terça-feira, 20 de maio de 2014

A ÉPOCA DO BENFICA


 

SIM, MAS …

 

O Benfica fez uma excelente época. Ganhou todas as provas nacionais e perdeu a final a Liga Europa, competição em que participou por eliminação da Liga dos Campeões. Nunca outra equipa portuguesa havia ganho as três provas nacionais desde a introdução da Taça da Liga, há sete épocas, no calendário futebolístico nacional, embora o F C do Porto tenha ganho, com Villas-Boas, na mesma época duas provas nacionais (Campeonato e Taça de Portugal) e uma europeia (Liga Europa).

As vitórias do Benfica são todas incontestáveis. Foi a equipa mais regular no Campeonato Nacional, vencendo-o com 74 pontos, deixando o Sporting a 7 e o Porto a 13! A vitória da Taça de Portugal ainda é mais concludente: para chegar à final o Benfica eliminou o Sporting e o Porto. E quanto à Taça da Liga, embora o seu formato se destine manifestamente o favorecer os “grandes”, o Benfica para chegar à final teve no seu percurso de eliminar o Porto, o que significa que também esta vitória não foi isenta de dificuldades.

No que respeita à Liga Europa, prova a que o Benfica acedeu – é bom não esquecê-lo – por ter sido eliminado da Liga dos Campeões na fase de grupos, o percurso do Benfica até à final foi igualmente excelente na medida em que teve de se bater, entre os quatro adversários que lhe calharam em sorteio, com duas grandes equipas – o Tottenham (sexto classificado da Liga Inglesa) e a Juventus (campeão de Itália) -, além de ter eliminado o segundo classificado do campeonato grego e o sétimo do campeonato holandês. Na final, porém, o Benfica ficou aquém das expectativas, acabando por ser derrotado no desempate por grandes penalidades pelo Sevilha, quinto classificado do Campeonato espanhol a 27 pontos do campeão. Embora tenha sido manifestamente prejudicado pela arbitragem e tenha jogado desfalcado de três dos seus principais jogadores, por castigo, a verdade é que mesmo assim o Benfica tinha obrigação de fazer melhor: ser mais eficaz durante o jogo e mais competente na marcação das grandes penalidades. A final de Turim ficará para sempre na história do Benfica como a final que o Benfica “tinha obrigação” de ganhar e não ganhou. A derrota de Turim, apesar de decidida por grandes penalidades, é desprestigiante para o Benfica. É desprestigiante para um clube com o palmarés do Benfica ser eliminado pelo quinto classificado da Liga espanhola!

Ao fim de cinco épocas no Benfica, Jorge Jesus venceu 2 campeonatos, três Taças da Liga e uma Taça de Portugal.

Na Europa, o comportamento da equipa tem sido meritório, fundamentalmente na Liga Europa, e não tanto na Liga dos Campeões, onde apenas por uma vez passou a fase de grupos. Na Liga Europa, no primeiro ano de Jesus, o Benfica chegou aos quartos-de-final, tendo sido eliminado pelo Liverpool (2-1 e 1-4). Na época seguinte, foi eliminado pelo Braga nas meias-finais, depois de ter sido eliminado da Liga dos Campeões na fase de grupos, pelo Schalke 04 e pelo Lyon. Na terceira época de Jesus, o Benfica passou a fase de grupos da Liga dos Campeões, tendo sido o primeiro classificado com 12 pontos (o dobro do ano anterior) à frente do Basileia, do Manchester United e do Otelul, acabando por ser eliminado nos quartos-de-final pelo Chelsea, depois de ter eliminado o Zenit nos oitavos.

