quarta-feira, 31 de outubro de 2018

O BENFICA ASSALTADO E A ENTREVISTA DE VIEIRA


O QUE SE PASSA COM AS INVESTIGAÇÕES?
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É de facto espantoso que num Estado de Direito uma pessoa, seja ela singular ou colectiva, e, neste caso, pública ou privada, e, sendo privada, de utilidade pública ou não, seja assaltada e todos os dias na comunicação social ou na redes sociais seja exibido o produto desses assaltos, em manifesto proveito de quem o exibe.

Como inacreditável é que num Estado de Direito, factos que constam de processos em segredo de justiça, estejam elas a cargo da Polícia Judiciária ou do Ministério Público, sejam colocados na praça pública seja por intermédio da comunicação social, seja por intermédio das redes sociais, sempre que a divulgação desses factos serve ou pode servir a estratégia dos investigadores ou acusadores e prejudicar os investigados ou acusados.

E é espantoso que uma e outra coisa aconteçam porque nem uma nem outra poderiam acontecer sem a passividade, a conivência ou até a colaboração das autoridades. Das autoridades que têm a seu cargo prevenir e reprimir a prática de crimes ou das autoridades que têm à sua guarda o que não pode ser divulgado.

Mais recentemente, atingiu-se um novo patamar: uma conversa telefónica entre duas pessoas, relativa à eventual realização de um negócio, é colocada nas redes sociais, por via de uma gravação que, aparentemente, não terá sido feita por nenhum dos interlocutores e, aparentemente, também não constará de nenhum processo. Daí a pergunta: como se explica que isto tenha acontecido?

Pois bem, tudo isto que aqui está genericamente descrito se passou, concretamente, com o Benfica.

O correio electrónico do Benfica foi assaltado e o produto desse assalto passou a ser publicamente exibido por um clube rival, em proveito próprio. Aqui não há nenhum mistério e as suspeitas são óbvias: o clube rival não pode deixar de ser considerado suspeito de ter perpetrado o assalto, ou de o ter encomendado (o que juridicamente é uma situação idêntica à anterior); ou de ser o receptador do produto roubado.

Em qualquer outra situação semelhante a esta não há, nem pode haver, nenhuma dúvida de que as autoridades actuariam imediatamente sobre os suspeitos, qualquer que fosse a natureza dos bens roubados, materiais ou imateriais. Daí a óbvia pergunta: por que razão nada se fez não obstante as insistente queixas do roubado? Sim, porquê? Esta resposta não pode deixar de ser dada e o Benfica e os benfiquistas não podem deixar de a pôr insistentemente, seja perante as autoridades, seja perante a comunicação social. Mas a situação agrava-se ainda mais e assume contornos dificilmente inimagináveis, mesmo na ficção policial, se se disser que as autoridades não só não reprimiram o crime como se aproveitaram do seu produto para investigar a vítima!

Vou dar um exemplo para que se compreenda e fique para a posteridade o que se passou. Imaginemos que o Pingo Doce tinha sido assaltado e que os produtos roubados eram diariamente postos à venda numa barraca de feira situada relativamente perto do supermercado assaltado. As autoridades, apesar das insistentes queixas do lesado, entendiam que nada poderiam fazer por o dono da barraca estar a actuar ao abrigo da liberdade de comércio. Porém, perante a insistência do lesado, resolveram as autoridades inspeccionar o material roubado que estava sendo vendido na feira, tendo então constatado qua alguns produtos estavam fora do prazo de validade. E o que fizeram as autoridades perante tal situação? Retiraram os produtos do mercado? NÃO! Instauraram um processo ao Pingo Doce por produtos com a sua marca estarem a ser vendidos numa barraca de feira fora de prazo!

Foi isto sem tirar nem pôr o que as autoridades fizeram ao Benfica.

Perante semelhante absurdo é perfeitamente natural que um ou mais benfiquistas situados no âmbito das investigações tenham por amor clubístico fornecido a alguém do Benfica informações sobre a marcha daquele processo. Era seguramente, no espírito de quem o fez, a forma de compensar a tremenda injustiça de que o Benfica tinha sido vítima por inacção, ou pior do que isso, das autoridades. Actuaram estes benfiquistas legalmente? Certamente não, embora o seu comportamento não possa deixar de ser compreendido à luz do circunstancialismo em que actuaram.

E vamos admitir que alguém do Benfica teve conhecimento dessas informações. O conhecimento de uma informação é algo que não pode ser apagado. Já o recebimento de um produto roubado, contra a vontade ou sem a vontade de quem o recebe, pode ser revertido, entregando o produto ao seu dono ou às autoridades. Uma informação…não. Não pode deixar de ficar com quem a recebe, mesmo que não solicitada.

De qualquer modo, o conhecimento de uma informação sobre a marcha de um processo e a subsequente actuação de quem a recebeu em consonância com o seu conteúdo, que influência pode ter sobre a chamada “verdade desportiva”? Que é que isso tem a ver com a verdade desportiva ou a adulteração de resultados desportivos? Só uma mente doente, perigosamente ferida de facciosismo clubístico, pode fazer tal associação. Por esse lado podem os benfiquistas ficar descansados.

Ontem, o presidente do SL Benfica, em entrevista a um canal de televisão, esteve bem em tudo quanto respeita à gestão do clube, à sua estratégia empresarial e desportiva, mas já o mesmo se não poderá dizer no que respeita aos famosos processos que envolvem o Benfica. Neste campo deveria ter sido mais incisivo. Ter sido capaz por meio de comparações e de outras demonstrações de deixar claro quão absurdas são a maior parte das insinuações que diariamente fustigam o Benfica.

Deveria ter sublinhado muito mais enfaticamente o roubo de que o Benfica foi vítima, a passividade das autoridades perante o crime organizado no desporto e deveria também ter deixado no ar elementos suficientes para se demonstrar que o que está sendo feito ao Benfica não tem qualquer comparação com o que se passa relativamente a outros clubes.

Alguém quer saber que pessoas são convidadas pelos presidentes do Porto ou do Sporting para assistir aos jogos nas respectivas tribunas presidenciais? Alguém quer saber em que fases se encontram processos que envolve gente do Porto e do Sporting? Processos relativos a acções que visavam directamente a adulteração de resultados desportivos ou o constrangimento de árbitros mediante ameaças de agressões físicas.

E mais grave que tudo é a inacção das autoridades relativamente ao assalto de que o Benfica foi vítima que tem levado a que seja o próprio lesado a fazer e a pagar as investigações com vista à descoberta da verdade que caberia às autoridades realizar. Daí, novamente a pergunta: por que não agem as autoridades como a lei lhes impõe e a moral reclama? Esta uma questão que não pode deixar de ser respondida e que os benfiquistas não podem deixar de formular a todo o momento!

1 comentário:

Anónimo disse...

Boa, Varandas, continua a preocupar-te com o Benfica. Tu, o Pina, moço recados do Bruno, os Octávios, Ferreira, que o Sporting vai de vento em popa!