AS EQUIPAS DE FERNANDO SANTOS
A selecção portuguesa é uma equipa à imagem de Fernando Santos. E
Fernando Santos tem a seu favor o Europeu ganho em 2016, em França. Serão estes
créditos suficientes para se acreditar numa boa prestação da
selecção portuguesa neste Mundial? O que é uma boa prestação? Uma boa prestação é alcançar as
meias finais. Tudo o que for além disso será excelente ou mesmo extraordinário.
E poder-se-á contar com essa prestação da equipa portuguesa?
Essa a questão que convém analisar de várias perspectivas. Em primeiro
lugar, a selecção portuguesa é uma equipa à imagem de Fernando Santos. Ou seja,
uma equipa que arrisca pouco, que tem a pretensão de defender bem quando não tem
a bola e de atacar com cautela quando a tem em seu poder. É uma equipa
preparada para não perder, sendo a vitória o mais das vezes uma simples
consequência dessa sua obstinação em não perder.
Numa competição em que todos jogassem contra todos, como acontece nas
ligas internas, as equipas de Fernando Santos nunca estariam destinadas a
grandes êxitos e menos ainda a deslumbrantes exibições. Foi assim no Porto,
onde esteve três anos, foi assim no Benfica e também no Sporting. Todavia, numa
competição curta, com pontos em grupos e a eliminar, as equipas de Fernando Santos
serão sempre equipas a ter em conta, tanto mais quanto maior for a categoria
dos jogadores que as servem e a sua adaptabilidade ao rigor táctico-estratégico
imposto pelo seleccionador. Uma equipa que seja rigorosa, que jogue para não
perder e que venha a ter como consequênci9a deste seu rigor a vitória, acaba
sempre por ser uma equipa difícil para qualquer adversário. E é também uma
equipa que, contrariamente ao que se ouve dizer, para chegar longe tem de jogar
bem, embora possa jogar feio. De facto, jogar feio ou não jogar bonito e ganhar, não é jogar mal, é
jogar bem. A Itália jogou feio em muitos mundiais e ganhou alguns exactamente
porque jogava bem.
Ora acontece que a selecção que está na Rússia não tem jogado bem,
apesar de ter jogado quase sempre feio, contrariamente ao que se passou na
maioria dos jogos em França, durante o Euro 2016. E as razões são fáceis de
enumerar, sendo algumas delas da responsabilidade do seleccionador. Em primeiro
lugar, o seleccionador deu preferência na convocatória a jogadores que tinham jogado
pouco durante a época (Raphael Guerreiro e Adrien Silva) e também a jogadores
que tinham ficado muito aquém das expectativas (André Silva e João Mário),
tendo deixado de fora jogadores como João Cancelo ou Nelson Semedo, Ronny Lopes,
Ruben Neves ou mesmo André Gomes.
Além deste erro de base, irremediável, a partir do momento em que a convocatória
se tornou irreversível, faltam à equipa portuguesa dois jogadores que em 2016
foram fundamentais: Danilo e Renato Sanches. Danilo estava lesionado e Renato,
além de lesionado, estava numa crise de forma de longa duração, o que tornava
muito problemática a sua convocatória. A verdade é que nenhum deles foi convenientemente
substituído: William não faz, nem de perto nem de longe, o lugar de Danilo, e
também não existe no meio-campo português ninguém (Manuel Fernandes?) com a
capacidade de rompimento das hostes adversárias exibida por Renato Sanches na
época 2015-2016.
Assim sendo, o meio-campo português é o maior problema da equipa e
se a isto, que não é pouco, juntarmos o
facto de Guerreiro estar sem ritmo, de Ronaldo ter mais dois anos em cima, de
Moutinho não ser agora como já não foi em 2016 o homem que a selecção precisa
no meio campo, de Bruno Fernandes ainda não ter exibido
na selecção sequer 50% do que fez no Sporting e de Bernardo Silva não ser
manifestamente um jogador para integrar uma equipa que anda a maior parte do
tempo à procura da bola, teremos ai as razões que não só explicam as fracas
exibições da selecção portuguesa, como também as que não permitem acalentar
grandes esperanças quanto ao seu futuro.
A ver vamos...
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