O CASO DE JOÃO MALHEIRO
Para começar, devo dizer que não ouvi nem vi todos os comentadores do Benfica sobre a mais recente acusação do Ministério Público ao clube da Luz.
Mas dos que vi, quero sublinhar
dois comportamentos completamente opostos.
O primeiro que ouvi
falar sobre o assunto, num ambiente ferozmente anti-benfiquista (um “senhorito”
do Sporting, uma representante informal do MP, Tânia Laranjo e um pérfido fala-barato que intriga a partir do Porto),
foi Diamantino Miranda, ex jogador do Benfica.
Este ex-jogador declarando-se tecnicamente incompetente para tratar de matéria
que não domina, limitou-se a dizer que estas situações o incomodam como
benfiquista e que o ambiente gerado a partir do que foi publicado pelo Ministério
Público cria na opinião pública a ideia de que há desde já condenados pela
prática de actos muitos graves; sem que haja permanentemente a cautela de explicar
que aquilo que estamos a ouvir é apenas a opinião/posição do MP. Portanto, ele,
partindo destes pressupostos, mas tendo ouvido sobre o assunto outras versões, ficou
tranquilo quando reputados advogados afirmaram que as acusações apresentadas
não tinham qualquer fundamento nos factos descritos. E estranhou o “timing”
desta acusação. Porquê, neste preciso momento?
Por outras palavras, o
que Diamantino quis dizer é que a versão que está a correr nos media é a versão do Ministério Público e
que o Benfica tem outra, quer quanto aos factos, quer quanto à interpretação
que deles se faz. À Justiça, ao Juiz, caberá decidir.
Numa palavra,
Diamantino disse o que uma pessoa séria, não especialista na matéria, pode e
deve dizer sobre o assunto, tendo acrescentado que, depois do que ouviu, como
benfiquista, ficou descansado.
Não adianta falar sobre as intervenções dos demais; elas eram esperadas e são
óbvias: o “senhorito” do Sporting bolsa ódio e calúnias sobre o Benfica como
sempre faz; Tãnia actua como “correia de transmissão” da versão publicada (“eu digo o que me chegar às mãos de “boa
fonte”, apenas quero continuar a saber o que outros não podem saber; ou saber
primeiro do que eles”); o fala-barato do Porto ataca o Benfica, em termos
pérfidos, como sempre faz; quer ele lá saber como reage o direito ao arrazoado
do MP, quer é ter matéria para atacar o Benfica, directa ou indirectamente.
Dois dias depois, no
painel da sexta-feira da CMTV, estava Fernando Mendes, ex-futebolista (que
agora se diz adepto do Sporting); Manuel Queiroz, conceituado jornalista do
Porto, próximo do FCP, embora em posição crítica; Miguel …, advogado e João
Malheiro, que se assume como benfiquista com contactos privilegiados.
De Fernando Mendes não
adianta falar porque nada do que ele diz ou possa dizer sobre este assunto tem
o menor interesse. Ressabiado desde há décadas pelo seu completo fracasso como
jogador do Benfica (para o qual se transferiu desavindo com o seu “querido Sporting”),
nunca perdoou ao Benfica a sua inadaptação a um clube de outra dimensão e
grandeza. Como também não tem instrução nem educação que lhe permitam abordar este
tipo de assuntos com um mínimo de conhecimento e elevação, limita-se a bolsar
baboseiras exactamente idênticas às do adepto analfabeto sectário. À frente,
portanto. Não faz sentido considerá-lo.
Depois vem o Malheiro,
o Malheiro que vota, como se já viu na televisão, um ódio mortal a Vieira, por
o ter posto a léguas de tudo o que fosse Benfica ou do círculo próximo do
poder. Vieira teve oportunidade, num frente a frente com Malheiro, de exibir
todos os podres de Malheiro e de demonstrar quão nocivo ele era como adepto do
Benfica e mais ainda como próximo de certos ídolos do Benfica, como Eusébio.
