BENFICA À DERIVA
A prestação de Jesus na Liga dos Campeões acabou por ser
igual àquela a que durante seis épocas habituou os portugueses: um fracasso.
Jesus é como é. E nesse seu ser como é está também a
incapacidade de aprender com os erros do passado. Quem se der ao trabalho de
analisar os golos que o Sporting sofreu esta noite em Moscovo e os comparar com
os que o Benfica na época passada sofreu contra o Bayer de Leverkusen e contra
o Zénite chegará facilmente à conclusão de que há entre eles muitas
semelhanças.
As equipas de Jesus são equipas desequilibradas. Atacam com
muitos e defendem com poucos. Para defender com poucos é preciso, primeiro,
defender muito bem e depois que o adversário não seja da mesma igualha. Em
Portugal, o modo como as equipas de Jesus defendem é em regra suficiente para
ganhar a oitenta por cento dos adversários. Nas provas internacionais de
primeira grandeza, como a Liga dos Campeões, esse modo de defender é
insuficiente por melhor que sejam os executantes e a por mais aprimorada que
seja a sua organização.
É preciso jogar com equipas mais compactas e ter capacidade
para alterar o plano de jogo em função do resultado e dos objetivos que ele
encerra. Também neste particular Jorge Jesus evidencia conhecidas debilidades.
As substituições de Jesus ocorrem, salvo caso de força maior, invariavelmente,
a primeira, entre os 65 e os 70 minutos, entrando normalmente um jogador de
características semelhantes ao que saiu e as outras duas nos últimos cinco
minutos do tempo regulamentar, sendo que a última ocorre frequentemente já no
período de compensação.
Estas são as duas grandes deficiências de Jesus:
desequilíbrio no conjunto e ausência de um verdadeiro plano B para pôr em
prática sempre que necessário, seja em consequência da marcha do resultado, seja
em consequência da valia do adversário.
Fora isto, que é muito – e é tanto que, mesmo internamente,
para o campeonato, o Benfica, em 12 jogos, somente ganhou três vezes ao Porto –
Jorge Jesus apresenta equipas com um futebol vistoso, francamente agradável, técnica
e tacticamente disciplinadas onde cada jogador sabe exactamente o que anda a
fazer (ou seja, aquilo que o treinador lhe ordena) – se não chega é porque as
ordens nem sempre serão as melhores.
O jogo desta noite contra o CSKA de Moscovo não fugiu à
regra. O Sporting, apoiado por um enorme coro de carpideiras, bem pode fazer
uma enorme choradeira imputando – à semelhança do que faz internamente – ao árbitro
o fundamento da derrota. Mas sem razão.
Não há nenhum golo marcado ilegalmente. O golo do Sporting é
legal – Gutierrez está em linha; o primeiro golo do CSKA é marcado com o corpo –
se a bola ressalta para o braço do marcador, esse toque é absolutamente não
intencional. Percebe-se que o jogador tem a preocupação de encolher o braço
para evitar que a bola lhe toque e percebe-se também que o jogador nem sabe bem
como a bola entrou e somente umas fracções de segundo depois se apercebe do que
aconteceu. E no futebol, como se sabe, somente a mão ou o braço intencionais
são puníveis.
Quanto ao golo anulado ao Sporting, o que o árbitro, por
gestos, explica é que a bola saiu do campo. A televisão não tira as dúvidas,
embora se perceba que a bola faz uma curva. Se saiu ou não do campo, somente o
juiz de linha o poderá dizer – e disse – por ser o mais bem colocado para o
efeito. É curioso que ainda na segunda-feira passada o fanático sportinguista
Eduardo Barroso, num conselho que se atreveu aa dar a Jesus, lhe pedia para os
cantos do lado direito serem marcados com o pé esquerdo e os do lado esquerdo
com o pé direito, para evitar que se diga que a bola saiu do campo.
Isto quanto ao Sporting de Jorge Jesus. Quanto ao Benfica, a
ideia que se fica depois de vistos mais de meia dúzia de jogos com apenas uma
vitória é que é uma equipa à deriva. Contrariamente ao que se passa com as
equipas de Jesus, no Benfica actual ninguém sabe bem o que anda a fazer em
campo. Nem tão pouco se percebe o que é que o treinador pretende dos jogadores.
Se se pretende manter um sistema próximo do habitual em Jesus,
nomeadamente nestes últimos três anos, por que razão foi Lima vendido? E por
que foram comprados Mitroglos e Jimenez? Aliás, não se percebe por que razões
se contratam dois jogadores mais caros do que aquele que saiu e com muito menor
rendimento. Ou melhor, só se percebe que se venda relativamente barato o que
provadamente se sabia que servia e se compre relativamente caro o que por
completo se desconhece porque certamente há quem ganhe com as vendas e com as
compras. De outro modo tratar-se-ia de um acto de gestão completamente irracional.
Se, pelo contrário, Rui Vitória pretende que a equipe jogue
num sistema diferente por que razão não passou a pré-época a enraizar esse
sistema? E por que insiste em fazer o contrário do que acha melhor?
O que infelizmente parece é que Rui Vitória não tem
capacidade para comandar um barco tão complexo como o Benfica e denota
insuficiências em que um simples interessado nas coisas do futebol jamais
incorreria – as substituições do último jogo contra o Arouca são disso a prova.
Está à vista que Vieira mais
uma vez se enganou. Enganou-se no treinador e enganou-se quando supôs que
iria ter uma espécie de aliança tácita com o Porto. Neste segundo caso, não
basta ser ingénuo. É preciso que se seja algo mais ..
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