SIM, MAS …
O Benfica fez uma excelente época. Ganhou todas as provas
nacionais e perdeu a final a Liga Europa, competição em que participou por eliminação
da Liga dos Campeões. Nunca outra equipa portuguesa havia ganho as três provas nacionais
desde a introdução da Taça da Liga, há sete épocas, no calendário futebolístico
nacional, embora o F C do Porto tenha ganho, com Villas-Boas, na mesma época
duas provas nacionais (Campeonato e Taça de Portugal) e uma europeia (Liga
Europa).
As vitórias do Benfica são todas incontestáveis. Foi a equipa
mais regular no Campeonato Nacional, vencendo-o com 74 pontos, deixando o
Sporting a 7 e o Porto a 13! A vitória da Taça de Portugal ainda é mais concludente:
para chegar à final o Benfica eliminou o Sporting e o Porto. E quanto à Taça da
Liga, embora o seu formato se destine manifestamente o favorecer os “grandes”,
o Benfica para chegar à final teve no seu percurso de eliminar o Porto, o que
significa que também esta vitória não foi isenta de dificuldades.
No que respeita à Liga Europa,
prova a que o Benfica acedeu – é bom não esquecê-lo – por ter sido eliminado da
Liga dos Campeões na fase de grupos, o percurso do Benfica até à final foi
igualmente excelente na medida em que teve de se bater, entre os quatro
adversários que lhe calharam em sorteio, com duas grandes equipas – o Tottenham
(sexto classificado da Liga Inglesa) e a Juventus (campeão de Itália) -, além
de ter eliminado o segundo classificado do campeonato grego e o sétimo do
campeonato holandês. Na final, porém, o Benfica ficou aquém das expectativas,
acabando por ser derrotado no desempate por grandes penalidades pelo Sevilha,
quinto classificado do Campeonato espanhol a 27 pontos do campeão. Embora tenha sido manifestamente prejudicado pela arbitragem e tenha jogado
desfalcado de três dos seus principais jogadores, por castigo, a verdade é que
mesmo assim o Benfica tinha obrigação de fazer melhor: ser mais eficaz durante
o jogo e mais competente na marcação das grandes penalidades. A final de Turim
ficará para sempre na história do Benfica como a final que o Benfica “tinha
obrigação” de ganhar e não ganhou. A derrota de Turim, apesar de decidida por
grandes penalidades, é desprestigiante para o Benfica. É desprestigiante para
um clube com o palmarés do Benfica ser eliminado pelo quinto classificado da
Liga espanhola!
Ao fim de cinco épocas no
Benfica, Jorge Jesus venceu 2 campeonatos, três Taças da Liga e uma Taça de
Portugal.
Na Europa, o comportamento da
equipa tem sido meritório, fundamentalmente na Liga Europa, e não tanto na Liga
dos Campeões, onde apenas por uma vez passou a fase de grupos. Na Liga Europa,
no primeiro ano de Jesus, o Benfica chegou aos quartos-de-final, tendo sido eliminado
pelo Liverpool (2-1 e 1-4). Na época seguinte, foi eliminado pelo Braga nas
meias-finais, depois de ter sido eliminado da Liga dos Campeões na fase de
grupos, pelo Schalke 04 e pelo Lyon. Na terceira época de Jesus, o Benfica
passou a fase de grupos da Liga dos Campeões, tendo sido o primeiro
classificado com 12 pontos (o dobro do ano anterior) à frente do Basileia, do
Manchester United e do Otelul, acabando por ser eliminado nos quartos-de-final
pelo Chelsea, depois de ter eliminado o Zenit nos oitavos.
