UMA DERROTA MARCANTE
Qualquer benfiquista que se preze, conhecedor da história do clube e defensor dos ideais que sempre o nortearam, sente-se envergonhado, para não
dizer ultrajado, quando liga a BTV e lhe aparece pela frente gente como Pedro Guerra
ou José Nuno Martins, para apenas citar dois dos colaboradores daquela estação
que mais danos causam ao Sport Lisboa e Benfica.
Nem um nem outro sabem que o Benfica só será fiel às suas
origens e à sua história se continuar a ser um clube popular e democrático que
pauta o seu comportamento, externamente, pelo respeito pelos seus adversários e,
internamente, aberto, como sempre foi, à divergência de opiniões e ao confronto
de ideias
O fascismo “rasca” de comentadores que desrespeitam os
adversários, que baseiam o seu comentário na mais reles demagogia e que
desavergonhadamente insultam quem se lhes opõe ou deturpam os factos dos que os
confrontam com os seus desonestos comportamentos não têm, não podem ter lugar, na
comunicação do Benfica.
Se tiverem, se continuarem a ter, é porque algo vai muito mal
no “reino” do maior de Portugal.
Todos sabemos, desde tempos imemoriais, que não há nada mais
grave para o saúde de uma comunidade, seja ela grande ou pequena, do que a
perpetuação do poder nas mãos da mesma pessoa e de uma só pessoa. A ausência de
rotatividade do poder leva sempre à sua corrupção. Cria-se uma legião de
apoiantes, actuando sabujamente às ordens do chefe, dispostos a fazer tudo o que
necessário for para manterem e perpetuarem o poder que lhes garante mordomias,
benesses e notoriedade que jamais alcançariam pelos seus próprios méritos.
Assinante do BTV apenas para ver os jogos, de preferência sem
comentários, como faço em qualquer outro canal, rarissimamente me predisponho a
ver, por momentos que seja, um programa “baseado em conversa”. Hoje, de manhã,
tive a desdita de passar pela BTV quando a antena estava aberta ao público e
depois de ouvir uma ou duas intervenções interessantes de simpatizantes do
Benfica sobre o jogo de sábado passado e as suas futuras repercussões, levei
logo com uma longa, demagógica, monocórdica e subserviente peroração de Pedro Guerra
que fala para os benfiquistas como se fossem atrasados mentais e logo a seguir
com as ordinarices protofascistas de José Nuno Martins. Senti-me enojado e
deliguei a televisão.
Sobre o jogo contra o Porto, também eu pertenço ao número dos
que se sentiram humilhados e envergonhados com o que no sábado aconteceu na Luz,
a ponto de somente hoje ter voltado a ligar a televisão, tal era a necessidade
de me manter mentalmente afastado de tudo o que directa ou indirectamente
tivesse a ver com um dos jogos mais traumatizantes da história recente do
Benfica.
Comecemos pelo princípio, pelo que estava à vista de todos e
que somente não via, ou não vê, quem não quer ver. Ou seja, o Benfica não pode
jogar com dois avançados que não marcam golos e que até sábado passado vinham
perdendo cinco a seis oportunidades de golo por jogo. Antes de mais, a “ilusão
Seferovic”. Mercê de circunstâncias excepcionais o esforçado avançado suíço marcou
na época passada mais de duas dezenas de golos, tendo-se a partir daí – em grande
parte do culpa do treinador – deixado criar a falsa ideia de que Seferovic era
o avançado de que o Benfica precisava para afrontar a exigente época que tem
pela frente. Não era nem nunca o será. Seferovic não tem lugar numa equipa com
as aspirações e ambições do Benfica. Se RDT terá ou não, é algo que somente o
futuro o dirá, já que do que até agora se tem visto nada permite tirar a
conclusão de que é o homem certo para aquele lugar. Digamo-lo sem rodeios:
Jonas a trinta por cento e João Félix valiam o triplo dos golos que Seferovic e
RDT serão capazes de marcar.
Bruno Lage andou mal e passou um atestado de estupidez aos
benfiquistas quando afirmou que se devia à acção daqueles dois homens os zero
golos que o Benfica havia sofrido até ao jogo de domingo, porque “eles correm
muito”…
Em segundo lugar, o Benfica não pode jogar com um lateral
direito esquerdino, como já se tinha visto nos jogos anteriores e muito menos
quando joga com um ala direito que não participa em acções defensivas. Isso
pode resultar contra cerca de quinze equipas da Liga Portuguesa, mas não resultará
contra as outras quatro nem contra as equipas estrangeiras que o Benfica defrontará
na Liga dos Campeões.
Se o Benfica já tinha problemas no ataque mas com mais
problemas ficou depois da lesão de Chiquinho, escasseando o tempo para contratar
um reforço à altura, não diremos dos avançados que saíram, mas das aspirações
do Benfica.
Finalmente, não se compreende como não foi o treinador capaz
de, durante 90 minutos, ensaiar um plano capaz de contrariar o jogo do Porto.
Que o Porto tenha surpreendido nos primeiros 15, 20 minutos, é algo que sem
dificuldade se aceita. O que se não aceita nem compreende é que o treinador não
nada tenha feito para sequer tentar desfazer a teia em que o Porto envolveu o
Benfica durante todo o jogo
É que não se tratou do colapso de um ou dois jogadores, mas
de toda a equipa, com excepção de Vlachodimos, o que, obviamente, deixa
perceber a ausência de uma voz de comando capaz de inverter a situação. Algo,
portanto, que dá que pensar.
Os benfiquistas não esquecem a época 2010/11, segunda época
de Jorge Jesus, em que antes de tudo começar se dava como certo a uma caminhada
vitoriosa …que terminou a 21 pontos de distância do FCP. Também este ano
parecia que as vitórias já estavam asseguradas antes de se começar a jogar a
sério…e, para já, foi o que se viu. Esperemos que, pela terceira vez nesta
década, o Benfica não repita o que nela já fez por duas vezes: soçobrar no
preciso momento em que a vitória faria mergulhar o seu mais directo rival numa
crise sem paralelo nos últimos 35 anos. Há qualquer coisa que continua a faltar
a este Benfica…
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