domingo, 11 de março de 2018

O ATAQUE AO BENFICA


A PASSIVIDADE DAS AUTORIDADES JUDICIAIS
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Desde há mais de um ano que o Benfica tem estado diariamente debaixo de fogo dos seus dois principais rivais, seja directamente por intermédio dos respectivos presidentes e directores de comunicação, seja indirectamente por via de comentadores dos respectivos clubes, seja ainda por via de comentadores ditos independentes, embora com uma agenda totalmente coincidente com a daqueles quanto aos objectivos a atingir.

Para os rivais e inimigos jurados do Benfica não seria admissível a hegemonia que o clube da Luz vem tendo no futebol português nestes últimos anos. Tanto o Porto como o Sporting, por razões não inteiramente coincidentes, não poderiam admitir a continuação desta hegemonia, tendo-se desde cedo proposto, em santa aliança, a travar uma guerra sem quartel para a evitar.

No Porto, uma direcção anquilosada, envelhecida, intervencionada, que virou as costas à modernidade e ao progresso, só lhe restava para sobreviver, depois dos múltiplos fracassos registados nos planos desportivo e financeiro, lançar mão dos velhos métodos para tentar tirar de cena o “renascido” Benfica. É uma luta pela sobrevivência na continuidade.

No Sporting, depois de um cenário apocalíptico, que somente por um triz se não concretizou, venceu o populismo, que no desporto, tal como na política, tende a reagir um pouco como os animais, ou seja, contra o que está mais próximo, identificando como causas do mal-estar a aparência das coisas e não as verdadeiras razões do desconforto. No caso do Sporting, houve o aproveitamento hábil desse sentimento antibenfiquista que cada coração de leão alberga como refúgio seguro dos seus múltiplos e frustrantes ressabiamentos. Reciprocidade que está longe de ser partilhada pelos benfiquistas mais esclarecidos por o Sporting já não ser há muitas décadas o verdadeiro rival do Benfica! A isto junta-se o facto, não despiciendo, de o homem que dirige o Sporting viver exclusivamente daquilo que faz no Sporting, não havendo indicações seguras de que saiba fazer outra coisa. É também uma luta pela sobrevivência, mas aqui na verdadeira acepção da palavra.

A guerra contra o Benfica começou com as “ofertas aos árbitros”. Ou seja, algo que era do conhecimento das instâncias oficiais e dos múltiplos agentes ligados à arbitragem. Eram ofertas feitas no fim dos jogos, independentemente da actuação de quem as recebia, com o intuito de mera cortesia. Não há notícia de nenhum árbitro ou qualquer outro elemento das instâncias da arbitragem as ter recusado.

De que é que o Benfica pode ser acusado? De querer ser simpático para com os árbitros. Certamente. E condicioná-los? Mais difícil, mas sempre dependente da personalidade de cada um. Entre isto e as ameaças ou a criação de um clima público de crispação contra os árbitros e a arbitragem, o que é mais perigoso? Certamente, este segundo comportamento, aliás proibido pela UEFA e pela FIFA e também pelas instâncias internas, embora a maior parte das vezes sem a coragem para extrair desses comportamentos as respectivas consequências. A verdade é que eles são eficazes, muito em consequência da impunidade que os acompanha, na medida em que condicionam os árbitros, levando a que estes na dúvida favoreçam quem os ameaça ou os insulta para não terem de se deparar diariamente com as consequências dessas ameaças e insultos que os atingem a eles e aos seus agregados familiares.

O caso dos vouchers, como ficou conhecido, só foi caso porque uma comunicação social sedenta de “sangue” e de audiências dá guarida a todo o lixo que lhe chega desde que possa lucrar alguma coisa com isso. De outro modo, nem como nota de rodapé aquele pretenso caso figuraria na agenda mediática. Aliás, as instâncias desportivas nacionais e internacionais, arquivaram o caso, embora posteriormente o MP, que em muitos aspectos está cada vez mais parecido com os comentadores de futebol bem como com a lógica que os orienta, tenha “ressuscitado” a questão, seguramente sem qualquer êxito futuro, mas com o êxito desde já garantido de continuar a alimentar a especulação. Infelizmente, neste e em muitos outros casos, o MP parece bastar-se com “êxito” da publicidade das suas próprias actuações com aparente desprezo pelo resultado final dos processos, que é o que verdadeiramente conta e o que deveria ser a sua única e exclusiva peocupação.