A carreira do Benfica na Liga dos Campeões, com Jesus ao leme, não tem sido boa. Em 2010/2011, foi eliminado na fase de grupos pelo Schalke 04 e pelo Lyon. O mesmo aconteceu em 2012/2013, também eliminado na fase de grupos, com 8 pontos, pelo Barcelona e pelo Celtic de Glasgow, tendo transitado para a Liga Europa, na qual chegou à final, sendo derrotado pelo Chelsea por 2-1. Em 2013/2014, o Benfica voltou a ser eliminado, na fase de Grupos, pelo PSG e pelo Olympiakos, desta vez com 10 pontos, tendo novamente transitado para a Liga Europa, onde teve o desfecho que se conhece. Somente em 2011/2012 o Benfica passou a fase de grupos e superou a primeira eliminatória, tendo sido eliminado na seguinte (quartos-de-final), devendo esta considerar-se a melhor participação internacional da equipa na era Jorge Jesus.

Em conclusão, nas cinco épocas de Jesus no Benfica, em quatro participações na Liga dos Campeões, somente por uma vez o Benfica passou a fase de grupos, enquanto na Liga Europa, em quatro participações, o Benfica foi por duas vezes à final, atingiu a meia-final uma vez (tendo sido eliminado pelo Braga) e ficou uma outra pelos quartos-de-final (eliminado pelo Liverpool). Donde se conclui que o Benfica de Jesus está mais vocacionado para jogar a Liga Europa do que a prova rainha do futebol europeu, embora os resultados obtidos pela equipa nestes últimos cinco anos, na Europa e especificamente na Liga Europa, sejam incomparavelmente superiores aos dos últimos dezanove anteriores à chegada de Jesus ao Benfica!

No plano interno, o Benfica com Jesus perdeu 3 campeonatos, quatro Taças de Portugal, uma Taça da Liga e uma Supertaça, o que, feitas as contas, dá, em termos absolutos, um rendimento ligeiramente inferior a 50%, embora – e é sempre bom não esquecê-lo – os resultados do Benfica nestes últimos 5 anos sejam incomparavelmente melhores do que os das duas décadas anteriores.

O futuro próximo do Benfica está, assim, muito dependente do que acontecer na próxima época e do modo como o Porto irá reagir ao desaire deste ano. É que, também é bom não esquecê-lo, apesar de Porto estar em quebra há cerca de três anos, neste últimos cinco anos da era Jesus no Benfica a média de pontos obtidos pelo FCP no campeonato nacional é de 75, 125 por época, enquanto a do Benfica se fica pelos 71,8. O que quer dizer que o Benfica tem de melhorar, relativamente a este ano – ano em que foi campeão -, se quiser ter a garantia de que voltará a ganhar.

Jesus tem indiscutíveis méritos, mas também tem indiscutíveis defeitos que tarda em corrigir. E já nem sequer nos referimos à manifesta egolatria do treinador e à sua conhecida “ciência”, que por vezes parece querer encarar os jogadores como simples marionetes de um plano “cientificamente” estabelecido que sempre resultará se for bem executado, cabendo os méritos do sucesso quase por inteiro ao conceptualizador e muito pouco, ou quase nada, aos executantes, porque essa forma de estar no futebol de Jesus faz parte da sua personalidade e será obviamente incorrigível. Mas referimo-nos àquilo que pode ser corregido e não é. Jesus deveria perguntar a si próprio por que razão as derrotas do Benfica acontecem nos momentos decisivos, quase sempre com equipas grandes ou em grandes provas do futebol internacional. Por que razão o Benfica quase nunca falha com os mais fracos e falha tantas vezes com os mais fortes ou com os seus iguais. Tem de haver uma explicação científica (sem aspas) para isto e é na busca dessa explicação que Jesus deveria gastar uma parte do seu tempo, tanto mais que não faltam entre aqueles que percebem de futebol e que actuam relativamente a Jesus e ao Benfica sem qualquer desejo de vingança e sem qualquer propósito mesquinho explicações que parecem válidas e que Jesus se recusa a considerar.

No futebol tudo pode acontecer e ainda bem que acontece porque é isso que faz com o futebol continue a ser um jogo. Mas quando as mesmas coisas acontecem várias vezes, tanto no futebol como na vida, temos obrigação de encontrar uma resposta racional para essas “coincidências”!  

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