O Benfica sofreu ontem a terceira derrota da época. Tal como as
anteriores, em provas internacionais. As duas primeiras na Liga dos Campeões,
contra o Barcelona em casa (0-2) e contra o Spartak de Moscovo, fora (2-1) e a terceira
na Liga Europa, em Istambul, contra o Fenerbahçe (1-0).
Tão preocupante como a derrota, ou porventura mais, foi ter
ficado a zero numa prova a eliminar. Este ano o Benfica só tinha ficado a zero,
até ontem, quatro vezes: duas vezes contra o Barcelona - uma na Luz, no jogo acima
referido, outra em Camp Nou (empate) - uma contra o Celtic, em Glasgow, também
empate e outra contra o Braga, na meia final da Taça da Liga.
Nos jogos a eliminar das competições europeias é muito
difícil suplantar uma derrota fora por 1-0, como as estatísticas sobejamente
demonstram. Em mais de 50 anos de jogos na Europa, o Benfica nunca foi
eliminado, depois de ter vencido em casa o primeiro jogo por 1-0. A pressão de
não sofrer golos pesa decisivamente no segundo jogo e acaba por inibir a equipa
muito para além daquilo que seria normal. Quando o valor das equipas é
sensivelmente o mesmo, é mais fácil virar fora uma derrota em casa por 0-1 do
que o contrário.
Nesta eliminatória, nem sequer é tanto o valor intrínseco
do adversário que torna a vida do Benfica complicada. É mais o factor psicológico
que tudo poderá complicar. Neste sentido, o jogo dos Barreiros será decisivo.
Se o Benfica não ganhar, a equipa entrará em crise e tudo se poderá complicar.
A pressão externa, nomeadamente através de factores extra-futebol, permanentemente
exacerbados pelos seus adversários, é muito grande, e tudo pode acabar por perder-se
…mesmo junto à praia.
Exactamente por estas razões, ou seja, por razões
psicológicas, continuamos a achar contraproducente o discurso de Jorge Jesus,
conferindo a prioridade das prioridades ao campeonato. Chegados a esta fase, todos
os jogos e todas as competições têm a mesma prioridade. O jogo de ontem era
para o Benfica tão importante como o da próxima segunda-feira contra o
Marítimo: a vitória é sempre meio caminho andado para a vitória. A vitória soma
vitória, enquanto a derrota tende a somar derrota.
O que ontem correu mal em Istambul está à vista de toda a
gente. Em primeiro lugar, o lado esquerdo do Benfica. Dois erros de palmatória
poderiam ter deitado tudo a perder. Felizmente só um foi aproveitado. Melgarejo
remedeia, mas não é solução. E quanto a Ola John não se pode exagerar nas suas
funções defensivas, pelo menos em áreas de risco. Em segundo lugar, a
capacidade atacante do meio-campo: Matic muito sozinho não pode fazer tudo à
frente e atrás. É certo que, neste caso, devido ao castigo de Enzo Pérez, pouco
haveria a fazer. Por último, a manifesta incapacidade de Cardozo jogar em
contra-ataque. Sem hipóteses de fazer funcionar o seu pontapé de meia distância
e sem a habitual frequência de bolas na área, a aposta em Cardozo só na frente,
era, à partida, uma aposta de risco com grande probabilidade de ser uma aposta
falhada, como na realidade foi. Se Lima não podia jogar por razões físicas,
deveria ter jogado de início Rodrigo, fazendo a ligação entre os sectores e com
instruções para jogar até “estourar”. A probabilidade de com Rodrigo na frente
o Benfica poder marcar era incomparavelmente maior do que aquela que resultaria
da opção escolhida. Rodrigo quando entrou, mal e tarde, já nada poderia fazer. Aliás,
Rodrigo é um daqueles jogadores que entra quase sempre mal. Por isso, é preferível,
quando ele tem de jogar, pô-lo a jogar de início.
Em conclusão: depois do jogo de ontem, a probabilidade de o
Benfica estar na final baixou para 30%/40%, quando antes do jogo era, pelo
menos, de 50% ou até superior.
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