Malheiro foi arrasado nesse frente a frente, tendo Vieira agido sempre como se empatia
de Malheiro com o universo benfiquista fosse nula ou insignificante. Disso não
poderá haver dúvidas tal a descontracção
com que Vieira falava sem qualquer preocupação com a escolha das palavras.
Não obstante, o desprezo
a que Vieira o votou, Malheiro, depois da destituição (ou renúncia) deste, como
Presidente, continuou a fazer um grande esforço para aparecer nos ecrãs como
próximo do “círculo do poder”, como alguém que “bebe do fino”. Na sua voz
pousada e rouca é frequente ouvi-lo afirmar solenemente: “Posso garantir de
fonte segura que o Benfica…”; “posso adiantar, não como minha convicção
pessoal, mas como posição do Benfica que…”.
Enfim, Malheiro na sua egolatria
egocentrista gaba-se de falar em nome do Benfica, não como procurador, mas como
pessoa “de dentro”, como pessoa que tem conhecimentos próprios de quem está
próximo do poder e que diz aquilo que o poder gosta que seja dito. Daí, por exemplo,
a defesa intransigente de tudo o que diga respeito ao Presidente Rui Costa, etc…
Tenha ou não alguma
ligação com o poder benfiquista – e tanto pode ter como não ter, pois todos nós
conhecemos aqueles “adesivos” que se colam à proximidade do poder apenas para “dar
ares” de que são muito importantes - a minha profunda convicção é que a
generalidade das suas intervenções não beneficiam o Benfica, suscitam a
animosidade dos inimigos e não ganham a empatia da generalidade dos benfiquistas,
que gostariam de vê-lo bem longe de tudo o que respeite a falar em nome do
Benfica (com ou sem poderes). Mas esta é a minha convicção, que abaixo vou
tentar fundamentar com o exemplo do que se passou no debate da passada
sexta-feira (18/10), sobre a acusação do Ministério Público. Pode outra ser a
da generalidade dos benfiquistas, mas, francamente, não creio.
Pois analisemos o que
disse Malheiro sobre a acusação do MP. Guiado pelo seu ódio desmedido a Vieira,
Malheiro depois de umas considerações puramente supérfluas, apenas destinadas a
demonstrar que deu um tempo de tréguas ao seu inimigo, desatou num ataque
desenfreado a tudo o que Vieira terá feito nos últimos 5 ou 6 anos, como
Presidente do Benfica, prejudicial ao bom nome e reputação do clube, deixando
implícito, mas sem reservas, de que Vieira deveria ser punido por tudo o que de
mal fez ao clube, para de seguida lamentar a situação em que deixou ficar o
Benfica!
No caso vertente,
Malheiro deu claramente a entender que o comportamento de Vieira é censurável,
com consequências graves
Na sua limitada
compreensão do que está em causa, Malheiro parece não ter percebido, ou pior
ainda, ter percebido e desinteressar-se das consequências, que quanto mais
atacasse Vieira na qualidade de Presidente do Benfica mais afundava o Benfica,
que estava a contas com a justiça exactamente por Vieira ter actuado em seu
nome e como seu legítimo representante.
A sua inteligência não
é certamente famosa, a ponto de nem sequer ter percebido que a única forma de
atacar Vieira era insinuar que os negócios do Benfica com o Vitória de Setúbal
estavam sendo realizados com vista a um hipotético proveito futuro de Vieira e
não do Benfica pela sua possível ligação com o imobiliário (falava-se muito na
venda do Bonfim e terrenos anexos), caso em que o Benfica seria a vítima e não
o acusado. Mas como a inteligência de Malheiro, turvada pelo ódio, não dá para
ver o óbvio, o seu papel nesse debate apenas serviu para acusar o Benfica!
Quanto aos outros
comentadores, talvez valha a pena dizer que Manuel Queiroz, porventura por já
ter percebido que a acusação judicial não tem “pés para andar”, insistiu no
plano desportivo. E qual seria a acusação no plano desportivo? Não há acusação
no plano desportivo que se não fundamente em factos judicialmente apurados e
estes, como temos visto, ou não existem ou que os existem não provam nada.