Escusado será dizer que neste caso o Benfica andou mal, desde o início. Deveria ter assumido sem reticências tudo o que estava fazendo, reiterado o propósito de continuar a fazê-lo, recusando-se a participar directamente ou por intermédio dos que lhe são próximos em discussões ou debates que tivessem por objecto os “vouchers”.

Depois vem o caso dos emails, que é um dos casos mais graves ocorridos nestes últimos anos no espaço associativo e empresarial português, sobre um assunto que por lidar com o futebol acaba por ter uma amplificação desproporcionada e acrítica, prestando-se a todo o tipo de manipulações e juízos de intenção, apenas possíveis em domínios onde, sendo a regra a irracionalidade, o homem mais se assemelha com os animais.  

Em duas palavras, o caso consiste no seguinte: o Futebol Clube do Porto roubou ou tornou-se receptador da correspondência privada do Benfica, dando dela público, descontextualizado, sincopado, porventura até deturpado, conhecimento, por intermédio de um funcionário do clube, em sessões semanais, acompanhadas de comentários tendenciosos baseados em juízos de intenção, especulações e falsas conclusões caluniosas.

A correspondência de que foi dado público conhecimento era resultante de conversas informais entre os seus intervenientes nas quais predominava a coloquialidade própria deste tipo de conversas privadas, abrangendo tanto a que era emitida por personalidades com ligação ao Benfica como a que lhes era dirigida por pessoas estranhas ao Benfica.

Os juízos de intenção, formulados pelos ladrões ou receptadores da correspondência roubada, bem como de muitos que por via destes a ela tiveram acesso, tinham em vista insinuar que as vitórias do Benfica assentavam na corrupção (pressupondo-se a corrupção de árbitros ou outros elementos ligados à arbitragem) ou, mais remotamente, no tráfico de influências, chegando alguns até ao ponto de afirmar que o Benfica tinha um projecto de “captura” do futebol português e das suas instâncias dirigentes.

Apesar de não ser fácil de imaginar o que representa ter acesso a milhares e milhares de emails roubados, é porém fácil de constatar que nessa gigantesca quantidade de material privado confidencial, muito dele informal, somente uma escassa meia dúzia de emails suscitou o interesse mediático, o que não deixa de ser um dado importantíssimo sobre o funcionamento interno do clube, e mesmo esses, como já se percebeu, são juridicamente inócuos.

Alguns dos emails que mais curiosidade suscitaram e, consequentemente, mais se prestaram a juízos especulativos de toda a ordem, formulados como se de uma autêntica interpretação se tratasse, não eram da responsabilidade do Benfica nem de pessoas a ele ligadas, mas de pessoas estranhas ao Benfica. 

Em nenhum desses emails, porém, há o mais pequeno vestígio de corrupção, fosse ela com vista à compra de resultados ou de outro fim, assim como em nenhum deles é possível encontrar indícios de tráfico de influências.

Apesar de isto ser uma verdade incontornável, já que ninguém até agora foi capaz de pegar num email emitido perlo Benfica e com base nele configurar um comportamento ilícito, o certo é que, durante mais de meio ano, a famosa questão dos emails do Benfica animou centenas de horas de debates e “notícias” nas televisões, nas rádios e nos jornais, partindo-se sempre do pressuposto de que havia factos indiscutíveis que apenas precisavam que sobre eles fosse “soprado o pó” para que, com toda a evidência, pudessem ser confirmadas à luz do dia aquelas caluniosas conclusões.

