
Excelente post.
Excelente visão de várias situações controversas.
Viva o Benfica!
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