O MÉRITO DO PORTO
Em primeiro lugar, é importante saber perder. Depois de
tantos e tantos maus exemplos, é reconfortante que o Benfica, perdendo, tenha
sabido perder.
Dito isto, sem prejuízo de voltar ao tema, gostaria agora de
dizer como vi o jogo desta noite entre o Benfica e o Porto.
O Benfica e os seus adeptos partiram para este jogo com uma
extraordinária dose de confiança, uma confiança que só recuando mais de três
décadas pode ter paralelo noutros confrontos com o Porto. Confiança não é
arrogância, ou não deve ser. É crença nas capacidades da equipa. Na sua eficácia
goleadora. Na solidariedade do conjunto. Na excelente forma dos seus elementos.
E foi assim que o jogo começou. Logo nos primeiros minutos se
ficou com a convicção de que o jogo poderia ser igual a outros destes últimos
dois meses. É certo que antes do golo de Mitroglous já tinha havido duas
perdidas, mas logo a seguir veio o golo e a confiança restabeleceu-se. Depois,
a superioridade do Benfica continuou a ser evidente, mas a falta de eficácia
manteve-se e a juntar a ela começou a desenhar-se uma grande exibição de
Casillas. Até que o Porto, dez minutos volvidos, empatou na primeira oportunidade
que teve e na sequência de uma clamorosa falta de marcação do meio campo, sem
com isto querer retirar mérito à jogada do Porto e ao remate de Herrera.
O Porto empatou, mas o Benfica continuou por cima. Voltou a
ter oportunidade de marcar. Umas vezes por inépcia do rematador, outras por
mérito de Casillas, a bola não entrava.
Até que veio o segundo tempo e a ideia que pairava no
espectador que se guia pelo que tinha acabado de observar era a de que se o Benfica
continuasse a jogar como tinha jogado na primeira parte ganharia o jogo sem
dificuldade, não obstante a ligeira vantagem que o Porto ia tendo no jogo a
meio do campo e o sistemático recuo de Jonas para zonas longe da baliza adversária.
Só que a segunda parte foi muito diferente da primeira. Cedo
se começou a perceber que o Porto iria dar uma réplica muito mais forte e
consistente do que a que deu na primeira parte e percebeu-se também que a
ineficácia que o Benfica demonstrou na primeiro tempo se iria manter na segundo,
assim como a exibição de Casillas.
E passou então a admitir-se que a todo o momento o Porto
poderia passar para a frente do marcador. O seu jogo a meio campo
fortaleceu-se, o Benfica passou a ter menos hipóteses de chegar com facilidade
à área adversária, levando tudo isto somado à
convicção de que se o Porto viesse a ter uma oportunidade a não desperdiçaria.
E foi o que aconteceu numa jogada em parte também construída
por Aboubackar, mas acima de tudo por ele finalizada com muito mérito. Depois
deste golo, salvo numa ocasião (acidental), o Benfica da primeira parte não
voltou a aparecer no jogo e desapareceu completamente depois das substituições de
Samaris por Talisca e de Pizzi por Carcela. E mais ainda com a de Eliseu pelo
sacrificado Sálvio que não merecia entrar num jogo destes. A dez minutos do
fim, depois de uma lesão gravíssima que o inabilitou durante nove meses, meter
Salvio é algo inexplicável!
Com esta derrota, limpinha, sem árbitros, sem arrogância, sem
insultos, resultante da ineficácia própria e do mérito e brio do adversário, o Benfica desceu à terra. Perdeu o
quinto clássico da época, pode até perder o sexto, mas mesmo assim ser campeão
se psicologicamente não ficar abalado com o que aconteceu esta noite.
É preciso que se diga que esta noite poderia ter sido uma
noite igual às muitas que se viveram nestes últimos dois meses se não tivesse
havido tanta ineficácia. Com um Benfica medianamente eficaz o Porto não teria
condições para resistir, tendo em conta o estado anímico em que seguramente se
encontraria se o Benfica tivesse concretizado duas ou três oportunidades das
que teve na primeira parte. Se… Mas como os “ses” não contam, e como não foi
isso o que aconteceu, o que interessa agora saber é como ficará a equipa depois
desta derrota.
Em si, esta derrota, nos termos em que aconteceu, não teria
força suficiente para derrubar psicologicamente a equipa. Mas como ela acontece
na sequência de quatro anteriores desaires com equipas da mesma igualha, sem
contar com a derrota em casa contra o Atlético de Madrid e a derrota em
Istambul contra o Galatasaray, pode ter efeitos muitíssimo perniciosos.
O futuro dependerá do estado anímico da equipa. Se se
mantiver em alta pode até acontecer que a disputa a três seja mais favorável
ao Benfica do que a disputa a dois. Como o Sporting vai seguramente perder
pontos, mesmo que o Benfica perca em Alvalade, se nos restantes onze jogos
estiver como esteve nos últimos onze continuará com todas as hipóteses de ser
campeão.
Para isso nada melhor do que ganhar ao Zénite já na próxima
terça-feira!
2 comentários:
Bem visto; a questão da "luta a 3" pode ser + favorável ao Benfica. A deslocação dos lagartos ao ladrão poderá ser decisiva.
Muito interessante esse ponto de vista da "luta a 3", pois a lagartagem tem o jogo com os corruptos e connosco e eles vão perder pontos.
Nós temos que fazer o nosso trabalho e vencer os jogos que aí vêm com ou sem nota artística.
Acredito que seremos campeões esta época.
Miguel
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