Depois interveio
Miguel, o advogado, que acabou concluindo o seguinte: há no futebol, como na
vida em geral, quem se comporte imoralmente, amoralmente ou ilicitamente. Dos
autos não se pode inferir que tenha havido comportamentos ilícitos do Benfica
ou dos seus representantes, logo não haverá comportamentos penalmente puníveis,
embora admitindo a possibilidade de comportamentos imorais ou até amorais que o
Direito, como é óbvio, não pune.
Em conclusão, tirando o
dito Fernando Mendes, que “não conta para o totobola”, o único que deixou a
ideia de que o Benfica poderia ser culpado foi o comentador João Malheiro.
Já agora, algumas
breves indicações sobre como deve ser feita a defesa do Benfica, em minha
opinião:
O MP diz que os
negócios entre o Benfica e o Vitória de Setúbal durante um largo período de
tempo (vários anos) foram simulados.
Em que se fundamenta o
MP para afirmar que os negócios são simulados? Essa matéria não está provada, trata-se
de uma simples inferência do MP que nem sequer considera nos autos a posição do
Benfica sobre o assunto, como se não houvesse contraditório. E a verdade é que
o Benfica tem posição sobre esse assunto. E irá certamente apresenta-la ou na instrução
contraditória (se for aberta) ou na audiência de julgamento. E somente depois
se poderá tirar uma conclusão ou não tirar nenhuma conclusão, caso em que os
negócios serão tidos como verdadeiros.
Em segundo lugar, a simulação
em si não constitui crime, embora dela possam resultar crimes.
Vamos admitir, a título
puramente argumentativo, que a simulação é verdadeira. Que conclusões se podem tirar
desse facto? Que a simulação tinha em vista corromper o Vitória de Setúbal? E
quais são os factos que comprovam essa tese? Os resultados dos jogos entre a
Vitória e o Benfica foram falseados? Que jogos? Onde está a prova? Que o
Vitória apoiou o Benfica em certas decisões da Liga? Antes de mais: que
decisões? E onde está o crime por o Vitória ter votado no mesmo sentido do
Benfica? Praticou a direcção do VFC (Setúbal) actos contrários aos seus
interesses apenas para favorecer os interesses do Benfica? Que actos? Que prova?
Não deixa de ser
estranho que o MP, não obstante afirmar que o “plano criminoso” abrangeu vários
anos, não tenha explorado outras hipóteses, como a de o Benfica estar a ser
usado para obtenção de vantagens alheias ao clube. Todavia, o MP não o fez. E
se não fez não foi certamente por não ter ponderado essa hipótese ou por
ingenuidade, mas por saber que por essa via estava a abrir a porta à
possibilidade de o Benfica ser uma vítima e não um culpado por actos praticados
em seu nome. Este pormenor deixa transparecer que o verdadeiro alvo do MP é o
Benfica e não aqueles que agiram em seu nome!
Continuando: diz o MP
que a simulação gerou fraude fiscal. Indispensável ao conceito de fraude fiscal
é haver prejuízo do erário público. E houve prejuízo do erário público? Deixou o
fisco de receber o que deveria receber? Pelo contrário, a vingar a tese do MP,
até passou a receber mais do que lhe era devido (nos casos de simulação
relativa) ou a receber quando nada lhe era devido (nos casos simulação
absoluta). Onde está o crime?
Por fim, o Benfica
comprou ao VFC (Setúbal) um direito (convencional) de preferência sobre a venda
dos jogadores da formação ou outros? E depois, onde está o crime? Não faz parte
do mundo dos negócios a constituição de direitos de preferência convencionais?
Onde está o crime?
Não, não há motivo para
os benfiquistas andarem preocupados não obstante as tentaculares influências
dos caluniadores do Sporting. A Justiça tem várias alçadas…