BAYERN E CHELSEA
DERROTADOS
As meias-finais da Liga dos Campeões, hoje concluídas, proporcionaram
uma final madrilena em Lisboa, entre o Real Madrid e o Atlético de Madrid, os
dois grandes rivais da capital espanhola.
Mais do que uma vitória das duas equipas espanholas, os jogos
das meias-finais talvez tenham ditado o fim de um certo tipo de futebol quando
praticado por equipas de altíssimo nível, servidas por praticantes de
primeiríssima qualidade. De facto, os resultados são tão evidentes que
dificilmente alguém quererá voltar a copiar o “estilo Mourinho” ou o “tika taka”
de Guardiola como caminhos seguros para a vitória.
É que, bem vistas as coisa, tanto um como outro constituem a
negação do futebol espectáculo alicerçado numa obsessão defensiva que, enquanto
se não encontrou o respectivo antídoto, retirava ao jogo a incerteza e espectacularidade
que o deve caracterizar para ser apaixonante.
Pode parecer estranho que se encaixe sob a mesma denominação
genérica dois estilos de jogo, o de Mourinho e o de Guardiola, aparentemente
tão diferentes. A verdade é que só na aparência são diferentes, resultando essa aparente diferença no facto de um – o de Mourinho - atribuir a iniciativa do jogo
ao adversário enquanto o de outro – o de Guardiola – tentar impedir durante todo o
jogo a iniciativa do adversário - ou seja, confluem no propósito comum defensivo
que a ambos caracteriza, mas divergem no modo de organizar essa defesa.
Mourinho, usando um sistema clássico ou mesmo arcaico, defende
sem bola, com dez jogadores atrás da linha da bola, reservando a um avançado de
grande qualidade o trabalho extenuante de bloquear o início da construção do
jogo do adversário e de aproveitar as oportunidades de golo que transições rapidíssimas
possam proporcionar; além disso aguarda, como quem aguarda uma dádiva da
natureza, que um livre perto da área ou um canto possam gerar um golo salvador.
Guardiola, fazendo uso de um sistema mais moderno e eficaz enquanto não foi descoberto o
antídoto, procurava garantir a inviolabilidade das suas balizas, mediante uma permanente
defesa com bola, baseado na ideia muito simples de que o adversário se não tiver bola não pode marcar. No
fundo é apenas uma outra forma de defender: é a defesa a partir da posse da bola,
uma posse que não tem qualquer espectacularidade, que torna o futebol monótono
e aborrecido tanto mais que se trata de uma posse que não arrisca,
exactamente para a não perder, tentando por essa via evitar ao máximo a concessão de qualquer chance ao adversário.
A falência do estilo Mourinho consolidou-se nos três anos que
passou em Madrid, embora os sintomas já viessem de trás, inclusive da primeira
passagem pelo Chelsea, mas acabaram por ser atenuados em consequência da
vitória alcançada ao serviço do Inter, apesar de ninguém poder esquecer a
arbitragem de Olegário Benquerença no jogo que lhe assegurou a passagem à final…De
todo o modo, o ano em curso apenas confirma o que há muito se adivinhava, mesmo
contando o treinador conta com a colaboração disciplinada dos jogadores, o que
nem sempre aconteceu em Madrid por os grandes nomes do Real Madrid considerarem
indigno dos pergaminhos do clube e dos seus méritos de campeões da Europa e do
Mundo o sistema de “pequena equipa” que Mourinho lhes pretendia impor.
Guardiola teve ontem a sua primeira grande derrota e vai
certamente levar algum tempo a perceber se o “sistema Guardiola” também
não tem mais futuro, como de resto Beckenbauer já o deixou bem explícito.
Pelo contrário, Ancelotti e Simeone estão em alta e nela vão
continuar durante muito mais tempo. Apesar de serem dois estilos diferentes, e
de o de Ancelotti assentar em individualidades altíssimo valor, ambos têm em
comum, além do respeito pelos jogadores, a alegria e a espectacularidade que o jogo de ambos transmite, o de um
com mais arte e o de outro com mais empenho e esforço.
Por isso, porque ambos gostam de futebol, a final está bem entregue
e vai ser certamente um grande espectáculo. O Real parte com vantagem pelos
valores individuais que o compõem, mas o Atlético, sem vedetismos, pode muito bem
contrariar essa vantagem e sagrar-se campeão, o que seria, nos tempos que
correm, um feito espectacular.
Por falar em vedetismo, é cada vez mais evidente – e a prazo
pernicioso – o vedetismo de Cristiano Ronaldo, como mais uma vez no jogo de
ontem aconteceu, dividindo o seu tempo entre a câmara e o jogo propriamente dito. Apesar de o grande mérito individual no jogo de ontem ir
inteirinho para Sérgio Ramos, dois golos, Cristiano Ronaldo não aparece nos
festejos dos golos. Depois, volta a fazer muito espectáculo no primeiro golo
que marca, apesar de se tratar de um golo fácil cujo mérito pertence
integralmente a Bale. E que seria das vedetas sem o trabalho extenuante de
Benzema?
Em conclusão, sem Xabi Alonso na final, as coisas
complicam-se para o Real e ainda se complicarão muito mais se não vencer…porque
nesse caso o excesso de “vedetismo” em detrimento do colectivo acabará por vir
ao de cima com consequências difíceis de antecipar…Claro, que se houver vitória –
a famosa décima – tudo será esquecido…até à próxima derrota.
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