UM PROGNÓSTICO
A selecção portuguesa de futebol chega ao Mundial da Rússia (2018) numa
situação nunca antes igualada, nem mesmo em 2006. De facto, as expectativas da prestação da selecção
portuguesa nos seis Mundiais em que participou eram baixas em 1966, 1986, 2002,
2010 e 2014, e somente em 2006 por força da sua prestação no Euro 2004 essas expectativas
eram mais elevadas.
E na verdade não se pode dizer que essas expectativas negativas se
tenham confirmado em toda a linha. Bem pelo contrário: em 1966 a selecção
portuguesa teve em Inglaterra um notável comportamento, tendo estado a um passo
de atingir a final. Foi a selecção do Magriços, onde pontificava Eusébio como estrela
maior de um conjunto que se revelou notável. Em 2006, na Alemanha, depois de
uma brilhante participação no Euro 2004, em que foi finalista vencida pela Grécia,
a selecção de Scolari, sob a batuta de Figo e de um conjunto ímpar de jogadores,
com realce para as estrelas do FC Porto, a selecção acabou por cair nas meias-finais
perante a França de Zidane, tendo ficado em 4.º lugar, ou seja, um furo abaixo
da de 1966.
Nas outras participações, a prestação da selecção portuguesa andou entre
o deplorável (1986, 2002 e 2014) e o medíocre (2010), sendo duas dessas participações
já com a presença de Cristiano Ronaldo.
Em 2018 na Rússia, a selecção portuguesa entra em campo, como campeã da
Europa (2016), título nunca antes alcançado, e segundo as palavras do seu seleccionador,
Fernando Santos, não como favorita, mas como candidata. Ou seja, acalenta-se a
esperança nas hostes da selecção de chegar longe. E isso não pode deixar de ser
tido como positivo ou mesmo muito positivo, tanto pela ambição que revela como pela a coragem que demonstra. A questão está em saber se a
realidade vai confirmar ou infirmar essas expectativas.
Por força de vicissitudes várias em que o futebol é fértil, a selecção de
2018 não poderá contar com dois jogadores que em 2016 foram fundamentais para o
êxito alcançado: Danilo Pereira e Renato Sanches. O primeiro, por lesão e o
segundo, embora também lesionado, por não ter sido capaz de manter a linha ascendente
que a sua prestação na época 2015/2016 deixava antever. E falamos nestes dois
jogadores porque um dos pontos fracos da selecção que está na Rússia para participar
no Mundial é exactamente a sua linha média. Com William, depois de uma época para
esquecer, e Moutinho, já na curva descendente da carreira, a selecção fica
muito frágil tanto a defender, como a atacar por ausência de rasgo e
criatividade que se exige a um meio campo de alto nível. Os demais, Adrien e
Manuel Fernandes, são manifestamente insuficientes para colmatar as lacunas que
os dois anteriores têm apresentado. Adrien, tendo estado meia época sem jogar,
está longe da forma de há dois anos, e Manuel Fernandes, apesar de ter feito uma
boa época no Lokomotiv de Moscovo, onde foi campeão, não tem tido suficientes participações
na selecção para se saber se estará em condições de desempenhar, com a
intensidade que um campeonato do mundo reclama, um lugar de médio criativo, capaz
de alimentar o ataque e simultaneamente garantir a segurança defensiva.
Os dois que sobram, Bruno Fernandes e João Mário, estão mais vocacionados
para outras funções, onde aliás se espera que um deles (Brunho Fernandes) possa
brilhar a grande altura.
Além da linha média, há também inegáveis fragilidades na defesa, principalmente
nas laterais. No centro da defesa não há, salvo Ruben Dias, renovação, tendo
Fernando Santos mantido Pepe, Bruno Alves e José Fonte, todos com mais de 34 anos, sem que, no entanto, houvesse outros, mais jovens, para escolher.
Nas laterais, se há dois jogadores que não suscitam dúvidas – Ricardo Pereira e
Rafael Guerreiro -, há outros dois que levantam fundadas reservas – Cedric Soares,
que defende mal, como se tem visto no Southampton, e Mário Rui, vindo do
Nápoles, que é uma grande incógnita não tendo os jogos em que participou sido
suficientes para desvanecer essas dúvidas.
A baliza e o ataque são sem dúvida os sectores em que a selecção está
mais bem servida. Com excepção de Beto, cuja convocatória se não compreende, os
demais Rui Patrício e Anthony Lopes são consensuais. Se no ataque, Ronaldo,
Bernardo Silva, Gonçalo Guedes, Gelson e André Silva também são indiscutíveis
ou quase, havendo quem preferisse a André Silva o herói de Paris, Éder, já a convocação
de Quaresma é muito discutível para não dizer outra coisa. Quaresma tem a seu
favor uma simpatia da afiction, que, por importante que seja, não deve ser suficiente para ditar uma escolha desta responsabilidade.
Na linha média, o seleccionador andou mal ao não ter convocado Ruben
Neves e Sérgio Oliveira, pelo menos um deles já que nenhum dos convocados estará
em condições de fazer o lugar que qualquer um destes dois faria. Nas laterais,
é incompreensível que tanto Nelson Semedo, como João Cancelo tenham ficado de
fora e no ataque, teria sido bem mais útil à selecção contar com Rafa ou Ronny Lopes
do que com Quaresma. Na baliza também se não compreende, nem se aceita, que Fernando
Santos tenha preferido Beto, com 36 anos, como terceiro guarda-redes, em
detrimento de um jovem guarda-redes com provas dadas na primeira liga portuguesa.
Poderia ainda discutir-se, dada a época de cada um deles, bastante fraca, a
convocatória de Adrien e João Mário, mas verdade é que o outro jogador que
estava em condições de com eles ombrear – André Gomes – também não fez melhor
no Barcelona do que aqueles dois no Leicester e no Inter de Milão e West Ham.
Postos perante esta realidade, o seleccionador terá dificuldade em
apresentar uma linha média eficaz e competente nos três difíceis jogos que tem
pela frente. Tanto o jogo contra a Espanha, como contra Marrocos são de
exigência máxima, sendo, qualquer resultado que não seja a derrota em ambos, um
resultado que, em princípio, pode assegurar a continuação na prova, mesmo dois
empates, desde que o terceiro, contra o Irão, seja ganho com alguma margem de golos.
Assegurar passagem na fase de grupos já seria excelente, ficando o resto
dependente do sorteio, ou, dizendo melhor, do resultado dos outros jogos, tanto
se podendo dar o caso de tudo começar a correr mal, desde o princípio, quanto
ao adversário que nos cair em sorte, como tudo correr bem, como aconteceu há dois
anos em França.
Todavia, com selecções tão fortes como as do Brasil, da Alemanha, da
Espanha, da Argentina, da França e porventura mais uma ou duas, a tarefa da
selecção portuguesa não será fácil. Repetimos: oo que é importante é passar a
fase de grupos e isso está longe de estar garantido.
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