O QUE TEM DE SER FEITO (Algumas despretensiosas notas)
Vou começar com uma nota que de
optimismo nada tem: não sei se há nos órgãos dirigentes do clube e da SAD
alguém com competência para planear o futuro do Benfica em consonância com a
sua grandeza desportiva, a grandeza que já teve, que perdeu e que precisa de
recuperar, interna e externamente, na base de um projecto explicado aos sócios
e aos adeptos e a que estes adiram pela excelência do que lhes é proposto e não
pelas belas palavras que o possam emoldurar nem pelo benfiquismo de quem o
apresenta.
Vamos falar de futebol, deixando
as demais modalidades para depois, uma vez devidamente estruturado o que se
pretende fazer com o futebol, a principal (ou exclusiva) fonte de receita de
clube.
Primeira questão. O Benfica deve
continuar a ser um clube de formação – formação de excelência - recrutando os
profissionais competentes nas diversas áreas em que a formação se compõe, sem
nunca esquecer que a componente cidadã deve integrar essa formação. O Benfica
não deve formar apenas jogadores, por melhores que eles sejam, deve também
formar cidadãos que integrem na formação da sua personalidade grandes valores
do desporto de acordo com as melhores práticas. E deve também, como não poderia
deixar de ser, inserir animicamente os formandos nos grandes valores da “mística”
e da história do Benfica, alicerçados na grandeza do clube espelhados nas inúmeras
vitórias que integram a sua história. A formação não poderá ser um simples
albergue de futuros profissionais de futebol que passam pelo Benfica em busca
de um sonhado futuro melhor, mas de formandos empenhados na representação do
Benfica, como primeiro objectivo, independentemente do que possa acontecer
depois.
Em segundo lugar, a formação dos
jogadores de futebol deve orientar-se e assentar no modelo de jogo que se
pretende que o Benfica pratique, em estreita consonância com a prática seguida
pela equipa principal. Um modelo do clube e não mais um modelo do treinador.
Terceira questão, será da
responsabilidade da direcção, da sua estrutura directiva para o futebol, a
escolha dos jogadores e do treinador. O treinador terá de ser encarado como um
empregado do clube, com autonomia técnica, porém subordinada a uma ideia de
jogo que faz parte da natureza do clube, também ela alicerçada na sua história.
O respeito por este pressuposto exige que haja doravante a maior cautela nessa
contratação. O Benfica jamais poderá acolher nas suas fileiras um treinador que
domine a estrutura técnica do futebol, imponha o seu modelo de jogo qualquer
que ele seja, nem ter a palavra definitiva sobre a contratação de jogadores e
muito menos admitir-se a contratação de um treinador que actue de acordo com os
seus subjectivos e irracionais “estados de alma” quer eles se caracterizem pela
“embirração” com certos jogadores quer pelo seus “amores” relativamente a
outros. A sua actuação terá de ser estritamente profissional e indiferente a
esses estados de alma.
Quarta questão, terá de ser
altamente competente do ponto de vista técnico a estrutura dirigente do futebol
profissional integrada pelo presidente do clube e pelo director desportivo, um
profissional de reconhecidos méritos, identificado com os objectivos do clube.
Não basta o “benfiquismo” nem a sua paixão clubística – é preciso muito mais.
Da estrutura directiva do clube fará parte um técnico-adjunto, escolhido pelo
Benfica, que integrará a equipa técnica do treinador.
Creio que terá de ser dentro
desta e doutras linhas que se deverá começar a organizar o novo Benfica, sem
ambiguidades oportunistas no seu percurso. Se o passado serve para alguma
coisa, essa “alguma coisa” terá de consistir na erradicação de erros recorrentes
e na “impossibilidade” da sua repetição. De qualquer modo, depois de tudo o que
se tem passado nestes últimos anos, seria inadmissível que os órgãos dirigentes
do Benfica se não inspirassem nos grandes clubes europeus como modelo a seguir
em todos os domínios, e esquecer de vez que não será à custa de capitais
alheios, sejam eles árabes, asiáticos ou americanos, que Benfica recuperará a
sua grandeza.
Como o caminho se faz caminhando,
a direcção do Benfica deverá imediatamente demitir o treinador principal e os
membros da sua equipa técnica que não se integrem nas futuras linhas
programáticas, sendo o treinador principal advertido de que o despedimento será
feito com base em “justa causa” (assunto a tratar à parte, noutro post).
A substituição do actual
treinador há-de ser inspirada no novo modelo a criar no clube sem prejuízo,
nesta emergência, da natureza temporária (até ao fim da época) e experimental
do que agora for escolhido. Se é verdade que uma contratação com estas
características corre alguns riscos, não é menos verdade que uma contratação
por mais tempo, feita um pouco à pressa, corre riscos muito maiores. Tem de ser
contratado um treinador moderno, que compreenda a dinâmica do futebol moderno,
capaz de a explicar à direcção de forma convincente e não mais uma contratação
que se apresente com o simples projecto de vencer, “arrasando” ou não os
adversários. Isso é conversa de ignorante na qual o Benfica não pode mais
embarcar. Quando se fala em futebol moderno quer-se dizer o futebol praticado
pelas melhores equipas europeias, que embora tenham pontos comuns entre elas,
têm diferenças assinaláveis, cujas matrizes se poderiam agrupar nos seguintes
exemplos : a) Liverpool e Bayern; b) Manchester City e c) Chelsea, sendo que,
de acordo com a história do Benfica, o que parece melhor ajustar-se à paixão
dos seus adeptos e ao modelo de jogo que melhor a serve e os serve é o do Liverpool/Bayern
de Munique.
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