A carreira do Benfica na Liga dos
Campeões, com Jesus ao leme, não tem sido boa. Em 2010/2011, foi eliminado na
fase de grupos pelo Schalke 04 e pelo Lyon. O mesmo aconteceu em 2012/2013, também
eliminado na fase de grupos, com 8 pontos, pelo Barcelona e pelo Celtic de Glasgow,
tendo transitado para a Liga Europa, na qual chegou à final, sendo derrotado
pelo Chelsea por 2-1. Em 2013/2014, o Benfica voltou a ser eliminado, na fase de
Grupos, pelo PSG e pelo Olympiakos, desta vez com 10 pontos, tendo novamente transitado para a Liga
Europa, onde teve o desfecho que se conhece. Somente em 2011/2012 o Benfica
passou a fase de grupos e superou a primeira eliminatória, tendo sido eliminado
na seguinte (quartos-de-final), devendo esta considerar-se a melhor
participação internacional da equipa na era Jorge Jesus.
Em conclusão, nas cinco épocas de
Jesus no Benfica, em quatro participações na Liga dos Campeões, somente por uma
vez o Benfica passou a fase de grupos, enquanto na Liga Europa, em quatro
participações, o Benfica foi por duas vezes à final, atingiu a meia-final uma
vez (tendo sido eliminado pelo Braga) e ficou uma outra pelos quartos-de-final
(eliminado pelo Liverpool). Donde se conclui que o Benfica de Jesus está mais
vocacionado para jogar a Liga Europa do que a prova rainha do futebol europeu, embora
os resultados obtidos pela equipa nestes últimos cinco anos, na Europa e
especificamente na Liga Europa, sejam incomparavelmente superiores aos dos
últimos dezanove anteriores à chegada de Jesus ao Benfica!
No plano interno, o Benfica com
Jesus perdeu 3 campeonatos, quatro Taças de Portugal, uma Taça da Liga e uma
Supertaça, o que, feitas as contas, dá, em termos absolutos, um rendimento
ligeiramente inferior a 50%, embora – e é sempre bom não esquecê-lo – os resultados
do Benfica nestes últimos 5 anos sejam incomparavelmente melhores do que os das duas
décadas anteriores.
O futuro próximo do Benfica está,
assim, muito dependente do que acontecer na próxima época e do modo como o
Porto irá reagir ao desaire deste ano. É que, também é bom não esquecê-lo, apesar
de Porto estar em quebra há cerca de três anos, neste últimos cinco anos da era
Jesus no Benfica a média de pontos obtidos pelo FCP no campeonato nacional é
de 75, 125 por época, enquanto a do Benfica se fica pelos 71,8. O que quer
dizer que o Benfica tem de melhorar, relativamente a este ano – ano em que foi
campeão -, se quiser ter a garantia de que voltará a ganhar.
Jesus tem indiscutíveis méritos, mas
também tem indiscutíveis defeitos que tarda em corrigir. E já nem sequer nos
referimos à manifesta egolatria do treinador e à sua conhecida “ciência”, que
por vezes parece querer encarar os jogadores como simples marionetes de um
plano “cientificamente” estabelecido que sempre resultará se for bem executado,
cabendo os méritos do sucesso quase por inteiro ao conceptualizador e muito
pouco, ou quase nada, aos executantes, porque essa forma de estar no futebol de
Jesus faz parte da sua personalidade e será obviamente incorrigível. Mas
referimo-nos àquilo que pode ser corregido e não é. Jesus deveria perguntar a
si próprio por que razão as derrotas do Benfica acontecem nos momentos
decisivos, quase sempre com equipas grandes ou em grandes provas do futebol
internacional. Por que razão o Benfica quase nunca falha com os mais fracos e
falha tantas vezes com os mais fortes ou com os seus iguais. Tem de haver uma
explicação científica (sem aspas) para isto e é na busca dessa explicação que
Jesus deveria gastar uma parte do seu tempo, tanto mais que não faltam entre
aqueles que percebem de futebol e que actuam relativamente a Jesus e ao Benfica
sem qualquer desejo de vingança e sem qualquer propósito mesquinho explicações que
parecem válidas e que Jesus se recusa a considerar.
No futebol tudo pode acontecer e
ainda bem que acontece porque é isso que faz com o futebol continue a ser um
jogo. Mas quando as mesmas coisas acontecem várias vezes, tanto no futebol como
na vida, temos obrigação de encontrar uma resposta racional para essas “coincidências”!
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