A NEGAÇÃO DO FUTEBOL
Mourinho é verdadeiramente a
negação do futebol. Se treinasse uma equipa barata, composta por jogadores
modestos, de parco orçamento à qual se exigisse a manutenção na divisão
principal ainda se compreenderia que Mourinho jogasse como efectivamente joga –
ou seja, privilegiasse o anti-futebol, exclusivamente preocupado com o
resultado. Mas andando Mourinho na alta-roda do futebol mundial, tendo ao seu
dispor orçamentos de milhões, servido pelos melhores jogadores, é absolutamente
inaceitável que pratique o futebol que infelizmente vemos sempre que as suas
equipas entram em campo assim como é inaceitável que a crítica não se manifeste
contundentemente contra aquela “filosofia de jogo”.
Aliás, como já por várias vezes o
dissemos, o “êxito” de Mourinho só é possível em equipas que representam pouco
e muito poucos no futebol do país a que pertencem.
Mourinho teve êxito no Porto, no
Chelsea e no Inter de Milão, porque nenhuma destas equipas têm um número de
adeptos suficientemente vasto e diversificado nem um passado alicerçado em tradições
e níveis de exigência exibicionais capazes de impor outra atitude desportiva. O
que lhes interessa é ganhar seja como for. Tentam por via da vitória alcançada
a qualquer preço compensar a grandeza que efectivamente lhes falta e supõem
ainda, contra o que os factos e a história ensinam, que é da soma dessas
vitórias alcançadas de qualquer jeito que acabará por lhes advir a grandeza que
realmente lhes falta.
Em equipas de pergaminhos firmados,
com uma respeitável e brilhante história de dignidade desportiva, como por
exemplo o Real Madrid, o “resultadismo” de Mourinho está de antemão votado ao
fracasso como efectivamente veio a acontecer e voltará a acontecer se por
equívoco Mourinho voltar a ser contratado por uma equipa de idênticos
pergaminhos.
Nestas equipas o resultado não
conta como algo completamente desligado do modo como é alcançado. Nestas
equipas o resultado que conta é o alcançado dentro das quatro linhas com níveis
exibicionais invejáveis e no respeito pelo adversário. Em equipas com este
padrão de exigência ética e desportiva, não só não interessam como até
incomodam os “jogos fora do campo” de Mourinho contra os adversários, contra
árbitros, contra o poder regulador do futebol. Toda essa inacreditável
lenga-lenga que Mourinho põe permanentemente em prática para tentar condicionar
o resultado é vista nas equipas com passado como uma séria ameaça de
descaracterização da história e da tradição da clube, causadora de um mal estar
que acaba por corroer a relação de confiança que inevitavelmente tem de haver
entre o treinador e a equipa encarada na sua mais viva individualidade.
Esta forma de encarar o futebol
tem no plano técnico táctico o modelo de jogo que infelizmente vemos o Chelsea
praticar jogo após jogo. Ou seja, um modelo exclusivamente voltado para o
resultado, quase sempre alcançado à custa de um futebol covarde que se recusa a
jogar de igual para igual contra os seus adversários e antes se refugia num
triste e traiçoeiro futebol defensivo que tudo é capaz de hipotecar, inclusive
a própria dignidade dos jogadores, a um resultado positivo.
Foi assim contra o Atlético de
Madrid na semana passada e voltou a ser hoje contra o Liverpool. Portanto, quem
gosta verdadeiramente de futebol, só pode fazer votos muito sinceros para que
Mourinho e a sua equipa não alcancem nenhum dos resultados que almejam. Que
Mourinho seja derrotado na Liga dos Campeões e na Premier League é o mínimo que
um adepto de futebol pode verdadeiramente desejar a bem do futebol!
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