UM ENTREPOSTO? UMA
FEITORIA?
Não perguntamos de quem é o Benfica porque os sócios, adeptos
e simpatizantes já não têm ilusões acerca da resposta. O Benfica é dos credores
em consequência da dívida que necessariamente se tornará insustentável dentro
de pouco tempo.
A nossa pergunta é antes outra: afinal, o que é o Benfica? É um
clube de futebol com um passado glorioso que não soube adaptar-se à época da
globalização, ou seja, que pretendeu ser o que não poderia ser deixando ser o
que estava ao seu alcance ou é antes um simples entreposto por onde passam
jogadores durante uns escassos meses na expectativa de se valorizarem para
imediatamente serem vendidos na busca do lucro fácil e rápido? É uma espécie,
para pior, de uma feitoria unicamente preocupada com a comercialização dos
produtos comprados que, além do mais, facilitam a comercialização pela venda
dos produtos “fabricados” ou que, tendo sido comprados, se lhes juntou um
considerável valor acrescentado?
E como é distribuído o produto desses negócios? Quanto cabe
ao financiador? Quanto fica para o intermediário? Quanto é destinado a
amortizações? E, depois de todas estas partilhas, quanto sobra para a
colectividade que gerou o “valor acrescentado”?
O futebol, tal como o mundo do capital financeiro, que actualmente domina
por completo o capitalismo e os negócios em geral, logo a vida das
pessoas, está hoje minado pela ideologia dominante – a que recusa a justa
repartição dos rendimentos e que advoga o crédito como panaceia para todos os
males ou como solução para todos os problemas, com as consequências que, por todo o lado, se conhecem: o capital financeiro e especulativo cada vez mais forte e a sociedade cada vez mais desigual.
O Benfica está hoje draconianamente submetido a esta lógica,
sendo o que se está a passar um exemplo muito mais eloquente do quaisquer palavras. De uma equipa campeã, quem
restará? Afinal, quantos jogadores, participando nas vitórias do
ano passado, eram propriedade do Benfica? Essa a grande incógnita.
Vejamos um por um a situação de alguns jogadores:
Oblak: Dizia-se que o esloveno tinha um
contrato com o Benfica até 2018 com uma cláusula de rescisão de 20 M€. O que é
que isto tem de verdade? Os direitos sobre Oblak são de quem? E a cláusula de
rescisão, afinal, é de quanto? Como se explica, sendo verdade o que se dizia,
que o guarda-redes não se tenha apresentado na data prevista e tenha antes
entrado em negociações e exames preliminares com outro clube? Como se explica
algo que a FIFA não permite? Por que é que o Benfica não actua? O Benfica não
actua por duas simples razões, cumulativas ou não: primeiro, porque o Benfica já não
manda no Benfica e depois porque, muito provavelmente, Oblak não é do Benfica ou
não é na percentagem que se apregoou.
Garay – Dizia-se que os direitos sobre Garay
eram em partes iguais do Benfica e do Real Madrid e que a cláusula de rescisão
era de 20 M €. Afinal, o Benfica comunicou a transferência de Garay para o
Zénite por 6 M €, cabendo-lhe apenas 2,4 M €! Afinal, tudo o que antes se dizia
era mentira ou, pelo contrário, é mentira o que agora se anuncia? Alguém
acredita que um jogador como Garay, titular da selecção argentina, tenha sido vendido
apenas por 6 M €? Alguém está a ser enganado. Quem?
Siqueira – Siqueira estava no Benfica por
empréstimo. A sua passagem pela Luz, de pouco mais de meio ano, valorizou enormemente
o seu passe. Quanto pagou o Benfica para o ter por empréstimo? E quanto recebeu
o Benfica pela valorização do passe? Terão sido estas questões devidamente
acauteladas no negócio? O que sabem os sócios sobre isso?
Sílvio – Dizia-se que estava emprestado
pelo Atlético de Madrid. Agora está lesionado. Onde se apresentará no início da
época: em Lisboa ou em Madrid? E onde ficará? Tem o Benfica algum direito sobre
ele? Aparentemente, não.
Enzo Pérez – Renovou o contrato com o Benfica
antes de iniciado o Campeonato do Mundo. Diz-se que vai para o Valência. Ele
nega ter conhecimento de algo, mas no Benfica ninguém se pronuncia. Primeira
questão: de quem são os direitos sobre Enzo? Se são do Benfica, está o clube
disposto a vendê-lo bem abaixo da cláusula penal ao tal oligarca de Singapura?
Ou apenas se está à espera que as questões legais, relacionadas com a compra do Valência
pelo dito oligarca, estejam resolvidas para formalizar a transferência? E nesse
caso, quem ordena a transferência? A mesma pessoa que já “impingiu” um
treinador português ao Valência? Que direito tem essa pessoa sobre o Benfica?
André Gomes - Foi a meio da época vendido a um “Fundo”
por 15 M €. Todavia, no início da época apresentou-se no Seixal. Vai esse “Fundo”
alugá-lo ao Benfica durante mais uns meses ou está o dito “Fundo” apenas à
espera que se concretize a compra do Valência para se saber o destino de André
Gomes?
Rodrigo – Idem. Foi na mesma altura vendido
ao mesmo “Fundo” por 30 M €, mas igualmente se apresentou no Seixal por ninguém
lhe ter comunicado a sua transferência para outro clube. Qual vai ser o seu
futuro? Ou também ele está à espera da compra do Valência? E qual o papel do
Benfica no meio de tudo isto? Ao abrigo de que contrato ficou Rodrigo na Luz
depois de já estar vendido? Por quanto tempo e sob que condições? Os sócios não
sabem!
Gaitan - Diz-se que vai para o Atlético de
Madrid. Por quanto? De quem são os direitos sobre Gaitan? Diz-se que tem uma
cláusula de rescisão de 45 M €. É para cumprir? O jogador diz que quer ficar na
Luz. Se quer, então que estranha força impele o Benfica a vendê-lo bem abaixo
da cláusula?
Markovic – Supunha-se que Marcovic era do
Benfica. Afinal, diz-se agora que lhe pertence apenas por metade. Dizia-se
igualmente que tinha uma cláusula de rescisão alta. Agora se percebe melhor
porque nunca foi oficialmente revelada. Por uma razão simples: porque qualquer que
seja o montante inscrito no contrato, o Benfica não tem qualquer poder negocial sobre
a dita cláusula. A cláusula de rescisão é do montante que esse misterioso “comparsa” do
Benfica quiser. Se esse “comparsa” achar que a valorização do jogador já mais
que compensa o investimento, vende …e o Benfica aceita. E mais: porventura,
estabelece no contrato com o vendedor cláusulas que numa venda futura só a ele
o favorecem. Se não for assim, o Benfica que se explique. Que explique por que
vendeu por 25 M € um jogador fantástico, de 20 anos, que tinha uma margem de
progressão e de valorização infinitamente superior.
E já vamos em nove jogadores. Se a estes juntarmos Maxi
(afinal, de quem é Maxi), Cardozo (idem?) e Sálvio (idem) de quem igualmente se
fala, com quantos jogadores da época passada fica o Benfica? É isto um clube de
futebol com uma das maiores massas associativas e adeptos do mundo ou é um
simples entreposto comercial/financeiro gerido completamente à margem dos sócios?
Dir-se-á, outros vêm a caminho ou já cá estão. Quem os
conhece? O que valem como jogadores? Ninguém o poderá agora dizer. Perante isto
que os adeptos não exijam “milagres” a Jesus…porque “milagres” destes ninguém
faz!
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