Não há em nenhum desses emails (emitidos pelo Benfica) que o sr. Marques roubou ou receptou nada, absolutamente nada, que se assemelhe ao que nós ouvimos nas escutas do “Apito Dourado”. O mais grave, porém, não foi o facto de esses emails se terem prestado às mais variadas especulações e imputações, o grave foi as autoridades se terem recusado a intervir para pôr cobro a um furto que estava sendo exibido à luz do dia e usado em proveito do próprio do ladrão. Isto é que foi grave. Como grave foi a essa passividade se tenha seguido uma actuação das autoridades contra o Benfica, a partir do material roubado.

Ou seja, as autoridades não só impediram que o furto continuasse, como partiram dele para iniciar uma investigação de natureza penal contra o Benfica, o que não pôde deixar de revoltar milhões de benfiquistas que assim se viram injustiçados, ofendidos na sua honra e orgulho, por autoridades judiciais que em vez de protegerem o seu clube contra os assaltantes, partiram do assalto para atacar o próprio Benfica!

Dada a ineficácia da via penal, o Benfica tentou pelos meios cíveis obter uma decisão que impedisse o Porto de continuar a exibir material roubado. Esta via cautelar foi inicialmente recusada por um juiz assumidamente do FCP que, com base numa fundamentação estapafúrdia, concluiu que daquele comportamento não resultavam prejuízos para o SLB. Meses mais tarde, o Tribunal da Relação repôs a legalidade violada, impedindo o FCP de continuar a divulgar correspondência privada, roubada, sob pena de aplicação de uma pesada sanção.

Repôs-se a legalidade, mas o mal já estava feito, irreversivelmente. Durante este período a direcção do Benfica actuou mal. Atarantada com o que lhe estava acontecendo, revelou-se incapaz de adoptar uma estratégia consistente que pudesse neutralizar o efeito do ataque.

Subsequentemente a “essa investigação” que está em curso, as autoridades não se cansaram de lançar achas para a fogueira com factos e comportamentos, alguns deles absolutamente inverosímeis, como a pretensa suspeita do resultado do jogo contra o Rio Ave em 2015/2016, o “caso Centeno” (um verdadeiro escândalo nacional) e posteriormente um outro assunto do foro privado de vários intervenientes a que o Benfica foi maldosamente associado por alguns deles terem neste momento, ou terem tido no passado ou pretenderem ter no futuro ligações ao Benfica. Como se esse facto pudesse ser relevante para incriminar o Benfica ou o envolver nessas investigações!

Seguiu-se a famosa questão da “toupeiras”, neste momento na ordem do dia, que tem a ver com informações prestadas ao Benfica por pessoas ligadas à investigação criminal. Mais uma vez o MP protagonizou um espectáculo mediático destinado a colher efeitos imediatos de suspeitas por confirmar em detrimento de uma averiguação serena dos factos. Como alguém já disse ao MP parece interessar mais o efeito que resulta da publicitação e acompanhamento das suas acções do que propriamente a punição dos comportamentos ilícitos pelos meios próprios.

Neste caso das “toupeiras” acusa-se pessoas ligadas ao Benfica de ter solicitado a funcionários judiciais informações confidenciais sobre as averiguações que o MP tem (ou parece ter) em curso sobre assuntos em que o Benfica estaria (?) implicado. E avança-se com a existência de indícios susceptíveis de configurar o crime de corrupção para a prática de acto ilícito.

Para começar, é preciso que se diga que esta tese do Ministério Público a que o Juiz de instrução parece ter dado alguma guarida, se porventura se viesse a confirmar, o que por agora nos parece inviável, não teria quaisquer consequências desportivas. Tratar-se-ia de um assunto do foro criminal entre pessoas ligadas ao Benfica ou o próprio Benfica (hipótese que o MP não pôs até ao momento) e o sistema de justiça português punível nos termos da lei penal. Esta seria a pior hipótese, todavia os elementos vindos a público não apontam nesse sentido.

