domingo, 29 de julho de 2018

A HIPOTÉTICA SAÍDA DE JONAS




O DÉFICE DEMOCRÁTICO NO FUTEBOL
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Luís Filipe Vieira na sua longa passagem pela presidência do Benfica tem seleccionado alguns êxitos, mas tem cometido muitos mais erros. Ao chamarmos erros às decisões do presidente do Benfica, estamos a partir do princípio de que essas decisões não têm em vista servir outros interesses que não os do Benfica.

Dos longos anos que leva à frente do Benfica – o que em si já é uma grave descaracterização da natureza popular e democrática do SLB – vamos deixar de fora os primeiros, ditos de aprendizagem, embora não seja admissível que um clube com a dimensão e a grandeza do Benfica esteja sujeito a uma tão longa aprendizagem pela parte de quem se candidata ao lugar de mais alta responsabilidade do clube.

Nos mais recentes, houve indiscutivelmente alguns êxitos importantes, embora alcançados à custa de um imenso passivo, que acabará, como todos os passivos, por onerar e condicionar o futuro do SLB.

No ano passado, que era um ano absolutamente fundamental no contexto da competição interna, pela desmoralização e dano que novas vitórias do Benfica infligiriam aos seus principais rivais, Luís Filipe Vieira desprezou arrogantemente os factores que tornariam muito provável a concretização daquele resultado, desinvestindo fortemente na equipa de futebol, apesar de logo em Junho/Julho da época passada serem evidentes os sinais de que os inimigos do SLB iriam recorrer a todos os meios, lícitos e ilícitos, para impedir do Benfica de continuar na senda de vitórias que vinha trilhando nos últimos anos. Luís Filipe Vieira não viu o que toda a gente viu e antecipou, entregando a um acomodado e abúlico Rui Vitória uma equipa que, à menor contrariedade, veria, por falta de meios, esfumar a vitória que de outro modo estaria ao seu alcance. Isto sem falar na vergonhosa participação na Liga dos Campeões, essa mancha que indelevelmente marcará para sempre a história do Benfica na prova. Numa prova onde se fez grande, onde ficou conhecido e reconhecido como um dos maiores do mundo!

Pelo que tem vindo a público e pela própria natureza das contratações efectuadas este defeso, existem fundadas razões para supor que o presidente do Benfica já tem o Jonas e o Ruben Dias negociados ou em vias de o ser. Se o fizer, o Benfica cometerá um erro irreparável com consequências imediatas nas eliminatórias da Champions League. Pelo seu passado no Benfica, pelo que fez e também pelo que não pôde fazer quando esteve lesionado, com as consequências que se conhecem para o s resultados da equipa, Jonas é indiscutivelmente o jogador mais valioso do plantel do Benfica, apesar dos seus 34 anos! Com Jonas na equipa há a certeza a que já nos habituou nas últimas 4 épocas. O Jonas quer mais dinheiro? Quer e tem motivos para isso quando se contrata um jogador sem provas dadas no clube a ganhar mais do que ele. Se Jonas reclamar ganhar o mesmo que se vai pagar a outro, estará a reclamar pouco. Deveria ter reclamado mais. Por razões óbvias.

Por outro lado, vender Ruben Dias é um acto de (apetecia-me utilizar uma expressão que não devo…) incompetência e de desprezo pela carreira do jogador. É de incompetência, porque Ruben Dias está muito longe de ter dado ao Benfica tudo aquilo de que ele é capaz até atingir a maturidade como futebolista, e é um acto de desprezo porque vendendo um jovem que acaba de despontar, sem ter adquirido a maturidade necessária para entrar na alta roda do futebol europeu, pode estar a pôr em causa o futuro como grande jogador de futebol. O que se fez com Renato Sanchez foi um crime. Para Vieira todavia o que importa é “sarfar” a onda do mercado e obter lucros gananciosos que pouco ou nenhum proveito tem trazido ao Benfica. Além de que, essas vendas prematuras são também a clara demonstração de que a aposta na formação não passa, simultaneamente, de um acto de demagogia e de ganância. De facto, ela nada tem a ver com a permanência durante alguns anos dos bons jogadores da formação na equipa principal, para ganhar maturidade e a dar vitórias ao Benfica, mas antes com a vontade de imediatamente se livrar deles mal o marcado se perfila com uma proposta vantajosa!

Tudo isto acontece – e era aqui que queríamos chegar – porque no futebol não há democracia. Nesse mundo obscuro que é o futebol a democracia não penetra, contrariamente ao que sucede, ou tende a suceder, em todas as outras actividades.

Os dirigentes do futebol e outros intervenientes que actuam ao seu serviço estão muito mais interessados em pôr os adeptos uns contra os outros, a guerrear-se com base em factos mais ou menos verosímeis, do que deixá-los a ocupar-se do seu próprio clube. O que eles não estão interessados é que os adeptos, sócios e simpatizantes dos seus clubes escrutinem os seus actos, os interroguem, os obriguem a justificar os actos praticados. É exactamente para impedir a penetração da democracia na gestão corrente do futebol que os adeptos são permanentemente levados, instrumentalizados, a praticar actos que nada tem a ver com o clube a que pertencem, visando ocupá-los durante a semana em discussões e picardias inúteis. Muito mais importante do que atacar o clube A ou B, era os adeptos do clube C escrutinarem e vigiarem os actos praticados no seu próprio clube, para que não sejam surpreendidos com a prática de actos irreversíveis, muitas vezes de consequências funestas para o futuro, imediato ou mais remoto, seu próprio clube.

E o que se diz dos dirigentes deveria igualmente dizer-se dos treinadores que, quase sempre, arrogantemente, se recusam a explicar ou a justificar os seus actos sempre com base no estafado argumento de que não têm de explicar “questões técnicas” a ignorantes, quando o que se passa é frequentemente o contrário: é a sua insegurança que os faz refugiar-se nesse mutismo arrogante, para não ficar a nu a sua incompetência.

A batalha do futuro deveria ser a batalha da democracia no futebol. Só assim ele deixaria de ser o mundo obscuro e tantas vezes escabroso que infelizmente é!

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