terça-feira, 8 de julho de 2014

AFINAL, O QUE É O BENFICA?


 

 

UM ENTREPOSTO? UMA FEITORIA?
Festejos Benfica

Não perguntamos de quem é o Benfica porque os sócios, adeptos e simpatizantes já não têm ilusões acerca da resposta. O Benfica é dos credores em consequência da dívida que necessariamente se tornará insustentável dentro de pouco tempo.

A nossa pergunta é antes outra: afinal, o que é o Benfica? É um clube de futebol com um passado glorioso que não soube adaptar-se à época da globalização, ou seja, que pretendeu ser o que não poderia ser deixando ser o que estava ao seu alcance ou é antes um simples entreposto por onde passam jogadores durante uns escassos meses na expectativa de se valorizarem para imediatamente serem vendidos na busca do lucro fácil e rápido? É uma espécie, para pior, de uma feitoria unicamente preocupada com a comercialização dos produtos comprados que, além do mais, facilitam a comercialização pela venda dos produtos “fabricados” ou que, tendo sido comprados, se lhes juntou um considerável valor acrescentado?

E como é distribuído o produto desses negócios? Quanto cabe ao financiador? Quanto fica para o intermediário? Quanto é destinado a amortizações? E, depois de todas estas partilhas, quanto sobra para a colectividade que gerou o “valor acrescentado”?

O futebol, tal como o mundo do capital financeiro, que actualmente domina por completo o capitalismo e os negócios em geral, logo a vida das pessoas, está hoje minado pela ideologia dominante – a que recusa a justa repartição dos rendimentos e que advoga o crédito como panaceia para todos os males ou como solução para todos os problemas, com as consequências que, por todo o lado, se conhecem: o capital financeiro e especulativo cada vez mais forte e a sociedade cada vez mais desigual.

O Benfica está hoje draconianamente submetido a esta lógica, sendo o que se está a passar um exemplo muito mais eloquente do quaisquer palavras. De uma equipa campeã, quem restará? Afinal, quantos jogadores, participando nas vitórias do ano passado, eram propriedade do Benfica? Essa a grande incógnita.

Vejamos um por um a situação de alguns jogadores:

Oblak: Dizia-se que o esloveno tinha um contrato com o Benfica até 2018 com uma cláusula de rescisão de 20 M€. O que é que isto tem de verdade? Os direitos sobre Oblak são de quem? E a cláusula de rescisão, afinal, é de quanto? Como se explica, sendo verdade o que se dizia, que o guarda-redes não se tenha apresentado na data prevista e tenha antes entrado em negociações e exames preliminares com outro clube? Como se explica algo que a FIFA não permite? Por que é que o Benfica não actua? O Benfica não actua por duas simples razões, cumulativas ou não: primeiro, porque o Benfica já não manda no Benfica e depois porque, muito provavelmente, Oblak não é do Benfica ou não é na percentagem que se apregoou.

Garay – Dizia-se que os direitos sobre Garay eram em partes iguais do Benfica e do Real Madrid e que a cláusula de rescisão era de 20 M €. Afinal, o Benfica comunicou a transferência de Garay para o Zénite por 6 M €, cabendo-lhe apenas 2,4 M €! Afinal, tudo o que antes se dizia era mentira ou, pelo contrário, é mentira o que agora se anuncia? Alguém acredita que um jogador como Garay, titular da selecção argentina, tenha sido vendido apenas por 6 M €? Alguém está a ser enganado. Quem?

Siqueira – Siqueira estava no Benfica por empréstimo. A sua passagem pela Luz, de pouco mais de meio ano, valorizou enormemente o seu passe. Quanto pagou o Benfica para o ter por empréstimo? E quanto recebeu o Benfica pela valorização do passe? Terão sido estas questões devidamente acauteladas no negócio? O que sabem os sócios sobre isso?

Sílvio – Dizia-se que estava emprestado pelo Atlético de Madrid. Agora está lesionado. Onde se apresentará no início da época: em Lisboa ou em Madrid? E onde ficará? Tem o Benfica algum direito sobre ele? Aparentemente, não.

Enzo Pérez – Renovou o contrato com o Benfica antes de iniciado o Campeonato do Mundo. Diz-se que vai para o Valência. Ele nega ter conhecimento de algo, mas no Benfica ninguém se pronuncia. Primeira questão: de quem são os direitos sobre Enzo? Se são do Benfica, está o clube disposto a vendê-lo bem abaixo da cláusula penal ao tal oligarca de Singapura? Ou apenas se está à espera que as questões legais, relacionadas com a compra do Valência pelo dito oligarca, estejam resolvidas para formalizar a transferência? E nesse caso, quem ordena a transferência? A mesma pessoa que já “impingiu” um treinador português ao Valência? Que direito tem essa pessoa sobre o Benfica?

André Gomes - Foi a meio da época vendido a um “Fundo” por 15 M €. Todavia, no início da época apresentou-se no Seixal. Vai esse “Fundo” alugá-lo ao Benfica durante mais uns meses ou está o dito “Fundo” apenas à espera que se concretize a compra do Valência para se saber o destino de André Gomes?

Rodrigo – Idem. Foi na mesma altura vendido ao mesmo “Fundo” por 30 M €, mas igualmente se apresentou no Seixal por ninguém lhe ter comunicado a sua transferência para outro clube. Qual vai ser o seu futuro? Ou também ele está à espera da compra do Valência? E qual o papel do Benfica no meio de tudo isto? Ao abrigo de que contrato ficou Rodrigo na Luz depois de já estar vendido? Por quanto tempo e sob que condições? Os sócios não sabem!

Gaitan - Diz-se que vai para o Atlético de Madrid. Por quanto? De quem são os direitos sobre Gaitan? Diz-se que tem uma cláusula de rescisão de 45 M €. É para cumprir? O jogador diz que quer ficar na Luz. Se quer, então que estranha força impele o Benfica a vendê-lo bem abaixo da cláusula?

Markovic – Supunha-se que Marcovic era do Benfica. Afinal, diz-se agora que lhe pertence apenas por metade. Dizia-se igualmente que tinha uma cláusula de rescisão alta. Agora se percebe melhor porque nunca foi oficialmente revelada. Por uma razão simples: porque qualquer que seja o montante inscrito no contrato, o Benfica não tem qualquer poder negocial sobre a dita cláusula. A cláusula de rescisão é do montante que esse misterioso “comparsa” do Benfica quiser. Se esse “comparsa” achar que a valorização do jogador já mais que compensa o investimento, vende …e o Benfica aceita. E mais: porventura, estabelece no contrato com o vendedor cláusulas que numa venda futura só a ele o favorecem. Se não for assim, o Benfica que se explique. Que explique por que vendeu por 25 M € um jogador fantástico, de 20 anos, que tinha uma margem de progressão e de valorização infinitamente superior.

 

E já vamos em nove jogadores. Se a estes juntarmos Maxi (afinal, de quem é Maxi), Cardozo (idem?) e Sálvio (idem) de quem igualmente se fala, com quantos jogadores da época passada fica o Benfica? É isto um clube de futebol com uma das maiores massas associativas e adeptos do mundo ou é um simples entreposto comercial/financeiro gerido completamente à margem dos sócios?
Dir-se-á, outros vêm a caminho ou já cá estão. Quem os conhece? O que valem como jogadores? Ninguém o poderá agora dizer. Perante isto que os adeptos não exijam “milagres” a Jesus…porque “milagres” destes ninguém faz!
 
Uma coisa é certa: se os "Fundos" não forem proibidos e banidos do futebol, eles, a curto prazo, destruirão o futebol

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