O que os indícios, a serem verdadeiros, revelam é que houve um ou mais funcionários judiciais que tiveram acesso a processos em segredo de justiça e, como eram assumidamente benfiquistas, fizeram chegar (não se sabe como nem por que meios) essas informações ao Benfica ou a pessoas a ele ligadas. Não existe o menor indício de que o Benfica ou alguém ligado ao Benfica tenha pedido essas informações a troco de uma qualquer indevida vantagem patrimonial ou não patrimonial ou que os ditos funcionários tenham solicitado ao Benfica ou a alguém ligado ao Benfica uma recompensa (patrimonial ou não) para entregar aquelas informações.

E sem que este factualismo esteja provado – e os indícios vindos a público nem de perto nem de longe deixam perceber a existência desses comportamentos –, podem dar as voltas que quiserem, mas corrupção é que não existirá!

E não é o facto de essas informações terem chegado ao conhecimento do Benfica ou de pessoas a ele ligadas que os incrimina do que quer que seja, qualquer que tenha sido o modo como essas informações foram obtidas. Portanto, o crime de corrupção, com base nos indícios conhecidos, não existe!

 Perguntar-se-á, então, por que razão o MP indiciou o funcionário Judicial José Silva? A nossa resposta é muito directa e clara: por que esse era o único meio de o prender preventivamente. Qualquer outro crime por que ele pudesse ter sido indiciado com base nos factos que vieram a público não admitiria a prisão preventiva. E como em Portugal, infelizmente, se prende para investigar e, de certo modo, até para punir antecipadamente prevenindo parcialmente a hipótese, sempre presente, de um desaire processual, não admira que a prisão preventiva seja solicitada a torto e a direito como se de um procedimento normal se tratasse, quando é legalmente um procedimento excepcional!. De facto, aos objectivos da investigação bastaria que José Silva fosse preventivamente suspenso do exercício das suas funções, da proibição de contacto com outros arguidos e termo de identidade e residência para que a investigação pudesse prosseguir sem atropelos nem dificuldades!

Perante este quadro complexo e altamente prejudicial para a reputação do SLB, a primeira conclusão a tirar é a de que o MP, por razões que somente ele conhece, tem o Benfica como alvo, na pessoa do seu presidente, Luís Francisco Vieira. E vai continuar, aproveitando tudo o que pode aproveitar, mesmo correndo o risco de enveredar por comportamentos inadmissíveis, como aconteceu com o caso Centeno.

A segunda conclusão, é a de que muito dificilmente este clima deixará de se reflectir no comportamento desportivo da equipa, que é, no fundo, o que o FCP e o SCP inequivocamente pretendem.

A terceira conclusão, é a de que tão cedo não vamos ter respostas concludentes oriundas dos processos em curso, o que significa, por outras palavras, que o “batuque” vai continuar por tempo indeterminado.

Felizmente, quando estava retirando estas conclusões do que está a acontecer, o Presidente do SL Benfica teve, pela primeira vez desde que esta “paródia” começou, uma intervenção à altura da grandeza do clube.

A quarta conclusão, que inevitavelmente tiraríamos se aquela intervenção não tivesse ocorrido, ficará suspensa e desejamos que para sempre, o que seria sinal de que o Presidente cumpriu à risca a promessa feita. Assim esperamos!




1 comentário:

Sarilhos Grandes disse...

Parabéns e obrigado pelo excelente comentário sobre toda esta comédia "dell'arte" contra o Benfica , do meu ponto de vista, a única que trata de modo bem explícito todos os aspetos desta espinhosa questão . Só um ligeiro reparo : estou de acordo com tudo o que é dito sobre o MP, mas é omitida , quanto a mim, a componente...CLUBITE , nos atos do MP. Mesmo bem disfarçada, a Joana Marques Vidal enverga a camisola do fcp...tal e qual o reles (pseudo)Juíz que permeditadamente não pôs cobro á divulgação pública dos "mails" do Benfica , obtidos de forma criminosa . É pena que este assunto tenha servido para criar clivagens entre Benfiquistas, os eternos obcecados pelo poder ,( não muitos, felizmente...), não hesitaram em relembrar o seu anti-Vieirismo e até aproveitaram para anunciar de maneira clara, as suas ambições...deixando no ar, de maneira nada subtil, que " a culpa disto tudo" tem sido do LFV...Feitios !!!